Nissan March três-cilindros é suave, mas falta potência

Nissan March SV

 

Ágil em baixos giros e isento de vibrações, o novo motor deixa
a versão SV agradável no trânsito; em rodovia, respostas são lentas

Texto e fotos: Fabrício Samahá

 

Corpo antigo, mas com um novo coração: assim ficou o Nissan March com a adoção do inédito motor de três cilindros e 1,0 litro, desenvolvido para o mercado brasileiro a partir do 1,2-litro usado em outros mercados. Embora o projeto do compacto da marca japonesa não seja dos mais atuais — a presente geração está em linha desde 2010 —, a mudança trouxe-lhe novo fôlego.

O March de três cilindros havia deixado boa impressão no lançamento, em janeiro, mas faltava ser submetido a nossas medições de desempenho e consumo, bem como à rodagem nas condições habituais pelas quais passam todos os carros avaliados. Para isso recebemos a versão SV, a superior entre as três que oferecem tal motor, com preço sugerido de R$ 41 mil.

 

 

 
Reestilizado há um ano, o March muda outra vez, dessa vez sob o capô e
para melhor; a versão superior SV traz rodas de alumínio de 15 pol

 

Seu conteúdo de série abrange freios com distribuição eletrônica da força de frenagem (EBD) e assistência adicional em emergência, ar-condicionado, direção assistida elétrica, banco do motorista e volante reguláveis em altura, computador de bordo, conta-giros, espelho em ambos os para-sóis, comando interno da tampa do tanque, controle elétrico de vidros dianteiros, travas e retrovisores, controle remoto de travamento, rodas de alumínio de 15 pol, faróis de neblina e rádio/CD com MP3, interface Bluetooth e comandos no volante.

 

No tráfego urbano, aprova-se o novo motor pelas respostas razoáveis em baixas rotações: é mais linear e agradável que o Renault

 

Quando se pensa em motor de três cilindros, a dúvida é imediata: como fica seu funcionamento com essa configuração que o afasta da regularidade dos quatro cilindros? A resposta é que a Nissan foi brilhante na questão, ao obter uma operação tão suave que mal deixa perceber o motor “diferente”. Só ligeira oscilação em marcha-lenta, similar à percebida na unidade Volkswagen do Fox e do Up, denuncia que há um cilindro a menos que o habitual — deixa bem para trás o motor Ford do Ka, que oscila a ponto de incomodar em várias faixas de rotação.

Se o funcionamento ficou bom, o que dizer do desempenho? Os números de potência e torque não eram animadores: 77 cv e 10 m.kgf (tanto faz o combustível), ante 74 cv e o mesmo torque do motor Renault de quatro cilindros que o equipava até então. O Ka oferece mais: 80/85 cv e 10,2/10,7 m.kgf, na ordem gasolina/álcool. Contudo, dirigindo o March no tráfego urbano, aprova-se o novo motor pelas respostas razoáveis em baixas rotações, como ao redor de 2.000 rpm. Ele mostra-se mais linear e agradável que o velho Renault, com sua conhecida “preguiça” abaixo de 2.500 giros.

 

 

 
Equipamentos, espaço e acabamento interno estão de acordo com a
categoria do March; bancos dianteiros precisam de mais apoio nas coxas

 

Isso não significa — que fique claro — desenvoltura em velocidades de rodovia. Na situação típica de passar por um veículo mais lento que saiu para a direita, o motorista do March pisa fundo em quinta marcha e nada acontece; reduz para quarta, pisa tudo e ainda assim pouco nota em resposta. É preciso ter paciência e se conformar com ganhos lentos de velocidade — ou ficar quieto na faixa da direita, atrás dos caminhões.

 

 

Na pista de testes, apesar do menor peso em relação ao Ka, o March mostrou-se lento nas medições de aceleração e retomada, evidenciando que falta potência ao novo motor. Todos os resultados de desempenho foram inferiores aos do modelo da Ford e aos do Up (leia comparativo desses carros), como a prova de 0 a 100 km/h, cumprida em 17,1 segundos, ante 13,5 s do Up e 14,4 s do Ka. A lentidão nas retomadas em marchas mais altas deixa claro que o motorista não deve ter preguiça de reduzir nas ultrapassagens (veja os números no quadro da próxima página). A definição de relações de câmbio do Nissan, como as do VW, impede que ele alcance 120 km/h em terceira marcha (vai até cerca de 115), razão pela qual não constam retomadas concluídas nessa velocidade.

 

 

 

 
Ar-condicionado potente, comandos de áudio no volante e ajuste de
intervalo do limpador agradam; o porta-malas carrega 265 litros

 

Já suas marcas de consumo de álcool em nossos trajetos de teste foram boas, similares às do Ka, embora menos brilhantes que as do Up. Nota curiosa: no percurso rodoviário, feito com ar-condicionado ligado e com frequentes subidas, o March de 1,0 litro acabou empatado (fez 0,1 km/l a menos) com a versão de 1,6 litro, comprovação de que nem sempre um motor de menor cilindrada é a opção mais econômica em combustível.

A troca de motor não alterou outras características do March que já agradavam ao motorista, como o ótimo comando de câmbio (e com marcha à ré como apreciamos, sem travas redundantes) e a direção muito leve em manobras e com peso adequado em alta velocidade. Ou a suspensão bem calibrada, que absorve bem as irregularidades, mantém estabilidade segura e transmite sensação de robustez. Além disso, o sistema de aquecimento de álcool para partida a frio deixou no passado o tanque auxiliar de gasolina.

Próxima parte

 

 

 
Funcionamento suave é o ponto alto do novo três-cilindros, mas a
prova de 0 a 100 km/h em 17,1 segundos revela lentidão

 

O que precisa melhorar é o isolamento de ruídos, mal que afeta até mesmo a versão SL de 1,6 litro: em velocidades de viagem o motor faz-se bem presente e torna os longos trajetos cansativos, agravado pela rotação mais alta (3.800 rpm a 120 km/h em quinta) que no carro de maior cilindrada.

Nesta versão SV abre-se mão de alguns equipamentos restritos à topo de linha SL, como sistema de áudio com tela maior e navegador, câmera traseira para manobras, bancos revestidos em tecido aveludado e controle automático do ar-condicionado, mas o interior preserva um aspecto adequado à categoria. O motorista encontra relativo conforto, apesar da séria falta de apoio para as coxas, e dispõe de regulagens de altura do banco e do volante, este algo enviesado para a esquerda. O banco traseiro oferece espaço normal para o segmento — um tanto estreito para três, mas com boa acomodação de pernas e cabeças —, assim como o porta-malas de 265 litros.

 

 
A atualização mecânica deixou o March mais interessante; contudo, seu
preço poderia ser mais ousado: é próximo ao do mais moderno Ka

 

A Nissan previu bons detalhes como dois hodômetros parciais, alerta para porta mal fechada, sistema de áudio com comandos no volante e conexões USB e auxiliar, ajuste do intervalo do limpador de para-brisa, comando interno do bocal de abastecimento e vidros traseiros que descem por inteiro. O ar-condicionado nos pareceu dos mais potentes já vistos em carros pequenos, equivalendo-se ao do Ka, e o retrovisor esquerdo hoje é convexo como deveriam todos ser — a troca do plano do antigo modelo importado do México é uma boa medida que a Ford não repetiu com seu Fiesta nacionalizado.

 

O March ficou melhor com três cilindros do que era com quatro, mas por valor similar a Ford oferece o Ka SE Plus, mais moderno

 

Outros aspectos podem ser melhorados: o controle elétrico de vidros tem função um-toque apenas para descer o do motorista e não traz temporizador, o computador de bordo não marca velocidade média e tem seu controle pelo botão que zera o hodômetro (precisa-se passar a mão por dentro do volante para selecionar funções), o porta-luvas é ínfimo, o estepe usa roda de 14 polegadas (as demais são de 15) e faltam luz de cortesia e alças de teto na traseira, ajuste em altura da ancoragem dos cintos, alarme volumétrico, faixa degradê no para-brisa e banco traseiro bipartido. Ainda, a função de autonomia do computador não nos pareceu confiável, como ao mostrar 100 km com meio tanque, tendo indicado 400 para o tanque completo.

Dentro da máxima de que “menos é mais”, o March de 1,0 litro ficou um carro melhor com três cilindros do que era com quatro. O que pode representar obstáculo para seu crescimento em vendas é o preço: por valor similar (R$ 41.090) a Ford oferece o Ka SE Plus, que deixa de fora alguns itens (rodas de alumínio, faróis de neblina, computador de bordo), mas é um projeto bem mais moderno e com motor de melhor desempenho.

Mais Avaliações

 

Desempenho e consumo

Aceleração

0 a 100 km/h 17,1 s
0 a 120 km/h 25,4 s
0 a 400 m 20,7 s

Retomada

60 a 100 km/h (3ª.) 12,4 s
60 a 100 km/h (4ª.) 16,7 s
60 a 120 km/h (3ª.) NA
60 a 120 km/h (4ª.) 25,4 s
80 a 120 km/h (3ª.) NA
80 a 120 km/h (4ª.) 18,8 s
80 a 120 km/h (5ª.) 30,9 s

Consumo

Trajeto leve em cidade 12,4 km/l
Trajeto exigente em cidade 7,0 km/l
Trajeto em rodovia 9,8 km/l

Autonomia

Trajeto leve em cidade 458 km
Trajeto exigente em cidade 258 km
Trajeto em rodovia 362 km
Testes efetuados com álcool; NA = medição não aplicável nessa marcha; conheça nossos métodos de medição

 

 

Dados do fabricante

Velocidade máxima 160 km/h
Aceleração de 0 a 100 km/h 15,0 s
Consumo em cidade 12,9/8,8 km/l
Consumo em rodovia 15,1/10,3 km/l
Gasolina/álcool; consumo conforme padrões do Inmetro

 

Comentário técnico

• Identificado pelo código HR10, o novo motor da Nissan adota soluções atuais como bloco de alumínio (melhor dissipação de calor e menor peso que no de ferro fundido do antigo Renault), variação do tempo de abertura das válvulas de admissão (não havia no quatro-cilindros) e preaquecimento de álcool para partida a frio com tal combustível no tanque (dispensa o tanque suplementar de gasolina). O acionamento do comando de válvulas agora usa corrente, como é usual em motores Nissan, o que dispensa a troca da correia dentada prevista para a unidade anterior.

• A ótima relação r/l de 0,254 indica bom trabalho de desenvolvimento e sua rotação chega a 6.800 rpm. Para conter as vibrações de funcionamento comuns nos três-cilindros, a fábrica aplicou contrapesos externos ao volante e à polia de amortecimento. Ao contrário dos motores similares da VW e da Ford, porém, não foi usado duplo circuito de arrefecimento.

 

Ficha técnica

Motor

Posição transversal
Cilindros 3 em linha
Material do bloco/cabeçote alumínio
Comando de válvulas no cabeçote
Válvulas por cilindro 4, variação de tempo
Diâmetro e curso 78 x 69,7 mm
Cilindrada 999 cm³
Taxa de compressão 11,2:1
Alimentação injeção multiponto sequencial
Potência máxima (gas./álc.) 77 cv a 6.200 rpm
Torque máximo (gas./álc.) 10,0 m.kgf a 4.000 rpm
Potência específica (gas./álc.) 77,1 cv/l

Transmissão

Tipo de câmbio e marchas manual / 5
Relação e velocidade por 1.000 rpm
1ª. 4,09 / 6 km/h
2ª. 2,24 / 11 km/h
3ª. 1,39 / 18 km/h
4ª. 1,03 / 25 km/h
5ª. 0,80 / 32 km/h
Relação de diferencial 4,50
Regime a 120 km/h (5ª.) 3.800 rpm
Regime à vel. máxima informada (4ª.) 6.500 rpm
Tração dianteira

Freios

Dianteiros a disco ventilado (260 mm ø)
Traseiros a tambor (203 mm ø)
Antitravamento (ABS) sim

Direção

Sistema pinhão e cremalheira
Assistência elétrica
Diâmetro de giro 9,0 m

Suspensão

Dianteira independente, McPherson, mola helicoidal
Traseira eixo de torção, mola helicoidal
Estabilizador(es) dianteiro

Rodas

Dimensões 15 pol
Pneus 185/60 R 15

Dimensões

Comprimento 3,827 m
Largura 1,675 m
Altura 1,528 m
Entre-eixos 2,45 m
Bitola dianteira 1,46 m
Bitola traseira 1,465 m
Coeficiente aerodinâmico (Cx) 0,33

Capacidades e peso

Tanque de combustível 41 l
Compartimento de bagagem 265 l
Peso em ordem de marcha 964 kg
Relação peso-potência (gas./álc.) 12,5 kg/cv

Garantia

Prazo 3 anos sem limite de quilometragem

Carro avaliado

Ano-modelo 2015
Pneus Bridgestone Turanza ER300
Dados do fabricante

 

 

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