Espaço adequado na categoria, mas bancos dianteiros poderiam melhorar; cintos de três pontos para todos; comandos de áudio e telefone no volante; botões de controle de tração e parada/partida automática; segunda tomada USB para a traseira
Motor adequado, transmissão nem tanto
O motor Firefly do Argo de 1,35 litro é o mesmo lançado no ano passado no Uno, um projeto atual em recursos (leia quadro técnico abaixo). Apesar da escolha fora de moda de apenas duas válvulas por cilindro, sobressai em potência específica: os 109 cv com álcool representam 81,8 cv/litro, acima dos concorrentes citados, mesmo o HB20 1,6 de quatro válvulas. E faz isso com boa “pegada” em baixas rotações, que deixa ágil no trânsito o hatch de 1.148 kg. Seu funcionamento isento de vibrações agrada, apesar de certo ruído na faixa de 120 km/h (que corresponde a 3.550 rpm) e em giros mais altos.
Com gasolina na pista de testes, o Drive acelerou de 0 a 100 km/h em 12,9 segundos e retomou de 60 a 120 km/h em 16 s, marcas compatíveis com a faixa de potência — quem quiser números mais polpudos deve optar pelo Precision ou o HGT de 1,75 litro e até 139 cv. Curiosamente não é mais possível arrancar forte com essa transmissão: em antigas versões, ao “calcar o pé” em modo esportivo o carro acoplava rápido a embreagem e chegava a cantar pneus. O fato de mudar para quarta antes de 120 km/h também o prejudicou em algumas medições. Excelentes são os índices de consumo urbano, como 16 km/l no trajeto mais leve. O rodoviário (12,7 km/l) foi bom, mas não tanto: uma quinta marcha mais longa na versão automatizada faria bem nesse aspecto, assim como ao conforto.
Desempenho do motor de 101/109 cv satisfaz na maioria das situações, mas não as mudanças da caixa automatizada; comandos no volante fazem trocas manuais
Boa parte dos adversários, como vimos acima, tem optado por transmissões automáticas de seis marchas, que a Fiat usa apenas no Argo 1,75 — para o Drive restou a automatizada monoembreagem de cinco marchas GSR Comfort. Apesar de sua evolução sobre a conhecida Dualogic em termos de calibração eletrônica, as mudanças lentas e com hiato de fornecimento de potência (o conhecido “soluço”) deixam a desejar, sobretudo no uso mais empolgado. A resposta ao acelerador também deve ser aprimorada: às vezes a decisão de reduzir marcha vem um segundo ou dois após a requisição de torque pelo pé direito.
Apesar de sua evolução sobre a conhecida Dualogic em calibração, as mudanças lentas e com hiato de fornecimento de potência da GSR deixam a desejar
Um comportamento frequente no Argo, não observado em outros carros com essa caixa, é a “patinação” da embreagem em movimento. Ao sair de uma lombada em terceira marcha ou de uma retenção do trânsito em segunda, por exemplo, é comum a GSR elevar a rotação do motor por instantes, por meio de acoplamento parcial da embreagem (como se o motorista segurasse o pedal pela metade em um modelo manual), em vez de reduzir marcha. O objetivo é claramente o de suavizar o processo, mas fica a dúvida se a embreagem pode sofrer maior desgaste com o tempo.
A seleção de posições por botões em nada prejudica o uso, além de facilitar em alguns casos. Como exemplo, mesmo que se deixe a caixa engatada (em D) ao desligar o motor, ela estará em ponto-morto na próxima partida, o que dispensa uma manobra necessária com a tradicional alavanca. Trocas manuais de marcha podem ser feitas pelos comandos do volante. Em modo manual não ocorre nem mudança automática para cima (o motor fica no limite de 6.500 rpm; em operação automática, troca ao redor de 6.200) nem redução ao acelerar ao máximo.
Suspensão macia deixa o Argo confortável e há controle de estabilidade, raro no segmento; porta-malas de 300 litros é bom para seu porte
Há algum tempo a Fiat tem escolhido calibrações macias para a suspensão de seus carros, voltadas mais ao conforto que ao comportamento dinâmico, e não é diferente com este Argo. Seu rodar suave absorve bem as irregularidades do dia a dia, mas a estabilidade é apenas regular: a carroceria inclina-se bem em curvas fortes, há claro subesterço e os pneus Goodyear 185/60 R 15 (opcionais vinculados às rodas de alumínio) mostram seus limites com certa rapidez. A nosso ver, trata-se de acerto apropriado à proposta de uso da versão — e há controle eletrônico, ainda raro no segmento.
No conjunto, o Argo Drive deixa boa impressão. Sem surpreender na maioria dos aspectos, revela um projeto equilibrado com desempenho adequado a grande parte do público, ótimo consumo urbano, conforto e espaço satisfatórios e as conveniências requisitadas pela maioria hoje — caso da grande tela no painel. O ponto que mais merece atenção da Fiat é mesmo a caixa automatizada: com a concorrência evoluindo nesse campo, a escolha de uma solução limitada e de baixo custo pode não ter sido a mais acertada.
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Comentário técnico
• O motor Firefly da versão Drive do Argo — tanto de 1,0 litro quanto de 1,35 — pertence a uma família modular lançada aqui em 2016 no Uno, com elementos atuais como bloco de alumínio, variação do tempo de abertura das válvulas, preaquecimento de álcool para partida a frio e alternador com operação variável (maior quando o motor desacelera). A opção por duas válvulas por cilindro pode parecer estranha hoje, mas não impediu alta potência específica. O acionamento do comando é feito com corrente, uma solução robusta.
• Apesar do novo nome, a transmissão automatizada GSR Comfort consiste em evolução da conhecida Dualogic. A versão também apareceu no Uno 2017, mas só com a adoção no Mobi, em março, a Fiat alterou a designação.
• Segundo o fabricante, o Argo usa uma nova plataforma de código MP1. Fonte extraoficial informou-nos ser baseada na do Punto, que aproveitava componentes do Palio de primeira geração. Aços especiais de alta resiliência foram empregados em grande parte da estrutura, sobretudo na cabine, e as colunas das portas usam estampagem a quente. A rigidez à torção aumentou 7%, e à flexão, 8% em relação ao Punto.
Foto: divulgação
Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 4 em linha |
Material do bloco/cabeçote | alumínio |
Comando de válvulas | no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 2, variação de tempo |
Diâmetro e curso | 70 x 86,5 mm |
Cilindrada | 1.332 cm³ |
Taxa de compressão | 13,2:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial |
Potência máxima (gas./álc.) | 101 cv a 6.000 rpm/109 cv a 6.250 rpm |
Torque máximo (gas./álc.) | 13,7/14,2 m.kgf a 3.500 rpm |
Potência específica (gas./álc.) | 75,8/81,8 cv/l |
Transmissão | |
Tipo de caixa e marchas | automatizada de embreagem simples, 5 |
Relação e velocidade por 1.000 rpm | |
1ª. | 4,27 / 6 km/h |
2ª. | 2,32 / 12 km/h |
3ª. | 1,44 / 19 km/h |
4ª. | 1,03 / 26 km/h |
5ª. | 0,80 / 34 km/h |
Relação de diferencial | 4,20 |
Regime a 120 km/h | 3.550 rpm |
Regime à vel. máx. informada (gas./álc.) | 5.300/5.450 rpm |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco (257 mm ø) |
Traseiros | a tambor (203 mm ø) |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | elétrica |
Diâmetro de giro | 10,4 m |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | eixo de torção, mola helicoidal |
Estabilizador | dianteiro |
Rodas | |
Dimensões | 15 pol |
Pneus | 185/60 R 15 H |
Dimensões | |
Comprimento | 3,998 m |
Largura | 1,724 m |
Altura | 1,50 m |
Entre-eixos | 2,521 m |
Bitola dianteira | 1,465 m |
Bitola traseira | 1,50 m |
Coeficiente aerodinâmico (Cx) | ND |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 48 l |
Compartimento de bagagem | 300 l |
Peso em ordem de marcha | 1.148 kg |
Relação peso-potência (gas./álc.) | 11,4/10,5 kg/cv |
Garantia | |
Prazo | 3 anos sem limite de quilometragem |
Carro avaliado | |
Ano-modelo | 2018 |
Pneus | Goodyear Efficient Grip |
Quilometragem inicial | 1.000 km |
Dados do fabricante; ND = não disponível |