O menor Volkswagen melhora em interior e sistema de áudio e cativa pelo desempenho, mas tem onde evoluir
Texto e fotos: Fabrício Samahá
O Volkswagen Up não teve um começo dos mais promissores no Brasil. Talvez o problema estivesse no estilo, que não se identificava com a marca nem transmitia robustez. Talvez fosse seu tamanho, menor que o de outros carros pequenos, sem que o preço acompanhasse a redução. O fato é que as vendas demoraram a crescer e deixaram dúvidas se o modelo um dia emplacaria no Brasil.
Com o tempo o Up conquistou seu lugar, para o que concorreu a ótima combinação de desempenho, economia e prazer em dirigir trazida pelo motor TSI turboalimentado. Ainda não é um campeão de vendas: de janeiro a maio, 15 mil deles ganharam as ruas, menos que os 19 mil do Fiat Mobi. Mas sua aprovação pelos donos é das mais altas do mercado, como apontou o Guia de Compra do Best Cars.
Para a linha 2018, a Volkswagen resolveu atender a algumas críticas. Retocou o estilo em busca de um aspecto mais robusto, melhorou a aparência do interior, reviu versões e adotou novo sistema de áudio que melhora muito a integração ao telefone celular, como exigem os novos tempos. Para verificar o que melhorou e o que ainda precisa ser feito, avaliamos o Move Up TSI com o novo pacote Connect.
O novo Maps + More é um aplicativo para o telefone que o conecta ao aparelho do Up, com funções de áudio, navegação e Think Blue Trainer em uma interface prática
O Move TSI tem preço a partir de R$ 52.790, o que inclui equipamentos de série como ar-condicionado, banco do motorista e volante com regulagem de altura, chave do tipo canivete, computador de bordo, controle elétrico de vidros dianteiros e travas, controle eletrônico de tração, direção com assistência elétrica, faróis de neblina, fixação Isofix para cadeira infantil, freios antitravamento (ABS) com distribuição eletrônica (EBD), retrovisores com luzes de direção, rodas de alumínio de 14 pol, sensor de estacionamento traseiro, sistema de áudio Composition e volante de couro com comandos.
O pacote Connect (R$ 837) traz áudio Composition Phone, interior escurecido, rodas de 15 pol com face usinada, faixas laterais, teto e retrovisores em preto. Curiosamente, o áudio pedido em separado é bem mais caro, uma forma de incentivar a opção pelo Connect. Não há opção de transmissão automatizada, que a VW restringe ao Up aspirado. Com a pintura especial vinculada ao pacote são R$ 55 mil, quantia expressiva para um carro de seu porte.
Os para-choques ganharam aspecto robusto e aumentaram o comprimento do Up; pacote Connect traz teto e retrovisores em preto e faixas laterais
Algumas das novidades do Up estão bem à vista. O para-choque dianteiro ganhou linhas mais retas em busca de um ar mais encorpado e, somado ao traseiro, aumentou o comprimento em 44 mm na versão turbo (84 na aspirada, que tinha o dianteiro menos saliente). Faróis e lanternas traseiras foram revistos, embora com o mesmo formato, e agora o TSI vem com filete cromado na grade dianteira e logotipo nas colunas centrais. A tampa traseira continua preta nesse caso.
O interior passou por boas mudanças. O painel foi remodelado com acabamento superior e, no quadro de instrumentos, cresceu o mostrador digital que indica velocidade, temperatura do motor, dados de áudio e do computador de bordo com duas medições. O volante traz comandos de áudio, telefone e computador — antes não havia nenhum. No antigo Up o sistema de áudio era bastante limitado em recursos: quem quisesse algo mais tinha o sistema Maps & More, uma tela portátil que servia a áudio, navegação, computador e o sistema Think Blue de análise da economia ao dirigir. Contudo, era um sistema caro e com tela fácil de retirar (e de furtar). Por isso, na linha 2018 tudo muda.
O novo Maps + More (note que mudou a grafia) é um aplicativo para o telefone que o conecta ao aparelho do Up. No carro, tudo o que se vê são um rádio bem integrado ao painel, com conexões USB e auxiliar, e um suporte para o celular acima dele, que pode girar para manter o aparelho na vertical ou na horizontal. Em princípio é a mesma ideia aplicada pela Fiat ao sistema Live On do Mobi: o aplicativo apresenta funções de áudio, navegação e o Think Blue Trainer com uma interface mais prática para se usar ao volante. Tudo funciona via interface Bluetooth, sem fios, e as principais funções são operadas pelos botões no volante.
Interior melhorou em aspecto e acabamento; mostrador digital do painel aumentou; interface para celular traz aplicativo e orientação para dirigir com economia
Vantagens sobre o Mobi são a tela no painel, que mostra informações de áudio, e botões de controle junto dela que facilitam a operação. Assim, nada impede de manter o aparelho no bolso ou na bolsa e usar a tela do carro para controlar músicas via Bluetooth, curtindo a boa qualidade sonora do sistema. Outro recurso do VW é o navegador integrado ao aplicativo com mapas atualizados pela TomTom, que ficam salvos no celular (não dependem de internet para o uso) e contam com informações contínuas de trânsito. Pode-se inserir um destino por digitação ou reconhecimento de escrita na tela do telefone.
A reforma interna fez bem ao Up, que oferece bons bancos dianteiros, espaço surpreendente para seu tamanho e posição adequada ao motorista, apesar dos pedais mais à direita. Há ajustes de altura para banco e volante e até o apoio para o pé esquerdo é apropriado. Outros bons detalhes são alarme volumétrico (ultrassom), alerta programável para excesso de velocidade, ar-condicionado de boa capacidade, aviso específico de qual porta está mal fechada, aviso para uso do cinto por motorista e passageiro ao lado, faróis e luz traseira de neblina, função de curva para esses faróis (acende o lado da curva, a fim de iluminar em campo mais aberto que o farol convencional), indicador para troca de marcha (para cima e para baixo), mostrador de temperatura externa, repetidores laterais das luzes de direção e volante revestido em couro.
Próxima parte
Desempenho e consumo
Aceleração | |
0 a 100 km/h | 10,1 s |
0 a 120 km/h | 13,7 s |
0 a 400 m | 17,1 s |
Retomada | |
60 a 100 km/h (3ª.) | 8,1 s |
60 a 100 km/h (4ª.) | 10,6 s |
60 a 120 km/h (3ª.) | 11,8 s |
60 a 120 km/h (4ª.) | 16,2 s |
80 a 120 km/h (3ª.) | 8,8 s |
80 a 120 km/h (4ª.) | 12,2 s |
Consumo | |
Trajeto leve em cidade | 18,6 km/l |
Trajeto exigente em cidade | 9,8 km/l |
Trajeto em rodovia | 14,9 km/l |
Autonomia | |
Trajeto leve em cidade | 837 km |
Trajeto exigente em cidade | 441 km |
Trajeto em rodovia | 671 km |
Testes efetuados com gasolina; conheça nossos métodos de medição |
Dados do fabricante
Velocidade máxima | 181/183 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 9,5/9,3 s |
Consumo em cidade | 13,8/9,6 km/l |
Consumo em rodovia | 16,1/11,1 km/l |
Gasolina/álcool; consumo conforme padrões do Inmetro |
Espaços na frente e para bagagem (285 litros) são bons, assim como a posição do motorista, mas atrás a acomodação é modesta; Up ganhou comandos no volante; controle elétrico de vidros continua só para dianteiros
Como aprimoramentos, a VW poderia adotar ajustes de altura dos cintos e de distância do volante, banco traseiro bipartido, comando interno da tampa do tanque, controle elétrico de vidros traseiros e função um-toque e temporizador para os dianteiros. Ainda, o Move ganhou espelho no para-sol do motorista, mas sem tampa: conforme a posição de uso, o espelho reflete muito do sol frontal que incide sobre a roupa. Os difusores de ar centrais não estão na posição ideal e nem todo mundo gosta da área de chapas exposta pelas portas.
Na Europa o Up é um carro de quatro lugares. Aqui vem com cinco, mas não se engane: o banco traseiro ainda foi desenhado para duas pessoas, com espaço bem restrito para pernas e ombros, embora adequado para cabeças. O compartimento de bagagem de 285 litros, por outro lado, não deve ao de modelos maiores como o Gol. Contudo, o acabamento das laterais é lamentável e o acesso melhoraria com base mais baixa — ficamos com o mesmo formato do europeu, cuja tampa traseira de vidro levou a um para-choque elevado. Não existe mais no Move o sistema Save, prateleira móvel que permitia deixar o assoalho mais alto. O estepe usa pneu de 14 pol, diferente dos outros.
Desempenho do motor TSI é ponto alto do Up, salvo pela hesitação abaixo de 1.500 rpm; comando de transmissão leve e preciso contribui
Desenvoltura com economia
Um dos destaques do Up é o motor TSI, um três-cilindros de 1,0 litro com turbocompressor, resfriador de ar e injeção direta. Se a potência de 101 cv com gasolina ou 105 com álcool pode não impressionar (o 1,3 aspirado do Fiat Uno oferece mais), o torque de 16,8 m.kgf disponível desde 1.500 rpm faz a diferença. Vencida leve hesitação inicial, o pequeno Volkswagen ganha uma desenvoltura que cativa até o motorista menos interessado em desempenho.
As medições apontaram aceleração de 0 a 100 km/h em 10,1 segundos e retomada de 60 a 120 em 11,8 s; o TSI é muito econômico, com marcas entre as melhores já vistas
O pequeno motor sobe de giros com rapidez e fornece sensações típicas de 1,8-litro, com a vantagem de não perder potência com a altitude. Na pista, nossas medições apontaram aceleração de 0 a 100 km/h em 10,1 segundos e retomada de 60 a 120 em 11,8 s (terceira marcha) com gasolina. Além disso, o TSI é muito econômico: fez 18,6 km/l no trajeto urbano leve e 14,9 no rodoviário, marcas entre as melhores já vistas em nossos testes.
Poderia ser melhor? Poderia. Primeiro, abaixo de 1.500 rpm quase não há resposta: ao sair de esquinas ou lombadas é preciso estar na marcha certa, sob pena de ter de aguardar a turbina “encher” e o motor reagir. Segundo, o três-cilindros manifesta certas vibrações e aspereza em médias rotações ao acelerar mais. Em uso rodoviário a 120 km/h (cumpridos com baixas 2.800 rpm em quinta) o motor pouco é ouvido, mas ruídos de rolagem e mecânicos em geral são altos.
Comportamento em curvas é muito bom, mas suspensão penaliza o conforto; para-sol sem tampa e acabamento do porta-malas podem melhorar
O comando de transmissão leve e preciso é outro ponto positivo, assim como o acerto da assistência elétrica de direção, macia em manobras e firme em velocidade. O comportamento em curvas agrada pelo fácil controle e a pouca inclinação de carroceria, mas a aderência dos pneus Hankook (chineses de marca sul-coreana) é menor do que a medida 185/60 R 15 faria esperar. Há controle eletrônico de tração, não de estabilidade. Por outro lado, a suspensão bem firme penaliza o conforto em pisos irregulares e o faz saltar em certos desníveis como entradas de pontes.
Entre acertos e pendências, o Move Up Connect convence como a opção mais rápida e esportiva que se pode ter nesse segmento. Anda muito bem, consome pouco, diverte pelo motor e pelo conjunto. Tem bom espaço dianteiro e para bagagem, transmite impressão de qualidade e agora, além do visual mais robusto, oferece um sistema de áudio como gosta o público jovem. Só não é barato: na faixa de R$ 55 mil há alternativas variadas com maiores dimensões, mais conforto e motor de 1,6 litro.
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Comentário técnico
• O motor do Up, parte da linha EA-211, passou por grandes alterações ao receber o turbocompressor, que usa válvula de alívio (que libera a pressão considerada desnecessária) com abertura variável e controle eletrônico. A turbina opera com pressão máxima de 0,8 a 0,9 bar acima da atmosférica. A injeção direta trabalha com altíssima pressão de injeção, até 250 bars.
• Comparado ao motor aspirado, a VW redimensionou bloco, virabrequim (agora forjado), bielas, pistões, anéis e pinos e adotou variação contínua do tempo de abertura das válvulas também para o comando de escapamento (apenas para admissão no aspirado). Há ainda trocador de calor para o óleo lubrificante e três circuitos de arrefecimento, um deles dedicado ao resfriador de ar e ao conjunto do turbo. Uma bomba elétrica assegura seu arrefecimento após desligar o motor. A transmissão foi revista em fixação, embreagem e relação do diferencial, os freios dianteiros usam discos maiores e foi revista a calibração de molas e amortecedores.
• O TSI usa um escalonamento aberto de caixa, com relações baixas (longas) e espaçadas, ideais para o torque máximo em baixo regime do motor turbo. A velocidade máxima é atingida em quarta com o motor a pleno, perto de 5.400 rpm, mas a quinta pode ser usada com pequena perda, de acordo com a VW.
Fotos: divulgação
Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 3 em linha |
Material do bloco/cabeçote´ | alumínio |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4, variação de tempo |
Diâmetro e curso | 74,5 x 76,4 mm |
Cilindrada | 999 cm³ |
Taxa de compressão | 10,5:1 |
Alimentação | injeção direta, turbocompressor, resfriador de ar |
Potência máxima (gas./álc.) | 101/105 cv a 5.000 rpm |
Torque máximo (gas./álc.) | 16,8 m.kgf a 1.500 rpm |
Potência específica (gas./álc.) | 101,1/105,1 cv/l |
Transmissão | |
Tipo de caixa e marchas | manual / 5 |
Relação e velocidade por 1.000 rpm | |
1ª. | 3,77 / 8 km/h |
2ª. | 2,10 / 15 km/h |
3ª. | 1,28 / 25 km/h |
4ª. | 0,93 / 34 km/h |
5ª. | 0,74 / 42 km/h |
Relação de diferencial | 3,63 |
Regime a 120 km/h (5ª.) | 2.800 rpm |
Regime à vel. máx. informada (gas./álc.) | 5.400/5.450 rpm (4ª.) |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado (256 mm ø) |
Traseiros | a tambor (200 mm ø) |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | elétrica |
Diâmetro de giro | 9,8 m |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | eixo de torção |
Estabilizador(es) | dianteiro |
Rodas | |
Dimensões | 5,5 x 15 pol |
Pneus | 185/60 R 15 H |
Dimensões | |
Comprimento | 3,689 m |
Largura | 1,645 m |
Altura | 1,504 m |
Entre-eixos | 2,421 m |
Bitola dianteira | 1,423 m |
Bitola traseira | 1,424 m |
Coeficiente aerodinâmico (Cx) | ND |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 50 l |
Compartimento de bagagem | 285 l |
Peso em ordem de marcha | 987 kg |
Relação peso-potência (gas./álc.) | 9,8/9,4 kg/cv |
Garantia | |
Prazo | 3 anos sem limite de quilometragem |
Carro avaliado | |
Ano-modelo | 2018 |
Pneus | Hankook Optimo K415 |
Quilometragem inicial | 4.000 km |
Dados do fabricante; ND = não disponível |