Reestilização faz parte de meta de reassumir liderança em 2018; Google prepara fabricação de carro autônomo
Volkswagen se aplicou para criar atrativos ao Gol e seu derivado Voyage. O Gol liderou vendas 27 anos, subitamente caiu para 5º. lugar na preferência dos consumidores, e tal evidência provocou necessária intervenção. Supera a mera apresentação de versão atualizada. Questão complexa, lançamentos são a parte visível do grande projeto de adequação interna da empresa aos novos tempos do mercado, um sinal da implantação de um plano de gestão, de recuperação para voltar à liderança em 2018. Daí o Começar de Novo.
Trabalho focou em três áreas de interação com os sentidos do consumidor: visão, tato, sensações corporais — e bolso. Reformulou frente e traseira; mudou painel e interior, dando-lhe trato de veículo de maior porte. Foi racional, considerando as maiores vendas serem com versões de 1,0 litro, aí aplicando o novo, de três cilindros, melhor desempenho, menor consumo. Manteve o antigo 1,6 de 104 cv, e neste opção de transmissão automatizada. Em todas as versões, pneus verdes, com menos atrito. E foi agradar a quem não gosta de automóveis, os adeptos da incontida e inexplicável busca por tecnologia interativa, agregando funções de conectividade entre o motorista e o mundo exterior. Chamou as intervenções com rótulo com valor atual, premium.
Resultado bom, à altura do desafio, fazer uma ponte entre a angústia do momento e a hora de substituir a atual geração do Gol, em 2018. Num resumo, carro para dois públicos — quem gosta de carro e fãs de tecnologia.
Pacote
É junção bem amarrada de providências, marcando o início de atividades da equipe comercial montada com autonomia por David Powels, presidente da empresa, iniciando pelo novo VP de Vendas e Marketing, Jorge Portugal, argentino se expressando em português. Perceptível o entrosamento entre Presidente e Vice comercial, situação não vista há uma década. Portugal, vendedor nato, motivador, em sua intensa ênfase sobre os produtos, levou-me a imaginar seria o lançamento de Lamborghini desenvolvido pela engenharia da Subaru…
Este foco contempla melhorar a aparência, a percepção e ampliar conteúdo. Numa comparação entre versões de Gol e concorrentes, de Ford Ka, Chevrolet Onix, Hyundai HB20, os Volkswagens contêm mais equipamentos com preço menor. A iniciativa busca outro vetor: motivar a rede revendedora, hoje em boa parte com baixa estamina. Um aspecto forte — como a Coluna antecipou — está na mudança do slogan: sai o Das Auto e entra a assinatura Volkswagen. E numa aproximação com o comprador. Como lembrou Portugal, o Volkswagen no nome indica a ligação com as pessoas.
Na conectividade, adotou duas versões de tela tátil. Pequena, Composition Touch com 12,5 cm, e outra com 15 cm, a Discover Media, com efeito espelho para o celular, GPS, leitura de mensagens e um suporte para fixar e/ou reabastecer o telefone. O sistema de entretenimento é o mais completo do país, trazendo o topo das novidades mundiais, o App-Connect, compatível com tecnologias Apple Car Play, Mirror Link e Android Auto. Comandos num volante de novo desenho, valorizando Gol e Voyage.
Quanto custa
Interessantemente menos ante as versões do modelo ainda em estoque, e abaixo do preço dos concorrentes. É um aviso de ter voltado, competitivamente, às vendas. E da equipe estar una para cumprir o grande projeto de reformulação da empresa, e de reassumir a liderança em 2018. Versões variadas, de 1,0 sem ar-condicionado a 1,6 com transmissão automatizada, topo da lista, preços entre R$ 31.590 e R$ 58.910.
Mais próximo, o carro anticarro
O carro autônomo, capaz de deixar o motorista lendo jornal, consultando Ipad ou passando mensagens, enquanto conduzido por ordens de computadores a módulos controladores de motores elétricos, é um dos caminhos ora trilhados pelos fabricantes de veículos. Querem intuir o futuro — e saber se e como estarão nele.
Parece ficção científica, mas está a caminho de factibilidade, aperfeiçoando sistemas já existentes, mecânicos e eletrônicos.
A todos, entretanto, levantava-se barreira legal, questão de responsabilidade civil: a quem atribuir o ônus e as penas em casos de acidentes com danos?
A Daimler, fabricante dos caminhões Mercedes, dedicou-se intensamente à parte técnica e ao lobby, obtendo licença para testá-los em rotas de trabalho, primeiro passo à liberação geral — assisti a uma das provas e fiquei convencido do fim breve da relativa importância do operador. Este estava sentado no banco de condução, sem acionar os comandos, apenas por questão legal. Ordens externas colocavam o caminhão na estrada, aumentava e diminuía a velocidade, ultrapassava, chegava ao destino — sem intervenção humana.
A mágica eletrônica aplicada aos veículos abriu novo caminho aos fabricantes de itens de informática e comunicações, construir veículos e, ante a possibilidade de concorrência entre o pessoal do chip e os fabricantes dos veículos convencionais, o mundo do automóvel parecia estar bem definido: ou os carros seriam desenvolvidos e construídos em conjunto, por fabricantes de automóveis e de tecnologia eletrônica, ou a parte carro seria produzida sob encomenda e fornecida ao pessoal dos computadores.
Tudo mudou: o governo dos EUA por sua agência NTHSA modificou o entendimento jurídico, passando a considerar o robô, ou o sistema eletrônico, a inteligência artificial da Google controladora do veículo, como agente na relação jurídica. Como pertencerá a um terceiro, pessoa física ou jurídica, a este e à sua seguradora caberão os ônus dos danos. Imediatamente a Google publicou anúncio buscando engenheiros da mobilidade, controle, robótica, sensores, manufatura, operações, materiais e marketing. Fabricará seus próprios carros (na foto, um protótipo).
Mundo muda. O automóvel expressão da liberdade individual no Século XX, será um tablet sobre quatro pneus, insosso, inodoro, comandado por distante e desconhecido computador. Emocionante como vagão particular de metrô.
Acarajé, Lava Jato e um curioso Alfa
Prisão do lobista polonês Zwi Skornicki, envolvido no assalto partidário à Petrobrás e preso na Operação Acarajé, ramo da Lava Jato, levou à apreensão de obras de arte bi e tridimensionais. Estas, automóveis antigos.
A olhos de colecionadores, a relação dos veículos é uma juntada sem foco ou direção por origem, marca, morfologia. Entretanto, a olhos policiais haverá curiosa evidência. Por exemplo, o mítico Alfa Romeo Spider criado pela Casa Pininfarina é uma das carrocerias mais longevas do mundo. Exemplar apreendido, vermelho, com placas pretas, rotulando Veículos de Coleção, tem a combinação alfanumérica CTS 5459. Na base de dados do Sinesp Cidadão tal licenciamento descreve-o como sendo automóvel da marca, mesmo modelo, produzido em 1971.
Discrepa. Fisicamente é Alfa Spider, vermelho, porém não é de 1971. É bem mais novo, de 1985 ou 1986. Raciocínio simplório pode sugerir tal divergência ter como origem automóvel entrado irregularmente no país, e documentado com dados de algum outro Alfa defunto, cedente da placa. Merece um aclaramento pela Polícia Federal.
O desencontro, se verdadeiro e caracterizado como crime fiscal e administrativo, também indica imperfeição pelo clube que lhe expediu o Certificado de Originalidade para reconhecê-lo como Veículo de Coleção. Novo crime pode estender as férias forçadas do lobista polonês, atualmente na PF do Paraná.
Roda a Roda
Enfim – O Alfa Romeo Giulia, versão Quadrifoglio — a de topo — e poderoso motor V6 com base Ferrari e 510 cv, iniciou ser produzido. Pré-série, à base de 30 unidades/dia. Aos 14 de março espera-se ter encerrada a fase de ajustes em produto, linha, equipamentos, métodos, deflagrando produção normal, destinada aos concessionários. Aparentemente resolvidos os problemas de resistência estrutural nos testes de impacto.
Mais – Ordem foi de Sergio Marchionne, capo geral, em visita à italiana fábrica de Cassino — a primeira automatizada da Fiat —., onde anunciou a versão de maior produção, com motor quatro-cilindros turbo e 276 cv, similar ao do esportivo 4C.
Mais ou menos – Maserati distribuiu fotos do Levante, primeiro crossover esportivo nos 100 anos da marca. Produção em Mirafiori, Turim, após disputa interna na FCA barrando a pretensão de também fazê-lo nos EUA para atender ao NAFTA. Por bom convívio optou fomentar empregos na Itália natal.
Crença – Bota fé na estrutura, dispensando armação nos vidros das janelas; vidro traseiro lembrando as ousadias do carrozziere Zagato; faróis separados, facho alto agregado à grade frontal. Suspensão a ar, controle eletrônico.
Alfa – Estrutura e parte da carroceria permitirão gerar produto assemelhado para a Alfa Romeo. Tomara seja mais bem resolvido. O Levante é uma misturada de escolas estilísticas, sem realçar a italianidade de seu desenho.
Globalização – Em seu esforço de tornar-se marca mundial, Jaguar Land Rover produzirá o sedã Jaguar XE na Índia. Em expansão mundial faz fábricas na China, Brasil e Eslováquia. Aqui serão Land Rover Discovery Sport e Range Rover Evoque.
Mundo – Primeiro trabalho da casa Pininfarina para nova controladora, a indiana Mahindra, é dito Aero, anunciado como um XUV. Sigla, mais uma, indica misto de cupê de três portas, crossover e utilitário esporte.
Cartão – Pode ser o produto de apresentação mundial da marca. Hoje, no exterior, Mahindra vende picapes e tratores esteticamente descompromissados.
Expansão – Mahindra adquiriu a coreana SsangYang, e divisão de ciclomotores Peugeot. Compra da Pininfarina é passaporte para o projeto.
Inspiração – Observando os resultados da tecnologia Smart Parking, de estacionar veículos sem participação dos motoristas, Nissan aplicou-a a escritórios, para evitar o trabalho de recolocar cadeira por cadeira em seus lugares ao final do expediente. O sistema memoriza local original, e apenas um bater de palmas faz estacionar em sua vaga.
007 – Admiração e interesse pelo Aston Martin DB10, utilizado pelo agente James Bond no recente filme Spectre, levou produtores a mudar relação com automóveis. Antes trambolhos abandonados em estúdios cinematográficos, como ocorreu com o DB5 utilizado no filme Goldfinger, levaram o DB10 a leilão.
Mais – Quase dobrou a avaliação inicial, arranhando 2,5 milhões de libras, uns R$ 13,6 milhões. No embalo venderam também a fantasia usada por Daniel Craig na abertura do filme por quase 100 mil libras – R$ 552 mil. Perdeu? Não se amofine. Foi feita dezena de unidades do DB10 para o filme. Serão leiloadas.
Confusão – Promotores de Justiça em Stuttgart, Alemanha, pediram a prisão de Wendelin Wiedeking e de Holger Haerter, respectivamente ex-CEO e ex-Diretor Financeiro da Porsche. Razão, em 2008 manipularam dados na tentativa frustrada pela Porsche, menor, comprar a Volkswagen, de valor muito superior.
Mais – Governo estadual quer prisão e pagamento de multa em 4,4 milhões e de 8,07 milhões de Euros — respectivos 19,4 e 35 milhões de reais — pela holding Porsche SE, hoje maior acionista da VW. Duas empresas são da mesma família.
Pé no freio – Ante queda do mercado nacional de automóveis no Brasil, e rápidos e bons resultados econômicos cravados pela Argentina, Dan Ammann, presidente mundial da General Motors, declarou ao Estado de S. Paulo aguardar de 6 a 12 meses por avanços políticos e econômicos para manter, ou não, seu plano de investimentos. Em 2014 Ammann e sua superior Mary Barra, CEO da empresa, anunciaram à Presidente Dilma investir US$ 2,8 bilhões (R$ 11,2 bilhões) para nova geração de carros pequenos no Mercosul. Inconsistência política e econômica alarma investidores.
Muda – Fim de março VW apresentará nova picape Saveiro. Muda frente, traseira, largura, altura livre do solo. Quer se distanciar da aparência do Gol e adotar aparência aventureira. Terá dois motores 1,6-litro, antigo e novo.
Solução – JR Diesel, maior desmanchadora da América Latina, organizou-se, comprando veículos em leilões de seguradoras, desmontando-os, etiquetando peças com código de barras para dar segurança de procedência. Cresceu 12% em 2015 ante a verdade de a peça seminova custar metade do preço da nova.
Dureza – Situação econômica faz reduzir venda de veículos novos, mas em compensação inflou a demanda por peças usadas, prevendo crescimento constante.
Gente – Gilberto dos Santos, jornalista, assessor de imprensa da Volkswagen, tempo. Deixa-la-á final de março, período sabático e após voltará ao mercado com talento, credibilidade, amplo relacionamento e experiência. / Rafael Barros, jornalista, ascensão. Sairá da Printerpress, prestadora de serviços à Toyota, integrando-se ao time da grande empresa. Faz parte do projeto e da faxina interna para torná-la ativa na área de relacionamento com a imprensa após anos cinzentos em resultados, brilhantes em incompetência.
Coluna anteriorA coluna expressa as opiniões do colunista e não as do Best Cars