Com turbo, desempenho do VW Up TSI é surpreendente

Volkswagen Speed Up TSI

 

Motor de última geração com torque de sobra traz grande agilidade ao pequeno Volkswagen; preço parte de R$ 43.490

Texto: Geraldo Tite Simões – Fotos: divulgação

 

A Volkswagen traz uma importante inovação ao segmento de carros pequenos nacionais: o primeiro motor na categoria a associar turbocompressor e injeção direta, sistema denominado TSI pela marca. A novidade que estreia no Up é derivada da unidade de 1,0 litro e três cilindros que já equipava o modelo desde o lançamento, no ano passado, e o primeiro VW com injeção direta flexível, ou seja, apto a funcionar com gasolina e/ou álcool. Desenvolve potência de 101 cv com gasolina e 105 cv com álcool, sempre com torque de 16,8 m.kgf.

O Up TSI está disponível nas versões conhecidas Move, High, Black, Red, White e Cross e também na inédita Speed Up, uma edição especial com visual mais esportivo — todas com cinco portas, o que é uma pena, pois o Speed ficaria interessante com três. Os equipamentos de série seguem os do Up de aspiração natural (veja quadro abaixo com preços e conteúdos de cada um). As opções Black, Red e White Up agora só existem com o TSI; o mais simples Take Up fica apenas com o aspirado.

 

 
Teto em preto, faixas e retrovisores em azul: é o Speed Up TSI, edição que marca a estreia do motor turbo; a tampa traseira em preto vem em todas as versões

 

A aparência das várias versões é similar às oferecidas até então, mas a frente foi alongada em quatro centímetros no para-choque, a fim de abrir espaço para componentes mecânicos atrás dele, e a tampa traseira vem pintada em preto brilhante (para qualquer cor de carroceria), lembrando a peça toda envidraçada do Up europeu. De resto, salvo pelo logotipo TSI junto à lanterna direita, nada mais é alterado no visual ou no interior, nem mesmo as medidas de rodas e pneus. A VW informa coeficiente aerodinâmico (Cx) 0,367, perda ínfima em relação ao do aspirado (0,361).

 

Com o torque consistente já a 1.500 rpm, o motorista quase não precisa recorrer ao câmbio para ganhar ímpeto nas retomadas de velocidade

 

O Speed Up busca um ar jovial com a pintura em branco, retrovisores e faixas laterais em azul, teto e seção do para-choque dianteiro em preto, saias laterais, para-choque traseiro próprio e rodas de alumínio exclusivas de 15 polegadas. O interior vem todo em tons escuros e recebe painel em preto brilhante com o nome da edição, além de bancos revestidos em couro sintético Native. A proposta esportiva, porém, não se traduz em alterações técnicas em relação aos demais TSI. A VW informa não ter definido um limite de unidades para a série.

Quando se conhece a potência do Up TSI, certa decepção é inevitável: onde estaria todo o desenvolvimento tecnológico dos últimos 15 anos, desde que o Gol Turbo de 1,0 litro foi lançado com 112 cv (gasolina)? A resposta começa pelo torque, que no Up atinge 16,8 m.kgf em um platô iniciado a apenas 1.500 rpm (no Gol,  15,8 m.kgf a 2.000 rpm), e continua pela estratégia do fabricante, que hoje envolve mais a eficiência energética e menos o desempenho puro e simples, como na época.

 

 
O Speed tem rodas exclusivas, mas a mesma calibração de suspensão dos outros TSI; o interior vem todo em preto, com faixa brilhante no painel

 

Em comparação ao Up de aspiração natural, o TSI ganha 35% em potência com gasolina (de 75 para 101 cv) e 28% com álcool (de 82 para 105 cv), enquanto o torque é catapultado em 74% e 62%, na mesma ordem (são 9,7 e 10,4 m.kgf no aspirado), além de obter o valor máximo 1.500 rpm mais cedo (3.000 rpm no motor básico). Se o peso é praticamente o mesmo (951 kg no Move Up TSI; a informação para o aspirado é de 958 kg), a relação peso-potência só poderia ser bastante expressiva: 9,1 kg/cv no turbo ante 11,7 kg/cv, sempre com álcool (saiba tudo sobre o motor).

 

 

Da mesma forma que em relação ao velho Gol, o Up TSI parece modesto em potência quando comparado a outros carros pequenos de bom desempenho, mas sobressai em torque. O Ford Ka de 1,5 litro obtém 105/110 cv, mas não passa de 14,6/14,9 m.kgf, além de ser mais pesado (1.034 kg). O Nissan March de 1,6 litro alcança 111 cv e 15,1 m.kgf e também pesa mais que o VW (982 kg). O único a empatar em torque é o Fiat Palio Sporting de 1,6 litro, com 115/117 cv e 16,2/16,8 m.kgf; mesmo assim, o valor máximo requer 4.500 rpm e o carro acusa na balança 1.062 kg.

Como ficam desempenho e consumo? Muito bem. Pelos dados do fabricante, a aceleração de 0 a 100 km/h cai de 12,6/12,4 segundos do Up aspirado para 9,3/9,1 s no turbo e a velocidade máxima sobe de 163/165 km/h para 182/184 km/h (sempre na ordem gasolina/álcool), enquanto o consumo do TSI é ainda menor: 13,8/9,6 km/l no ciclo urbano e 16,1/11,1 km/l no rodoviário pelos padrões do Inmetro, contra 13,2/9,1 e 14,3/9,9 da versão aspirada, mantendo a ordem de combustíveis. Dos concorrentes citados, o March anuncia 191 km/h e 9,9/9,5 segundos, e o Palio, 191/193 km/h e 9,9/9,8 s; a Ford não informa o desempenho do Ka.

 

 
Nas versões Red (fotos), Black e White o TSI de 105 cv (com álcool) passa a ser de série; o interior não mudou, mas as alterações no motor são abrangentes

 

Ao volante

Surpreendente: assim pode ser resumida a sensação ao dirigir o Up TSi. A primeira surpresa vem justamente pelo desempenho para um motor tão compacto. Com o torque consistente já a 1.500 rpm, o motorista quase não precisa recorrer ao câmbio para ganhar ímpeto nas retomadas de velocidade: basta acelerar. Como resultado, o motor é um dos mais econômicos já vistos no mercado. Em quinta marcha a 120 km/h ele revela 2.800 rpm, regime típico de motores 1,8-litro. Outro ponto a destacar são os baixos níveis de ruído e vibração: mesmo em certa rotação, como 4.500 rpm, percebe-se apenas uma vibração suave na alavanca de câmbio, mas que não transmite ao piso.

O turbo não produz ruído algum nem dá qualquer tranco, a ponto de mal se perceber sua atuação. Deixando a rotação cair abaixo de 1.500 rpm, ao reacelerar o motor reage sem engasgos e logo assume vigor, sobretudo acima de 3.000 rpm, quando cresce com vontade. Também agrada o ronco do escapamento — silencioso, mas diferente para quem está acostumado aos quatro-cilindros. Para confirmar a vocação econômica, a VW fez um desafio de consumo entre os jornalistas — ficamos em terceiro lugar com a marca de 26,6 km/l, claro que com uma condução para lá de parcimoniosa no trecho de rodovia. O vencedor conseguiu mais de 29 km/l no mesmo percurso. Ajuda a economizar o indicador de troca de marcha no painel, que sugere a melhor para cada ocasião.

 

 
O Cross Up também oferece o motor mais potente; como nos demais, o para-choque dianteiro foi alongado em 4 cm para acomodar novos componentes

 

Os modelos avaliados foram o Cross Up e o Move Up, que têm como principal diferença os pneus, mais estreitos no segundo. Nada os diferencia na suspensão e, já que a marca oferece uma versão batizada de Speed e uma de Cross, poderia ter feito um acerto que as distinguisse — a do Speed poderia ser um pouco mais baixa e firme para menor rolagem. Pudemos comprovar na prática o controle de tração, que entrou em ação quando aceleramos fundo no piso molhado com o propósito de derrapar, sem sucesso.

Pegamos trânsito pesado, que parece seu melhor cenário, mas o TSI também encara a rodovia sem dever nada aos motores aspirados de 1,4 a 1,6 litro da concorrência. Infelizmente a VW informou que não tem planos de instalar o câmbio automatizado I-Motion, que muitos apreciariam no uso urbano, mas os engates do manual são macios e precisos, mesmo com o curso da alavanca um pouco longo. A nova versão do motor três-cilindros certamente fará o motorista esquecer que está a bordo de um carro de 1,0 litro — e isso, para muita gente, é uma grande notícia.

Próxima parte

 

Versões, preços e equipamentos

• Move Up TSI (R$ 43.490) – Vem de série com ar-condicionado, direção com assistência elétrica, freios com sistema antitravamento (ABS) e distribuição eletrônica da força de frenagem (EBD), ajuste de altura do volante e do banco do motorista, computador de bordo, controle eletrônico de tração, controles elétricos de vidros dianteiros e travas, lavador e limpador do vidro traseiro, fixação para cadeira infantil em padrão Isofix, rádio/toca-CDs com MP3, entradas USB e auxiliar e conexão Bluetooth para celular, retrovisores com regulagem elétrica e luzes de direção, rodas de aço de 14 polegadas com pneus 175/70, travamento com controle remoto. Opcional: pacote com sensores de estacionamento traseiros, rodas de alumínio de 14 pol, faróis e lanterna de neblina. Bolsas infláveis são apenas as frontais.

High Up TSI (R$ 48.040) – Como no Move Up, mais rodas de alumínio de 15 pol com pneus 185/60, faróis e lanterna de neblina, bancos com faixa em couro sintético Native, sensores de estacionamento traseiros e volante com apliques em preto brilhante. Opcional: preparação para o sistema de navegação Maps & More.

Black Up TSI, Red Up TSI e White Up TSI (R$ 48.690) – Oferecidas em cor única (preto, vermelho e branco, na ordem), as versões seguem o conteúdo do High Up com detalhes diferenciados como retrovisores e frisos laterais em tom prata, soleira das portas dianteiras com aplique em alumínio, rodas exclusivas de 15 pol com o fundo na cor do carro, volante de couro sintético e bancos em padrão específico. Opcionais: bancos de couro sintético e preparação para Maps & More.

Cross Up TSI (R$ 47.030) – Como no High Up, mas com rodas exclusivas de 15 pol e itens “aventureiros” como apliques em plástico preto nas caixas de roda. O interior tem revestimento exclusivo nos bancos. Opcionais: bancos de couro sintético e preparação para Maps & More.

Speed Up TSI (R$ 50 mil) – Como no White Up, mais rodas exclusivas, faixas laterais e retrovisores em azul e bancos revestidos de couro sintético.

Próxima parte

 

Por dentro do TSI de três cilindros

Texto: Fabrício Samahá

 

Embora o ponto de partida do novo motor TSI tenha sido o EA-211 de 1,0 litro já em uso pelo Up (a que chamaremos aqui de MPI, em alusão à injeção multiponto, como faz o fabricante), a Volkswagen demonstrou em detalhes em uma apresentação à imprensa o quanto ele tem de novo. O motor já existia na linha europeia da marca em versões de 105 cv para o Polo e 115 cv para o Golf, mas não ainda para o Up.

Os destaques, claro, são o turbocompressor e a injeção direta. A VW escolheu um turbo compacto (o rotor tem menos de 40 mm de diâmetro) e de baixa inércia, para produzir superalimentação desde regimes muito baixos, e adotou válvula de alívio (que libera a pressão considerada desnecessária) com abertura variável e controle eletrônico.

 

O motor TSI, que passou por amplas alterações internas, e seu turbocompressor: baixa inércia para alto torque em baixas rotações

 

A turbina está apta a girar a até 290.000 rpm, mas por segurança opera a bem menos, até 210.000. A pressão máxima de superalimentação é da ordem de 0,8 a 0,9 bar acima da atmosférica, mas não tem valor fixo: varia até mesmo com a altitude do local em que se trafega, por seu efeito na pressão do ar. De acordo com a VW, em grande altitude o Up TSI torna-se ainda mais veloz e rápido em retomadas de velocidade que ao nível do mar, beneficiado pela menor resistência do ar.

O conjunto conta com resfriador de ar (intercooler), mas montado no coletor de admissão em vez da posição externa ao motor, usual em modelos de maior cilindrada da própria VW: é um arranjo interessante apenas em motores pequenos, com menor fluxo de ar de admissão. No Up não se usa mais a antiga válvula de recirculação, que redirecionava o ar sob pressão quando a borboleta de aceleração fosse fechada, pois a válvula de alívio hoje tem controle elétrico e o próprio acelerador usa gerenciamento eletrônico.

A injeção direta trabalha com altíssima pressão de injeção, de até 250 bars, ante apenas 4,2 do sistema indireto multiponto sequencial do MPI. O sistema trouxe uma facilidade adicional: com tão alta pressão as partidas a frio podem ser feitas com álcool à temperatura ambiente, sem necessidade do sistema de preaquecimento do motor MPI. O Up recebeu ainda um sensor de álcool por variação de capacitância, que detecta seu teor no combustível que vem do tanque antes mesmo da combustão, adiantando as correções necessárias à mistura: o usual é se basear na leitura do sensor de oxigênio ou sonda lambda (que permanece), posterior à combustão.

 

Diferentes já no tipo de injeção: na multiponto do MPI (à esquerda) ela é feita no coletor de admissão; no TSI, diretamente nos cilindros

 

A necessidade de assegurar resistência e durabilidade com as novas condições de trabalho exigiu extensas alterações em outros elementos do motor. O bloco ganhou mais canais para retorno de óleo do turbo e o virabrequim é forjado (no MPI é fundido) e com novos contrapesos, pesando 600 gramas a mais que o outro.

As bielas ficaram 5 mm mais curtas, de 145 para 140 mm, de modo a permitir pistões com saias mais longas sem alterar o comprimento total do conjunto, embora bielas mais longas fossem preferíveis dos pontos de vista de eficiência e suavidade. Mesmo assim a relação r/l é muito boa (0,272 ante 0,263 do MPI). Pistões, seus anéis e pinos também foram redesenhados. A taxa de compressão de 10,5:1, embora mais baixa que a do Up MPI (11,5:1), é bastante alta para um motor turboalimentado: uma possibilidade trazida pela injeção direta, que reduz em muito a tendência à detonação.

Agora ambas as árvores de comando de válvulas, que permanecem integradas ao cabeçote, contam com variação contínua do tempo de abertura das válvulas — no MPI, apenas a de admissão. A variação abrange 50 graus na admissão e 40 no escapamento e admite arranjos variados: o cruzamento de válvulas (quando todas estão abertas) é alto em baixas rotações, menor em regimes mais elevados e praticamente se anula em marcha-lenta. O diâmetro das válvulas não foi ampliado, mas reduzido, pois no TSI elas admitem ar sob pressão. Permanece a ligação ao virabrequim por meio de correia dentada, substituída a cada 120 mil quilômetros.

 

A válvula de alívio com controle eletrônico, fechada (à esquerda) e aberta, ajusta quanto da pressão da turbina será aproveitada no motor

 

Como o motor de alto desempenho tem maiores necessidades de arrefecimento e lubrificação, foram tomadas outras medidas. Há um trocador de calor para o óleo lubrificante e a capacidade do óleo foi ampliada (sua especificação permanece o padrão da linha VW). O motor MPI já contava com dois circuitos de arrefecimento, isto é, o líquido que refrigera o bloco é mantido em temperatura mais alta que o do cabeçote, por meio de duas válvulas termostáticas.

No TSI passam a existir três circuitos, um deles dedicado ao resfriador de ar e ao conjunto do turbo. Por existir uma bomba elétrica para esse circuito, o arrefecimento do turbo pode ser mantido mesmo após desligar o motor — no passado distante já se recomendou manter marcha-lenta por no mínimo 60 segundos, sob risco de que lubrificante ao redor da turbina “fritasse” com o calor armazenado.

No câmbio a VW alterou apenas fixação, embreagem e a relação do diferencial, que foi alongada em importantes 26%, mantendo as relações de marchas do MPI. A 120 km/h em quinta o motor TSI gira a menos de 2.800 rpm (calculadas), cerca de 1.000 abaixo do aspirado. O Up turbo atinge a velocidade máxima em quarta marcha, mas pode fazê-lo em quinta com mínima diferença (perde apenas 0,3 km/h). Por enquanto não está prevista opção de câmbio manual automatizado I-Motion, como no MPI. De resto, o modelo recebeu freios dianteiros com discos maiores (256 mm de diâmetro contra 236 do MPI; a VW havia informado medida errada para este no início), nova calibração de molas e amortecedores e controle eletrônico de tração — não foi previsto o de estabilidade.

 

Ficha técnica

Motor

Posição transversal
Cilindros 3 em linha
Comando de válvulas duplo no cabeçote
Válvulas por cilindro 4, variação de tempo
Diâmetro e curso 74,5 x 76,4 mm
Cilindrada 999 cm³
Taxa de compressão 10,5:1
Alimentação injeção direta, turbocompressor, resfriador de ar
Potência máxima (gas./álc.) 101/105 cv a 5.000 rpm
Torque máximo (gas./álc.) 16,8 m.kgf a 1.500 rpm

Transmissão

Tipo de câmbio e marchas manual, 5
Tração dianteira

Freios

Dianteiros a disco ventilado
Traseiros a tambor
Antitravamento (ABS) sim

Direção

Sistema pinhão e cremalheira
Assistência elétrica

Suspensão

Dianteira independente, McPherson, mola helicoidal
Traseira eixo de torção, mola helicoidal

Rodas

Dimensões 5 x 14 pol (Move), 5,5 x 15 pol (outros)
Pneus 175/70 R 14 (Move), 185/60 R 15 (outros)

Dimensões

Comprimento 3,645 m
Largura 1,645 m
Altura 1,504 m
Entre-eixos 2,421 m

Capacidades e peso

Tanque de combustível 50 l
Compartimento de bagagem 285 l
Peso em ordem de marcha 951 a 1.000 kg

Desempenho e consumo (gas./álc.)

Velocidade máxima 182/184 km/h
Aceleração de 0 a 100 km/h 9,3/9,1 s
Consumo em cidade 13,8/9,6 km/l
Consumo em rodovia 16,1/11,1 km/l
Dados do fabricante; consumo conforme padrões do Inmetro

 

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