Antecipar-se a riscos e erros dos demais, no trânsito urbano
e nas rodovias, é a melhor medida para garantir sua segurança
É praticamente consenso entre as pessoas com que converso a respeito: há cada vez mais pessoas dirigindo mal no Brasil. Pode ser consequência do aumento da frota, com mais brasileiros podendo comprar um carro e habilitar-se para sua condução, como pode ser efeito dos conhecidos problemas de formação dos motoristas no País, como bem abordou há poucos dias o colunista Felipe Bitu. O fato é que temos um quadro preocupante diante de nós, nas ruas e rodovias.
O que fazer? Direção defensiva é a resposta. Em sentido amplo, significa dirigir antecipando-se a possíveis erros de outros motoristas, motociclistas, ciclistas e pedestres, ou mesmo a problemas repentinos em seus veículos, e tomar medidas para que esses fatores não prejudiquem sua segurança. Ou seja, dirigir por si e pelos outros.
Até certo ponto é simples praticar a direção defensiva, pois tudo começa por manter a atenção aos demais participantes do trânsito e em saber como agir em cada situação. Mas há mais elementos nessa tarefa, pelo que decidi trazer o assunto para o debate com os leitores no Editorial.
Se houver redução de velocidade à frente, freie
devagar e procure soltar o pedal algumas
vezes: o acender e apagar das luzes chama atenção
• Sente-se bem. A posição correta para dirigir é a que permite usar os pedais com conforto e alcançar o topo do volante sem esticar todo o braço (o ideal é poder encostar o pulso nele), mantendo as costas no banco. Segure o volante com as mãos nas posições dos ponteiros do relógio quando são 10 para as duas ou 15 para as três, como preferir, e assim as mantenha em curvas de rodovia, para facilitar eventual retorno rápido à posição original.
• Mantenha a atenção. Concentre-se no ato de dirigir, o que envolve vários fatores; entre eles, assegurar-se de estar em condições ideais (sem sono e livre da influência de qualquer bebida alcoólica, entorpecente ou mesmo de certos medicamentos) e fazer uso apropriado de elementos que possam distrair, como sistema de áudio, navegador e — sobretudo — telefone celular.
• Garanta a visibilidade. Não basta acender os faróis baixos assim que o sol se põe, como prevê o Código de Trânsito Brasileiro — embora muita gente nem siga essa regra. Procure usá-los sempre em rodovias, sobretudo em condições desfavoráveis como chuva e neblina ou quando rodar mais rápido que o fluxo de tráfego. Mantenha limpos os vidros, os retrovisores e as lentes de faróis e lanternas de seu carro e evite aplicar película muito escura às janelas. Ter sempre à mão óculos solares é uma boa medida para afastar o cansaço visual.
• Sinalize suas intenções. Use as luzes de direção, tanto na cidade quanto em rodovia, para indicar que pretende mudar de faixa ou iniciar uma ultrapassagem; acionar a do lado esquerdo funciona bem como um pedido gentil de passagem em vez de piscar faróis altos. Em caso de grande redução de velocidade ou parada em rodovia à sua frente, freie devagar e procure soltar o pedal algumas vezes: o sucessivo acender e apagar das luzes de freio chama mais atenção de quem vem atrás. O uso das luzes de emergência (pisca-alerta) nessa condição é permitido e válido, mas não o acione se precisar mudar de faixa, pois ele inibe a luz de direção.
• Mantenha distância. Em condições ideais de visibilidade e aderência, dois segundos de diferença do carro que vai adiante são uma margem segura para o caso de precisar frear ou desviar. Para calculá-la, tome como referência um ponto qualquer da via, como um poste ou placa, e quando o veículo da frente passar por ele conte até dois. Se você chegar ao ponto antes é preciso ampliar a distância — com a prática, o intervalo ideal se tornará intuitivo. Em caso de chuva ou neblina, use de três a quatro segundos.
• Siga na velocidade certa. Embora tenhamos limites cada vez mais baixos em grande parte das vias brasileiras hoje, mesmo a velocidade permitida pode ser excessiva em algumas condições. Seguir a corrente de tráfego, evitando rodar mais de 20 km/h acima da média dos outros veículos, é sempre uma boa estratégia.
Todo cruzamento é perigoso: nunca passe
por um deles em velocidade que não
permita parar se houver um imprevisto
• Enxergue longe e ao redor. Estenda a atenção ao que se passa à frente do carro adiante, antecipando-se a frenagens, curvas acentuadas e desvios de obstáculos — isso permitirá efetuar manobras mais suaves, o que dificulta que alguém bata em sua traseira. Procure ver através dos vidros do veículo à frente. Fique de olho também nas faixas ao lado dele, que podem indicar um ciclista ou pedestre desatento ou um motorista distraído ao celular. Olhe para os pneus dianteiros dos carros ao lado: eles indicam o começo de uma conversão que pode exigir seu desvio ou frenagem.
• Todo cruzamento é perigoso. Mesmo que sua via tenha preferência, nunca passe por um cruzamento em velocidade que não permita parar se houver um imprevisto. Isso vale também para os semáforos, que requerem outros cuidados: quando ele se abrir, certifique-se de que não há alguém “aproveitando o finzinho do amarelo” antes de arrancar; quando se fechar, procure frear suavemente e conferir que não haja alguém rápido demais (ou distraído) vindo atrás.
• Cuidado com pontes e viadutos. Muitos deles ainda são desprotegidos e permitem que vândalos atirem pedras e objetos sobre os veículos, não raro para obrigar o motorista a parar e então assaltá-lo. Se identificar pessoas em atitude suspeita, mude de faixa (consultando antes os retrovisores) bem perto da ponte a fim de dificultar a manobra criminosa. Em seguida, avise à Polícia Rodoviária.
• Compartilhe a informação. Talvez nada disso seja novidade para você, mas certamente são dicas úteis para muitos de seus contatos. Transmitir-lhes estas recomendações ajudará a fazer mais bons motoristas em um trânsito como o nosso, que tanto precisa deles.
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