Com até 186 cv, inédito motor flexível garante alto desempenho sem afetar o rodar confortável da picape
Texto: Fabrício Samahá e Sérgio Galvão – Avaliação: S. Galvão – Fotos: divulgação
Bonita, confortável de rodar, com grande oferta de equipamentos de conforto e segurança… Só faltava um atributo à versão Flex da Fiat Toro: um motor mais potente e com maior torque que o E-Torq de 1,75 litro, bastante limitado para uma picape que pesa acima de 1.600 kg sem carga e pode superar 2,2 toneladas carregada. É verdade que existe opção do Multijet II turbodiesel, mas nem todos gostam de motores a diesel: giram pouco, produzem mais ruídos e vibrações, oneram o seguro e impõem capacidade de carga mínima de 1.000 kg, o que deixa o rodar dessa versão menos confortável que o da Flex.
Além disso, por decisão do fabricante, o turbodiesel só pode ser associado a transmissão automática (conforto do qual poucos motoristas urbanos abrem mão, hoje, a partir da faixa média de preços dos automóveis) na versão de topo Volcano com tração integral (leia avaliação), que custa R$ 124.550. Quem leva a Freedom a diesel, por R$ 98.730 com tração apenas dianteira, precisa ficar com caixa manual.
Pois é por esse exato valor que agora estreia a Toro Freedom 2.4 Flex AT9, nome que identifica o motor flexível de 2,4 litros e a caixa automática de nove marchas. Se para alguns pode parecer uma opção redundante às versões turbodiesel, para outros é a oportunidade de ter uma picape de ótimo desempenho por preço bem menor que o da Volcano e mantendo características mecânicas e de rodagem de automóvel.
Rodas de aço com novo desenho (nas fotos, as de alumínio) e logotipo AT9, alusivo à transmissão, identificam-na por fora: nenhuma menção à cilindrada
Os equipamentos de série são os mesmos da Freedom de 1,75 litro (que custa R$ 82.930), com adições como ajuste elétrico de retrovisores e seu rebatimento para focalizar o meio-fio ao engatar marcha à ré, cobertura marítima de caçamba, monitor de pressão dos pneus e volante com comandos de áudio e de trocas de marcha — veja a lista completa no quadro adiante. Na aparência há novo desenho das rodas de aço e o logotipo AT9 na tampa traseira direita, sem menção à cilindrada.
A 2,4-litros passa a ser a mais veloz da linha Toro, com máxima de 197/200 km/h, e obtém a aceleração de 0 a 100 km/h mais rápida: 9,9 segundos com álcool
O motor Tigershark (tubarão-tigre, também o nome de um avião de caça norte-americano) de 2,4 litros, fabricado no México, é usado em modelos como Dodge Dart, Fiat 500X e Jeep Cherokee e pertence à mesma família do 2,0-litros que acaba de ser adotado no Jeep Compass. Suas origens estão na unidade conhecida do Fiat Freemont, projetada em conjunto entre Chrysler e Hyundai, mas a nova versão traz a evolução do cabeçote Multiair. Conhecido no Brasil no Fiat 500 Abarth, o sistema eletro-hidráulico usa a variação de tempo de abertura e de levantamento das válvulas de admissão para controlar a entrada de mistura ar-combustível aos cilindros.
Outras tecnologias da unidade de quatro cilindros, cada um com quatro válvulas, são bloco de alumínio, parada/partida automática e preaquecimento de álcool para dispensar o uso de gasolina nas partidas a frio. A sincronia entre virabrequim e árvores de comando é feita com corrente, que dispensa substituição, e as velas usam eletrodos de platina e irídio para longa vida útil. Inédito na Toro, o programa Sport altera o mapeamento eletrônico do motor e da transmissão e a assistência de direção (para que fique mais firme) ao ser aplicado o botão no painel.
Motor deriva do usado no Freemont, mas com cabeçote Multiair; no painel, um botão aciona o programa Sport e outro inibe a parada/partida automática
O Tigershark assume a liderança em potência entre os motores disponíveis na Toro: 174 cv com gasolina e 186 com álcool a 6.250 rpm, ante 170 cv a 3.750 rpm do turbodiesel e 135/139 cv a 5.750 rpm do E-Torq de 1,75 litro. Em torque, porém, o turbodiesel permanece mais generoso: 35,7 m.kgf a apenas 1.750 rpm contra 23,5/24,9 m.kgf a 4.000 rpm do Tigershark e 18,8/19,3 m.kgf a 3.750 rpm do E-Torq. No segmento de picapes com motor flexível, só perde em potência para a Chevrolet S10 de 2,5 litros (197/206 cv e 26,3/27,3 m.kgf) e a Mitsubishi L200 Triton V6 de 3,5 litros (200/205 cv e 31,5/33,5 m.kgf). Ficam para trás Ford Ranger 2,5 (168/173 cv e 24,3/25 m.kgf), Toyota Hilux 2,7 (158/163 cv e 25 m.kgf) e a menor Renault Duster Oroch de 2,0 litros (143/148 cv e 20,2/20,9 m.kgf, todas na ordem gasolina/álcool).
Com 1.704 kg, o peso da Toro de 2,4 litros está no meio-termo entre a E-Torq (1.619 kg) e a turbodiesel (de 1.779 a 1.871 kg, de acordo com a versão). E como fica seu desempenho? Passa a ser a mais veloz da linha, com máxima de 197/200 km/h ante 188 km/h da turbodiesel e 172/175 km/h da E-Torq, e obtém a aceleração de 0 a 100 km/h mais rápida com álcool (9,9 segundos; com gasolina, 10,5 s), ante 10 s da diesel e 12,8/12,2 s da E-Torq, sempre com caixa automática. Como se espera, consumo não é seu ponto alto: os dados de fábrica pelo padrão Inmetro indicam não mais de 10,8 kml de gasolina (veja na ficha técnica).
A transmissão automática de nove marchas (três a mais que na versão de 1,75 litro) é a mesma da turbodiesel, incluindo relações de marcha e do diferencial. Contudo, como o motor flexível “gira” muito mais, o resultado foi um escalonamento bem diferente: a máxima de 200 km/h é atingida em sexta a 5.450 rpm, restando nada menos que três sobremarchas. Na diesel são 3.450 rpm em oitava para alcançar 188 km/h, pois tal motor não poderia chegar aos regimes atingidos pelo 2,4-litros.
Interior é o mesmo da versão E-Torq com alguns conteúdos a mais; sistema de áudio com tela de 5 pol e navegador está entre os muitos opcionais
A Fiat manteve nesta versão a tração dianteira: alega que seu perfil de compradores não teria demanda pela integral, que faz mais sentido com o motor a diesel. No restante a mecânica é a mesma da E-Torq, da calibração da suspensão traseira (a capacidade de carga não muda: 650 kg) aos freios posteriores (com tambores menores que na versão a diesel) e aos pneus de série, 215/65 R 16, contra 225/70 R 16 da Freedom a diesel e 225/65 R 17 da Volcano (rodas de 17 pol com pneus de uso misto são opcionais na 2,4).
Ao volante da Toro Tigershark
A avaliação de imprensa promovida pela Fiat foi de São Paulo a Cabreúva, no interior do estado, em percurso aproximado (ida e volta) de 200 quilômetros. Logo na saída, com trânsito intenso, a picape mostrou comportamento bem diverso da versão de 1,75 litro: as respostas são vigorosas e um leve toque no acelerador a faz sair da inércia, pois 91% do torque máximo estão disponíveis a 2.000 rpm. O arranque não é forte como o da versão a diesel, mas é condizente com um veículo desse porte.
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