Seguir algumas dicas e usar como fonte o manual garantem
a saúde do automóvel e evitam gastos desnecessários
Boas conversas e pautas para o Editorial são algo que se pode conseguir em variadas situações. Uma delas, nesta semana, foi papear com um amigo que começou há pouco tempo a trabalhar em um posto de combustível. Ele contou um pouco do que tinha aprendido no treinamento para o trabalho, como a importância de medir o nível de óleo lubrificante do motor em piso plano e a de verificar qual o tipo de óleo apropriado para cada carro. Foi então que percebi que o tema — o serviço dos frentistas de postos — rendia um texto de utilidade.
É fato que a grande maioria dos motoristas não lê o manual do proprietário… mas deveria, ao menos como consulta para determinadas tarefas de manutenção. Quem não se informa na fonte mais apropriada, a que contém as especificações e recomendações do fabricante do carro, acaba tendo de confiar nas dicas de quem põe a mão na massa — no caso, o frentista.
Então começam os problemas. Um, que o frentista (mesmo recebendo treinamento para isso, caso de meu amigo) nem sempre tem conhecimento e práticas apropriados para tarefas como verificar o nível de óleo e completá-lo se preciso. Outro, que cada carro tem suas particularidades e seria impossível que alguém as guardasse todas na memória.
Sem espera, a leitura fica incorreta e tende a levar ao acréscimo indevido de óleo — que, além do desperdício, pode provocar carbonização
Valem, portanto, algumas dicas para redobrar a atenção quando alguém abrir seu capô depois do tradicional “posso conferir água e óleo?”.
Verificar o nível de lubrificante do motor é simples, mas requer alguns cuidados. O primeiro é usar um piso plano, pois a inclinação faz o óleo se concentrar mais em um lado do cárter, falseando a leitura. O segundo é que esse fluido viscoso não retorna de imediato ao cárter depois que o motor é desligado: escorre lentamente das peças internas e das galerias. Com isso, deve-se dar cinco a 10 minutos para o lubrificante escorrer ou, melhor ainda, fazer a medição em casa com o motor ainda frio, antes da partida. Sem essa espera, a leitura fica incorreta e tende a levar ao acréscimo indevido de óleo — que, além do desperdício, pode sujar as velas de ignição, provocar carbonização e emitir poluentes.
Se for preciso completar o nível, o ideal é usar o mesmo lubrificante colocado na última troca, o que costuma estar indicado em um selo no para-brisa. Caso não esteja, recorra ao manual para saber as especificações do óleo aceitas pelo fabricante — se mineral, sintético ou de base sintética, se 5W30 ou 20W50, se SJ, SL, SM e assim por diante. Misturar óleos diferentes em marca e tipo não traz problemas, mas não coloque um mineral e outro sintético, por exemplo, no motor.
Com o líquido de arrefecimento, a popular “água do radiador”, os cuidados são outros. Com o motor quente o líquido se expande; por isso, o ideal é checar com motor frio o nível no vaso de expansão, o reservatório plástico ligado ao radiador. Para completar, confira no manual qual a mistura recomendada pelo fabricante entre água desmineralizada e aditivo de arrefecimento, que aumenta o ponto de ebulição da água e evita a ferrugem. Completar só com água de torneira, como muitos fazem, reduz a concentração de aditivo e ainda expõe o sistema a problemas causados pelos minerais da água.
“Vai calibrar os pneus, doutor?”
Sim, verificar sua pressão de enchimento a cada 15 dias é uma boa medida para manter a segurança e preservar a vida útil dos pneus, mas não adianta confiar na dica do frentista para a pressão correta. Ela varia de carro para carro, às vezes até entre as versões do mesmo modelo; de eixo dianteiro para eixo traseiro; de carro com carga parcial para carga total. Como ele poderia ter na memória os valores que se aplicam a seu caso?
A pressão certa para cada condição está no manual e, para facilitar, costuma aparecer também na tampa do porta-luvas ou na do bocal de abastecimento, ou ainda em uma das colunas da porta do motorista. Importante: a pressão aumenta com o calor gerado pela rodagem e, se você rodou mais de 1 km até o posto, pode considerar que o valor real com pneus frios seja um pouco menor que o indicado no calibrador.
Se você passou por todas essas verificações, é bem provável que lhe tenham sido oferecidos alguns aditivos — os frentistas em geral recebem comissões pela venda de produtos, o que explica sua insistência em convencer o cliente de que aquele pequeno frasco tem a solução para todos os seus problemas. Seu carro realmente precisa deles?
Não encha “até a boca”: o ideal é cessar o abastecimento na parada automática, deixando espaço para o líquido se dilatar sob ação do calor
Aditivos de limpeza para o tanque de combustível são um bom investimento, mas só para quem não tem o (recomendável) hábito de usar gasolina aditivada, que se distingue da comum exatamente por conter tais aditivos (a premium e a BR Podium também os trazem). Já os do tipo octane booster, que aumentam a octanagem da gasolina, têm efeito praticamente nulo nos motores dos carros vendidos aqui, que são calibrados para as 95 octanas RON da comum. Só em motores de alto desempenho, em geral com turbo, se deve obter algum ganho.
Se o aditivo sugerido for para o óleo lubrificante, piorou. Não que faça mal, mas é algo que não se justifica mais diante de todo o avanço tecnológico por que passaram os óleos nas últimas décadas. O melhor é investir em um lubrificante superior e deixar o aditivo de fora.
Até aquilo que os frentistas mais fazem — abastecer o tanque de combustível — requer seus cuidados. Um deles é evitar o ato de “encher até a boca”: o ideal é cessar o abastecimento tão logo o sistema automático desligue a bomba, o que deixa algum espaço para o líquido se dilatar sob ação do calor. Sem esse espaço, o risco não é de vazamento de combustível, como acontecia nos carros fabricados até a década de 1980, mas de levar o líquido a encharcar o cânister, um filtro de carvão ativado que evita as emissões poluentes por evaporação para a atmosfera.
Com tudo isso em mente — e as informações do fabricante de seu carro à mão sempre que necessário —, as visitas aos postos serão mais seguras, seja para a saúde do seu carro, seja para seu bolso.
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