Acabamento e suspensão agradam no “aventureiro”, que precisa melhorar em motor, transmissão e direção
Texto: Kleber Nogueira – Fotos: divulgação
O fim do programa Inovar-Auto fez bem às importadoras de automóveis, que enfim parecem respirar e renascer sem as cotas sufocantes. Basta ver a onda de lançamentos. A chinesa JAC Motors promete mais novidades para breve, todas focadas em utilitários. A aguardada versão CVT do hatch “aventureiro” T40 abre a série, e o Best Cars avaliou a novidade no lançamento.
Sim, sabemos qual pergunta está na sua cabeça — e que você está ansioso pela resposta. “Finalmente poderei comprar um carro ‘completão’, realmente bom, com cara de utilitário esporte, por um preço que cabe no meu bolso?”. Veremos.
Quanto ao carro, as novidades são boas. Lançado no ano passado, o T40 havia deixado boa impressão, com desenho bem-resolvido e posicionamento interessante no segmento. Os fabricantes sabem que colar plásticos nos para-lamas e erguer as suspensões dos hatches, dando-lhes semelhança visual aos SUVs, permite cobrar uns trocados a mais e ganhar apelo de vendas — estão aí Chevrolet Onix Activ, Hyundai HB20X, Renault Sandero Stepway e o pouco mais elaborado Honda WR-V para provar. O T40 vai além: não cheira a adaptação. Ele tem porte próximo ao de um hatch médio e nasceu já pensado para ser “aventureiro”. Daí a chamá-lo de “SUV de verdade”, como faz a marca, parece um tanto exagerado.
Com porte similar ao do Sandero Stepway, T40 já surgiu com altura de rodagem elevada; por R$ 10 mil a mais, versão CVT traz equipamentos ausentes da manual
Atraente ele é. As linhas são harmoniosas, embora careçam de identidade. Se você sofre de miopia ou astigmatismo vai achar que, visto de traseira, é algum Hyundai — quiçá um Kia, já que o novo logotipo da JAC lembra muito o dessa coreana. Chamam atenção as rodas de 16 polegadas com pneus 205/55 e as pinças de freio vermelhas nas quatro rodas. Carroceria bem montada, com vãos uniformes e encaixes razoáveis para o padrão do segmento. A frente alta, com largo uso de cromados e faróis de duplo refletor, parece agradar à maioria. Nas laterais, o filete cromado que acompanha a linha inferior dos vidros encerra com uma elegante curva ascendente ao teto. A nosso ver, o exagero está nos cromados do para-choque traseiro.
Para quem associa produtos chineses a baixa qualidade, as maçanetas e o fechar das portas produzem um ruído agradável e, por dentro, as surpresas são ainda melhores. Acabamento de bom aspecto, superior a parceiros de mercado como o Stepway e o Onix; bons bancos revestidos em simulação de couro com espuma bem conformada, apesar do assento um tanto curto. O volante de couro tem boa pega, mas é ajustável só em altura e com pouca amplitude. Não é difícil encontrar boa posição para guiar. Incomoda o apoio de braço central, recuado demais.
O painel tem largo aplique em couro sintético com costuras em vermelho. Os instrumentos, criticados na versão inicial do T40, ficaram melhores, embora sejam pequenos. O computador de bordo exibe consumo e a pressão dos pneus, mas não autonomia ou temperatura externa. Há uma interessante câmera que grava vídeo com áudio do que se passa à frente do carro (útil em caso de certas colisões). O ar-condicionado automático, que exibe as configurações na tela de áudio, usa botões práticos que não tiram a atenção do motorista.
Acabamento surpreende pela categoria; instrumentos melhoraram; tela de 8 pol poderia ser mais prática de usar; cintos de três pontos e encostos de cabeça também no centro
Pena não se poder dizer o mesmo da central de áudio com tela sensível ao toque de 8 pol. Os ícones grandes até parecem amigáveis, mas configurar o aparelho não é fácil, sobretudo com o carro em movimento. As teclas capacitivas “escondidas” estão próximas demais: ao tentar girar um botão, o dedo esbarra em tal tecla e o aparelho muda de função. Também não há integração a Android Auto e Apple Car Play, tão desejada hoje. Ao menos a tela é bem ampla e não carnavalesca nos grafismos como a do T5. Curioso é o prosaico relógio analógico que aparece quando se desliga o aparelho.
Apesar dos promissores 138 cv, na vida real a sensação é que os cavalos demoram a reagir, e a transmissão sem conversor de torque só piora a percepção
O T40 foi bem-pensado, com porta-objetos espaçosos, tomada USB para os passageiros de trás e boa visibilidade geral — só um tanto crítica atrás, pelo vidro inclinado e encostos de cabeça volumosos. Ao menos auxilia a boa câmera de manobras. Manipular difusores de ar, transmissão e os suaves botões giratórios do ar-condicionado pulveriza qualquer má lembrança do JAC J3. No banco traseiro fica-se bem acomodado em largura, nas pernas e na altura. Se nada se destaca, tudo está em seu lugar. O porta-malas tem 450 litros de capacidade anunciada, mas com a prateleira que cria um porta-objetos sob o assoalho parece menor, raso demais.
Em movimento, ressalvas
O motor de 1,6 litro apelidado Green Jet é inédito (o T40 manual tem um de 1,5 litro). Usa duplo comando de válvulas com variação de tempo na admissão e no escapamento e ganhou parada/partida automática, com botão de desativação, mas ainda não é flexível: a marca diz que está em desenvolvimento (espera-se que na adaptação a JAC aumente o tanque de combustível, hoje de apenas 42 litros). Ele chama atenção pelos números declarados: potência de 138 cv (mais 16 cv que no HB20X e 23 cv acima do Stepway, ambos de mesma cilindrada) e torque de 17,1 m.kgf (ante 16 dos rivais citados com gasolina). A potência específica de mais de 86 cv/litro impressiona.
Motor anuncia 138 cv, mas parece ter menos e não desenvolve bem em baixa rotação; caixa CVT, que pode emular seis marchas, não contribui com desempenho
A caixa CVT, a mesma do T5, usa embreagem para conexão ao motor e não conversor de torque. Como no utilitário esporte, há um programa esportivo (posição S) e pode-se deslocar a alavanca para a lateral e comandar mudanças manuais entre seis pontos de parada do variador, como se fossem trocas de marcha (nesse caso a mudança para cima no limite de giros é automática) Outro modo de uso é para pisos de baixa aderência, com relações mais longas para saídas suaves. No T40 o percurso sinuoso da alavanca, usado pelo T5, foi abandonado.
O Best Cars dirigiu o novo JAC em viagem de cerca de 200 km, ida e volta, de São Paulo ao interior do estado. Apesar dos índices promissores do novo motor, na vida real a sensação é que os cavalos demoram a reagir, mesmo quando se aperta a espora no lombo. Mesmo com variação dos comandos, a potência não fica palpável nos regimes mais baixos. A combinação com a transmissão sem conversor de torque só piora a percepção, deixando a resposta inicial um tanto apática — mesmo com o acelerador de curso curto, que abre demais a borboleta ao mínimo pressionar.
Deixada a inércia para trás, fica certa sensação de agilidade. Com a direção leve, embora um tanto lenta, a CVT parece eficaz em manter o motor em giros comedidos e o T40 trafega bem pelas avenidas paulistanas. A suspensão bem ajustada tem funcionamento silencioso, assim como os macios pneus Wanli Harmonic, e passa sensação agradável de robustez. Transpor lombadas e crateras é fácil pela grande altura de rodagem, mas falta controle na distensão: as rodas despencam e se escuta o baque seco no fim do curso. O rolar da carroceria mais alta não surpreenderá o motorista comum.
Acerto da suspensão é bom atributo do T40; falta deixar a direção mais firme em velocidade
Em rodovia, os pontos fracos do T40 ficam mais evidentes, especialmente em relação à direção e ao motor. Pressiona-se o acelerador. Pressiona-se mais e mais, e a sensação continua de uma lentidão entediante. O acelerador parece desconectado dos desejos do motorista, mas não é culpa dele: o motor é que pena em um carro obeso, de 1.220 kg (o Stepway com caixa automatizada tem 1.107 kg), e fica longe de cumprir o que os 138 cv faziam esperar.
Num aclive na rodovia Castello Branco, retomar de 80 a 120 km/h foi um martírio, com o motor urrando e a caixa sem entender o que ocorria, insistindo em diminuir a rotação mesmo com o pé direito imóvel no limite do curso. Passar ao modo manual pouco adiantou. Resignados, fomos à faixa da direita. Além da anemia, incomoda a direção mole demais em médias e altas velocidades, mal conhecido da marca. O resultado é uma tocada inquieta, com um veículo solto e que exige correções constantes.
Voltamos à pergunta inicial. A resposta: sim, o T40 é bem-equipado, tem suas qualidades e mostra a evolução da JAC desde que chegou ao Brasil, há sete anos. O problema está no preço. Por R$ 70 mil, fica difícil convencer o comprador de carros tão bem-aceitos como Onix, HB20 e Sandero a optar por um chinês e sua imagem ainda por se formar no mercado. Além disso, quem não fizer questão do pacote “aventureiro” terá opções bem mais interessantes na mesma faixa de valor — o Volkswagen Polo Highline é apenas uma delas.
Mais Avaliações
Preço e equipamentos
• T40 CVT (R$ 70 mil) – Ar-condicionado automático, assistente de partida em rampa, bancos revestidos em simulação de couro, câmera frontal no retrovisor interno, câmera traseira de manobras, computador de bordo, controlador de velocidade, controle eletrônico de estabilidade e tração, direção com assistência elétrica, faróis automáticos com regulagem elétrica de altura do facho, faróis de neblina, fixação Isofix para cadeira infantil, luzes diurnas em leds, monitor de pressão dos pneus, parada/partida automática do motor, para-sóis com espelho iluminado, retrovisor interno fotocrômico, rodas de alumínio de 16 pol, sensores de estacionamento dianteiro e traseiro, sistema de áudio com tela de 8 pol.
•Garantia – seis anos.
Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 4 em linha |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4, variação de tempo |
Diâmetro e curso | 75 x 90 mm |
Cilindrada | 1.590 cm³ |
Taxa de compressão | 10,5:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial |
Potência máxima | 138 cv a 6.000 rpm |
Torque máximo | 17,1 m.kgf a 4.000 rpm |
Transmissão | |
Tipo de caixa e marchas | automática de variação contínua, emulação de 6 marchas |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a disco |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | elétrica |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | eixo de torção, mola helicoidal |
Rodas | |
Dimensões | 16 pol |
Pneus | 205/55 R 16 |
Dimensões | |
Comprimento | 4,135 m |
Largura | 1,75 m |
Altura | 1,568 m |
Entre-eixos | 2,49 m |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 42 l |
Compartimento de bagagem | 450 l |
Peso em ordem de marcha | 1.220 kg |
Desempenho | |
Velocidade máxima | 190 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 11,1 s |
Dados do fabricante; consumo não disponível |