Toro Endurance manual continua lenta, mas mostra conforto

Embora sem ganhar aceleração, versão com três pedais melhora consumo e preserva outras qualidades

Texto e fotos: Fabrício Samahá

Transmissão manual em certos segmentos de mercado, hoje, é mais rara que vidros acionados por manivela. Mas sempre há clientes adeptos das marchas em “H” e do pedal de embreagem, sobretudo em versões mais simples, nas quais os custos de compra e manutenção ganham relevância. Foi por isso que a Fiat lançou para 2020 a Toro Endurance manual, opção que o Best Cars avaliou em 10 itens. Embora o preço básico seja de R$ 101 mil, a picape avaliada custava R$ 109 mil pelo acréscimo dos opcionais disponíveis.

Estilo
O desenho elegante e diferenciado continua um destaque da Toro, mesmo nesta versão de entrada, que usa simples calotas em rodas de 16 polegadas. Desejada por uns e dispensada por outros é a estrutura tubular de caçamba, o popular “santantônio” (opcional), que a nosso ver não combina com o estilo suave da picape.

À parte as rodas de 16 pol com calotas, a aparência da Endurance segue a da Toro Freedom, com um desenho atual e elegante

Acabamento e conveniência
O interior da Endurance é semelhante ao da Freedom, com bancos de tecido simples e alguns apliques em preto brilhante sobre um conjunto espartano com plásticos rígidos — mais coerente com essa versão que com aquelas bem mais caras.

A picape traz conveniências como câmera traseira de ótima resolução, controle elétrico de vidros com comando a distância para abrir e fechar, controlador de velocidade (raro quando a caixa é manual) e seu limitador, luzes de cortesia também atrás, para-sóis iluminados e rebatimento elétrico dos retrovisores. Como pontos falhos, o para-brisa não tem faixa degradê nem serigrafia junto ao retrovisor interno (entra sol frontal pelo vão entre os para-sóis) e falta espaço para pequenos objetos, sem lugar no console para um simples telefone de tela grande (também não tem o espaço sob o assento do passageiro ao lado).

A nova central de áudio da linha 2020 trouxe ganhos há muito esperados: tela sensível ao toque de sete polegadas e integração a celular por Android Auto e Apple Car Play, que no modelo 2021 passa a dispensar cabo de conexão se o telefone for compatível. Foi mantido o navegador integrado, importante em picapes (muitas vezes usadas em regiões com baixa cobertura de internet móvel), e há dois botões giratórios para as funções básicas. O som produzido, porém, é modesto.

Acabamento simples, boa posição do motorista e espaço traseiro adequado, apesar da cabine estreita para levar três adultos

Posto do motorista
O condutor da picape Fiat dispõe de banco bem desenhado e com bom apoio às coxas, volante espesso com ajuste em altura e distância e correta relação entre eles e os pedais. Mesmo com mostrador digital simples nessa versão, o quadro de instrumentos inclui indicações de temperatura do óleo do motor, tensão da bateria, pressão de cada pneu, horas do motor e velocímetro digital, assim como computador de bordo com duas medições.

A nova central de áudio trouxe ganhos há muito esperados: tela sensível ao toque de sete polegadas e integração a celular que dispensa cabo de conexão

A Endurance mantém os faróis de duplo refletor, os de neblina e os repetidores laterais das luzes de direção; contudo, seria melhor se os leds da frente atuassem como luz diurna, como nas versões de topo. As largas colunas dianteiras causam certo prejuízo ao campo visual.

Espaço interno
Como todas as Toros, a Endurance acomoda bem dois adultos e uma criança no banco traseiro, com amplo espaço para cabeça, mas largura inadequada para três pessoas de maior porte. O encosto de trás incomoda o passageiro central.

Instrumentos com boas informações, para-sóis iluminados, câmera traseira e nova central de áudio com navegador e integração sem fio a celular

Caçamba
Pelo porte da picape, seu espaço para carga é considerável: 820 litros. Já a capacidade de carga de 550 kg da versão fica 100 kg abaixo da admitida pela automática, o que pode ser inconveniente no uso profissional. Gostamos da solução da porta dupla aberta para os lados, muito leve e que permite ao usuário chegar mais perto da carga, sem ter a tampa de caçamba no caminho. Alguns, porém, preferem ter a tampa tradicional para apoio dos volumes antes de acomodá-los.

A versão não traz cobertura marítima, item recomendável tanto para proteger a carga quanto para melhorar a aerodinâmica em alta velocidade. O estepe segue os demais pneus de modo a poder ser usado em reposição ou rodizio.

Próxima parte

Caçamba tem espaço para 820 litros e prática dupla tampa, mas capacidade de carga foi reduzida para 550 kg na versão manual

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Transmissão manual deixou a Toro ainda mais lenta de 0 a 100 km/h; respostas ficam mais convincentes em modo Sport

Motor e desempenho
Transmissão manual deixa um veículo mais rápido que a automática? Nem sempre. No caso da Toro, a versão com três pedais tem cinco marchas em vez de seis e não conta com o conversor de torque, que fornece um “pulo” inicial à automática. Assim, na pista de testes (ambas com gasolina), a Endurance manual levou 14,1 segundos para acelerar de 0 a 100 km/h ou 0,4 s a mais que a automática. Se a outra estava longe de empolgar pelo desempenho, essa então…

Fato curioso é a terceira marcha acabar a 118 km/h reais, o que afeta tanto a aceleração de 0 a 120 quanto as retomadas. No dia a dia, a Toro melhoraria em sensação de desempenho se não tivesse um acelerador tão lento em um tempo de uso abusivo de pedais rápidos (que abrem quase toda a borboleta a um leve toque) por várias marcas.

Embora seja melhor a atuação progressiva, nesse caso ela acentua a sensação de falta de potência. Basta acionar o modo Sport, por tecla no painel, que o pedal ganha a resposta desejada e a picape parece outra. Ponto positivo: o motor emite ruídos e vibrações moderados. Já os engates da caixa são firmes e precisos, mas não macios.

Caixa manual trouxe vantagem em consumo: mais de 11 km/l de gasolina no trajeto urbano leve, bom ganho sobre a automática

Consumo
Trocar de caixa automática para manual resultou, como esperado, em boa melhora no consumo da Toro. A Endurance fez 11,3 km/l no trajeto urbano mais leve, ante apenas 9,1 km/l da Freedom automática, e 10 km/l no percurso rodoviário contra 9,5 da outra. Em rodovia a versão automática beneficia-se da menor rotação e, em boa parte do tempo, roda com conversor de torque bloqueado, o que explica a proximidade de resultados. Embora a Toro manual esteja longe de ser econômica, mostrou consumo compatível com o de SUVs de médio porte.

Com acerto de suspensão dos melhores, a Toro consegue ser excelente em conforto de rodagem e em estabilidade para os padrões de picapes

Comportamento dinâmico
Com moderna suspensão traseira independente multibraço — mais sofisticada até que os sistemas dos colegas de plataforma Jeep Compass e Renegade — e acerto dos melhores, a Toro consegue ser excelente em conforto e em estabilidade para os padrões de picapes, não ficando atrás de muitos utilitários esporte. A absorção de irregularidades agrada sempre, sejam pequenas ou grandes, rápidas ou lentas. O perfil alto dos pneus não compromete a boa atitude em curvas e há controle eletrônico de estabilidade e tração de série. O vão livre do solo (243 mm entre eixos) está adequado.

Correta é também a direção em assistência e relação. Duas ressalvas: o diâmetro de giro muito grande, conhecido da picape, e pedal de freio que parece ter um curso morto (sem ação) e precisa ser pisado a fundo para atuar.

Destaque para o acerto da suspensão, bem superior às picapes com chassi tanto em estabilidade quanto em conforto de rodagem

Segurança passiva
Diferente das versões de topo, que trazem sete bolsas infláveis (incluindo laterais dianteiras, de cortina e de joelhos do motorista), a Toro Endurance oferece apenas as bolsas frontais. É o mínimo exigido por lei, assim como cintos de três pontos e encostos de cabeça para todos os ocupantes e fixação Isofix para cadeira infantil.

Custo-benefício
A Toro Endurance manual tem um segmento para chamar de seu, pois não há concorrentes diretas. Abaixo dela em porte e preço existe a Renault Duster Oroch, que custa R$ 90 mil na versão Dynamique manual, com a vantagem do motor mais potente (de 2,0 litros e 143/148 cv), mas bem inferior em refinamento e idade de projeto.

Picapes maiores com tração traseira e construção sobre chassi custam bem mais que o modelo da Fiat. Entre as opções estão Chevrolet S10 LT (2,5 litros, 197/206 cv, caixa automática, R$ 142 mil) e Toyota Hilux SR (2,7 litros, 159/163 cv, caixa manual, R$ 133.550). Diante desse quadro, a combinação de desenho atraente, ótimo acerto de suspensão e preço intermediário faz da Toro mais simples uma opção a considerar para quem valoriza, em uma picape, mais o conforto ao rodar que o desempenho.

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