Optar por marca de prestígio significa pagar mais e levar menos em conteúdo e potência? Nem sempre
Texto e fotos: Fabrício Samahá
Carros de marca de prestígio — ou premium, como alguns preferem —, comprar ou não comprar? A dúvida está na mente de muitos consumidores, pois optar pelos fabricantes dedicados a segmentos de luxo significa, em geral, abrir mão de conteúdo e desempenho em favor de um logotipo mais nobre. Mas nem sempre é o que acontece.
Dois utilitários esporte lançados quase juntos no Brasil vêm contestar essa regra. De um lado está o Volvo XC40, primeira incursão da marca sueca entre os SUVs desse porte, depois do êxito dos maiores XC60 e XC90. De outro aparece o novo Honda CR-V, última evolução do modelo disponível aqui desde a primeira geração. Embora apenas uma das marcas — a sueca — possa ser considerada de luxo em nosso mercado, há surpreendente equilíbrio entre o que eles oferecem e o quanto custam… quando a relação não favorece o Volvo. Boa razão para um comparativo.
Honda CR-V Touring AWD | Volvo XC40 Momentum T5 AWD | ||||||||
4,59 m | 4,42 m | ||||||||
1,5 litro, turbo | 2,0 litros, turbo | ||||||||
190 cv | 252 cv | ||||||||
R$ 189.000 | R$ 205.950 | ||||||||
Preços sugeridos para os carros avaliados, com possíveis opcionais |
Como eles estão nos quatro “Ps” de nossos confrontos? Têm a mesma proposta de uso: SUVs de porte médio com tração integral, conforto suficiente para levar a família, bom espaço para sua bagagem, desempenho bastante bom e aptidão para trajetos leves fora de estrada. Em porte o CR-V mede mais 17 centímetros em comprimento, mas perde em 4 cm em distância entre eixos para o XC40.
Potência é algo que os diferencia. Embora o Volvo ofereça a versão de entrada T4 com os mesmos 190 cv do Honda, a opção que mais se aproxima do rival em preço e pela tração integral é a Momentum T5, com 252 cv no motor turbo de 2,0 litros. O CR-V é oferecido em versão Touring com pacote fechado ao preço de R$ 189 mil. O XC40 Momentum começa em R$ 199.950 e o avaliado custava R$ 205.950 com um dos opcionais. Portanto, pagam-se 9% a mais para passar à marca de luxo e levar mais 62 cv sob o capô. Parece interessante? Nas próximas páginas descobriremos se vale a pena.
Próxima parte
Desenho mais simples no Volvo e elaborado no Honda; ambos recorrem a lanternas traseiras que sobem pelas colunas, tradicionais nas marcas
Concepção e estilo
O XC40 foi lançado na Europa no ano passado como um estreante na linha Volvo, marca que não havia feito um utilitário esporte desse tamanho antes. Bem diferente é o caso do CR-V: existe desde 1995, quando foi um dos primeiros SUVs com plataforma típica de automóvel (o Toyota RAV4, um ano antes, pode ser considerado o pioneiro), e chegou em 2016 à quinta geração. Todas elas estiveram à venda no Brasil.
O Volvo segue um estilo simples e robusto, mas sem o impacto visual que — por exemplo — o primeiro XC60 conseguiu 10 anos atrás. Como se viu em outras marcas, como a Hyundai, parece que ciclos de inovação e sobriedade sempre se sucederão na indústria. A coluna traseira larga, a quebra das janelas logo à frente dela e a parte superior em cor diferente do restante sobressaem. No CR-V a evolução do tema do anterior resultou em formas ousadas, mas controversas em alguns pontos, como as lanternas traseiras. Parte delas, a exemplo das do rival, sobem pelas colunas para manter uma tradição de cada marca — restrita ao modelo na Honda e extensiva a outros SUVs e peruas na Volvo.
O coeficiente aerodinâmico (Cx) do XC40, de 0,34, está bom para o tipo de carro. O do CR-V não é divulgado, uma praxe da marca. Em ambos os vãos entre painéis de carroceria são bem estreitos e regulares.
O CR-V tem projeção elevada de informações e espaço adicional para pernas no banco traseiro; ambos acomodam muito bem em bancos de forma e densidade corretas
Conforto e conveniência
Os dois interiores impressionam bem, com formas modernas e elaboradas e escolha cuidadosa de materiais de acabamento, caso dos revestimentos macios em locais de toque frequente nas portas. No XC40 chama atenção a tela central vertical de nove polegadas da central de áudio (horizontal de 7 pol no rival), enquanto o CR-V busca um toque refinado com apliques foscos que simulam madeira.
O motorista acomoda-se muito bem em ambos os carros, com banco bem desenhado e de amplo apoio lateral, regulagens elétricas completas (incluindo apoio lombar), duas memórias de posição e volante ajustável em altura e distância, assim como bom apoio ao pé esquerdo. O apoio de coxas poderia ser maior no Honda, mas sua densidade de espuma do encosto nos pareceu mais agradável (é dura no Volvo).
O novo CR-V ganhou um quadro de instrumentos com seção digital de fácil leitura para velocímetro, conta-giros e diversas informações, como as de computador de bordo e tração integral, que indica como cada eixo está recebendo torque no momento. Ótimo recurso é a projeção elevada em uma lâmina plástica, bem no campo visual da via, de velocímetro, conta-giros e informações de navegação e áudio — pode-se escolher quais mostrar ou desativar o sistema.
O XC40 impressiona pela grande tela vertical de 9 pol, que poderia ser mais prática; no interior de bom acabamento, o assento traseiro baixo pode incomodar
No XC40, embora todo o quadro também seja uma tela, os dois principais mostradores simulam um painel analógico. O que pode escolher são a indicação no centro, a grafia do quadro (com uma opção mais esportiva e em vermelho) e a função do mostrador direito, que muda de conta-giros para medidor de eficiência ao selecionar o modo de condução Eco. Seu computador de bordo deveria mostrar consumo em km/l, não apenas o padrão europeu de litros/100 km.
No XC40 chama atenção a tela central vertical de 9 pol da central de áudio, enquanto o CR-V busca um toque refinado com apliques que simulam madeira
A tela da central de áudio do Volvo impressiona os olhos, mas requer toques para todas as operações. A operação demanda mais atenção, torna-se incômoda em pisos irregulares e nem sempre é fácil comandar sua infinidade de funções, algumas em menus nada intuitivos. Falta o item “pastas” ao explorar um pendrive e apenas as primeiras 20 faixas ficam à vista na tela, mesmo que se alcance a centésima. A solução do Honda, com botões físicos para funções de som e ar-condicionado, nos parece bem melhor.
O áudio em si é muito bom em ambos (da renomada Harman/Kardon no Volvo), bem definido e com graves potentes, apesar de certa distorção em alto volume. O CR-V tem quatro tomadas USB na cabine (sendo duas de alta corrente, 2,5 A) e uma HDMI; ambos integram-se a celular por Android Auto e Apple Car Play e incluem navegador, este um caro opcional de R$ 6 mil no XC40.
Quadros de instrumentos com parte digital (Honda) ou todo ele (Volvo); o CR-V mostra a distribuição da tração; no XC40, grafia e cor seguem programa de condução
Como se espera pela faixa de preços, são dois carros bem-equipados: alerta específico de qual porta está mal fechada, ar-condicionado automático de duas zonas com difusor para o banco traseiro, câmera traseira de manobras, chave presencial para acesso ao interior e partida do motor, controlador de velocidade, controle elétrico de vidros com função um-toque para todos e comando de fechamento a distância (também de abertura no Volvo), faróis e limpador de para-brisa automáticos, freio de estacionamento com comando elétrico, monitores de atenção do motorista (compara seu modo atual de direção ao de período anterior) e de pressão dos pneus, para-sóis com espelhos iluminados, quatro alças de teto, rebatimento elétrico dos retrovisores.
Detalhes a favor do CR-V são ajuste elétrico também do banco do passageiro, câmera sob o retrovisor direito (Lane Watch) que mostra no painel um amplo campo visual daquele lado, espelho convexo junto ao teto que permite acompanhar crianças no banco traseiro, faixa degradê no para-brisa, maior espaço para objetos (o do console central é configurável, muito bem pensado), mensagens de voz em português brasileiro para alertas (como colocar cinto e liberar o freio de estacionamento), partida remota do motor, sensor de estacionamento também na frente (Volvo, só atrás) e teto solar com controle elétrico.
Próxima parte
CR-V: tela de 7 pol, câmera sob retrovisor direito, teto solar, conexão HDMI e quatro USB, espelho para acompanhar crianças, estepe integral
O XC40 responde com ajuste de apoio lombar também para o passageiro, ar-condicionado que ativa a recirculação ao detectar poluentes no ar externo, assistentes de facho dos faróis e para manter a faixa da via (com escolha entre alerta, intervenção no volante e ambos), carregador de celular por indução, capô sustentado por mola a gás, comando para a trava infantil das portas traseiras (tem a desvantagem de não bloquear só uma), luzes de cortesia no assoalho interno e no piso junto às portas, manual de instruções na tela central, mostrador de nível de óleo do motor, porta-luvas refrigerado, seleção de três perfis de motorista para guardar preferências, sistema de assistência Volvo On Call e retrovisores externos fotocrômicos (além do interno, comum ao CR-V) e que podem mostrar o meio-fio em marcha à ré.
Agrada ainda no Volvo o som abafado (“de freezer“) ao fechar as portas, que faz as do rival parecerem de plástico. O capô usa dois fechos, mais seguros contra abertura acidental e favoráveis aos vãos de carroceria, por manter a peça mais firme em alta velocidade. Existe monitor da distância à frente, com alerta e frenagem automática em velocidades urbanas, além da opção (ausente do carro avaliado) de controlador de distância.
Correção oportuna no CR-V seria ao conhecido bloqueio de controle elétrico de vidros: para impedir que crianças usem os botões traseiros, deixa o passageiro da frente com o vidro bloqueado e o motorista sem controle sobre as três janelas. No XC40 há a falta imperdoável de luz de cortesia na parte traseira, a tela central parece muito propensa a marcas de dedos e o sistema automático de parada/partida do motor — que atua muito mais do que gostaríamos — não tem botão de desativação, a qual requer uso de menus da central. Em ambos seria bom existir limitador de velocidade.
XC40: muitas funções na tela central de 9 pol, retrovisores externos também fotocrômicos (o esquerdo biconvexo), carregador de celular por indução
Os dois carros oferecem amplo espaço na frente e para cabeças e pernas no banco traseiro, sendo o CR-V superior no último aspecto. Ele é também mais largo, embora nenhum admita três adultos com conforto. No XC40, o assento traseiro muito baixo deixa as coxas mal apoiadas e o volumoso túnel do assoalho incomoda mais o passageiro central.
Os dois carros oferecem amplo espaço na frente e para cabeças e pernas no banco traseiro, este maior no CR-V, que também admite volume de bagagem superior
O compartimento de bagagem é maior no Honda, 522 litros ante 460 do rival. O banco traseiro é bipartido em ambos; o CR-V tem práticos comandos no porta-malas que promovem seu rebatimento sem se precisar mexer no banco. Outra comodidade do modelo é o acionamento elétrico da tampa traseira, comandado também por movimento do pé sob o para-choque — o que a Volvo só oferece na versão R-Design. Além do sensor habitual para evitar que a tampa se feche sobre alguém, há um sensor na guarnição que detecta até dedos infantis no caminho. Ainda, seu estepe tem tamanho integral e até roda de alumínio, boa vantagem sobre o temporário do XC40.
Memórias para o banco, monitor de atenção, saída de ar para banco traseiro, rebatimento de espelhos, retenção automática e navegador estão nos dois modelos
Próxima parte
Equipamentos de série e opcionais
CR-V | XC40 | |
Ajuste de altura dos bancos mot./pas. | S/ND | S/ND |
Ajuste de apoio lombar mot./pas. | S/ND | S/ND |
Ajuste do volante em altura/distância | S/S | S/S |
Ajuste elétrico dos bancos mot./pas. | S/S | S/ND |
Ajuste elétrico dos retrovisores | S | S |
Alarme antifurto/controle a distância | S/S | S/S |
Aquecimento | S | S |
Ar-condicionado/controle automático/zonas | S/S/2 | S/S/2 |
Bancos/volante revestidos em couro | S/S | S/S |
Bolsas infláveis laterais/cortinas/joelhos mot. | S/S/ND | S/S/ND |
Caixa automática/automatizada | S/ND | S/ND |
Câmera traseira para manobras | S | S |
Chave presencial para acesso/partida | S/S | S/S |
Cintos de três pontos, todos os ocupantes | S | S |
Computador de bordo | S | S |
Conta-giros | S | S |
Controlador/limitador de velocidade | S/ND | S/ND |
Controle de tração/estabilidade | S/S | S/S |
Controle elétrico dos vidros diant./tras. | S/S | S/S |
Controles de áudio no volante | S | S |
Direção assistida | S | S |
Encosto de cabeça, todos os ocupantes | S | S |
Faróis com lâmpadas de xenônio/leds | ND/S | ND/S |
Faróis de neblina | S | S |
Faróis/limpador de para-brisa automático | S/S | S/S |
Fixação Isofix para cadeira infantil | S | S |
Freios antitravamento (ABS) | S | S |
Interface Bluetooth/integração a celular | S/S | S/S |
Limpador/lavador do vidro traseiro | S | S |
Luz traseira de neblina | S | S |
Navegador por GPS | S | O |
Rádio com toca-CDs/MP3 | ND/S | ND/S |
Repetidores laterais das luzes de direção | S | S |
Retrovisor interno fotocrômico | S | S |
Rodas de alumínio | S | S |
Sensores de estacionamento diant./tras. | S/S | ND/S |
Teto solar/comando elétrico | S/S | ND |
Travamento central das portas | S | S |
Convenções: S = de série; O = opcional; ND = não disponível |
Apesar do motor com mais potência e torque, o Volvo não foi tão mais rápido para acelerar e retomar; o Honda tem a vantagem do menor consumo em cidade
Mecânica, comportamento e segurança
A fórmula atual — turbocompressor e injeção direta — foi aplicada a ambos os motores, mas a maior cilindrada do Volvo, 2,0 litros ante 1,5, favorece potência e torque. De fato, seus valores de 252 cv e 35,7 m.kgf deixam bem para trás os de 190 cv e 24,5 m.kgf do Honda. Os dois são muito suaves e silenciosos. Apesar do peso superior em 148 kg ou cerca de dois adultos a mais a bordo, o Volvo só poderia ser mais vigoroso. É empolgante acelerá-lo até o limite de cada marcha, ouvindo o escapamento emitir “suspiros” a cada corte de aceleração. Há escolha entre os modos de condução Eco, Dynamic, Comfort, Off-Road e Individual (configurável).
Sem o mesmo destaque, o Honda também oferece desempenho muito bom, com respostas ágeis ao acelerador e nenhum retardo de ação do turbo — um grande avanço sobre as gerações anteriores com motor aspirado de 2,0 litros. Certa lentidão, agora, só quando se aciona o modo de condução Econ: o acelerador responde pouco e as retomadas pelo controlador de velocidade demoram tanto que se acaba ajudando com o pé direito.
O XC40 empolga ao acelerar, até pelo som, mas os 62 cv a menos do CR-V não fazem dele um carro lento; boas caixas automáticas, uma de oito marchas, outra CVT
Na pista de testes só deu XC40, como esperado, mas sua superioridade foi menor do que a diferença de potência fazia esperar, como ao acelerar de 0 a 100 km/h em 7,3 segundos e o CR-V em 8,4 s. O Honda foi muito mais econômico nos trajetos de medição urbanos, embora perdesse no rodoviário por pequena margem (veja números e análise detalhada).
O XC40 usa transmissão automática de oito marchas, e o CR-V, caixa de variação contínua (CVT), ambas irrepreensíveis em suavidade. Esta última, dentro da atual tendência, só mantém o motor em rotação constante durante acelerações moderadas: quando se anda mais forte a caixa adota sete pontos fixos do variador para dar a sensação de trocas de marcha, o que agrada mais aos ouvidos, embora signifique abrir mão do melhor desempenho possível.
O Honda admite seleção manual entre tais “marchas” via comandos no volante, mas a calibração da caixa é tão boa que não precisam ser acionados: em uso vigoroso, basta selecionar a posição S (programa esportivo) para deixar o motor “acordado” e obter freio-motor na medida certa em desacelerações e descidas. No Volvo o modo esportivo só pode ser obtido pelo seletor de programas e o manual é operado por toques na alavanca para os lados, uma desvantagem. Em modo manual, ao acelerar a pleno em marcha alta, apenas o sueco faz redução no fim de curso; ambos promovem a troca automática para cima no limite de giros.
Acertos de suspensão distintos: o Honda brilha em conforto e isolamento de irregularidades; o Volvo é superior em comportamento dinâmico
A tração integral dos dois modelos é do tipo sob demanda, em que a variação de torque entre os eixos fica a cargo da central eletrônica, sem intervenção possível pelo motorista. Pelo mostrador no painel que só o CR-V traz, percebe-se que parte da força chega às rodas traseiras também em acelerações intensas em piso aderente e alta velocidade, não só quando os pneus dianteiros perdem aderência. Nenhum traz reduzida, pois a proposta aqui não é fora de estrada sério.
Empolga acelerar o Volvo até o limite de cada marcha, ouvindo o escapamento emitir “suspiros”, mas o Honda também tem desempenho muito bom
O XC40 cativa o motorista pelo comportamento dinâmico, com grande aderência e movimentos bem controlados. Em modo dinâmico a atitude em curvas rápidas é bem neutra e o controle eletrônico de estabilidade e tração só atua quando realmente necessário, em um acerto de chassi feito para divertir. O comportamento do CR-V, mais para carro familiar, não o desabona e ainda está em alto nível.
Onde o Honda se mostra irrepreensível é em conforto: absorve com excelência irregularidades de qualquer tamanho e lombadas, com destaque ao isolamento de asperezas do piso. O Volvo fica atrás: pequenas ondulações do asfalto chegam mais ao interior, o que pode ser atribuído tanto a coxins mais duros quanto ao perfil bem mais baixo dos pneus (235/50 R 19 ante 235/60 R 18 do rival), e os amortecedores firmes “amarram-no” muito em lombadas.
Faróis de leds em ambos os fachos são usados pelos dois carros, com grande eficiência
Ambos estão bem acertados em direção (seja em peso, seja em sensibilidade) e freios, com discos nas quatro rodas que promovem boa desaceleração, sobretudo os do XC40. Neste o diâmetro de giro poderia ser menor. Os dois carros usam leds nos faróis altos e baixos, o que os torna muito eficientes, e em luzes diurnas. Eles trazem ainda faróis e luz traseira de neblina e repetidores laterais das luzes de direção e são semelhantes em visibilidade, com algum prejuízo à dianteira pelas colunas e muito à traseira pela forma das janelas laterais.
O conteúdo de segurança passiva é semelhante e muito bom nos dois, com bolsas infláveis frontais, laterais nos bancos dianteiros e de cortina, cintos de três pontos e encostos de cabeça para cinco pessoas e fixações Isofix para cadeiras infantis. O Volvo acrescenta o Sistema de Proteção contra Lesões na Coluna Cervical (WHIPS), que altera a posição dos encostos dianteiros em caso de colisão por trás.
Próxima parte
Com limitação de torque no começo da arrancada, a transmissão desfavorece o Honda, que poderia ter ficado ainda mais perto do Volvo em desempenho
Desempenho e consumo
A diferença expressiva de potência (62 cv) e torque (11,2 m.kgf) faria esperar um Volvo bem mais rápido que o Honda para acelerar e retomar velocidade. Contudo, em boa parte pelo peso adicional de 148 kg, ele não ficou tão à frente assim, caso da aceleração de 0 a 100 km/h em 7,3 ante 8,4 segundos e da retomada de 80 a 120 em 5,6 contra 6,0 s. Mesmo até 150 km/h a vantagem do XC40 não foi grande: 16,2 ante 18,3 s do CR-V.
Ao analisar os dados gravados pelo instrumento de medição Race Capture Pro, encontramos algo peculiar: a vantagem do Volvo aparece apenas no “pulo inicial”, como mostra o gráfico abaixo. Repare na aceleração muito maior que a do Honda nos primeiros 2,5 segundos (trecho destacado), com pico de 0,75 g em apenas 0,7 s após a saída. Por outro lado, o CR-V atinge só 0,47 g (um pico de aceleração usual em carros com tração dianteira, o que não é seu caso) e chega a ele bem depois, em 1,4 s.
O motivo dessa relativa morosidade está na CVT do Honda, por três fatores. Primeiro pela relação bem mais longa de sua “primeira marcha” (a parte mais reduzida da caixa), como se nota no gráfico a seguir: ela termina a mais de 70 km/h, enquanto a do Volvo acaba antes de 50. Segundo pela menor rotação de estol do CR-V: 2.500 contra 2.900 rpm do XC40. E terceiro por existir limitação de torque no início, por meio de menor pressão de turbo, bem no momento em que o conversor de torque atua para a multiplicação do torque que sai dele.
Parece não fazer sentido, mas em geral se adota essa estratégia para proteger a CVT nesse ponto crítico de sua resistência. Poderia o fabricante fazer a transmissão mais resistente? Sim, mas a caixa seria mais pesada, com prejuízo a desempenho e consumo, e mais cara. Tudo isso resulta em diferença acentuada de rotação nos 3 s iniciais, como mostra o gráfico abaixo.
No gráfico abaixo se nota que a pressão do CR-V atinge seu ponto de trabalho depois de 2 s. Em todo momento a pressão absoluta fica entre 145 e 150 kPa (em torno de 0,45 a 0,5 bar de pressão relativa de turbo): um valor relativamente baixo, ainda mais em um motor de pequena cilindrada para o tipo de carro. Isso mostra que a Honda continua a trabalhar bem a parte de fluxo de ar no motor — quanto mais fácil o motor respirar, menor a pressão de turbo para a mesma quantidade de ar. Por outro lado, o XC40 não poupa sua transmissão e já libera a pressão máximo no primeiro segundo, chegando a 235 kPa ou cerca de 1,35 bar de pressão relativa de turbo. Apesar de conseguir com isso mais torque e potência, o Volvo anda junto com o Honda depois dos 3 s iniciais.
A transmissão do CR-V foi configurada para emular sete marchas mesmo em modo automático, o que promove variação de rotação ao acelerar a pleno — sobe até 6.000 rpm, cai para 5.000 e assim vai-se repetindo. O objetivo de tornar o som do motor mais agradável, menos monótono, vai contra o de desempenho: o ideal para máxima aceleração seria se manter no pico de potência a 5.600 rpm. O Honda, portanto, poderia ser até mais rápido. No rival as marchas são levadas a até 6.300 rpm, 800 acima da potência máxima, um arranjo tipicamente esportivo.
Os dois carros contam com grande aderência ao solo, promovida pela tração integral sob demanda. Sem usar a rotação de estol das caixas (ou seja, liberando o freio e só então acelerando a pleno), o 0-100 do XC40 piora em 0,7 s, enquanto para o CR-V não faz diferença: isso confirma a limitação de torque em estol explicada acima.
A rapidez com a CVT reduz relações ao comando do acelerador explica em parte as boas retomadas do Honda (veja os gráficos acima de 60 a 120 e de 80 a 150 km/h), mas a caixa automática do Volvo também se mostrou muito ágil nessa condição. Aqui, como nas acelerações, o CR-V seria beneficiado se o motor mantivesse a rotação de potência máxima em vez de simular trocas de marcha.
A combinação de CVT, motor de menor cilindrada e peso inferior favoreceu muito o Honda em consumo urbano, com marcas entre 30% e 34% melhores que as do concorrente. Em rodovia, no entanto, o Volvo saiu-se melhor por 6% (o tipo de transmissão importa pouco nessa condição, em que sua caixa automática esteve com conversor de torque bloqueado quase todo o tempo). A autonomia urbana também é maior no CR-V, ajudada pelo tanque de capacidade superior, enquanto a rodoviária mostrou empate.
Análise pelo consultor técnico Felipe Hoffmann, da FHB Performance
CR-V | XC40 | |
Aceleração | ||
0 a 100 km/h | 8,4 s | 7,3 s |
0 a 120 km/h | 11,5 s | 10,1 s |
0 a 150 km/h | 18,3 s | 16,2 s |
0 a 400 m | 16,2 s | 15,2 s |
Retomada | ||
60 a 100 km/h* | 4,8 s | 4,2 s |
60 a 120 km/h* | 7,9 s | 6,9 s |
80 a 120 km/h* | 6,0 s | 5,6 s |
80 a 150 km/h* | 13,0 s | 11,6 s |
Consumo | ||
Trajeto leve em cidade | 12,5 km/l | 9,6 km/l |
Trajeto exigente em cidade | 6,6 km/l | 4,9 km/l |
Trajeto em rodovia | 10,6 km/l | 11,2 km/l |
Autonomia | ||
Trajeto leve em cidade | 641 km | 467 km |
Trajeto exigente em cidade | 339 km | 238 km |
Trajeto em rodovia | 544 km | 544 km |
Testes com gasolina; *com reduções automáticas; melhores resultados em negrito; conheça nossos métodos de medição |
Dados dos fabricantes
CR-V | XC40 | |
Velocidade máxima | ND | 230 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | ND | 6,4 s |
Consumo em cidade | 10,4 km/l | 8,5 km/l |
Consumo em rodovia | 11,9 km/l | 10,8 km/l |
Consumo de gasolina conforme padrões do Inmetro; ND = não disponível |
Construção do XC40, com os aços mais resistentes em vermelho, e mecânica do CR-V, com tração integral sob demanda como no rival (fotos: divulgação)
Comentário técnico
• Os dois motores recorrem às mesmas soluções, como turbocompressor, injeção direta, variação de tempo de abertura das válvulas e bloco de alumínio. Até a potência específica é parecida. Contudo, em termos de transmissão os carros são bem diferentes, com caixa de variação contínua (CVT) no Honda e caixa automática epicíclica no Volvo.
• Nos dois modelos, o sistema de tração integral sob demanda segue o mesmo conceito: uma embreagem multidisco faz o acoplamento das rodas traseiras quando conveniente, o que não requer que as dianteiras percam aderência.
• O CR-V adotou nova plataforma, compartilhada até certo ponto com os atuais Civic e Accord. A estrutura usa aços de resistência ultra-alta (9%) e alta (36%) e obtém rigidez torcional 25% maior que no anterior. As suspensões também foram refeitas; a traseira tem subchassi maior e ambas usam buchas hidráulicas (preenchidas por fluido em vez de maciças) para melhor isolamento de vibrações. A direção está com relação bem mais rápida que no antigo modelo.
• No XC40, a plataforma inédita é denominada Compact Modular Architecture, ou arquitetura modular compacta, e terá uso em outros modelos da marca. O grupo Geely, que detém a empresa sueca, já a aproveita nos carros 1, 2 e 3 da marca chinesa Lynk & Co.
• O vão livre do solo do Honda aumentou nesta geração para 201 mm, sendo superado por pouco pelo Volvo (211 mm).
Ficha técnica
CR-V | XC40 | |
Motor | ||
Posição | transversal | transversal |
Cilindros | 4 em linha | 4 em linha |
Material do bloco/cabeçote | alumínio | alumínio |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote | duplo no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4, variação de tempo | 4, variação de tempo |
Diâmetro e curso | 73 x 89,5 mm | 82 x 93,2 mm |
Cilindrada | 1.498 cm³ | 1.969 cm³ |
Taxa de compressão | 10,3:1 | 10,8:1 |
Alimentação | injeção direta, turbocompressor, resfriador de ar | |
Potência máxima | 190 cv a 5.600 rpm | 252 cv a 5.500 rpm |
Torque máximo | 24,5 m.kgf de 2.000 a 5.500 rpm | 35,7 m.kgf de 1.800 a 4.800 rpm |
Potência específica | 126,8 cv/l | 128,0 cv/l |
Transmissão | ||
Tipo de caixa e marchas | automática de variação contínua, emulação de 7 marchas | automática, 8 marchas |
Relação e velocidade por 1.000 rpm | ||
1ª. | variação de 2,65 a 0,41 / de 9 a 60 km/h | 5,25 / 8 km/h |
2ª. | 3,03 / 13 km/h | |
3ª. | 1,95 / 21 km/h | |
4ª. | 1,46 / 28 km/h | |
5ª. | 1,22 / 33 km/h | |
6ª. | 1,00 / 41 km/h | |
7ª. | 0,81 / 50 km/h | |
8ª. | 0,67 / 61 km/h | |
Relação de diferencial | 5,64 | 3,33 |
Regime a 120 km/h | 2.000 rpm* | 2.000 rpm (8ª.) |
Regime à vel. máx. informada | ND | 5.650 rpm (6ª.) |
Tração | integral sob demanda | integral sob demanda |
* na relação mais longa disponível | ||
Freios | ||
Dianteiros | a disco ventilado | a disco ventilado |
Traseiros | a disco | a disco |
Antitravamento (ABS) | sim | sim |
Direção | ||
Sistema | pinhão e cremalheira | pinhão e cremalheira |
Assistência | elétrica | elétrica |
Diâmetro de giro | 11,0 m | 11,4 m |
Suspensão | ||
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal | |
Traseira | independente, multibraço, mola helicoidal | |
Estabilizador(es) | dianteiro e traseiro | dianteiro e traseiro |
Rodas | ||
Dimensões | 7,5 x 18 pol | 6,5 x 19 pol |
Pneus | 235/60 R 18 H | 235/50 R 19 V |
Dimensões | ||
Comprimento | 4,591 m | 4,425 m |
Largura | 1,855 m | 1,863 m |
Altura | 1,667 m | 1,652 m |
Entre-eixos | 2,66 m | 2,702 m |
Bitola dianteira | 1,601 m | 1,601 m |
Bitola traseira | 1,629 m | 1,626 m |
Coeficiente aerodinâmico (Cx) | ND | 0,34 |
Capacidades e peso | ||
Tanque de combustível | 57 l | 54 l |
Compartimento de bagagem | 522 l | 460 l |
Peso em ordem de marcha | 1.607 kg | 1.762 kg |
Relação peso-potência | 8,5 kg/cv | 7,0 kg/cv |
Garantia | ||
Prazo | 3 anos sem limite de quilometragem | 2 anos sem limite de quilometragem |
Carros avaliados | ||
Ano-modelo | 2018 | 2018 |
Pneus | Hankook Kinergy GT | Pirelli PZero Vol |
Quilometragem inicial | 8.000 km | 2.500 km |
Dados dos fabricantes; ND = não disponível |
Como há equilíbrio entre os equipamentos de conveniência e segurança, parece não se justificar o valor adicional de 6% cobrado pelo Volvo como avaliado
Custo-benefício
O XC40 avaliado trazia como opcional apenas o navegador integrado à central de áudio (por salgados R$ 6 mil), enquanto outra opção de mesmo preço é o controlador de distância à frente com assistente para seguir o tráfego. Nosso carro tinha preço sugerido de R$ 205.950, o que representa R$ 16.950 ou 9% a mais que os R$ 189 mil do CR-V, para o qual não há opções (vale notar que o valor do Volvo subiu mais que o do rival desde que definimos o comparativo).
As diferenças de conteúdo não são grandes: entre os principais itens, o Honda traz câmera sob retrovisor direito, projeção de informações e teto solar, e o Volvo, assistentes de faróis e faixa da via, carregador de celular por indução e monitor da distância à frente. Portanto, pode-se dizer que existe equilíbrio entre os equipamentos, de modo a não justificar o valor adicional cobrado pelos suecos.
O CR-V custa menos, tem mais espaço, menor consumo e rodar mais macio; o XC40 fica em vantagem para quem prioriza esportividade ou a marca de luxo
Em grande parte dos quesitos eles mereceram a mesma nota: estilo, acabamento, posição de dirigir, itens de conveniência, motor, freios, direção, visibilidade e segurança passiva. O CR-V sobressai em instrumentos, espaço interno, porta-malas, consumo, transmissão e suspensão, a que o XC40 responde com vantagens apenas em desempenho e estabilidade. Como o Honda oferece mais atributos e custa menos, vence também na relação custo-benefício.
Qual a melhor compra? Para a maior parte do público, apontamos o CR-V. É mais barato (ou menos caro?), maior para passageiros e bagagem, roda mais macio, consome menos e não fica distante do concorrente nos itens em que perde. Pelo XC40 fica a recomendação a quem prioriza esportividade, tanto ao acelerar quanto ao fazer curvas, ou a quem faz questão de ostentar na grade a marca de luxo — ainda que isso implique pagar mais por um carro que, na análise geral, oferece menos.
Mais Avaliações
Nossas notas
CR-V | XC40 | |
Estilo | 4 | 4 |
Acabamento | 4 | 4 |
Posição de dirigir | 4 | 4 |
Instrumentos | 4 | 3 |
Itens de conveniência | 5 | 5 |
Espaço interno | 5 | 4 |
Porta-malas | 5 | 4 |
Motor | 5 | 5 |
Desempenho | 4 | 5 |
Consumo | 5 | 4 |
Transmissão | 5 | 4 |
Freios | 4 | 4 |
Direção | 4 | 4 |
Suspensão | 5 | 4 |
Estabilidade | 4 | 5 |
Visibilidade | 4 | 4 |
Segurança passiva | 5 | 5 |
Custo-benefício | 4 | 3 |
Média | 4,44 | 4,17 |
Posição | 1º. | 2º. |
As notas vão de 1 a 5, sendo 5 a melhor; conheça nossa metodologia |
Teste do Leitor: opinião dos proprietários
CR-V | XC40 |
Envie sua opinião sobre o carro que possui |