Gols Track e Rallye: mais altos, mas não precisavam

 

Mais pelas aparências que por necessidade, o líder volta a
oferecer a versão Rallye e acrescenta outra de 1,0 litro, a Track

Texto: Fabrício Samahá – Avaliação: Edison Ragassi – Fotos: divulgação

 

Em um país onde asfalto perfeito é exceção e lombadas uma após a outra são a regra, não causa surpresa o êxito dos modelos “aventureiros”, aqueles que usam suspensão mais elevada, pneus maiores e adereços estéticos fora de estrada, mas são baseados em hatchbacks, peruas e minivans — e não utilitários esporte propriamente ditos. A Volkswagen, que havia obtido bom resultado comercial com a versão Rallye do Gol em três edições anteriores, decidiu relançá-la na linha 2014 e acrescentar a inédita Track, de proposta semelhante.

O Rallye, que volta ao mercado com o desenho reestilizado do modelo 2013 (mas já faz parte da linha 2014), tem motor flexível de 1,6 litro, com potência de 101 cv com gasolina e 104 cv com álcool, e preço sugerido de R$ 45.850. O Track sai por bem menos, R$ 33.060, mas tem menor conteúdo de série e motor flexível de 1,0 litro, que fornece 72 e 76 cv, na ordem. Ambas são oferecidas apenas com cinco portas, o que é curioso, já que a carroceria de três ficou bastante atraente nesse novo Gol. O Rallye pode vir com o câmbio automatizado ASG na versão I-Motion.

O principal elemento de diferenciação das novidades é a suspensão, que eleva a carroceria em 23 milímetros e, no caso do Rallye, conta com os pneus para acrescentar outros 5 mm em relação aos Gols mais comuns. Pneus de perfil alto? Nada disso: sua medida é 195/50 R 16, mais apropriada a uma versão esportiva de asfalto que a um “aventureiro” — a VW parece se basear na estatística de que a maioria desses carros acaba sendo usada mesmo na cidade e em rodovias. Já no Track foram usados pneus de uso de misto 175/70 R 14, apropriados para estradas de terra e obstáculos, mesmo aqueles urbanos.

 

 

 
O Track é um Gol simples e de motor 1,0-litro, mas com suspensão mais alta e pneus
de uso misto de 14 pol; faixas laterais e acabamento interno são outras diferenças

 

Há outras diferenças externas, como molduras salientes nos para-lamas e faixas decorativas nas portas. O Rallye vem ainda com o novo para-choque dianteiro da Saveiro Cross com enormes faróis auxiliares de dupla função (neblina e longo alcance), grade do tipo colmeia, faróis com moldura escurecida e elementos em tom prata (que simulam proteções em alumínio) nos para-choques. No interior surgem pedais esportivos, novos tons em alguns detalhes e outro revestimento em tecido, que traz o logotipo Rallye bordado nos encostos dianteiros. O Track também vem com faróis de neblina, mas menores, e pequenas diferenças internas.

 

Com aerodinâmica piorada, o resultado são ligeiras desvantagens em aceleração e velocidade máxima e um esperado aumento de consumo

 

Simples, o Track vem de série com bolsas infláveis frontais, freios com sistema antitravamento (ABS), faróis e lanterna traseira de neblina, direção assistida, banco do motorista com regulagem de altura, comando interno da tampa traseira, conta-giros e vidros dianteiros e travas com acionamento elétrico. Os opcionais abrangem rádio/CD/MP3 com entrada USB, Bluetooth e interface para Ipod, computador de bordo, vidros elétricos traseiros, chave tipo canivete, alarme, controle de travas a distância, rodas de alumínio (sempre de 14 pol), aquecimento, ar-condicionado e sensores de estacionamento traseiros.

Já os itens de série do Rallye são, além dos que equipam o Track, ar-condicionado, rodas de alumínio de 16 pol, os citados faróis auxiliares, sensores de estacionamento traseiros, chave tipo canivete, controle elétrico dos vidros traseiros e dos retrovisores e volante ajustável em altura e distância. Os opcionais incluem volante multifunção (com comandos de marchas no caso do I-Motion), o referido rádio, temporizador de faróis e revestimento em couro sintético.

 

 

 
Para-choque da Saveiro Cross, grandes faróis auxiliares e rodas de 16 pol compõem
o visual do Gol Rallye; por dentro ele traz outro tecido nos bancos e pedais esportivos

 

Mais alto, mais lento

Além da suspensão mais alta, que exigiu nova calibração de molas e amortecedores e uma barra estabilizadora dianteira mais espessa, nada mais foi alterado na mecânica do Gol para as novas versões. Nem em relações de marcha e diferencial se mexeu, pois as medidas de pneus do Rallye e do Track já faziam parte das opções de rodagem da linha (a 195/50 R 16 foi lançada na linha 2013). Mesmo assim, ao afastar a carroceria do solo, a VW trouxe certa perda em aerodinâmica.

No Track o efeito é mínimo: ele tem Cx de 0,346, ante 0,34 do Gol básico, e obtém 0,702 na multiplicação pela área frontal contra 0,69 do básico. No Rallye os índices pioraram mais, para 0,369 e 0,768 (no Highline são os mesmos do básico). Há ainda ligeiro acréscimo de peso, que passa de 947 kg do básico para 974 no Track e, entre as versões de 1,6 litro, de 961 kg do Highline para 1.018 no Rallye (com câmbio manual).

 

 

O resultado são ligeiras desvantagens em aceleração e velocidade máxima. O Gol Rallye com câmbio automatizado, por exemplo, vai de 0 a 100 km/h em 11,1 e 10,9 segundos, contra 10,4 e 10,7 segundos do Highline de mesmo câmbio (sempre na ordem gasolina/álcool), e chega a 179 e 181 km/h, ante 188 e 190 km/h do Highline. No caso do Track, a aceleração em 14,1/14,7 segundos perde para a de 13,4/12,9 s do básico, enquanto a velocidade cai de 163/165 km/h para 158/160 km/h. Como a VW não informa consumo, a esperada piora nesse quesito (sobretudo em rodovia) não pode ser mensurada.

Para avaliação da imprensa em Campinas, SP, a VW promoveu um rali de regularidade no qual dirigimos o Track. Como versão de 1,0 litro ele até que tem um bom arranque, mas para desenvolver velocidade é preciso esticar as marchas. Seu comportamento na terra é bom: o ajuste feito na suspensão por causa da elevação agrada para essa condição de uso. Uma diferença percebida em relação a outros Gols acontece quando é necessário frear forte: há a tendência de jogar um pouco a traseira, mas nada que dificulte o controle. Passado o trecho de terra, na avaliação em asfalto o Track manteve as condições de dirigir do Gol convencional, mas se mostrou mais macio ao transpor lombadas.

 

 
Motores e até relações de marcha são os mesmos, mas as novas versões perdem
em desempenho para as outras, pois a maior altura prejudica a aerodinâmica

 

De resto, os novos Gols são velhos conhecidos. Apesar de um pouco mais altos em relação ao solo, o Rallye e o Track reprisam as outras versões, seja nas qualidades, seja nos defeitos. No primeiro grupo estão o excelente comando do câmbio manual, a agradável agilidade do motor de 1,6 litro desde baixas rotações, o bom nível de ruídos e vibrações e a sensação de controle trazida pela boa estabilidade. Entre os aspectos melhoráveis estão o acabamento simples e em desacordo com a faixa de preço alcançada pelo Rallye, o limitado vão de acesso ao compartimento de bagagem e o desempenho geral do motor de 1,0 litro — embora não haja muito o que fazer nessa cilindrada tão baixa sem uso de superalimentação.

O Gol precisava realmente de uma suspensão mais alta para enfrentar o piso brasileiro? Não mesmo, como prova sua valentia nos confins desse grande país. Mas carros “aventureiros” são uma proposta de aparência acima de tudo e, dentro desse contexto, duas versões são melhores que uma.

 

Ficha técnica

Gol Track

Gol Rallye

Motor
Posição transversal
Cilindros 4 em linha
Comando de válvulas no cabeçote
Válvulas por cilindro 2
Diâmetro e curso 67,1 x 70,6 mm 76,5 x 86,9 mm
Cilindrada 999 cm³ 1.598 cm³
Taxa de compressão 12,7:1 12,1:1
Alimentação injeção multiponto sequencial
Potência máxima (gas./álc.) 72/76 cv a 5.250 rpm 101/104 cv a 5.250 rpm
Torque máximo (gas./álc.) 9,7/10,6 m.kgf a 3.850 rpm 15,4/15,6 m.kgf a 2.500 rpm
Transmissão
Tipo de câmbio e marchas manual / 5
Tração dianteira
Freios
Dianteiros a disco ventilado
Traseiros a tambor
Antitravamento (ABS) sim
Direção
Sistema pinhão e cremalheira
Assistência hidráulica
Suspensão
Dianteira independente McPherson, mola helicoidal
Traseira eixo de torção, mola helicoidal
Rodas
Dimensões 5 x 14 pol 6 x 16 pol
Pneus 175/70 R 14 195/50 R 16
Dimensões
Comprimento 3,907 m 3,924 m
Largura 1,659 m
Altura 1,488 m 1,491 m
Entre-eixos 2,468 m 2,467 m
Capacidades e peso
Tanque de combustível 55 l
Compartimento de bagagem 285 l
Peso em ordem de marcha 974 kg 1.018 kg
Desempenho
Velocidade máxima (gas./álc.) 158/160 km/h 179/181 km/h
Aceler. 0 a 100 km/h (gas./álc.) 14,7/14,1 s 10,6/10,3 s
Dados do fabricante; consumo não informado

 

 

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