
Ex-líder muda pouco em estilo, mas ganha o três-cilindros e novos sistemas de entretenimento
Texto: Fabrício Samahá e Edison Ragassi – Fotos: divulgação
Em seus 36 anos de produção — incluídas as três gerações —, o Volkswagen Gol já passou por altos e baixos. Começou mal com o fraco e barulhento motor arrefecido a ar de 1,3 litro, evoluiu em termos mecânicos e caiu no gosto dos brasileiros a ponto de assumir, em 1987, uma liderança de vendas que duraria até 2013. Foi prestigiado pela marca nos anos 90 com versões como o esportivo GTI (primeiro carro nacional com injeção eletrônica) e o GTI 16V. Decaiu na década de 2000 com a empobrecida série G4, mas se recuperou com a terceira geração em 2008.
Hoje o Gol está novamente em baixa. Depois que a segunda geração saiu de linha, as vendas não mais sustentaram o antigo patamar e o ex-líder obteve um modesto sexto lugar no ano passado. Enquanto planeja uma reformulação completa, o paliativo da VW foi renovar a linha 2017 do hatchback e do sedã Voyage com retoques de aparência, novos sistemas de entretenimento e — antes tarde do que nunca — a adoção do motor de 1,0 litro e três cilindros oferecido desde 2013 no Fox e depois no Up.
Mudam faróis e para-choques; no caso do Gol, também tampa e lanternas traseiras
Na aparência, as novidades são mais sutis do que se poderia esperar. Nem mesmo o formato dos faróis mudou: só os elementos internos, agora com refletor único em todas as versões, um retrocesso em relação aos duplos oferecidos antes. No para-choque dianteiro foram ampliadas as tomadas de ar e os faróis de neblina voltaram ao formato circular. Na traseira do Gol a tampa do porta-malas foi refeita, com vincos mais acentuados, e tanto as lanternas quanto o vidro adotaram cantos vivos em vez de arredondados. O para-choque traz alojamento maior para a placa de licença. Nada foi feito, porém, na pouco inspirada parte posterior do Voyage.
Nos dois sistemas superiores, pode-se mostrar e operar a tela do celular na do carro pelo sistema Mirror Link
O Gol de três portas ainda não acompanha as mudanças — a VW deixa em aberto se isso será feito mais tarde ou se a opção sairá de produção. Por enquanto também estão de fora as versões Track e Rallye, de suspensão mais elevada, sem que o fabricante informe se serão relançadas. Isso significa que, ao menos por ora, desaparece do Gol a opção de motor EA-211 de 1,6 litro e quatro válvulas por cilindro, agora reservado a modelos como Fox e Spacefox, Saveiro Cross e Golf.
O painel redesenhado é a grande novidade por dentro de ambos os modelos. Como fora, saíram as formas curvas e circulares e entraram as retilíneas, em especial nos difusores de ar. O volante tornou-se semelhante ao do Golf e o quadro de instrumentos foi refeito, agora com um mostrador central digital que inclui marcadores de combustível e temperatura (exceto no Highline), assim como informações de áudio e computador de bordo. O aspecto geral ficou mais refinado, mas os painéis de porta inalterados destoam: além das maçanetas arredondadas, continuam com as imperdoáveis tampas nos locais das manivelas de vidros.
Novo painel tem melhor aspecto; série Connect (fotos) destaca o novo entretenimento
Mais que a aparência, o painel anterior tinha uma grave limitação para os dias de hoje: acomodar apenas um aparelho de áudio simples, sem espaço para as telas amplas que tomaram conta do mercado (carros hoje, afinal, são meros telefones celulares com rodas e ar-condicionado…). A nova distribuição de funções resolveu essa questão, abrindo local para aparelhos grandes com telas sensíveis ao toque e integração a telefones por meio das plataformas Mirror Link, Apple Car Play e Google Android Auto.
São quatro aparelhos, em ordem ascendente: Media, Media Plus, Composition Touch e Discover Media. O Media (opcional nas versões Trendline) é o mais simples, sem toca-CDs, apenas com conexões USB, auxiliar, para cartão SD e interface Bluetooth para celular. O Media Plus, de série no Gol e no Voyage Comfortline, acrescenta toca-CDs e visualização dos gráficos dos sensores de estacionamento. No Composition Touch, de série no Highline, pode-se mostrar e operar a tela do celular na tela colorida de 5 polegadas do carro pelo sistema Mirror Link.
Enfim, o Discover Media (opcional no Highline) traz tela de 6,3 pol com sensor de aproximação (ela mostra menus antes mesmo de ser tocada), navegador com atualizações gratuitas e Bluetooth para dois aparelhos em simultâneo. O aparelho pode ler mensagens de texto (SMS), responder a SMS por meio de comando de voz e executar vídeos. O motorista tem ainda como operar o telefone, o navegador e escolher mídias pelo comando de voz.
Próxima parte
Versões, preços e equipamentos
• Gol Trendline 1,0 (R$ 34.890), 1,6 (R$ 40.190), Voyage Trendline 1,0 (R$ 41 mil) e 1,6 (R$ 44.590): vêm de série com banco do motorista com regulagem de altura, cintos laterais traseiros retráteis, conta-giros, direção com assistência hidráulica, limpador/lavador e desembaçador do vidro traseiro (Gol), rodas de 14 polegadas e pneus 175/70 (motor 1,0) ou 185/65 (1,6), vidros dianteiros e travas com acionamento elétrico.
Opcionais: ar-condicionado, pacote Interatividade (sistema de áudio Media, suporte para celular com fonte de energia), pacote Interatividade com sistema Composition Touch.
• Gol Comfortline 1,0 (R$ 42.690), 1,6 (R$ 47.490) e 1,6 com transmissão I-Motion (R$ 50.790), Voyage Comfortline 1,0 (R$ 46.690), 1,6 (R$ 49.490) e 1,6 I-Motion (R$ 53.090): mesmos conteúdos do Trendline, mais ar-condicionado, computador de bordo, faróis de neblina, para-sóis com espelho iluminado, repetidores das luzes de direção nos retrovisores, rodas de 15 pol com pneus 195/55, sistema de áudio Media Plus, tampa do porta-malas com abertura elétrica, volante com controles de áudio e telefone.
Opcional: pacote Connect para Gol (controle elétrico de vidros traseiros e retrovisores, detalhes internos em azul, rodas de alumínio de 15 pol, sensores de estacionamento traseiros, sistema Discover Media, travamento elétrico com comando remoto).
• Gol Highline 1,6 (R$ 52 mil), 1,6 I-Motion (R$ 55.290), Voyage Highline 1,6 (R$ 55.290), 1,6 I-Motion (R$ 58.590): mesmos conteúdos do Comfortline, mais controle elétrico dos retrovisores, rodas de alumínio de 15 pol, sensores de estacionamento traseiros, sistema de áudio Composition Touch, volante com ajuste de altura e distância e controles de áudio, telefone e trocas de marcha (I-Motion).
Opcionais: módulo Navegação com sistema Discover Media, pacote Highline Completo (bancos revestidos em couro sintético, banco traseiro bipartido, controlador de velocidade, faróis e limpador de para-brisa automáticos, retrovisor interno fotocrômico, rodas de alumínio de 16 pol com pneus 195/50, temporizador de faróis), suporte para celular, transmissão automatizada I-Motion.
São quatro aparelhos, dois deles com conexão para operar aplicativos do celular
Menos cilindros, melhor desempenho
Sob o capô, a VW aplicou o moderno motor EA-211 de três cilindros e quatro válvulas por cilindro às versões de 1,0 litro do Gol e do Voyage, seguindo o que já havia feito no Fox. A unidade compartilhada com o Up traz recursos técnicos atuais como bloco de alumínio, variação do tempo de abertura das válvulas, duplo circuito de arrefecimento e preaquecimento de álcool para partida a frio.
Em relação ao antigo quatro-cilindros de duas válvulas, houve ganhos expressivos em potência, que subiu de 72/76 cv para 75/82 cv na ordem gasolina/álcool. O torque caiu de 10,6 para 10,4 m.kgf com álcool, mantendo os 9,7 m.kgf com gasolina, mas agora aparece a 3.000 rpm (antes, 3.850) e tem 85% do valor máximo disponível a 2.000 rpm. A fábrica anuncia melhora perceptível em desempenho: o Gol acelera de 0 a 100 km/h em 12,6/12,3 segundos e alcança velocidade de 168/170 km/h (na mesma ordem de combustíveis) ante 13,9/13,4 s e 161/163 km/h do quatro-cilindros.
O três-cilindros do Up chega ao Gol e Voyage: mais potência, menor consumo
Além disso, auxiliado pelo alongamento das relações de marcha em até 10%, o novo motor consome menos combustível: a VW informa redução de até 12% no caso do uso de gasolina. Outras alterações dessas versões são amortecedores recalibrados e discos de freio maiores na frente. Nos carros de 1,6 litro foi mantido apenas o motor de duas válvulas por cilindro, desaparecendo do Gol o EA-211 de quatro válvulas, lançado em 2014 no Rallye. Nem mesmo o preaquecimento de álcool esses carros receberam: permanece o anacrônico tanque auxiliar de gasolina para partida.
O novo motor está bem ajustado ao Gol, com aceleração convincente para a cilindrada e funcionamento suave
No lançamento à imprensa o Best Cars dirigiu o Gol Comfortline com o motor de 1,0 litro. O trajeto iniciou-se em São Paulo, na região de Santo Amaro, e passou pelas rodovias dos Bandeirantes e Marechal Rondon até a cidade de Itu, 100 quilômetros a noroeste da capital, com três adultos no carro.
No interior, o novo painel passa ar de certo requinte. O mostrador central também exibe a velocidade, o que é conveniente para observação mais precisa em tempos de radares por todo lado. Já a tela do sistema de entretenimento pareceu mais fácil de ser visualizada pelo passageiro, uma limitação do projeto básico do painel, que não previa tal acessório. Ao menos isso estimula o motorista a usar o comando de voz e, assim, manter a atenção ao dirigir.
Nas versões de 1,6 litro, mesmo motor: o moderno 16-válvulas deixa de vir no Gol
O novo motor está bem ajustado ao Gol. A aceleração inicial não é tão rápida quanto a que ele proporciona ao Up, mas o EA-211 se mostra convincente para a cilindrada e bem mais “esperto” que no anterior de quatro cilindros. O funcionamento é suave: mal se nota o desequilíbrio inerente a um três-cilindros, salvo por alguma oscilação em marcha-lenta, sem incomodar. As relações de marchas ficaram bem acertadas e, como de hábito no modelo, a transmissão permite trocas macias e precisas.
Em rodovia a aceleração é mais lenta, mas em velocidades de viagem o motor produz ruído moderado. No plano, basta apertar um pouco mais o acelerador que ele responde prontamente, com boa desenvoltura para um 1,0-litro. Muitos só vão lembrar sua cilindrada quando encontrarem uma subida: nessas condições é necessário reduzir marcha e esperar o motor embalar novamente.
De modo geral, o Gol de três cilindros surpreendeu. Anda bem e, ao que tudo indica, trará uma importante redução de consumo que vai ao encontro dos anseios de quem compra um carro de seu segmento. E, com os novos sistemas de entretenimento, dá até para compartilhar aos amigos as impressões sobre o motor sem tirar as mãos do volante.
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Ficha técnica
Gol Comfortline 1,0 | Voyage Highline 1,6 | |
Motor | ||
Posição | transversal | |
Cilindros | 4 em linha | |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote | no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4, variação de tempo | 2 |
Diâmetro e curso | 74,5 x 76,4 mm | 76,5 x 86,9 mm |
Cilindrada | 999 cm³ | 1.598 cm³ |
Taxa de compressão | 11,5:1 | 12,1:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial | |
Potência máxima (gas./álc.) | 75/82 cv a 6.250 rpm | 101/104 cv a 5.250 rpm |
Torque máximo (gas./álc.) | 9,7/10,4 m.kgf a 3.000 rpm | 15,4/15,6 m.kgf a 2.500 rpm |
Transmissão | ||
Tipo de caixa e marchas | manual, 5 | manual, 5, ou manual automatizada, 5 |
Tração | dianteira | |
Freios | ||
Dianteiros | a disco ventilado | |
Traseiros | a tambor | |
Antitravamento (ABS) | sim | |
Direção | ||
Sistema | pinhão e cremalheira | |
Assistência | hidráulica | |
Suspensão | ||
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal | |
Traseira | eixo de torção, mola helicoidal | |
Rodas | ||
Dimensões | 5 x 14 pol / 6 x 15 pol | 6 x 15 pol / 6 x 16 pol |
Pneus | 185/65 R 14 / 195/55 R 15 | 195/55 R 15 / 195/50 R 16 |
Dimensões | ||
Comprimento | 3,897 m | 4,218 m |
Largura | 1,656 m | |
Altura | 1,464 m | 1,463 m |
Entre-eixos | 2,466 m | 2,467 m |
Capacidades e peso | ||
Tanque de combustível | 55 l | |
Compartimento de bagagem | 285 l | 480 l |
Peso em ordem de marcha | 998 kg | 1.067 kg |
Desempenho (gas./álc.) | ||
Velocidade máxima | 168/170 km/h | 190/192 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 12,6/12,3 s | 10,1/9,9 s |
Dados do fabricante; consumo não disponível |