Citroën Aircross: quem não tem utilitário esporte…

…caça com a minivan “aventureira”, que evoluiu em estilo, conforto e eficiência no modelo 2016

Texto e fotos: Fabrício Samahá

 

Quando a Citroën Aircross foi lançada, em 2010, havia apenas uma opção de utilitário esporte compacto fabricado no Brasil: o Ford Ecosport de primeira geração. De lá para cá o cenário mudou por inteiro com os lançamentos de Honda HR-V, Jeep Renegade, Peugeot 2008, Renault Duster e um novo Ecosport, o que deixou evidente a carência da marca do duplo chevron por um produto no segmento.

Quem não tem cão caça com gato, diz o ditado, e assim a Citroën investiu em aprimoramentos em sua minivan “aventureira” para 2016 a fim de mantê-la competitiva como opção aos utilitários. Visual renovado, mais itens de conveniência e uma relação custo-benefício interessante marcam essa nova fase da Aircross, que deixa de ter como companhia a C3 Picasso — agora todas as versões recebem o mesmo nome, embora as mais baratas Start e Live tenham motor de 1,45 litro, menor altura de rodagem, pneus urbanos e o estepe guardado no compartimento de bagagem, como na Picasso.

 

Frente inspirada no C4 Cactus deu ar mais atual à Aircross, lançada há seis anos; traseira não mudou; rodas são de 16 pol na versão Feel

 

O Best Cars avaliou a Aircross Feel, versão mais simples entre as duas com jeito “aventureiro” (a outra é a topo de linha Shine), com transmissão manual. O preço sugerido de R$ 61.090 inclui equipamentos como alarme antifurto volumétrico, ar-condicionado, computador de bordo, controle elétrico de vidros/travas/retrovisores, direção com assistência elétrica, faróis de neblina, rádio/MP3 com interface Bluetooth e rodas de alumínio de 16 polegadas (bolsas infláveis são apenas as frontais). Com o pacote de tela tátil de 7 pol com integração a celular e sensores de estacionamento na traseira, passa a R$ 62.490. Poderia ainda receber transmissão automática de quatro marchas (R$ 4.600). A versão Shine, que já vem com tal caixa, custa R$ 71.690.

 

O sistema de entretenimento, com conectividade a celular pelas plataformas Mirror Link e Car Play, é certamente mais prático que o antigo

 

Inspirada em modelos europeus da marca como C4 Cactus e C4 Picasso, a reformulação da parte dianteira deixou a Aircross mais atual. Os novos faróis usam um arranjo peculiar: em cada lado, um único refletor elipsoidal serve aos fachos alto e baixo, que podem atuar em simultâneo, de modo a substituir sem perdas os antigos refletores duplos de superfície complexa. Há também leds para luz diurna, mas continuam ausentes os repetidores laterais das luzes de direção, o que é lamentável. Na traseira foram mantidas as lanternas elevadas e a placa deslocada à direita, pois no outro lado vem o estepe preso a um suporte.

No interior a Citroën redesenhou o painel, agora com formato quadrado nas molduras dos difusores de ar e uma faixa em tom claro em toda sua extensão. Na versão Feel os bancos são revestidos em tecido simples, mas de bom aspecto, e não há couro no bem desenhado volante, ajustável em altura e distância.

 

Painel recebeu molduras quadradas e nova tela de áudio; espaço vertical é bom; posição de dirigir e largura traseira merecem ressalvas

 

O novo sistema de entretenimento, comum a outros produtos do grupo PSA, usa uma tela sensível ao toque de sete polegadas para controlar áudio, telefone e o computador de bordo (este com repetidor nos instrumentos) e inclui conectividade com celular pelas plataformas Mirror Link e Apple Car Play; há ainda conexões USB, auxiliar e Bluetooth. É fácil de usar e certamente mais prático que o antigo sistema, cuja operação dependia de comandos mais baixos: a maior vantagem é a inserção de endereços no navegador, item que não equipa a versão Feel. Poderia ser mais fácil chegar aos ajustes de áudio, porém.

 

 

As mudanças não afetaram características de projeto da Aircross, algumas positivas, outras nem tanto. No primeiro grupo estão a boa visibilidade à frente, beneficiada pelas colunas duplas e estreitas; o ótimo espaço para cabeça e a acomodação confortável das pernas de quem viaja atrás. Entre as negativas destaca-se a posição de dirigir, com pedais em posição inadequada à altura do banco (as pernas ficam mais à vertical, mas precisam acioná-los pisando para frente), e alavanca de transmissão mais baixa que o ideal. Também desagrada o espaço lateral na traseira, insuficiente para três adultos.

Próxima parte

 

Desempenho e consumo

Apesar de não termos submetido a medições as concorrentes da Aircross (Spin Activ e Idea Adventure), pode-se analisar seu desempenho em paralelo ao dos utilitários esporte Ecosport e 2008 com motor de 1,6 litro, que avaliamos com caixa automática. O Ford acelerou de 0 a 100 km/h em 12 segundos, ante 13,1 s do Peugeot e 13,6 s da Citroën: a grande área frontal da Aircross e seu peso elevado (mais em comparação ao 2008, pois o Ecosport pesa quase o mesmo) cobram seu preço, mesmo com a teórica vantagem da transmissão manual em aceleração.

A minivan “aventureira” foi modesta também em retomadas, como ao levar 17,2 s para passar de 60 a 120 km/h em quarta marcha (não cabe comparação aos dois modelos por causa da caixa automática). Enfim, o consumo de álcool da Aircross foi mais alto que o do Ecosport nos três percursos de medição e ganhou do 2008 nos trajetos urbanos, mas perdeu no rodoviário.

 

Aceleração
0 a 100 km/h 13,6 s
0 a 120 km/h 18,3 s
0 a 400 m 19,1 s
Retomada
60 a 100 km/h (3ª.) 8,0 s
60 a 100 km/h (4ª.) 12,5 s
60 a 120 km/h (3ª.) 12,8 s
60 a 120 km/h (4ª.) 17,2 s
80 a 120 km/h (3ª.) 9,7 s
80 a 120 km/h (4ª.) 12,2 s
Consumo
Trajeto leve em cidade 9,8 km/l
Trajeto exigente em cidade 5,3 km/l
Trajeto em rodovia 8,4 km/l
Autonomia
Trajeto leve em cidade 485 km
Trajeto exigente em cidade 262 km
Trajeto em rodovia 416 km
Testes efetuados com álcool; conheça nossos métodos de medição

 

Dados do fabricante

Velocidade máxima ND
Aceleração de 0 a 100 km/h ND
Consumo em cidade 10,2/7,3 km/l
Consumo em rodovia 11,8/8,2 km/l
Consumo conforme padrões do Inmetro; ND = não disponível
Próxima parte

 

Bom porta-malas com acesso complicado pelo estepe; instrumentos simples; tela central serve a áudio e computador e espelha tela do telefone

 

Há vários bons detalhes no carro, a exemplo de avisos para atar cinto e para porta mal fechada, cinto de três pontos para todos os passageiros, comando satélite de áudio, computador de bordo com duas medições, faróis e luz traseira para neblina, local para garrafas nas portas da frente, mesas para lanches atrás dos encostos dianteiros, mostrador de temperatura externa, para-brisa com faixa degradê, porta-luvas refrigerado e retrovisores convexos de bom tamanho.

O que poderia melhorar: faltam encosto de cabeça para o ocupante central atrás e função um-toque para os demais controles elétricos de vidros (só o do motorista tem), o acesso ao tanque de combustível ainda requer chave, a varredura do limpador de para-brisa deixa muito espaço sem limpeza no lado direito (seria ideal usar braços opostos, comuns em minivans), o espaço para objetos do dia a dia é apenas regular e nota-se vão excessivo entre alguns painéis de carroceria, caso da tampa traseira.

 

Conhecido motor de 122 cv, agora com transmissão mais longa, traz desempenho apenas razoável: de 0 a 100 km/h em 13,6 segundos

 

Em termos de capacidade de bagagem a Aircross está bem situada em relação aos utilitários esporte: 403 litros, ampliáveis com o rebatimento do banco traseiro (bipartido, incluindo assento). Embora faça parte da caracterização visual, a montagem externa do estepe está longe de ser prática: para acesso à bagagem, é preciso liberar a trava e deslocar o suporte para a esquerda antes de erguer a tampa. Além disso, o conjunto demanda grande espaço atrás (mais que o necessário para a tampa em si) e projeta-se um tanto além da largura do carro, possível problema em ruas estreitas. Entendemos que o fabricante atenda aos anseios de seu público-alvo, mas do ponto de vista racional a montagem interna do pneu faria muito mais sentido.

 

O objetivo de aumentar o conforto da traseira foi alcançado: a minivan ficou mais macia e agradável nas irregularidades do dia a dia

 

Direção e suspensão aprimoradas

O motor desse Citroën é, desde 2013, a versão evoluída lançada no ano anterior no C3. Trata-se do conhecido 1,6-litro de quatro válvulas por cilindro, mas com alterações que elevaram sua potência a 115 cv com gasolina e 122 com álcool, com torque de 15,5 e 16,4 m.kgf, na ordem. Não é muito, mas traz desempenho razoável aos quase 1.300 kg da minivan e seu funcionamento é suave e silencioso. Nossas medições apontaram aceleração de 0 a 100 km/h em 13,6 segundos e retomada de 60 a 120 em 12,8 s em terceira marcha, enquanto o consumo foi um pouco alto, 8,4 km/l de álcool no trajeto rodoviário (veja números e análise detalhada na página anterior).

A transmissão tem comando leve e preciso, apesar da posição melhorável da alavanca, e os freios estão bem dimensionados. Na direção, uma novidade da linha 2016 é a assistência elétrica no lugar da hidráulica, evolução há tempos esperada (o C3 hatch já usava elétrica na primeira geração de 2003) e que deixou as manobras mais leves, sem prejuízo do peso apropriado em uso rodoviário. Há ainda vantagens de menor consumo de energia e ausência de fluido.

 

Recalibração da suspensão deixou o rodar mais confortável; pneus de uso misto credenciam a Aircross a certos caminhos fora do asfalto

 

A Aircross também foi revista na calibração da suspensão, que teve como foco aumentar o conforto da traseira. Objetivo alcançado: a minivan ficou mais macia e agradável nas irregularidades do dia a dia e em lombadas, embora os pneus de uso misto (Pirelli Scorpion ATR) pudessem absorver melhor os pequenos impactos. Não espere, porém, grande estabilidade: carroceria alta, amplo vão livre do solo e acerto macio impõem maior inclinação em curvas e certa imprecisão direcional sob ação de ventos laterais. Talvez a dianteira pudesse ganhar amortecedores mais firmes sem prejuízo ao conjunto.

 

 

Entre os avanços e os aspectos que ainda podem evoluir, a renovada Aircross é uma opção a considerar para quem busca um carro familiar com certa vocação para sair do asfalto sem gastar muito. As adversárias Chevrolet Spin Activ (motor de 1,8 litro, 106/108 cv, R$ 65.690) e Fiat Idea Adventure (1,75 litro, 130/132 cv, R$ 66.590), oferecem torque superior, mas são mais caras, a Spin tem potência bem menor e a Idea segue projeto um tanto antigo. Os utilitários esporte nacionais mais acessíveis, com motores equivalentes, também custam mais que o Aircross, como Duster Expression (1,6 litro, 110/115 cv, R$ 66.490), Ecosport SE (1,6, 110/115 cv, R$ 68.490) e Renegade básico (1,75 litro, 130/132 cv, R$ 72 mil).

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Comentário técnico

• Não há novidades para 2016 no motor de 1,6 litro da Aircross, o mesmo do C3, chamado pela fábrica de VTi 120 (referência à variação do tempo de abertura das válvulas de admissão e à potência aproximada). Dotado de preaquecimento de álcool para partida a frio, é baseado no que equipou desde 2001 o Peugeot 206 e usa bloco de ferro fundido. O acionamento dos comandos de válvulas é por meio de correia dentada.

• A transmissão manual ganhou alongamento de 5% no diferencial, o que afeta todas as marchas e trouxe redução de consumo pelos dados de fábrica. Com o mesmo objetivo a Citroën adotou pneus “verdes”, com menor resistência ao rolamento, e assistência elétrica de direção (era hidráulica no anterior). A caixa automática não teve alteração em relações, mas na calibração, de modo a passar mais cedo às marchas superiores, sobretudo quando acionado o inédito programa Eco.

 

Ficha técnica

Motor
Posição transversal
Cilindros 4 em linha
Material do bloco/cabeçote ferro fundido/alumínio
Comando de válvulas duplo no cabeçote
Válvulas por cilindro 4
Diâmetro e curso 78,5 x 82 mm
Cilindrada 1.587 cm³
Taxa de compressão 12,5:1
Alimentação injeção multiponto sequencial
Potência máxima (gas./álc.) 115 cv a 6.000 rpm/122 cv a 5.800 rpm
Torque máximo (gas./álc.) 15,5/16,4 m.kgf a 4.000 rpm
Potência específica (gas./álc.) 72,5/76,9 cv/l
Transmissão
Tipo de caixa e marchas manual / 5
Relação e velocidade por 1.000 rpm
1ª. 3,64 / 7 km/h
2ª. 1,95 / 13 km/h
3ª. 1,28 / 21 km/h
4ª. 0,98 / 27 km/h
5ª. 0,77 / 34 km/h
Relação de diferencial 4,69
Regime a 120 km/h 3.500 rpm (5ª.)
Regime à vel. máxima informada ND
Tração dianteira
Freios
Dianteiros a disco ventilado (ø ND)
Traseiros a tambor (ø ND)
Antitravamento (ABS) sim
Direção
Sistema pinhão e cremalheira
Assistência elétrica
Diâmetro de giro 10,9 m
Suspensão
Dianteira independente, McPherson, mola helicoidal
Traseira eixo de torção, mola helicoidal
Estabilizador(es) dianteiro e traseiro
Rodas
Dimensões 16 pol
Pneus 205/60 R 16
Dimensões
Comprimento 4,307 m
Largura 1,767 m
Altura 1,742 m
Entre-eixos 2,542 m
Bitola dianteira ND
Bitola traseira ND
Coeficiente aerodinâmico (Cx) ND
Capacidades e peso
Tanque de combustível 55 l
Compartimento de bagagem 403 l
Peso em ordem de marcha 1.289 kg
Relação peso-potência (gas./álc.) 11,2/10,6 kg/cv
Garantia
Prazo 3 anos sem limite de quilometragem
Carro avaliado
Ano-modelo 2016
Pneus Pirelli Scorpion ATR
Quilometragem inicial 5.000 km
Dados do fabricante; ND = não disponível

 

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