É hora de passar a limpo os confusos dados da Fenabrave
e descobrir, a cada segmento, quem se saiu melhor em 2012
Quais foram os carros mais vendidos no Brasil, categoria a categoria, no ano passado? Como os recentes lançamentos se saíram diante de adversários consagrados, mas sem o gosto de novidade? Essas são questões que se renovam a cada ano e que, em tese, poderiam ser facilmente respondidas pela consulta aos relatórios de emplacamentos de veículos da Fenabrave, Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores.
No entanto, como já apontado aqui um ano atrás e há dois anos, a entidade está longe de ser criteriosa em seus enquadramentos de modelos. Há inúmeros erros em suas tabelas, como colocar o Chery QQ na mesma categoria do Audi A1, o Ford Focus sedã junto do JAC J3 Turin, a Audi A4 Avant no mesmo espaço da Fiat Palio Weekend — e abaixo da VW Jetta Variant —, o Mercedes-Benz CLS ao lado do Toyota Corolla e… o Citroën DS5 entre os hatches pequenos! Essa bagunça não começou agora, mas nada foi corrigido desde que apontamos a necessidade de uma revisão das tabelas. Portanto, é preciso mais uma vez passar a limpo os dados da Fenabrave.
O ano terminou com aumento de 7,4% nos emplacamentos em comparação a 2011 ou, se incluídos os comerciais leves (picapes, furgões, utilitários esporte), de 6,1%. A Fiat saiu-se líder pela décima primeira vez consecutiva, com 23% do mercado de automóveis, ante 22,4% da Volkswagen, 19,5% da General Motors e 7,8% da Ford. Seguem-se Renault, Hyundai, Honda, Toyota, Nissan e Citroën. Na comparação com o ano anterior, destacam-se o crescimento da Hyundai (de 9ª. para 6ª.) e a queda da Citroën (de 8ª. para 10ª.). Caso se incluam os comerciais leves, a ordem das seis primeiras se mantém, mas da sétima em diante muda para Toyota, Hyundai, Nissan e Citroën.
Há inúmeros erros na Fenabrave, como colocar o Chery QQ na categoria do Audi A1, o Mercedes-Benz CLS ao lado do Corolla e… o Citroën DS5 entre os hatches pequenos!
O líder de mercado pelo vigésimo sexto ano consecutivo, o VW Gol, acumulou desta vez uma boa vantagem (14,6%) sobre o 2º. colocado da categoria de entrada, a dupla Fiat Mille/Uno, modelos que para a Fenabrave representam o mesmo carro. Na sequência vêm Fiat Palio, Chevrolet Celta, Ford Ka, Peugeot 207, Renault Clio, Chery QQ e Toyota Etios — este, como se sabe, só começou a ser vendido em setembro.
Entre os demais hatchbacks pequenos, de faixa de preço superior, o VW Fox ficou muito à frente (47,6%) do Ford Fiesta. Seguem-se Renault Sandero, Chevrolet Agile, Fiat Punto, Citroën C3 (sem distinção entre as gerações), Nissan March, Chevrolet Corsa, Hyundai HB20, Chevrolet Onix, Fiat 500, VW Polo, JAC J3, Kia Picanto, Chevrolet Sonic. E no fim da tabela o Peugeot 208, que já teve 32 unidades emplacadas.
Deixamos em classe à parte os hatches de maior preço, os mesmos da Classe 3 da Eleição dos Melhores Carros. Aqui o Honda Fit é líder absoluto, seguido por Mini, Audi A1 e Citroën DS3. Quem preferir ver o Fit na faixa anterior o terá entre o Punto e o C3.
Passamos aos hatches médios e o Ford Focus aparece na liderança, à frente de Hyundai I30 (que havia sido o vencedor em 2011), VW Golf, Chevrolet Cruze, Peugeot 308, Fiat Bravo, Nissan Tiida, Citroën C4, Hyundai Veloster, Kia Soul, Peugeot 307, BMW Série 1, Suzuki SX4, VW Fusca, Chery Cielo e Mercedes-Benz Classe B. A Fenabrave não menciona o Audi A3.
Apesar da soma de emplacamentos do Chevrolet Classic e do Corsa, esses sedãs da General Motors — campeões em 2011 — não alcançaram desta vez o desempenho do Fiat Siena (incluindo o Grand Siena), mas ficaram à frente do VW Voyage. Atrás aparecem Chevrolet Cobalt, Ford Fiesta (com duas gerações, mantendo a posição mesmo que não se considere a nova, importada), Chevrolet Prisma, Renault Logan, Honda City, Nissan Versa, VW Polo, Peugeot 207 Passion, Chevrolet Sonic, Renault Symbol, JAC J3 Turin e Toyota Etios.
A nova geração do Honda Civic não conseguiu superar o Toyota Corolla, líder mais uma vez entre os sedãs médios. Seguem-se Chevrolet Cruze, VW Jetta, Renault Fluence, Ford Focus, Nissan Sentra, Fiat Linea, Hyundai Elantra, Peugeot 408, Kia Cerato, Mitsubishi Lancer, Citroën C4 Pallas, JAC J5, Nissan Tiida, Peugeot 307, Lifan 620 e Chery Cielo.
Deixando em uma só categoria todos os sedãs superiores aos citados, tem-se o Ford Fusion na liderança, seguido pelo Hyundai Azera e com os demais nesta ordem: Hyundai Sonata, BMW Série 3 (cujas versões aparecem separadas pela Fenabrave, uma incoerência que prejudica a marca), VW Passat, Kia Optima, Kia Cadenza, Audi A5, Volvo S60, Audi A4, Chevrolet Omega, Mercedes-Benz Classe E, Chrysler 300C, Mercedes-Benz Classe C e BMW Série 5. Nota-se que o Mercedes E superou o BMW 5 no segmento de grandes de luxo, invertendo a ordem de 2011. Como nota curiosa, consta o emplacamento de 14 Corniches da Rolls-Royce.
Fiat Siena cresce; Palio Weekend cai
Entre as peruas pequenas, a VW SpaceFox assumiu a liderança com uma vantagem que cresce ao ser acrescentada a SpaceCross — nada mais justo, pois a Fenabrave não distingue a Fiat Palio Weekend de sua versão Adventure, somadas em 2ª. posição. Longe delas estão VW Parati e Peugeot 207 SW. Já nas faixas média e alta, a líder folgada é a Renault Mégane Grand Tour, mas também aparecem VW Jetta Variant, Hyundai I30 CW, Audi A4 Avant e Volvo V60, na ordem. Fica no ar onde estariam os dados da VW Passat Variant.
A classe monocab (monovolume) da Fenabrave é uma salada que mistura Honda Fit, Kia Picanto e Fiat Doblò com verdadeiras minivans. Feita a separação, constata-se a repetição da vitória da Fiat Idea entre os modelos compactos, seguida por Chevrolet Spin, Nissan Livina, Citroën C3 Aircross, Chevrolet Meriva e Citroën C3 Picasso. Interessante é que, caso se somem as duas versões da Citroën, o total só não supera o da Idea e as coloca em 2°. lugar. Já entre as minivans maiores, a extinta Chevrolet Zafira ainda ficou à frente de JAC J6, Citroën Xsara Picasso e C4 Picasso (separadas), Peugeot 3008 e Kia Carens.
O território de esportivos continuou dominado pelo Chevrolet Camaro, que vendeu em 2012 mais que o dobro do 2º. colocado, o Mercedes-Benz SLK. Na sequência surgem Peugeot RCZ, Ford Mustang (apesar de trazido apenas por importadoras independentes) e BMW Z4.
Os dados permitem identificar que algumas categorias mudaram de líderes, um bom sinal de que os produtos precisam evoluir para manter o espaço conquistado no mercado
Em picapes leves, a Fiat Strada garantiu mais um ano de folgada liderança ao colocar nas ruas 76% mais unidades que a VW Saveiro. Seguem-se Chevrolet Montana, Ford Courier e Peugeot Hoggar. No setor de médias, a Chevrolet S10 (somando antiga e atual) ficou à frente de Toyota Hilux, Mitsubishi L200, VW Amarok, Nissan Frontier e Ford Ranger — esta caiu várias posições no ano, talvez por uma transição demorada para a nova geração.
O setor de utilitários esporte é sempre complexo, pois são dezenas de modelos. Aqui o ideal é usarmos a divisão em quatro categorias proposta pela Eleição dos Melhores Carros, que toma como ponto de partida a faixa de preço das versões de cada um.
Isso feito, a Classe 1 fica com Renault Duster à frente, com 22% mais veículos que o Ford EcoSport — a troca de geração não o favoreceu, pois as vendas do modelo antigo foram baixas durante meses. Depois, Hyundai Tucson, Fiat Freemont, Mitsubishi ASX, Kia Sportage e Suzuki Grand Vitara. Onde está o Mitsubishi Pajero TR4? A Fenabrave continua a veicular os vários Pajeros (TR4, Sport, Dakar, Full) como um só modelo, o que é injusto com os demais fabricantes. Por isso, deixamos a linha de fora.
Na Classe 2 o líder permaneceu o Honda CR-V, seguido por Hyundai IX35, Toyota Hilux SW4, Chevrolet Captiva, Kia Sorento, VW Tiguan e Hyundai Santa Fe. O Range Rover Evoque sobressai entre os utilitários da Classe 3; atrás dele aparecem BMW X1 (líder no ano anterior), Volvo XC60, Land Rover Discovery e Audi Q3. Enfim, na Classe 4, a dupla da Range Rover (modelo tradicional e o Sport) soma mais unidades emplacadas que o Porsche Cayenne, o Mercedes-Benz Classe M, o BMW X5 e o Audi Q7.
A Fenabrave registra ainda uma discreta queda de participação dos modelos com motor de até 1.000 cm³, que representaram 42,2% do mercado de automóveis no ano passado, ante 57,5% da classe entre 1.001 e 2.000 cm³ e 0,3% dos modelos de cilindrada maior que 2.000 cm³. Em 2011 a divisão foi de 42,7%, 56,9% e 0,4%, na mesma ordem.
Passados a limpo, os dados da entidade permitem identificar que algumas categorias mudaram de líderes, um bom sinal de que os produtos precisam evoluir para manter o espaço conquistado. É emblemático que a Fiat tenha superado a GM na categoria do Siena, no ano da chegada de uma nova geração, mas tenha cedido à VW o troféu entre as peruas ao conservar a antiquada Palio Weekend. Modelos que registraram o primeiro ano completo de vendas, como Renault Duster e Range Rover Evoque, indicaram que não vieram para brincar.
Os muitos lançamentos de 2012 ainda não tiveram tempo de registrar altos volumes no acumulado do ano, embora vários despontem como potenciais campeões de aceitação em suas categorias. Vamos acompanhar seu desenvolvimento do novo ano e, quando 2013 acabar, veremos com detalhes — e sem as distorções da Fenabrave — o resultado que cada um terá alcançado.
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