Civic Touring vs. Corolla Hybrid: fórmulas de eficiência

Turbo e injeção direta de um lado, sistema híbrido de outro: qual o melhor em economia, desempenho e custo-benefício?

Texto e fotos: Fabrício Samahá

 

Eficiência, hoje, é a palavra-chave na indústria de automóveis. Todos a perseguem, seja para atender aos anseios do consumidor — por economia ou consciência ambiental —, seja porque as normas de emissões de CO2 e de consumo estão mais severas dos dois lados do Oceano Atlântico.

Nem todo fabricante, porém, segue a mesma fórmula para obter um carro eficiente. Bom exemplo está nas versões de topo dos arquirrivais Honda Civic e Toyota Corolla: enquanto o primeiro recorre a turbocompressor e injeção direta, o outro inova com o primeiro sistema híbrido do mundo associado a motor flexível em combustível.

 

O Corolla ficou mais arrojado na nova geração, mas não o bastante para contrariar o público mais tradicional — risco que a Honda decidiu correr com o adversário

 

Já sabemos o que você pensou: o Corolla concorrente mais direto do Civic Touring, em potência, é o Altis com motor de 2,0 litros. No entanto, essa versão está ausente da frota de testes da Toyota (leia avaliação do XEI). Por isso, ao receber o Altis Hybrid, decidimos que o confronto ao Honda seria a oportunidade de analisar qual solução de eficiência obtém os melhores resultados — e, por extensão, qual o melhor entre esses sedãs médios que competem nos quatro cantos do mundo.

 

 

Estilo
Os desenhos externos refletem a diferença de perfil entre os carros: o Civic busca ousadia e esportividade, mesmo que possa desagradar a parte do público, enquanto o Corolla faz questão de não ofender seu cliente mais tradicional, ainda que se tenha modernizado nessa geração. É um detalhe, mas lamentamos as novas rodas do Touring, de aspecto bem mais simples que as anteriores.

 

Interior também mais ousado no Civic e com acabamento muito bom em ambos; no Corolla Hybrid os instrumentos digitais não incluem conta-giros

 

Acabamento e conveniência
O interior do Civic também tem formas mais ousadas, embora o do Corolla tenha evoluído. Ambos usam materiais plásticos de bom aspecto, apesar de rígidos, e couro nos bancos. O Honda agora oferece tom cinza, enquanto o Toyota combina marrom e marfim com ótimo efeito visual — como o tom claro fica em regiões sem contato com a calça, está menos propenso a manchas, mas também não contribui para amenizar o desconforto do calor tropical.

 

O Civic ganhou carregador de celular por indução e monitor de pressão dos pneus; o Corolla responde com assistentes de faixa e faróis e controlador de distância

 

Conveniências em comum incluem ar-condicionado automático de duas zonas, câmera traseira de manobras, chave presencial, limpador de para-brisa automático, para-brisa degradê, para-sóis com espelhos iluminados, retrovisores externos com rebatimento elétrico, retrovisor interno fotocrômico e teto solar com controle elétrico. O espaço para objetos é mediano. O Honda tem a mais câmera no retrovisor direito (Lane Watch) com ótima visualização das faixas daquele lado, carregador de celular por indução (novidade em 2020), comando a distância para abrir e fechar vidros e teto, difusor de ar para o banco traseiro, freio de estacionamento com controle elétrico e retenção automática nas paradas, monitor de pressão dos pneus e sensores de estacionamento à frente e atrás.

O Toyota responde com assistentes de facho dos faróis e de manutenção na faixa da via, controlador de distância ao tráfego adiante e seletor de modos de condução (Normal, Eco e Power, além do EV para uso apenas elétrico). Além disso, adota mais comandos de girar para funções de áudio e ar-condicionado, o que facilita o uso. As centrais de áudio têm ampla tela (8 polegadas no Corolla, 7 no Civic), integração a celular por Android Auto e Apple Car Play e duas tomadas USB. A do Civic traz navegador integrado.

 

Civic: tela de 7 pol com navegador, monitor de pneus, carregador de celular sem fio, câmera no retrovisor direito, difusores para o banco traseiro, freio de mão elétrico

 

Corolla: tela de 8 pol com mostrador de energia, controlador de distância, assistentes de faixa e de faróis, seletor de modos de condução, dois tons no acabamento

 

Posto do motorista
À parte a posição mais baixa e esportiva no Civic, encontra-se bom conforto nos dois carros, com volante ajustável em altura e distância, banco bem definido e dotado de ajuste elétrico, que só no Honda inclui o apoio lombar e sua altura. No Corolla Hybrid os instrumentos usam tela digital, de melhor aspecto que nas demais versões, com poucas configurações. Há um interessante mostrador de fluxo de energia, mas falta conta-giros. O Touring fornece mais informações, incluindo pressão de turbo.

 

 

Ambos trazem ótimos faróis com leds para ambos os fachos, luzes diurnas do mesmo tipo, faróis de neblina e repetidores laterais das luzes de direção. E têm boa visibilidade, com restrição mediana pelas colunas dianteiras. A favor do Corolla estão ajuste elétrico do facho dos faróis e luz traseira de neblina. Os retrovisores externos do Civic poderiam ser melhores.

 

Ambos são espaçosos atrás, sobretudo para pernas, e oferecem ajustes elétricos do banco do motorista, que no Civic incluem apoio lombar

 

Espaço interno
As acomodações aos passageiros são bem parecidas nos dois: quatro adultos viajam bem, com ótimo espaço para as pernas atrás, mas apenas regular para a cabeça; um ocupante central sofre com o encosto e desloca os colegas para posições menos cômodas. Embora o perfil de teto do novo Corolla tenha prejudicado o acesso, exigindo mais atenção para não bater a cabeça, a situação do Civic é bem mais crítica.

Porta-malas
O Honda oferece excelente capacidade de bagagem de 519 litros, ante os bons 470 litros do Toyota, que tem o mérito de não perder espaço nessa versão híbrida. Os dois têm banco traseiro com encosto bipartido 60:40. Os estepes são de uso restrito: temporário (fino) no Honda e com pneu diferente dos outros no Toyota.

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Combinação de motor 1,8 a dois elétricos deixa o Toyota muito econômico em cidade, mas em desempenho e prazer ao dirigir a vantagem do Honda é evidente

 

Motor e desempenho
Nesse item há um grande contraste entre eles. O motor de 1,5 litro do Civic usa turbo e injeção direta para obter grande vantagem em potência: 173 cv contra estimados 130 — a Toyota omite esse valor, que não é a simples soma dos índices dos motores. No Corolla, a unidade aspirada de 1,8 litro opera em ciclo Atkinson para maior eficiência e está combinada a dois motores elétricos, em sistema que decide por si só quais motores acionar em cada condição.

Em desempenho ou prazer de dirigir, não resta dúvida: leve o Civic. Primeiro porque ele acelera e retoma velocidade muito mais rápido, como de 0 a 100 km/h em 7,6 segundos contra 11,2 s e de 80 a 120 km/h em 5,7 s ante 8,8 s. Segundo porque seu motor tem operação muito suave e respostas prontas, com mínimo retardo de ação do turbo, sendo um dos melhores entre os sedãs médios. O do Corolla mostra-se um tanto áspero e seu desempenho só convence em baixa velocidade. A seu favor está o período em que apenas os motores elétricos movem o carro, com boas respostas e baixíssimo nível de ruído.

 

Transmissões CVT nos dois, com simulação de marchas e comandos no volante apenas no Civic; ele oferece também 50 litros a mais de espaço para bagagem

 

Ambos usam transmissões de variação contínua (CVT), mas a do Honda simula sete marchas sempre que se acelera a fundo — mais agradável aos ouvidos, embora menos eficiente —, além de oferecer programa esportivo e comandos no volante para seleção manual. A do Toyota opera apenas como típica CVT, mantendo a rotação enquanto a velocidade sobe. Para obter maior retenção em descidas (freio-motor), oferece a posição B em que aumenta a regeneração de energia.

 

 

Consumo
Chegamos à grande questão: qual roda mais com um litro de gasolina em cada condição? Nos trajetos urbanos a vantagem do Corolla é inegável, pois nessa condição o motor a combustão passa boa parte do tempo desligado e existe maior regeneração de energia: 22,2 km/l no trajeto leve é a melhor marca de nossa história de testes. O Civic, porém, chamou atenção com os 15,7 km/l, compatíveis com carros pequenos da faixa de 1,4 litro. Em rodovia, os motores elétricos do Toyota não ajudam tanto e sua marca (13,3 km/l) acabou atrás da do Honda por leve margem (13,5 km/l).

 

Faróis de leds equipam essas versões; o Corolla melhorou em estabilidade, agora similar à do Civic, mas este agrada mais em absorção de impactos e asperezas

 

Comportamento dinâmico
Por tradição o Civic sempre teve maior ênfase na estabilidade, e o Corolla, no conforto. Nas atuais gerações, porém, o quadro está diferente. Primeiro porque o Honda evoluiu muito em absorção de irregularidades e asperezas, hoje melhor que no rival. O Toyota agora filtra melhor as oscilações do piso (que o antigo transmitia em excesso), mas os pneus são um tanto ásperos em asfalto imperfeito e os amortecedores traseiros poderiam ser mais suaves em lombadas.

 

No consumo urbano a vantagem do Corolla é inegável, pois o motor a combustão passa boa parte do tempo desligado, mas em rodovia ele acabou atrás do Civic

 

Segundo, porque o novo Corolla ganhou uma atitude esportiva: ao lado do Civic, talvez seja o sedã atual mais fácil de provocar a traseira para fechar o raio da curva, antes que o controle eletrônico de estabilidade intervenha, algo inesperado por seu perfil mais tradicional. Nos dois, o melhor a fazer ao entrar muito rápido em curva é manter alguma aceleração, pois cortá-la faz a traseira sair decidida. Os dois usam suspensão traseira multibraço e estão em alto nível de estabilidade, embora a aderência dos pneus pudesse ser maior no Toyota.

Ambos oferecem calibração ideal da assistência de direção e freios potentes e bem moduláveis. O sistema duplo do Hybrid (apenas a regeneração atua em uso leve; as pastilhas, só em aplicação mais intensa) em nada afeta a suavidade de frenagem, resultado da grande experiência da marca em modelos híbridos.

 

A opção pelo híbrido justifica-se no uso urbano, mas em rodovia o Civic consome o mesmo, oferece desempenho bem melhor e não tem a aspereza do motor do Corolla

 

Segurança passiva
Ambos estão bem servidos em proteção aos ocupantes, com bolsas infláveis laterais dianteiras e de cortina, cintos de três pontos e encostos de cabeça para cinco pessoas e fixação Isofix para cadeira infantil. O Corolla traz ainda bolsa para os joelhos do motorista.

 

 

Custo-benefício
O Corolla Hybrid básico custa R$ 7,7 mil a menos que o Civic Touring, mas a adição do pacote opcional no carro avaliado equilibrava bastante as coisas, reduzindo sua vantagem a R$ 1,7 mil. Ele oferece de série mais assistências que são úteis à segurança, enquanto o Honda vence em itens de conveniência, mesmo diante do rival com opcionais. O que realmente os diferencia é a mecânica.

Quem busca o máximo de eficiência — tema do comparativo, lembre-se — terá no Hybrid um carro muito econômico em cidade, onde justifica a sofisticação técnica do sistema que ele introduz na produção nacional. Contudo, abrirá mão de grande parte do desempenho e do prazer de dirigir que o Touring oferece. E, se o uso predominante for em rodovia, o motorista do Civic ainda pode obter consumo equivalente, acelerar o delicioso motor turbo e deixar para trás o condutor do Corolla com a pergunta: “Híbrido para quê?”.

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