Modelo com motor dois-tempos inaugurou no Brasil uma fábrica de 110 mil veículos em 11 anos e 11 meses
Seis décadas passadas, no 19 de novembro, foram apresentadas as primeiras das 126 unidades do Auto Union F91 Universal Sonderklasse construídas naquele 1956 com peças enviadas da Alemanha. No Brasil, mais tarde foi dita Vemaguet. Junto com o Romi-Isetta, exibido dois meses antes, deu corpo ao projeto de implantação de uma indústria automobilística brasileira.
Autora da façanha, a repetir-se mais de 110 mil vezes nos próximos 11 anos e 11 meses, foi a Vemag, conhecida por montar automóveis e caminhões norte-americanos Studebaker, caminhões Scania e Kenworth e tratores Massey-Harris. Tinha toda a estrutura industrial e de vendas e a soma de dois fatores — o declínio da Studebaker no país de origem e a implantação de política de industrialização de veículos no Brasil, proibindo importações — fê-la agir: fez acordo com a alemã Auto Union/DKW. Deixou uma, assumiu outra.
Auto Union era empresa poderosa, ex-maior produtora mundial de motocicletas, e seus automóveis diferenciavam-se pelo uso de motores com ciclo dois-tempos, por um chassi resistente com X reforçando o centro. Simples, prático, ideal a país com ruas e estradas entre o ausente e o em mal estado.
No arranjo, como nas demais marcas aqui se instalando, trouxeram modelo saindo de produção – logo em seguida sucedido pela linha F94, de melhor desenho, proporções, espaços, chegando aqui em 1958 e, melhorado com soluções brasileiras, como portas dianteiras abrindo em sentido correto, instalação elétrica com 12 V, nova grade frontal com quatro faróis. Dentre produtos, a Universal foi rebatizada Vemaguet; o sedã virou Belcar. Houve o jipe F94/4 conhecido como Candango — brilhante projeto barrado no baile de nacionalização. E adotou projeto revolucionário, o luxuoso cupê Fissore.
A meu ver, o grande erro a partir da decisão por quem não era do ramo ou gostava intrinsecamente de automóveis. Fissore (foto) foi desenvolvido sobre chassis alemão, mais potente; o carro pesava 100 kg a mais ante o Belcar – era lento; e seu original projeto de artesanato não contemplava produção industrial. Era elegante, porém vagaroso, gastador – e caro!
Vemag teve caminho de recordes, em especial nas corridas: criou pioneira equipe de competição por seu funcionário e modesto gênio Jorge Lettry, servindo como laboratório para desenvolver resistência às condições nacionais, e a equipe Vemag superou a matriz alemã em número de vitórias; obteve potência recorde nos motores tricilíndricos elevados a 1.100 cm³, com 106 cv imortalizados; e nos estertores, com o Carcará, veículo aerodinâmico, cravou recorde: 212 km/hora, hoje inimaginados na Avenida das Américas, Barra, RJ.
O fim
Não era do ramo. Era de negócios. Domingos Alonso, espanhol, fundador, fizera fortuna com loteria, incorporação, banco, financeira. E entendeu a mudança de óptica mundial ao final da II Guerra, dentre elas o intenso desejo dos consumidores em ter automóveis, e sua larga margem de lucro. Foi aos EUA e obteve a representação. Com operação quase industrial montada para Studebaker, outras marcas foram decorrência.
Meados de 1967 vendeu ações à Volkswagen do Brasil, por apatia financeira em investir para ter modelia a suceder Belcar, Vemaguet e Fissore. À época o país passava por onda econômica traçada pelo governo revolucionário, e empresas de capital nacional, como a Vemag, a Willys, a Fábrica Nacional de Motores foram instadas a fundir-se, vender-se ao capital estrangeiro: Willys absorvida pela Ford; Simca pela Chrysler; FNM pela Alfa Romeo.
Salão, ainda
Alfa Romeo
Ausência nem sempre significa falta, ao contrário, pode indicar caminho. Exemplo, ao fato de a Alfa Romeo não estar no Salão do Automóvel indica postergar trazer nova linha Giulia para o Brasil. Projeto estava sendo tecido; diretor de área trabalhando; realizando pesquisas e levantamentos; unidade importada para submissão a testes, desenvolvimentos, ajustes.
Mudou tudo. A FCA travou novos investimentos para centrar recursos, tempos e pessoas nos muitos projetos atualmente enfocados – e neles não há a importação de Alfas. Sem o a fazer, diretor Lélio Ramos – festejado por levar e manter a empresa líder 13 anos – demitiu-se. Processo de avaliação do Giulia foi suspenso. Crê-se, Alfa no Brasil a partir do Salão de 2018.
Volkswagen
Em período educacional, perda de liderança, queda ao 3º lugar em vendas, investimentos para família substituta do Gol, e insólita situação de ter sofreado e detido produção por falha do fornecedor de bancos, VW mantém planos. Aplicará US$ 2 bilhões para implantar família sobre plataforma MQDA0 – menor relativamente à do Golf já construída na fábrica paranaense. Dela, hatch substituindo o Gol; sedã com idêntica função sobre o inexpressivo Voyage; picape e utilitário esporte.
José Carlos Pavone, 39, gaúcho, cria da casa, gerente de design, recém-trazido da Alemanha para chefiar a área, perguntado sobre o pouco a fazer sobre projeto desenvolvido na matriz, disse o utilitário esporte foi traçado por grupo de brasileiros. E será terminado aqui por brasileiros. Não falou mais, mas tudo indica a base conceitual está no conceito T Cross Breeze apresentado.
Renault
O utilitário esporte Captur, já em produção, terá preços de R$ 79.000 a R$ 95.000. Está de bom tamanho? Segue linha europeia, mas na América do Sul mudou, sendo construído sobre a polivalente plataforma Dacia, servindo a Logan, Oroch, Sandero e Duster, coincidindo em tamanho e distância entre eixos.
Apresentado no Salão, será lançado na Argentina. Pelo insólito perguntei a Caíque Ferreira, diretor da Renault, e ouvi escolha definida por característica de mercado: na Argentina meses de novembro, dezembro e janeiro são os mais fortes do ano. No Brasil, fracos.
Produtos diferem. Para exportação apenas motor de 2,0 litros, 143 cv, caixa manual de seis marchas e automática com quatro. Versões Zen e Intense a equivalentes R$ 91.000 e R$ 100 mil. Domesticamente, versões várias: 1,6 manual, 1,6 com CVT; 2,0 manual, seis marchas; automática de apenas quatro, em versões Zen, Intense e mais duas. Mais cara em duas cores, luzes leds e maior conteúdo de infodiversão. Lançamento na Argentina dia 22 deste mês. Aqui, fevereiro.
Anote aí: por preço, conteúdo, plataforma resistente, sem problemas, manutenção barata, será um dos queridinhos do mercado.
Novos motores
Antecipados pela Coluna em 3/8, a Renault, instada pelos compromissos de economia de combustível, substituiu os motores de 1,0 e 1,6 antes produzidos no Paraná. Manteve as cilindradas, mudou configuração. O 1,0 SCE de três cilindros produz até 84 cv e porta pacote de modernidade, como a gestão de energia, controlando a bateria e o alternador. Em relação ao 1,0 atual é até 19% mais econômico. O 1,6 com quatro cilindros em linha fornece até 120 cv, tem tecnologia de desligar automaticamente nas paradas. Nova formulação mostrou até 21% de economia em relação ao Duster 1,6 de geração anterior. Agora aspirados, turbo a médio prazo.
Pré-apresentação Citroën
Focada em unificar plataformas, hoje em versões para China, Europa e América Latina, única forma de reduzir custos e permitir expansão de vendas em projetos 30%, Citroën terá novas versões sobre plataformas C3 e C4 existentes no Brasil e Argentina. Mais próxima será o Cactus, assinalado por largas proteções laterais, construído sobre a plataforma do C3. No Brasil marca expôs conceito Aircross. Parte do conceito estará no novo produto.
Roda a Roda
Concorrente – Querendo aumentar vendas e ascender em preferências, Nissan terá nova picape Frontier. Inicialmente importada do México e, em 2017, fabricada na Argentina, na pioneira fábrica Jeep. Base do projeto está no chassi mais leve e reforçado, com longarinas em Duplo C, formando caixa comprida, leve e resistente a torções. Conjunto chassi/carroceria pesa bem menos ante modelo atual.
Mercado – Jaguar Land Rover aproveitou presença no Salão do Automóvel de Bogotá e anunciou instalação de escritório com operação de vendas, coordenação, responsabilidade de serviços e ante o governo. Operação Brasil esclarece o porquê de não ter ido para a Argentina, segundo mercado do continente: Colômbia vende mais. Apesar da montagem no Brasil, fornecimento será pela Inglaterra.
Trava – Enquanto identificava novidades no Salão do Automóvel como resultado dos incentivos adotados pelo programa Inovar-Auto, governo federal levou trombada da Organização Mundial do Comércio, OMC. União Europeia e Japão representaram no órgão alegando ser o programa de subsídio.
Oposição – Brasil deve contestar em longa discussão, a exemplo do ocorrido com aviões entre a nacional Embraer e a canadense Bombardier. Entretanto como a presente etapa do Inovar Auto se encerra ao final de 2017, há chance da decisão da OMC ser base para mudar atuais regras – ou aproveitar a oportunidade política e fazer reforma tributária, reduzindo o número de impostos, acabando com a vigente colcha de retalhos.
Mais uma – Mahindra e Mahindra, marca indiana de largo portfólio de veículos, assumiu a Bramont a operação de montagem de tratores em Dois Irmãos, RS. Representante também montou picapes e utilitários na Zona Franca de Manaus. Capital estrangeiro pretende ampliar a produção atual de 1,2 mil unidades/ano e a rede de revendedores, de 11 para 20 pontos. Pouco conhecida Mahindra é a maior fabricante mundial de tratores.
Motosport – Bosch e a Fórmula Inter, nova categoria no automobilismo nacional, abriram inscrições para curso de Técnicos Especializados em Competições Automobilísticas. Cursos regulares, palestras, trabalhos e acompanhamento das corridas da categoria a profissionais, estudantes, engenheiros e entusiastas das corridas. Temas do ramo: tecnologia de motores de competição, conceitos aerodinâmicos, análises de softwares, gestão de equipes. Mais: www.boschtreinamentoautomotivo.com.br e www.formulainter.com.br.
Especialidade – Para ocupar espaço ocioso no Salão do Automóvel, 10 a 20 de novembro, São Paulo, Federação Brasileira de Veículos Antigos providenciou alguns exemplares com mais de 30 anos de produção. Desprezou a história: 2016 marca 60 anos do início da indústria automobilística no Brasil. Ao 19 de novembro, camioneta Universal DKW Vemag. Poderia ter levado exemplares de 1956, o Romi-Isetta e a Vemag.
Gente – Ademar Canteiro, jornalista, 71, ex-Scania e Anfavea, passou. / Geraldo Santa Catharina, diretor financeiro da Randon S.A., vencedor do Troféu O Equilibrista a executivos de finanças. Em exercício encolhendo 60% nas vendas, montou plano de sobrevivência e lucros na empresa. / Heiner Lanze, alemão, ex vice-presidente da suprimentos da Scania, transferência. Mesma área, empresa mãe, área e volumes maiores na Volkswagen. Consequência da trapalhada armada pelo ex fornecedor de bancos, minguando, sustando entrega, parando a produção. / Angel Javier Martinez, espanhol, bom currículo acadêmico, ex Mercedes-Benz, mudança. Diretor na Hyundai nas áreas de vendas, pós-vendas, desenvolvimento de rede e marketing para linhas HB20 e Creta.
Ecologia, outro produto Toyota
Um dos projetos ecológicos da Toyota, o Centro de Distribuição no porto de Suape, PE, festeja ter evitado emissões de 1.600 toneladas de gases poluentes. Significa 24% das emissões da operação e, na prática, à capacidade oxigenadora de 142 mil árvores.
Por via marítima o Centro recebe picapes Hilux e utilitários esporte SW4 vindos da Argentina. Para o ano fiscal 2015-2016 marca assumiu posicionamento baseado no Desafio Ambiental 2050, buscando reduzir os impactos nocivos do automóvel – de produção a uso – sobre o meio ambiente. Neste caminho Toyota foca o nível zero de emissões para atingi-lo no ciclo de produção, nos processos industriais, nos produtos. Na amplitude de tal projeto reduziu as emissões pelos veículos em 22% relativamente ao exercício anterior, e aplica-se à identificação e aquisição de recursos de fontes renováveis. No processo elegeu dado normalmente desconsiderado pelo grande público: reduziu em 16% o consumo d’água por carro produzido – 1.670 litros. Em economia de água, mais de 25 mil metros cúbicos.
Dos pontos focados pela empresa no Brasil está o inaugurar Centro de Pesquisa Aplicada na unidade fabril pioneira de São Bernardo do Campo, SP, equipado para exame de emissões, análise de matérias primas, estudos sobre novos acessórios. Em acordo com a matriz no Japão empresa tem trabalhado junto à indústria de autopeças de modo a estruturar uma cadeia de reciclagem – reaproveitar todas as peças de um carro descartado. Hoje, na lista de produtos da empresa, o Corolla cumpre a meta.
Uma das metas do Desafio Ambiental, reduzir em 90% até 2050 as emissões de CO2 originadas de veículos novos, definiu o carro do futuro. Até tal data todos os Toyota serão híbridos, elétricos ou alimentados por célula de combustível.
Foto: Toyota Prius, híbrido mais vendido no mundo, ênfase da empresa no Brasil
A coluna expressa as opiniões do colunista e não as do Best Cars