Salão suíço revela garra para superar a crise, lança
superesportivos e propõe soluções com baixas emissões
A economia em crise, o mercado de automóveis encolhendo — tudo aquilo que lemos e ouvimos com frequência quando o assunto é a Europa — não foram obstáculos para que o 83º. Salão de Genebra, que abriu ao público nesta quinta-feira (7), fosse um grande evento em termos de lançamentos. O Velho Continente mostrou garra na busca pelo comprador de veículos, em vez da aceitação passiva de que o cenário econômico não favorece investimentos.
Para entusiastas como nós, chamou atenção o volume de estreias de supercarros e modelos esportivos. Pode ter sido coincidência, mas dois dos maiores nomes da história da Fórmula 1 — e dos supercarros de rua — apresentaram no mesmo evento seus novos modelos de topo: a Ferrari, com o La Ferrari, e a McLaren com o P1.
Dois dos maiores nomes da história da Fórmula 1 — e dos supercarros de rua — apresentaram novos modelos de topo: a Ferrari, com o La Ferrari, e a McLaren com o P1
Se nenhum revela criatividade na denominação, os dois são ousados na combinação de motores a gasolina (com oito cilindros no McLaren e 12 no Ferrari) e elétrico para obter altíssimo desempenho com menor emissão de gás carbônico (CO2). Com os motores trabalhando juntos, o P1 tem potência de 916 cv, e o La Ferrari, 963. Não menos impressionante em estilo, embora mais comedido (!) em desempenho, é o Lamborghini Veneno, um anguloso esportivo de 740 cv que terá apenas três unidades fabricadas.
Em outros patamares de potência e preço, a esportividade andou em alta também em novidades como o Mercedes-Benz A45 AMG, um compacto com 360 cv — tão potente quanto as versões AMG dos sedãs Classe E e S de apenas 12 anos atrás —, e o Alfa Romeo 4C, com proporções inusitadas (sua largura é metade de seu comprimento), muita fibra de carbono e um peso baixíssimo para os padrões de hoje. E tudo isso está chegando ao mercado, ao contrário do conceito Lamborghini Parcour, elaborado pelo estúdio ItalDesign com motor V10 de Gallardo, que talvez nunca apareça nas ruas.
Mais de 100 km por litro
Desempenho de um lado, preocupação com o ambiente de outro — ou ao mesmo tempo. Essa tônica ficou evidente no anúncio pela Volkswagen de que o XL1, capaz de rodar 111 km com um litro de diesel, será fabricado em uma pequena série. Trata-se mais de uma demonstração de tecnologia que de um lançamento, mas que merece elogios assim mesmo.
Eficiência é também o mote do Audi A3 E-Tron, um híbrido recarregável em fonte externa que faz 66 km/l de gasolina e ainda não tem data para entrar em produção. É provável que produtos como esse Audi se tornem comuns nas ruas europeias nos próximos anos, a fim de que os fabricantes possam atender aos limites de emissões de CO2. Por enquanto os híbridos vendem bem nos Estados Unidos e no Japão, mas são poucos no Velho Mundo.
Modelos híbridos devem se tornar comuns nas ruas europeias nos próximos anos, a fim de que os fabricantes possam atender aos limites de emissões de CO2
Para quem acompanha de perto o mercado brasileiro, há mais fatores que atraem a atenção em um salão como o suíço. É o caso da escassez de utilitários esporte, inimigos da eficiência energética e por isso não tão aceitos na Europa — onde o combustível é, em regra, mais caro que aqui — quanto nos EUA… ou mesmo no Brasil. De todas as novidades do evento que apresentamos, só três são SUVs, mesmo assim compactos: o Renault Captur, o Peugeot 2008 e o Ford EcoSport, nosso conhecido que será vendido na Europa.
Em contrapartida, duas peruas foram lançadas (Renault Logan MCV e VW Golf Variant) e uma revelada como conceito em fase final para produção (Honda Civic). Embora não tanto quanto há alguns anos, esse tipo de veículo tem grande aceitação em vários mercados europeus, o que faz muito sentido a meu ver. Em relação a um sedã, uma perua traz ganho importante em espaço de bagagem e praticidade de uso desse compartimento, acrescenta pouco em peso e não representa tamanho adicional. Por isso elas são oferecidas por quase todo fabricante, mesmo as marcas de prestígio como Audi, BMW e Mercedes-Benz.
Genebra, portanto, mostrou uma indústria europeia em plena atividade, confiante em dias melhores e disposta a competir com vigor pelos mercados em crescimento fora do continente, com produtos modernos e eficientes. Um cenário que poderia ser mais interessante para nós se não estivesse do outro lado do Atlântico e não fosse tão diferente do que vemos por aqui.
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