Visão, tato e audição gostarão da extensa reforma aplicada ao hatch,
que segue os passos do novo Logan e começa por menos de R$ 30 mil
Texto: Fabrício Samahá e Edison Ragassi – Fotos: divulgação
Assim como ocorreu com o Logan no ano passado, o Renault Sandero passa por uma ampla remodelação para a linha 2015. Aproveitando a mecânica do modelo lançado em 2008, a fábrica francesa aplicou um estilo mais atual e agradável e deixou o interior mais atraente, em um conjunto que pretende repetir a boa aceitação do anterior — responsável por 40% das vendas da marca e por um total acumulado de 500 mil unidades nesses quase seis anos.
O novo Sandero vem em quatro versões. A mais simples, Authentique, usa motor de 1,0 litro e 16 válvulas, custa R$ 29.890 e traz de série bolsas infláveis frontais, freios com sistema antitravamento (ABS) e distribuição eletrônica da força de frenagem (EBD), direção assistida, volante com regulagem em altura, ar quente, desembaçador do vidro traseiro, rodas de 15 pol com pneus 185/65, conta-giros e aberturas internas do porta-malas e tanque de combustível. Pode receber ar-condicionado.
O novo desenho do Sandero revela-se simples, mas agradável, e perde a diferença
para o Logan na dianteira; o Expression (fotos) pode vir com ambos os motores
A intermediária Expression oferece o motor 1,0 16V (R$ 35 mil) e o 1,6 de oito válvulas (R$ 38.590). Além dos equipamentos da Authentique, vem com ar-condicionado, rádio/CD com MP3, tomada USB e interface Bluetooth, controles elétricos de vidros dianteiros e travas, alarme, controle remoto de travas, computador de bordo, retrovisores e maçanetas na cor da carroceria. Os opcionais são navegador integrado ao painel e sensores de estacionamento na traseira.
O interior foi beneficiado pela remodelação
já vista no Logan, com um painel bem superior
em aspecto e novos itens de conveniência
Por fim, a nova opção de topo Dynamique 1,6 (R$ 42.390) adiciona ao conteúdo da Expression rodas de alumínio de 15 pol, faróis de neblina, controles elétricos de vidros traseiros, controlador e limitador de velocidade, retrovisores com ajuste elétrico e luzes de direção, banco traseiro bipartido e volante revestido em couro. Pode receber ainda ar-condicionado automático, navegador e sensores de estacionamento na traseira.
Comparado ao modelo 2014 o Sandero ficou mais barato e ganhou rodas de 15 pol no caso do Authentique, mas perdeu itens como faróis de neblina no Expression 1,6 e navegador no Privilège (substituído pelo Dynamique). A garantia é de três anos ou 100 mil quilômetros. Acessórios disponíveis em concessionária incluem alarme, engate traseiro para reboque, faróis de neblina, ponteira de escapamento cromada, rodas de alumínio, sensores de estacionamento, rádios e o pacote Sport, composto por saias laterais e defletores dianteiro e traseiro.
Rodas de alumínio e apliques cromados vêm no Dynamique, que substitui o
Privilège e tem motor 1,6; em azul, com acessórios do pacote visual Sport
Por enquanto ficam de fora o pacote visual esportivo GT Line, a versão aventureira Stepway e o motor de 1,6 litro com 16 válvulas. Os dois últimos devem voltar ao mercado até o fim do ano, assim como uma opção sem pedal de embreagem — espera-se um câmbio automatizado, ainda sem detalhes, no lugar do antigo automático de quatro marchas. Curioso é que o 1,6 16V está previsto com câmbio manual e 105 cv para o mercado argentino: culpa do preconceito de muitos brasileiros?
O Sandero original, embora baseado na plataforma do primeiro Logan, havia recebido linhas próprias e mais joviais que as do sedã. Isso muda na nova geração (que justifica tal designação pelo redesenho completo da carroceria): agora os dois modelos são iguais de frente e parecidos nas formas da traseira, caso das lanternas. O hatch também não tem mais os vincos curvos nas portas. O estilo adotado aqui segue o apresentado na Europa no Salão de Paris de 2012, salvo por detalhes; o Stepway foi remodelado por lá na mesma época.
Apesar de simples e sem inovações — ou talvez por isso mesmo —, o novo visual deve agradar à maioria. Transmite robustez e não parece destinado a envelhecer rápido, além de evitar a rejeição a soluções estranhas, como as antigas lanternas traseiras de formas irregulares. Uma comparação visual mostra que o formato básico da carroceria foi mantido, mesmo com todos os painéis refeitos. Os faróis passam a usar duplo refletor, mas se lamenta que os repetidores laterais de luzes de direção, antes usados em toda a linha, agora venham só no Dynamique. Exageradas, a nosso ver, são as molduras cromadas nos faróis de neblina dessa versão.
Por dentro, o Dynamique mostra aparência bem melhor e pode ter ar-condicionado
automático; a tela de 7 pol serve a áudio, navegação e pontuação pela eficiência
O interior foi beneficiado pela mesma remodelação vista no Logan, com um painel bem superior em aspecto e novos itens de conveniência como o ar-condicionado automático, limitador e controlador de velocidade. Os bancos dianteiros do Dynamique adotam um revestimento sem costuras na face de contato com os ocupantes e espuma de espessura variável. Amplo espaço para quatro adultos e boa posição de dirigir são atributos do Sandero que permanecem. O acabamento, sem ser luxuoso, está adequado ao que se tem na categoria.
A tela sensível ao toque de sete polegadas do sistema Media Nav acrescenta às funções conhecidas — áudio, telefone e navegação — dicas para direção econômica e o sistema Eco2 de pontuação, que atribui até cinco estrelas ao motorista nos quesitos aceleração, troca de marchas e antecipação. Há também uma luz de sugestão de mudança de marcha no painel. O ajuste elétrico dos retrovisores agora vem no painel (antes, sob a alavanca do freio de estacionamento), mas os controles elétricos de vidros traseiros deveriam continuar na porta do motorista (foram para o painel). O compartimento de bagagem mantém a capacidade de 320 litros, a maior da classe, e ganhou comando interno. O estepe passa a vir sob o assoalho interno, como a maioria parece preferir no Brasil, em vez de sob a carroceria.
Próxima parte |
O espaço interno continua um destaque do Sandero; no Expression o acabamento
é espartano; a capacidade de 320 litros de bagagem é a mesma do anterior
Motores pedem evolução
De acordo com a Renault, os novos Logan e Sandero usam uma plataforma toda nova. Contudo, as dimensões básicas serem as mesmas de antes (como as distâncias entre eixos, diferenciadas entre hatch e sedã), assim como o peso de 1.055 kg para o 1,6, deixa-nos céticos quanto à afirmação. O fabricante aponta 80% de novos componentes no carro, o que inclui central elétrica integrada, apta a lidar com mais recursos eletrônicos com menor número de cabos — algo que existe há mais de 10 anos em alguns concorrentes, mas ainda não era usado no modelo.
Os motores, porém, dão o tom antiquado: são os mesmos em uso pelo Clio desde 1998 (o de 1,6 litro) e 2001 (o de 1,0 litro), com pequenas evoluções. A versão de menor cilindrada recebeu os aprimoramentos já aplicados ao Clio e ao Logan, como taxa de compressão mais alta e novas bielas. O resultado foi obter potência de 77 cv com gasolina e 80 cv com álcool, com torque de 10,2/10,5 m.kgf, ante 76/77 cv e 9,9/10,1 m.kgf do anterior (na mesma ordem de combustíveis). O 1,6 segue inalterado (veja seus dados na ficha técnica).
A Renault anuncia uma plataforma toda nova, mas os motores são antigos;
o de 1,0 litro (à esquerda) passou por evoluções já aplicadas ao Clio e ao Logan
As suspensões foram recalibradas e as bitolas aumentaram (em 33 mm a dianteira e 25 mm a traseira). Na direção, a assistência hidráulica tornou-se variável: atua com menos intensidade quando se gira pouco o volante, como em alta velocidade, e mais quando se esterça muito, como em manobras urbanas. A Renault aponta ainda melhor isolamento de ruídos e vibrações.
As suspensões atendem bem às necessidades:
o Sandero é macio em obstáculos
corriqueiros e firme em boa medida nas curvas
Avaliado na região do Costão do Santinho, em Florianópolis, SC, o Sandero mostrou algumas qualidades conhecidas e outras inéditas. O interior agrada pelo aspecto e os bancos ficaram mais confortáveis. O quadro de instrumentos ganhou aparência superior, embora a grafia seja algo congestionada (um traço a cada 2 km/h no velocímetro, por exemplo) e deixe de existir termômetro do motor, que alguns gostam de ter. Ficou um pouco escuro com sol forte, o que causa algum desconforto.
Dirigimos as duas opções de motores, e o que chamou a atenção no trajeto percorrido foi o fôlego do 1,0-litro. O bom acerto de motor e câmbio fez o Sandero de entrada ganhar em desempenho: com duas pessoas, mostrou-se ágil para acelerar com uma curva de torque elástica. Já não se precisa reduzir marchas com tanta frequência no uso urbano, como ao transpor lombadas, e aumentos de velocidade podem ser feitos com facilidade. Ele só mostra sua baixa cilindrada nos trechos mais íngremes, quando é necessário o uso do câmbio para manter altas rotações.
Conforto de rodagem com boa estabilidade é uma qualidade preservada do
Sandero; com preços competitivos, ele deve seguir o êxito do anterior
O motor 1,6 tem perfil diferente: arranca com desenvoltura e acelerações rápidas em baixa rotação, mas não gosta de “girar”, pois as vibrações se acentuam. A versão 16-válvulas, bem superior no quesito suavidade de operação, deixa saudades. Mas o nível de ruídos em geral foi aprimorado, em coerência à melhora de aparência geral do modelo. Nos dois casos o câmbio tem comando relativamente macio e preciso.
As suspensões atendem bem às necessidades do usuário de um carro desse porte. O Sandero consegue ser macio em obstáculos corriqueiros, como valetas e lombadas, e firme em boa medida ao enfrentar uma curva. A sensação de robustez ao uso prolongado em nossos pisos fica clara, o que sempre agrada. Os freios estão bem calibrados, mas a direção ainda está longe da excelência obtida por adversários com assistência elétrica: é um pouco pesada em manobras.
O Sandero passou, de fato, por uma evolução que agrada à visão, ao tato e à audição, embora não negue sua origem espartana quando comparado a concorrentes como Citroën C3, o novo Ford Fiesta e Peugeot 208. Ele merece da Renault o investimento em um motor de 1,6 litro mais potente e uma boa solução para o lugar da caixa automática. Entretanto, diante do interior espaçoso e dos preços competitivos — a versão mais cara fica próxima em valor às opções de entrada daqueles modelos —, é certamente uma alternativa a considerar entre os hatches compactos.
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Ficha técnica
Expression 1,0 16V |
Dynamique 1,6 |
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Motor | ||
Posição | transversal | |
Cilindros | 4 em linha | |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote | no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4 | 2 |
Diâmetro e curso | 69 x 66,8 mm | 79,5 x 80,5 mm |
Cilindrada | 999 cm³ | 1.598 cm³ |
Taxa de compressão | 12:1 | |
Alimentação | injeção multiponto sequencial | |
Potência máxima (gas./álc.) | 77/80 cv a 5.750 rpm | 98/106 cv a 5.250 rpm |
Torque máximo (gas./álc.) | 10,2/10,5 m.kgf a 4.250 rpm | 14,5/15,5 m.kgf a 2.850 rpm |
Transmissão | ||
Tipo de câmbio e marchas | manual, 5 | |
Tração | dianteira | |
Freios | ||
Dianteiros | a disco | a disco ventilado |
Traseiros | a tambor | |
Antitravamento (ABS) | sim | |
Direção | ||
Sistema | pinhão e cremalheira | |
Assistência | hidráulica | |
Suspensão | ||
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal | |
Traseira | eixo de torção, mola helicoidal | |
Rodas | ||
Dimensões | 15 pol | |
Pneus | 185/65 R 15 | |
Dimensões | ||
Comprimento | 4,06 m | |
Largura | 1,733 m | |
Altura | 1,536 m | |
Entre-eixos | 2,59 m | |
Capacidades e peso | ||
Tanque de combustível | 50 l | |
Compartimento de bagagem | 320 l | |
Peso em ordem de marcha | 1.013 kg | 1.055 kg |
Desempenho e consumo (gas./álc.) | ||
Velocidade máxima | 160/161 km/h | 177/179 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 14,1/14,0 s | 11,2/11,0 s |
Consumo em cidade | 11,9/8,1 km/l | ND |
Consumo em rodovia | 13,4/9,2 km/l | ND |
Dados do fabricante; ND = não disponível |