Transmissão automática chega à versão de 1,6 litro com melhor resultado em consumo, mas desempenho modesto
Texto: Geraldo Tite Simões – Fotos: divulgação
Quando o Renault Captur brasileiro foi apresentado, em fevereiro, ao menos dois pontos causaram insatisfação. Um, o acabamento muito simples para um carro de seu preço; outro, o uso da ultrapassada transmissão automática de quatro marchas, que sacrificou desempenho, consumo e prazer de dirigir da versão Intense com motor de 2,0 litros. À época, a marca francesa anunciou que em alguns meses ofereceria uma caixa automática de variação contínua (CVT) para a versão de 1,6 litro, opção que faz sua estreia agora e que o Best Cars experimentou.
A combinação está disponível para ambos os acabamentos do Captur: Zen, ao preço de R$ 84.900, e Intense, por R$ 88.400. Em relação à caixa manual (R$ 78.900), a CVT acrescenta R$ 6 mil ao Zen. Já o Intense 1,6 CVT fica R$ 3.500 abaixo do Intense 2,0 automático, que passou a custar R$ 91.900. A expectativa com a novidade é dobrar as vendas do modelo, das quais 60% ficariam com versões CVT. Por enquanto não há perspectiva de aplicar essa caixa ao motor maior, garante o fabricante. A vasta concorrência inclui Chevrolet Tracker, o renovado Ford Ecosport, Honda HR-V, Hyundai Creta, Jeep Renegade e Nissan Kicks, entre outros.
Caixas CVT são uma boa solução para motores de pequena cilindrada por sua eficiência: com a variação progressiva da relação, obtida com duas polias ligadas por uma correia, consegue-se manter o motor na faixa de rotação mais favorável a cada condição — seja a mais baixa possível, para economia de combustível, seja mais alta e constante, para rápida aceleração. A Nissan, associada à Renault, vinha obtendo ótimos resultados com CVT em modelos como March, Versa e Kicks e a própria francesa já tinha o bom histórico do Fluence.
Pontos fortes do Captur são o motor silencioso, baixo nível de vibração e suspensão macia, mas a relação peso-torque deixa acelerações e retomadas um pouco lentas
Fabricada pela Jatco, a transmissão XTronic do Captur usa correia de liga de aço, sem substituição prevista (espera-se a mesma durabilidade da caixa como um todo), e não a mantém banhada em óleo para reduzir a inércia de funcionamento: o lubrificante é apenas borrifado onde necessário. Um conversor de torque é empregado para multiplicar o torque nas saídas, aumentar o efeito redutor nas desacelerações e ativar a marcha à ré. Uma caixa auxiliar, que funciona como uma reduzida, permite grande variação de relações (7,3) com polias menores e mais leves.
Inalterado da versão manual o conhecido motor SCE de origem Nissan produz no Captur a potência de 118 cv com gasolina ou 120 cv com álcool e o torque de 16,2 m.kgf para ambos os combustíveis. É uma unidade atual com variação do tempo de abertura das válvulas de admissão, bloco de alumínio e coletor de escapamento integrado ao cabeçote, mas que ainda usa o velho tanque auxiliar de gasolina para partida a frio. A CVT acrescenta apenas 13 kg ao peso total, que passa a 1.286 kg e fica bem abaixo dos 1.352 kg do 2,0-litros automático (cujo motor com bloco de ferro fundido também pesa mais que o 1,6).
Sem identificações externas, caixa CVT XTronic pode ser associada aos acabamentos Intense (fotos) e Zen com preços a partir de R$ 84.900
Auxiliada pela baixa rotação em velocidades de viagem, a CVT torna o Captur mais econômico em rodovia que a versão manual, de acordo com os dados do fabricante pelos padrões do Inmetro: passa de 11,3 para 11,7 km/l com gasolina e de 8,0 para 8,1 km/l com álcool. No ciclo urbano o XTronic perde, mas não por muito: de 10,9 para 10,5 km/l com gasolina e de 7,6 para 7,3 km/l com álcool. Em qualquer caso o 1,6 é mais econômico que o 2,0 automático, que faz 8,8/6,2 km/l (urbano) e 10,8/7,3 km/l (rodoviário).
E o desempenho, como fica? A Renault anuncia para o XTronic a mesma velocidade máxima do manual (168/169 km/h), mas a aceleração de 0 a 100 km/h fica mais lenta: 13,4/11,9 segundos com manual, 14,5/13,1 s com a nova transmissão. É expressiva a diferença de aceleração para o 2,0-litros, que faz em 12,0/11,1 s, mas não em velocidade máxima (174/179 km/h com esse motor). Nem poderia ser diferente pela potência (143/148 cv) e o torque (20,2/20,9 m.kgf) adicionais de que ele dispõe.
Interior do Intense pode ter tecido em dois tons ou couro; acabamento simples depõe contra, mas há bom espaço para passageiros e bagagem
Embora a caixa XTronic seja a mesma do Kicks, para o motorista sua atuação é diferente. O Captur oferece mudanças manuais entre seis marchas emuladas (não são marchas no sentido estrito, mas pontos de parada das polias) por meio da alavanca seletora, movida para trás para subir e para frente para reduzir. Não há o programa Sport, que no “primo” serve para manter o motor em rotação mais alta. Como no Nissan, ao manter o pé a todo acelerador a “troca” é feita a 6.000 rpm, ou seja, nessa condição a caixa não produz a rotação constante que incomoda muitos motoristas pelo ruído monótono. Em modo manual, ao acelerar até o fim a caixa reduz para melhorar a retomada.
Ao volante do Captur XTronic
No lançamento à imprensa em Niterói, RJ, dirigimos o Captur Intense XTronic por cerca de 50 quilômetros em cidade. Embora o foco da Renault com essa versão seja mesmo o uso urbano, seria importante rodarmos também em rodovia, o que fica para a avaliação completa.
Com estilo bem resolvido de curvas suaves e agradáveis, o SUV tem interior simples, que nessa versão traz bancos de couro (opcionais) e apliques em preto brilhante no painel. O sistema de navegação e áudio é fácil de visualizar e de operar, mas poderia prever integração a telefone (Android Auto e Apple Car Play), comum em várias marcas. É fácil conseguir um bom ajuste do banco e os passageiros dispõem de espaço dos mais generosos da categoria. O compartimento de bagagem de 437 litros é também dos mais amplos da classe. Aspecto crítico é a visibilidade, pois as largas colunas dianteiras e traseiras criam grandes pontos cegos.
Conforto é ponto alto do Captur, com rodar macio e motor silencioso; CVT opera bem, mas torque do motor 1,6 é pouco para dar desenvoltura a sua 1,3 tonelada
Ao rodar, logo se percebem os pontos fortes do Captur: motor silencioso, baixíssimo nível de vibração e suspensão muito generosa, que aceita qualquer desaforo. O SUV passa pelas irregularidades do solo com eficiência sem causar desconforto. A transmissão opera bem, mas a relação entre peso e torque não é das mais favoráveis, o que deixa acelerações e retomadas um pouco lentas. Sem dúvida, ficaria ideal essa caixa mais eficiente combinada ao motor de 2,0 litros.
A Renault sabe, porém, que o mercado brasileiro responde bem a carros de desempenho moderado — as versões menos potentes são quase sempre as mais vendidas. Dentro desse contexto, o Captur de 1,6 litro está bem acertado e a transmissão CVT tem os argumentos certos para fazer reagir as vendas do modelo.
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Versões, preços e equipamentos
• Captur Zen XTronic (R$ 84.900) – Alarme perimétrico, ar-condicionado, assistente de partida em rampas, bolsas infláveis frontais e laterais, chave-cartão presencial para acesso e partida, cintos de três pontos para cinco ocupantes, comando satélite de áudio, controlador e limitador de velocidade, controle eletrônico de estabilidade e tração, fixação Isofix para cadeira infantil, rodas de alumínio de 17 polegadas com pneus 215/60, sistema de áudio com rádio e Bluetooth. Opcionais: câmera traseira de manobras e sistema de áudio com tela de 7 pol e navegador.
• Captur Intense XTronic (R$ 88.400) – Como o Zen, mais apoio de braço central, ar-condicionado automático, câmera traseira de manobras, faróis de neblina com iluminação de curvas, faróis e limpador de para-brisa automáticos, rebatimento elétrico dos retrovisores, rodas diferenciadas e sistema de áudio com tela de 7 pol e navegador. Opcionais: bancos de couro e pintura em dois tons.
Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 4 em linha |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4, variação de tempo |
Diâmetro e curso | 78 x 83,6 mm |
Cilindrada | 1.597 cm³ |
Taxa de compressão | 10,7:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial |
Potência máxima (gas./álc.) | 118/120 cv a 5.500 rpm |
Torque máximo (gas./álc.) | 16,2 m.kgf a 4.000 rpm |
Transmissão | |
Tipo de caixa e marchas | automática de variação contínua, emulação de 6 marchas |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a tambor |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | eletro-hidráulica |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | eixo de torção, mola helicoidal |
Rodas | |
Dimensões | 17 pol |
Pneus | 215/60 R 17 |
Dimensões | |
Comprimento | 4,329 m |
Largura | 1,813 m |
Altura | 1,619 m |
Entre-eixos | 2,673 m |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 50 l |
Compartimento de bagagem | 437 l |
Peso em ordem de marcha | 1.286 kg |
Desempenho e consumo (gás./álc.) | |
Velocidade máxima | 168/169 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 14,5/13,1 s |
Consumo em cidade | 10,5/7,3 km/l |
Consumo em rodovia | 11,7/8,1 km/l |
Dados do fabricante; consumo conforme padrões do Inmetro |