Confortável, Captur sofre com heranças do Duster

Versão Zen é quase igual por fora e também pode ter teto em preto ou marfim; motor SCE de 1,6 litro e 120 cv terá opção de caixa CVT em alguns meses

 

Pontos melhoráveis: não há regulagem do volante em distância, faixa degradê no para-brisa ou iluminação nos espelhos dos para-sóis, e estranham-se os botões de controlador/limitador de velocidade e do modo de condução Eco (que altera parâmetros de acelerador e transmissão) embaixo da alavanca de freio de estacionamento. Curioso é ver o capô sustentado por vareta em um carro refinado, enquanto o espartano Duster usa mola a gás: a Renault argumenta que a mola gera pontos de tensão na chapa e, com o tempo, afeta seu alinhamento.

O Captur dispõe de banco traseiro espaçoso e confortável, dotado de encostos de cabeça e cintos de três pontos para todos os passageiros (o cinto central vem do teto), assim como fixações Isofix para cadeira infantil. O compartimento de bagagem oferece espaço entre os maiores da classe, embora perca para o do Duster (437 ante 475 litros), e sua forma quadrangular facilita acomodar a bagagem. Como no “irmão”, o estepe fica abaixo da carroceria, enquanto no francês vem por dentro; o pneu é diferente dos de serviço.

 

Trem de força poderia ser melhor

Menor, com outras ambições de mercado e destinado a países com normas severas de emissão de gás carbônico (CO2), o Captur francês usa motores compactos e eficientes: de três cilindros e 900 cm³ com turbo e 90 cv, de 1,2 litro turbo com 120 cv (ambos a gasolina) e turbodiesel de 1,5 litro com 90 ou 110 cv. No Brasil, tudo muda: as unidades flexíveis são a SCE de 1,6 litro de origem Nissan e a F4R de 2,0 litros, iguais às do Duster atual.

 

Interior do Zen perde alguns equipamentos e cobra à parte pelo sistema de aúdio e navegação com tela de 7 pol; atrás há cintos de três pontos e Isofix

 

Decepciona encontrar algo tão antigo — o F4R surgiu aqui em 2001 na Scénic — sob o capô de um carro moderno como o Captur. Embora careça de evoluções para ganhar potência, a unidade Nissan que equipa o Fluence é superior em refinamento, usa corrente para acionar os comandos de válvulas (correia dentada no F4R), tem bloco mais leve de alumínio e já teria pronto o “casamento” com a caixa CVT, em vez de recorrer à ultrapassada caixa automática Renault de quatro marchas, também originária da Scénic.

 

No uso urbano a impressão é de conforto: as mudanças de marcha são suaves, a suspensão macia revela-se agradável e o nível de ruído é baixo no tráfego

 

Outras especificações que o Captur reprisa do Duster são suspensão traseira por eixo de torção, freios a tambor atrás (HR-V e Renegade têm discos em todas as versões) e assistência eletro-hidráulica de direção (o francês e a maior parte dos concorrentes locais usam elétrica, não prevista para esta plataforma), mas os pneus 215/60 em rodas de 17 pol são inéditos. A Renault destaca o maior vão livre do solo da categoria, 212 mm. Para tração integral — disponível na Rússia — o fabricante não vê demanda suficiente aqui, embora afirme que a engenharia está feita para eventual interesse do mercado.

O Best Cars dirigiu o Captur Intense por 70 quilômetros no lançamento à imprensa, que tinha poucas unidades 1,6 à disposição — a fábrica espera maiores vendas para o 2,0, o que a nosso ver pode mudar com a estreia da caixa CVT para o motor menor. O trajeto de São Paulo, SP, até a Estrada Velha de Santos incluiu trânsito urbano e rodovia.

 

Motor de 2,0 litros e caixa automática do Duster limitam o Captur: desempenho só razoável, grande intervalo entre marchas, consumo melhorável

 

A primeira boa impressão é de conforto, com bancos dianteiros bem desenhados e com apoio lateral adequado, volante bem definido e apliques macios nas portas na região em que se apoia o braço. Motor e caixa dão conta do recado nas situações mais comuns de uso e, com bom trabalho de calibração das centrais eletrônicas, as mudanças de marcha são suaves. Em pisos ondulados a suspensão macia revela-se agradável e o nível de ruído é baixo ao seguir a corrente de tráfego: acreditamos quando a Renault diz que isolamento acústico foi um dos pontos mais trabalhados do modelo.

 

 

A satisfação diminui ao chegar à rodovia dos Imigrantes: acelerado a fundo, o velho F4R torna-se áspero e ruidoso acima de 4.000 rpm — embora menos que no Duster —, fornece desempenho apenas razoável e sofre com o grande intervalo entre as relações da caixa, inerente às quatro marchas. A quarta impõe 3.000 rpm a 120 km/h, mais que o usual hoje, e quando se requer mais potência a rotação sobe além do necessário por falta de marchas intermediárias. Ah, como ficaria melhor com seis…

Os dados oficiais de desempenho refletem a baixa eficiência da caixa: o pesado Intense automático (1.352 kg) com álcool acelera de 0 a 100 km/h em 11,1 segundos, apenas 0,8 s a menos que o Zen manual (1.273 kg, também um alto peso para seu porte), apesar dos 28 cv de diferença. Além disso, as limitações da transmissão impactam no consumo, com modestos 7,3 km/l de álcool em rodovia pelo padrão do Inmetro, por mais que os discutíveis critérios do órgão lhe atribuam nota A na categoria (o HR-V cumpre 8,5 km/l na mesma condição).

 

Isolamento de ruídos foi grande progresso em relação ao Duster; acerto de suspensão privilegia conforto, mas pode melhorar em impactos

 

Como o trajeto não previa curvas rápidas, impressões sobre estabilidade ficam para a avaliação completa. Foi possível apenas andarmos de passageiros em uma demonstração do controle eletrônico de estabilidade e tração em circuito, incluindo pisos de baixa aderência. Um breve trecho esburacado confirmou o acerto confortável da suspensão, talvez mais que no Duster, mas com um mal herdado do “irmão”: transmite mais os grandes impactos do que alguns concorrentes. Pareceu-nos também que a direção filtra mal as irregularidades quando esterçada: assistência elétrica costuma ajudar muito nesse aspecto.

As heranças do Duster parecem ser mesmo o grande limitador do Captur. Bonito, agradável por dentro, espaçoso e com boa oferta de itens de conforto e segurança (faltaram bolsas infláveis de cortina), ele seria muito beneficiado por um trem de força mais moderno na versão Intense ou, ao menos, uma transmissão atual para aproveitar melhor o motor. Do modo como a versão de topo foi lançada, não será fácil fazer mudar de direção quem estava inclinado a levar para casa um dos líderes da categoria.

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Ficha técnica

Zen 1,6 manual Intense 2,0 automático
Motor
Posição transversal
Cilindros 4 em linha
Comando de válvulas duplo no cabeçote
Válvulas por cilindro 4, variação de tempo
Diâmetro e curso 78 x 83,6 mm 82,7 x 93 mm
Cilindrada 1.597 cm³ 1.998 cm³
Taxa de compressão 10,7:1 11,2:1
Alimentação injeção multiponto sequencial
Potência máxima (gas./álc.) 118/120 cv a 5.500 rpm 143/148 cv a 5.750 rpm
Torque máximo (gas./álc.) 16,2 m.kgf a 4.000 rpm 20,2/20,9 m.kgf a 4.000 rpm
Transmissão
Tipo de caixa e marchas manual, 5 automática, 4
Tração dianteira
Freios
Dianteiros a disco ventilado
Traseiros a tambor
Antitravamento (ABS) sim
Direção
Sistema pinhão e cremalheira
Assistência eletro-hidráulica
Suspensão
Dianteira independente, McPherson, mola helicoidal
Traseira eixo de torção, mola helicoidal
Rodas
Dimensões 17 pol
Pneus 215/60 R 17
Dimensões
Comprimento 4,329 m
Largura 1,813 m
Altura 1,619 m
Entre-eixos 2,673 m
Capacidades e peso
Tanque de combustível 50 l
Compartimento de bagagem 437 l
Peso em ordem de marcha 1.273 kg 1.352 kg
Desempenho e consumo (gás./álc.)
Velocidade máxima 168/169 km/h 174/179 km/h
Aceleração de 0 a 100 km/h 13,3/11,9 s 12,0/11,1 s
Consumo em cidade 10,9/7,6 km/l 8,8/6,2 km/l
Consumo em rodovia 11,3/8,0 km/l 10,8/7,3 km/l
Dados do fabricante; consumo conforme padrões do Inmetro

 

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