Não tão esportivo quanto as versões faziam supor, oferece
bom conjunto, mas obtém satisfação só razoável entre donos
Texto: Luiz Fernando Wernz – Fotos: divulgação
Há cinco anos, em 2007, o mercado de hatchbacks médios era um dos mais competitivos. As opções eram fartas, representadas pelas “quatro grandes” com VW Golf, Fiat Stilo, Ford Focus e Chevrolet Astra, sem contar a Peugeot com o 307 e, logo após, a Hyundai com o I30 e a Nissan com o Tiida (havia ainda o Citroën C4, mas disponível só com três portas até 2009). Contudo, vários desses modelos estavam defasados em relação às versões oferecidas nos países de vanguarda.
Tentando se destacar ao oferecer algo que parecesse realmente novo, a General Motors apresentou em setembro de 2007 a nova geração do Astra hatch. Como não havia interesse em substituir o bem consolidado Astra da geração anterior — que ainda estava à venda com sucesso e resistiria por mais cinco anos —, a marca resolveu batizá-lo de Vectra, repetindo a estratégia adotada em 2006 no sedã, já analisado no Guia de Compra.
O desenho da carroceria não era idêntico ao do Astra europeu, pois a frente (a mesma do Vectra sedã nacional) era um pouco diferente. Como de costume, para ser fabricado aqui houve alguns retrocessos técnicos em relação à versão europeia, como o uso do veterano motor herdado do Monza da década de 1980.
Quanto ao estilo, o carro impressionou bem, pois na categoria havia poucas opções em sintonia com o mercado europeu. As versões oferecidas para o Vectra hatch eram a GT e a GT-X. Ao contrário do que as siglas pudessem sugerir, o destaque não era o desempenho, pois ambas usavam o motor 2,0-litros de oito válvulas, flexível em combustível, com potência de 121/128 cv (gasolina e álcool, na ordem) e câmbio manual de cinco ou automático de quatro marchas.
Com as mesmas linhas do Astra europeu, à exceção da frente, o Vectra vinha
bem-equipado já na versão GT, com bolsas infláveis, rodas 16 e ar automático
Se o Astra permanecia em segmento inferior, a GM optou por uma dotação superior de equipamentos para o Vectra. A versão GT vinha de série com bolsas infláveis frontais, rodas de alumínio de 16 pol com pneus de medida 205/55, controle elétrico dos vidros/travas/retrovisores com função um-toque para todas as janelas, alarme com ultrassom e controle remoto, direção assistida, ajuste de altura e distância do volante, banco traseiro bipartido com cintos de três pontos para os três passageiros, ar-condicionado com controle automático e faróis de neblina. Os únicos opcionais eram o câmbio automático (que agregava controlador de velocidade), sistema antitravamento dos freios (ABS) e limpador de para-brisa automático.
Já a versão GT-X adicionava revestimento dos bancos e volante em couro, rodas de 17 pol com pneus 215/45, rádio/toca-CDs/MP3 com controle remoto no volante, computador de bordo, ajuste de apoio lombar para o motorista, controlador de velocidade mesmo com câmbio manual e retrovisores com rebatimento elétrico ao travar o carro. O câmbio automático era o único opcional. Não eram oferecidos teto solar ou bolsas infláveis laterais, presentes até mesmo no antigo Astra em outros tempos.
O Astra europeu oferecia um moderno motor Ecotec, mais econômico e com melhor desempenho que o do GM Família II adotado no Brasil: a única justificativa para a marca não adotar o motor europeu seria mesmo o custo
A GM anunciava uma primazia para o Vectra hatch: ser o primeiro carro nacional a vir de série com navegador GPS (sistema de posicionamento global via satélite) em qualquer uma das versões. Mas não se tratava de um sistema integrado ao painel e sim de um aparelho portátil, fixado ao para-brisa com ventosa, que parecia mais um improviso ou brinde de lançamento — visto que logo o equipamento deixou de ser oferecido.
Além da traseira mais curta, o Vectra hatch diferenciava-se da versão sedã pelo entre-eixos de 2,61 m, idêntico ao do Astra (nos sedã foi usada a medida da Zafira, de 2,70 m), e pelas portas traseiras menores. O espaço interno não foi tão prejudicado no banco traseiro, mas o porta-malas teve o volume bem reduzido: comportava apenas 345 litros, 25 a menos do que o do Astra hatch.
A opção GT-X acrescentava rodas 17, bancos de couro e computador de bordo;
ambas usavam o motor de 2,0 litros com câmbio manual ou automático
O Astra europeu oferecia um moderno motor Ecotec, mais econômico e com melhor desempenho que o do GM Família II adotado no Brasil — robusto e confiável, mas defasado. A única justificativa para a marca não adotar o motor europeu seria mesmo o custo, em que pese o segmento superior que o modelo representava na marca. A suspensão era similar à do sedã, embora com calibração específica, e o sistema de freios só contava com discos nas rodas traseiras quando equipado com ABS. O tanque de combustível levava apenas 52 litros.
Em março de 2009 foi feita a única revisão estética da curta vida do modelo. Anunciado como Remix e oferecido nas mesmas versões, o Vectra sofreu uma modificação na parte frontal, abrangendo para-choque, capô, faróis e grade. Nas laterais, frisos cromados foram aplicados na porção inferior dos vidros e os repetidores laterais de luzes de direção, antes localizados nos para-lamas, passaram aos retrovisores. A traseira não recebeu nenhuma modificação, mas o hatch perdeu o navegador de série. Os pacotes de equipamentos permaneciam.
Por dentro foram criados novos porta-objetos, os instrumentos do painel receberam novos grafismos e o sistema de áudio recebeu entrada para cartão de memória e para Ipod, além de interface Bluetooth para telefone celular — opcional no GT e de série no GT-X. Uma das maiores novidades estava na parte mecânica. O antigo motor de 2,0 litros teve revistos central eletrônica, trem de válvulas, coletor de admissão (agora em material plástico) e coletor de escapamento (em aço inox). As modificações deixaram o motor mais potente, com 133/140 cv, e mais econômico de acordo com o fabricante.
Após essas alterações o Vectra hatch teve poucas novidades a mais: a linha 2011 passou a trazer rodas de 17 pol, computador de bordo e controles de áudio no volante também para o GT. No mesmo ano ele saía de produção, abrindo caminho para o lançamento do Cruze hatch. Como foi um modelo de vida curta e que nunca atingiu mais do que a metade do volume de vendas de seu antecessor — o Astra, que continuou em produção por mais dois meses —, o Vectra teve uma desvalorização considerável. Hoje, no mercado de usados, torna-se uma opção interessante para quem busca um carro bem-equipado, confiável e de manutenção fácil e não se importa de ter um modelo fora de linha.
O interior repetia o do Vectra sedã com uma novidade: navegador por GPS portátil
“Confortável e confiável”
Confiabilidade, robustez, desempenho e estabilidade são as principais impressões que os proprietários do Vectra hatch declaram sobre seus carros. O baixo custo de manutenção, propiciado pela mecânica vastamente conhecida, também foi destacado.
Tiago A. S. de Paiva, de Belo Horizonte, MG, opina: “Carro muito confortável e confiável, com propulsor de excelente desempenho. O carro me atende muito bem. Possui muita estabilidade em curvas. Econômico ao considerarmos que é um 2.0 (o meu está fazendo 10 km/l na gasolina). Estilo jovial e moderno, fiel à proposta do carro. O sistema de som é de excelente qualidade”. Ele possui um Vectra hatch GT 2,0 2009.
Como foi um modelo de vida curta e que nunca atingiu mais do que a metade do volume de vendas de seu antecessor — o Astra —, o Vectra teve uma desvalorização considerável
“Em primeiro lugar destaco o desenho. É um carro que chama atenção por onde passa e vem com um bom pacote de itens de série. O acabamento interno é bom, mas podia ser melhor com materiais mais modernos. Os bancos são muito bons, mas o espaço no banco traseiro é razoável. O conjunto motor-câmbio traz ótimos resultados para quem não anda o tempo inteiro ‘pilotando’ o carro. A suavidade do câmbio automático merece destaque. O nível de ruído interno é baixíssimo e o carro é muito estável, consequência dos largos pneus e do acerto esportivo da suspensão”, enumera Lauro Dela Libera, de São Paulo, SP, dono de um Vectra hatch GT-X 2,0 automático 2007.
Quem também o elogia é Daniel J., que roda por Jundiaí com um Vectra hatch GT-X 2,0 2010: “O principal aspecto positivo é o estilo. O carro faz curvas muito bem. Compacto por fora e espaçoso por dentro, possui também bom porta-malas. Os equipamentos são legais (fecha vidros automaticamente na chave, porta-luvas é refrigerado, tem luz indicadora nas portas à noite, luz no porta-malas, encosto de braço traseiro, interface Bluetooth). De tão silencioso e estável, não aparenta quando está em altas velocidades. O motor é muito bom, mas a quinta marcha não tem força nenhuma. No GT-X o interior é realmente aconchegante e bonito, me surpreendeu. O motor 2.0 arranca de verdade, mas achei o Civic mais silencioso”.
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