Cinco anos depois, nova seleção dos motores com mais qualidades nos carros avaliados: como você faria sua lista?
Há cinco anos, em 29 de novembro de 2013, este Editorial elegia os 10 melhores motores de automóveis do mercado nacional, dentro de um limite de preço e entre os modelos que eu havia dirigido até então. A ideia foi inspirada na eleição anual 10 Best Engines (10 melhores motores), promovida nos Estados Unidos pela revista Ward’s Auto World desde 1994. Passado esse período, entendo que seria interessante atualizar minha seleção.
O prêmio da Ward’s não considera medições de desempenho, mas um conjunto de fatores objetivos e subjetivos como potência, torque, ruído, vibrações e aspereza (trio que forma a conhecida sigla em inglês NVH, noise, vibration and harshness). Os carros elegíveis não podem custar mais de US$ 60 mil, que hoje representam R$ 228 mil. Interessante notar o quanto o valor em moeda brasileira subiu nesses cinco anos: em 2013 o limite, então de US$ 55 mil, se equivalia a apenas R$ 125 mil. Com isso, apesar da alta acentuada de preços de carros no Brasil no período recente, a conversão do limite norte-americano para reais nos abre possibilidade de eleger carros mais caros — e supostamente melhores — dessa vez.
Como é uma seleção pessoal, você tem todo o direito de discordar e propor seus prediletos, o que convido a fazer pelo espaço de comentários. Então, vamos a meus 10 melhores motores em 2018 em ordem alfabética pelo fabricante.
O novo três-cilindros da Ford surpreendeu: até os mais atentos terão dificuldade em perceber as oscilações tradicionais de motores dessa configuração
• Chevrolet 2,0-litros turbo. O motor do Equinox é tão bom que nos EUA equipa até o Camaro em versão de entrada. Potente (262 cv), com torque bem distribuído e operação suave, ele é parte importante para esse utilitário esporte ser uma das melhores opções da categoria. Não só: é difícil encontrar algo com tal desempenho a seu preço em outros SUVs.
• Citroën/Peugeot 1,6-litro turbo. O grupo BMW deixou de usá-lo em favor de um três-cilindros, mas sua participação no projeto ainda fica evidente a quem dirige um carro com o conhecido Prince: desempenho saudável, funcionamento macio e bons índices de consumo. Um motor tão versátil que atende bem desde ao 208 GT até a uma Grand C4 Picasso ou um 5008.
• Fiat/Jeep 2,0-litros turbodiesel. O único Diesel da lista merece lugar pela combinação de boa potência (170 cv ou 85 cv/litro, bem acima da média do segmento), torque generoso com pouco retardo para ação do turbo, ruído baixíssimo no uso rodoviário e suavidade de operação, mais notada no Renegade e no Compass que na Toro.
• Ford 1,5-litro. O novo três-cilindros, lançado no Ecosport e agora aplicado ao Ka, surpreendeu: até os mais atentos terão dificuldade em perceber as oscilações tradicionais de motores dessa configuração. É brilhante em potência (136 cv com álcool, a mesma do Mini Cooper 1,5-litro turbo com gasolina) e bom em torque. Só tem mostrado consumo acima do esperado, nos carros com transmissão automática.
• Ford 2,0-litros turbo. O motor do Fusion, que por anos foi aplicado também a modelos Jaguar e Land Rover, é um bom representante da classe em termos de desempenho e refinamento. Comparado ao similar da Volkswagen/Audi, que saiu da lista dessa vez, o Ford oferece mais potência (248 cv) e torque (38 m.kgf) entre os carros que avaliamos, embora a Audi use uma versão de 252 cv em alguns modelos.
• Honda 1,5-litro turbo. A unidade dos Civics Touring e Si e do CR-V honra a tradição da marca em motores brilhantes: potência e torque interessantes, operação macia e consumo moderado. Mesmo no pesado CR-V, mal se nota o retardo para o turbo atuar. Só ficaria melhor se o Si mantivesse o ronco fascinante em alta rotação dos antecessores aspirados.
• Toyota 1,3-litro. O motor do Etios e agora do Yaris, aprimorado na linha 2017 com variação do tempo de abertura das válvulas, continua um dos melhores da categoria: suave, econômico, razoavelmente potente e com torque bem distribuído. Os comandos acionados por corrente são boa solução em confiabilidade em um segmento que usa muito a correia dentada.
• Volkswagen 1,0-litro turbo. Ele começou com brilho no Up TSI, em 2015, e ficou ainda melhor na versão do Polo e do Golf, que chega a 128 cv com álcool. Um três-cilindros que vibra e consome muito pouco e fornece desempenho típico de 1,8-litro.
Na seleção feita pelo editor em 2010 havia apenas dois motores turbo, em 2013 passaram a cinco e agora chegam a oito dos 10 escolhidos
• Volkswagen/Audi 1,4-litro turbo. O que o 1,0-litro faz, o 1,4 faz melhor. Uma unidade eficiente e versátil, que oferece 150 cv e mais torque que o Citroën/Peugeot 1,6 turbo, gira macio e permite bom consumo. Atende até um pesado Tiguan de sete lugares com desempenho digno.
• Volvo 2,0-litros turbo. Toda marca de prestígio tem hoje um motor nessa configuração com cerca de 250 cv, mas alguns não avaliei e outros (caso do BMW 328i e do Jaguar F-Type P300) excedem nosso limite de preço. Assim, a unidade Volvo de 252 cv que usei no XC40 T5 cativou pelo desempenho, a suavidade e os “suspiros” pelo escapamento a cada mudança de marcha.
Comparando a nova seleção à de cinco anos atrás, percebemos que alguns motores perderam lugar. Mesmo que continuasse no mercado, o Fiat 1,4-litro turbo não mais mereceria estar na lista — ficou superado em termos de retardo do turbo e eficiência. O Ford Sigma 1,6-litro (mantido em Fiesta e Focus) cedeu espaço ao 1,5 de três cilindros no Ecosport e em minha seleção, embora ainda seja um ótimo motor em sua faixa.
O 2,0-litros do Focus e do Ecosport, talvez o melhor aspirado de sua faixa, começa a ficar fora de contexto à medida que o turbo se consagra na categoria. O mesmo vale para o Honda 2,0-litros do Civic, que ainda é menos potente que o da Ford. Na linha Volkswagen, tirei da lista o 1,0-litro aspirado (para incluir sua versão turbo) e o 2,0-litros turbo, como explicado no trecho do concorrente da Ford.
Constatação interessante: na seleção feita em 2010 havia apenas dois motores turbo, em 2013 passaram a cinco e agora chegam a oito — eu teria incluído entre os aspirados o V6 de 3,5 litros do Honda Accord, mas na próxima semana será lançada a nova geração com um 2,0-litros turbo. Assim, a solução para obter grandes qualidades em um motor passa cada vez mais pela superalimentação, enquanto a combustão não dá lugar à eletricidade.
Como estará a lista daqui a cinco anos?
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