Versão de entrada com motor flexível deixa impressão de solidez e conforto, apesar do acabamento mais simples
Texto e fotos: Felipe Hoffmann
Depois de um intervalo com o hatch compacto Toyota Yaris, o novo integrante de Um Mês ao Volante é mais um utilitário esporte, categoria que tem despertado curiosidade — para não dizer desejo — nos consumidores em geral. O Jeep Compass foi o segundo SUV mais vendido do Brasil nos primeiros quatro meses do ano, atrás apenas do “irmão” menor Renegade, e o líder disparado entre os de porte médio.
A versão cedida pelo fabricante é a de entrada Sport com motor flexível em combustível de 2,0 litros, que produz potência de 159 cv com gasolina e 166 com álcool. Boa escolha, pois desde o lançamento do Compass em 2016 apenas os acabamentos Longitude e Limited haviam sido avaliados pelo Best Cars. O preço sugerido de R$ 114 mil inclui bons equipamentos de conforto, mas se limita às bolsas infláveis frontais exigidas por lei. O avaliado traz o pacote Safety (segurança), que acrescenta bolsas infláveis laterais dianteiras, de cortina e para os joelhos do motorista por R$ 3.500. Ainda poderia ter protetor de cárter e para-barros por R$ 900.
Preocupa os grandes fabricantes o rumo que os jovens estão tomando em relação aos automóveis: uma parcela cada vez menor desse público ainda deseja um carro e, dentro dela, boa parte acredita que qualquer modelo atual atenda ao necessário. Com isso, há quem preveja que daqui a alguns anos só haverá dois tipos de carros: os de “linha branca” — tão isentos de paixão quanto um fogão ou geladeira — e os de nicho específico, que incluirão esportivos, picapes e “aventureiros” em geral.
O Compass Sport mostra boa aparência, mesmo sendo a versão mais simples da linha, mas o preço de R$ 114 mil deveria incluir as cinco bolsas infláveis opcionais
É nesse filão que a Jeep está encaixando seus produtos dentro da Fiat Chrysler Automobiles (FCA), ligando sua imagem ao lado aventureiro, de liberdade para jogar tudo para cima e curtir a vida, criando cada vez mais o peso da marca. Por outro lado, isso é conseguido com o uso de componentes e plataformas da Fiat em boa parte dos produtos, para obter custo mais baixo e aumentar o lucro. Tais características podemos notar claramente no interior do Compass, que compartilha volante, quadro de instrumentos e alavanca da transmissão com a Fiat Toro.
Não significa que tal comunização seja ruim. No Jeep, veem-se vários detalhes que remetem à tradição da marca, como o conjunto de farol e grade estampado no forro da tampa do porta-malas e o Jeep subindo um penhasco na cobertura do motor. Há ainda uma salamandra em relevo, no plástico adiante do para-brisa, e a silhueta do monstro do Lago Ness na borda do vidro traseiro.
Ao abrir o capô, chama atenção o peso do componente. Na contramão de toda a indústria, a marca fez um capô muito pesado, construído aparentemente por duas chapas unidas (a externa e uma interna no lugar daquelas comuns longarinas de reforço), relembrando o peso e a solidez dos capôs de chapas grossas dos antigos Willys. E nada de molas a gás para ajudar a levantá-lo: o objetivo parece ser mesmo causar aquela situação clássica em que o amigo abre o capô, comenta do peso e o dono enche o peito para falar “É um Jeep, né?”.
Bancos de tecido e central de áudio com tela de 7 pol indicam um Compass mais modesto, mas o conforto do motorista e o espaço dos passageiros satisfazem
O capô espesso ajuda a isolar ruídos e vibrações do motor, mas vai contra outros aspectos: impõe um centro de gravidade mais alto e para frente, o que prejudica na dinâmica de curvas e frenagens, e pode se tornar um problema numa colisão frontal — caso não haja o ancoramento correto, ele vem bater com tudo no para-brisa. Além disso, por ser tão pesado, o capô deve ser montado com maiores folgas entre ele e os para-lamas, mas conta com apoios reguláveis de borracha para manter tudo alinhado. Os demais vãos entre painéis de carroceria, pequenos e bem regulares, mostram cuidado na fabricação.
O Compass deixa o motorista ver o trânsito por cima do teto do carro de passeio à frente, o que tem um custo: o maior movimento rotacional ao passar em desníveis
Como se espera por seu maior preço, o Compass revela mais refinamento em diversos aspectos que seus “irmãos” de plataforma Renegade e Toro. As primeiras impressões são de um carro sólido e bem isolado do meio externo, tanto por sistema de suspensão como em ruídos. Ao abrir o capô se nota uma manta que cobre o vão entre o para-lama e a longarina lateral, com a função de absorver vibrações e ruídos externos, amplificados pelo para-lama, que acaba sempre funcionando como a pele na qual o músico bate no tambor.
Sentado ao volante, percebe-se a sensação de estar no alto, tão aclamada pelo consumidor atual. Diferente de modelos que parecem um carro compacto camuflado de SUV — como Honda HR-V e Nissan Kicks —, o Compass deixa o motorista na posição de poder enxergar o trânsito por cima do teto do carro de passeio à frente. Claro que isso tem um custo: o maior movimento rotacional do carro como um todo ao passar em algum desnível com um dos lados, mostrando que realmente se está sentado num ponto mais alto e que os estabilizadores da suspensão estão bem presentes. A absorção de impactos é boa (ajudada pelos pneus conservadores da versão, 225/60 R 17), mas perceptível, de forma a informar que o motorista passou por cima de algo. Falaremos mais de suspensão nas próximas semanas.
Indicador de pressão dos pneus e freio de estacionamento elétrico são bons detalhes; capô pesado e relevo do Jeep sobre o motor remetem a tradições da marca
A cabine do Sport traz confortáveis bancos de tecido — uma exclusividade dessa versão mais simples que, na opinião do autor, é preferível ao couro —, que oferecem bom apoio e transpiração para o corpo. Ele também oferece um compartimento sob o assento do passageiro frontal, que serve bem como local para guardar bolsas femininas fora da visão, e conveniências como acionamento elétrico do freio de estacionamento, indicador da pressão de cada pneu, central de áudio com integração a celular e câmera traseira de manobras, itens aos quais também voltaremos.
No banco traseiro há bom espaço para pernas, em largura e altura para ocupantes altos, com o detalhe de segurança de apoiar o ombro na lateral do carro antes da cabeça. Como na maioria dos carros testados, fica o viés de não haver ancoramento superior Isofix para cadeira infantil na posição central. Difusores de ar-condicionado para os ocupantes traseiros são um bom item.
Na primeira semana o Compass rodou 541 quilômetros em trajetos urbanos com gasolina, resultando em média de 9,1 km/l. A melhor marca foi de 13,4 km/l, com boa parte do caminho pela Marginal Pinheiros (12,3 km com média de velocidade de 42 km/h), e a pior marca de apenas 4,9 km/l em 6 km com média de 11 km/h — condição severa e atípica, mas que acaba por acontecer na capital paulista.
Mais Avaliações
Primeira semana
Distância percorrida | 541 km |
Distância em cidade | 541 km |
Distância em rodovia | – |
Consumo médio geral | 9,1 km/l |
Consumo médio em cidade | 9,1 km/l |
Consumo médio em rodovia | – |
Melhor média | 13,4 km/l |
Pior média | 4,9 km/l |
Dados do computador de bordo com gasolina |
Preços
Sem opcionais | R$ 113.990 |
Como avaliado | R$ 117.490 |
Completo | R$ 120.090 |
Preços sugeridos em 14/5/19 em São Paulo, SP |
Equipamentos e opcionais
• Compass Sport – Alarme, ar-condicionado automático de duas zonas, assistente de saída em rampa, câmera traseira de manobras, controlador e limitador de velocidade, controle eletrônico de estabilidade e tração, faróis de neblina, fixação Isofix para cadeiras infantis, luzes diurnas, monitor de pressão dos pneus, rodas de alumínio de 17 polegadas, ), sensores de estacionamento atrás, sistema de áudio com tela de 7 pol e integração a celular, volante com regulagem de altura e distância.
• Opcionais – Bolsas infláveis laterais dianteiras, de cortina e de joelhos do motorista; para-barros.
Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 4 em linha |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4, variação de tempo |
Diâmetro e curso | 88 x 82 mm |
Cilindrada | 1.995 cm³ |
Taxa de compressão | 11,8:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial |
Potência máxima (gas./álc.) | 159/166 cv a 6.200 rom |
Torque máximo (gas./álc.) | 19,9/20,5 m.kgf a 4.000 rpm |
Transmissão | |
Tipo de caixa e marchas | automática, 6 |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a disco |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | elétrica |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Rodas | |
Dimensões | 17 pol |
Pneus | 225/60 R 17 |
Dimensões | |
Comprimento | 4,416 m |
Largura | 1,819 m |
Altura | 1,638 m |
Entre-eixos | 2,636 m |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 60 l |
Compartimento de bagagem | 410 l |
Peso em ordem de marcha | 1.541 kg |
Desempenho e consumo (gas./álc.) | |
Velocidade máxima | 188/192 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 10,9/10,6 s |
Consumo em cidade | 8,1/5,5 km/l |
Consumo em rodovia | 10,5/7,2 km/l |
Dados do fabricante |