Com 208, Peugeot recupera a oportunidade que perdeu

 

Não tivemos o verdadeiro 207, mas seu sucessor chega ao
Brasil com bons atributos para quem vê e para quem dirige

Texto: Fabrício Samahá e Edison Ragassi – Fotos: divulgação

 

Compensar o tempo perdido parece ser o objetivo da Peugeot com a produção do 208 na fábrica de Porto Real, RJ. Muitos se lembram de que, cinco anos atrás, a marca francesa optou por uma reestilização do 206 alegando que o 207 europeu — um carro realmente novo — seria caro demais para ser fabricado aqui. O resultado foi um falso 207 que não emplacou e cuja substituição não poderia demorar muito. Se aquele modelo era inviável para nós, o 208 aparentemente não é, e assim chegamos — depois de longos 14 anos — ao sucessor do 206 no Brasil.

Lançado na Europa no fim de 2011, o 208 estreia aqui em três versões, que começam a ser vendidas em 13 de abril, todas com cinco portas e três anos de garantia: Active, ao preço de R$ 40 mil; Allure, a R$ 46 mil; Griffe com câmbio manual, por R$ 50.690; e Griffe com câmbio automático de quatro marchas, a R$ 54.690. Na Griffe é usado o motor de 1,6 litro e 16 válvulas; as demais recebem o de 1,45 litro e oito válvulas, ambos flexíveis.

No 208 Active os equipamentos de série passam por bolsas infláveis frontais, freios com sistema antitravamento (ABS) e distribuição eletrônica de força entre os eixos, cintos de três pontos para todos os ocupantes, luz traseira de neblina, repetidores laterais de luzes de direção, lanternas traseiras com leds, ar-condicionado, direção com assistência elétrica, controle elétrico dos vidros dianteiros e travas, computador de bordo, comando de travas a distância e volante regulável em altura e distância.

 

 
A nova identidade visual da Peugeot está nesse compacto moderno, que chega
com três versões; só a superior (Griffe) usa motor de 1,6 litro com até 122 cv

 

A versão Allure acrescenta faróis de neblina, rodas de alumínio (mantendo a medida de 15 pol), teto com ampla área envidraçada (fixa), controle elétrico dos retrovisores, volante revestido de couro e central multimídia com tela central sensível ao toque de 7 pol que controla áudio, navegação, conexão Bluetooth para celular e configurações do carro. A Peugeot acredita que essa versão ficará com 50% das vendas, contra 25% de cada uma das outras.

 

Chama atenção o quadro de instrumentos em posição elevada, para ser visto por cima — e não por dentro — do volante, que para isso tem diâmetro bem menor que o habitual

 

Além desses itens e do motor de 1,6 litro, o 208 Griffe vem com faróis elipsoidais, luzes diurnas com leds na frente, rodas de alumínio de 16 pol, ponteira de escapamento cromada, teto panorâmico, ar-condicionado automático de duas zonas de ajuste (com programas de uso automático, suave e rápido), terceiro apoio de cabeça no banco traseiro, faróis e limpador de para-brisa automáticos, sensores de estacionamento na traseira, controlador e limitador de velocidade, alarme com ultrassom e banco traseiro bipartido. No caso do câmbio automático, os comandos na coluna de direção para trocas manuais são de série. Curioso é não serem oferecidas bolsas infláveis laterais e de cortina, que equipavam a edição limitada 208 Premier.

Pelos preços e pelo que oferece, o 208 vem competir na faixa superior dos carros pequenos nacionais, ao lado de Citroën C3, Fiat Punto, Hyundai HB20, Volkswagen Polo, do novo Ford Fiesta que chega ao mercado em algumas semanas (hoje vem do México) e do importado Chevrolet Sonic. Alguma concorrência pode vir de Chevrolet Agile, Renault Sandero e Toyota Etios, mas esse grupo destoa dos demais — à exceção do Polo — em termos de atualidade de desenho.

 

 

 
Recortes de vidros e lanternas dão um ar criativo ao 208 e compõem um estilo que
deve fazer muitos adeptos; os faróis do Griffe são elipsoidais com leds diurnos

 

O 208 causa boa impressão logo ao primeiro olhar. A Peugeot obteve sucesso na tarefa de atualizar o tema de estilo de seus carros pequenos, ao adotar novo padrão de desenho frontal (introduzido pelo 508 e já presente no RCZ) e detalhes criativos, como os recortes das janelas na extremidade dianteira e das lanternas traseiras na seção que invade as laterais.

 

 

Comparado ao 207 nacional, o 208 cresceu em todas as dimensões: de 3,87 para 3,97 metros de comprimento, de 1,67 para 1,70 m de largura, de 1,45 para 1,47 m de altura e de 2,44 para 2,54 m de distância entre eixos. O peso subiu, mas não muito: de 1.105 para 1.153 kg na versão com motor 1,6 16V e câmbio manual. O coeficiente aerodinâmico (Cx) 0,32, embora bom para a classe, é o mesmo dos dois antecessores, ou seja, não houve melhora nesse quesito desde o 206 de 1998.

No interior, chama atenção o quadro de instrumentos em posição elevada, para ser visto por cima — e não por dentro — do volante, que para isso tem diâmetro bem menor que o habitual: 34 centímetros, contra a faixa mais comum de 36 a 38 cm. O objetivo é manter as informações mais próximas do campo visual do motorista que mantém os olhos na estrada. No mostrador central aparecem o computador de bordo e um velocímetro digital.

 

 

 
Os instrumentos são lidos por cima do volante, que é compacto; as duas versões
superiores vêm com teto envidraçado e central multimídia com tela de 7 pol

 

O painel também destaca a tela central multimídia, que é sensível ao toque pela primeira vez em um Peugeot vendido no Brasil. Com isso, acaba o chato processo de inserir endereço no navegador por um botão giratório. Outro sinal de novos tempos na marca é o uso de comandos de áudio e telefone nos raios do volante, em vez do tradicional comando-satélite na coluna. Já as mudanças manuais de marcha do câmbio automático permanecem subindo marcha para frente, ao contrário do novo padrão adotado no 508.

Espaço interno não é o forte do novo Peugeot, mas o banco traseiro acomoda bem três crianças ou dois adultos de estatura mediana, como nos principais concorrentes. A capacidade do porta-malas, 285 litros, está na média da categoria e representa aumento de 40 litros sobre o antecessor. O estepe, que no 207 ficava abaixo da carroceria (mais prático para a troca com carro carregado, mas menos protegido de furtos), agora vem sob o assoalho do compartimento, como a maioria parece preferir.

Próxima parte

 

 

 
Nas versões Active, mais simples, e Allure (a do interior mostrado à direita), de
preço intermediário, vem o motor de 1,45 litro e até 93 cv já usado no Citroën C3 

 

Plataforma, a mesma do C3

Sob o capô do 208 estão os mesmos dois motores do C3 atual. O 1,6-litro de quatro válvulas por cilindro traz novidades em relação ao do 207 como variação do tempo de abertura das válvulas de admissão, taxa de compressão mais alta (para melhor rendimento com álcool) e sistema de partida a frio por pré-aquecimento de álcool, o que dispensa o tanque auxiliar de injeção de gasolina. O outro, de 1,45 litro e duas válvulas por cilindro, corresponde ao antigo 1,4 com maior cilindrada e mantém o “tanquinho” de partida.

Em comparação ao 207, houve aumentos de potência e torque em ambos os casos. O 1,45-litro fornece 89 cv e 13,5 m.kgf com gasolina, ante 80 cv e 12,85 m.kgf do 207, e atinge 93 cv e 14,2 m.kgf com álcool, contra 82 cv e os mesmos 12,85 m.kgf do antecessor. No caso do 1,6-litro, passou-se de 110 cv/14,2 m.kgf para 115 cv/15,5 m.kgf com gasolina e de 113 cv/15,5 m.kgf para 122 cv/16,4 m.kgf com álcool.

 

 
Em relação aos do 207, ambos os motores tiveram a taxa de compressão
elevada; o 1,6 vem com variação de tempo das válvulas de admissão 

 

O 208 compartilha também a plataforma com o novo C3, assim como acontecia entre o 207 francês e o C3 anterior. Com isso, a Peugeot abandona a peculiar — e típica de seu país de origem — suspensão traseira independente com braços arrastados e barra de torção, em favor do simples e “universal” eixo de torção com molas helicoidais. Também inéditos em um Peugeot dessa categoria são a assistência elétrica de direção, que o C3 já usava desde a geração anterior, e as rodas de 16 pol, exclusivas da versão Griffe. Pena que a evolução não tenha chegado ao número de marchas do câmbio automático — permanecem só quatro.

 

Apesar de bem menos potente que o Griffe, o Allure se mostra bem “esperto”, com acelerações e retomadas rápidas, ideais para um carro com vocação urbana

 

Para a imprensa experimentar o 208, a Peugeot preparou um teste entre a cidade do Rio de Janeiro e Búzios, na região dos lagos, com percurso de cerca de 400 quilômetros entre ida e volta. Começamos como passageiro no modelo de 1,6 litro. A primeira impressão agrada, pois o compacto tem bom espaço para o ocupante ao lado, acabamento condizente com a faixa de preço e bancos confortáveis. A central multimídia parece complicada, mas não é: intuitiva, basta observar e seguir uma lógica que as funções são descobertas sem problemas.

Quando chegou nossa vez de dirigir o 208 Griffe, o painel de instrumentos acima do volante foi responsável por alguma estranheza, mas a adaptação foi rápida. O volante pequeno tem ótima empunhadura e transmite uma sensação mais esportiva, sem que afete o conforto por haver uma assistência bem dimensionada. A alavanca de câmbio é macia e com engates precisos.

 

 
Bem acertado quanto a câmbio e suspensão, com motor 1,45 bem disposto e
1,6 com tempero esportivo, o 208 promete agradar em um segmento concorrido 

 

Com potência expressiva, uma das maiores da categoria de 1,6 litro, o motor de 16 válvulas é bastante elástico, capaz de efetuar retomadas em baixa rotação, mas é a partir de 3.000 rpm que o motorista começa a sentir seu verdadeiro potencial. A Peugeot acertou bem os sistemas de suspensões e direção, deixando o carro confortável e seguro — absorve bem as imperfeições do asfalto, mas agarra em curvas acentuadas. Não foi possível dirigir o carro com caixa automática.

 

 

A volta ao Rio foi feita com a versão Allure de 1,5 litro. O interior é semelhante ao do Griffe, salvo por itens como o ar-condicionado de ajuste manual. Ao dirigir, não há muita diferença nas qualidades notadas na suspensão, no câmbio e na direção — a diferença está nas respostas ao pé direito. Apesar de bem menos potente que o 1,6 (quase 30 cv com álcool), ele se mostra bem “esperto”, com acelerações e retomadas rápidas, ideais para um carro com vocação urbana. A desvantagem aparece mesmo no fôlego: em uma ultrapassagem, por exemplo, é preciso reduzir uma ou duas marchas e “encher” o motor. Mas em condições de trânsito normal, em cidade, ele revela muita disposição.

A Peugeot considera o lançamento do 208 como o mais importante de sua história no Brasil. O 207 continua em produção em versão de entrada, com preço em torno de R$ 30 mil, direcionado para outro tipo de público.

 

Ficha técnica

Allure Griffe
Motor
Posição transversal
Cilindros 4 em linha
Comando de válvulas no cabeçote duplo no cabeçote
Válvulas por cilindro 2 4
Diâmetro e curso 75 x 82 mm 78,5 x 82 mm
Cilindrada 1.449 cm³ 1.587 cm³
Taxa de compressão 12,5:1
Alimentação injeção multiponto sequencial
Potência máxima (gas./álc.) 89/93 cv a 5.500 rpm 115 cv a 6.000 rpm/ 122 cv a 5.800 rpm
Torque máximo (gas./álc.) 13,5/14,2 m.kgf a 3.000 rpm 15,5/16,4 m.kgf a 4.000 rpm
Transmissão
Tipo de câmbio e marchas manual / 5 manual / 5 ou automático / 4
Tração dianteira
Freios
Dianteiros a disco a disco ventilado
Traseiros a tambor
Antitravamento (ABS) sim
Direção
Sistema pinhão e cremalheira
Assistência elétrica
Suspensão
Dianteira independente, McPherson, mola helicoidal
Traseira eixo de torção, mola helicoidal
Rodas
Dimensões 15 pol 16 pol
Pneus 195/60 R 15 195/55 R 16
Dimensões
Comprimento 3,966 m
Largura 1,702 m
Altura 1,472 m
Entre-eixos 2,541 m
Capacidades e peso
Tanque de combustível 55 l
Compartimento de bagagem 285 l
Peso em ordem de marcha 1.086 kg 1.153 kg*
Desempenho
Velocidade máxima (gas./álc.) 177/181 km/h 191/198 km/h
Aceleração de 0 a 100 km/h (gas./álc.) 11,7/10,9 s 10,2/9,7 s
Dados do fabricante; consumo não disponível; *câmbio manual

 

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