Carro de entrada pelo mundo e com imagem de luxo aqui, o
sedã oferece confiabilidade, mas obtém baixa satisfação
Texto: Luiz Fernando Wernz – Fotos: Fabrício Samahá (versão DX) e divulgação
O Honda City surgiu muito antes do que muitos brasileiros pensam. Com a primeira geração lançada em 1981, era oferecido nos mercados japonês e europeu como uma opção de subcompacto econômico, destinado ao uso urbano — por isso o nome City, cidade em inglês. Em 1994, já na segunda geração, foi tirado de linha, mas o nome voltou em 1996 com o perfil que tem até hoje; um sedã compacto de quarto portas, feito sobre a plataforma global de carros pequenos da Honda (leia história).
O perfil do histórico acima sugere um carro simples, barato, econômico e racional. Mas não foi essa a abordagem dada ao City pela Honda ao fabricá-lo no Brasil, de agosto de 2009 em diante, já como modelo 2010. Apesar da recusa de tratá-lo como um “míni-Civic” ou “Fit sedã”, ela buscou uma imagem refinada a um modelo que nasceu como opção de entrada. Ele impressionou bem quanto ao estilo, parecido com o do Civic, e compartilhava muitos componentes com o hatch. De imediato, agradou pelo espaço interno e pelo bom porta-malas com capacidade para 506 litros.
De início, eram oferecidas três versões de acabamento. A LX contava de série com ar-condicionado, direção com assistência elétrica, bolsas infláveis frontais, rodas de alumínio de 15 pol com pneus de medida 175/65, rádio com CD/MP3 e entradas USB e auxiliar para mídia externa, volante regulável em altura e distância e controle elétrico dos vidros, travas (com comando a distância) e retrovisores.
Acabamento mais simples, rodas de 15 pol e freios sem ABS vinham no City LX, a
versão de entrada, mas o motor de 1,5 litro e 116 cv era o mesmo do resto da linha
A intermediária EX adicionava rodas de 16 pol com pneus 185/55, freios a disco nas quatro rodas com sistema antitravamento (ABS) e distribuição eletrônica entre os eixos (EBD), ar-condicionado com controle automático de temperatura, controlador de velocidade, retrovisores com luzes indicativas de direção e comandos do sistema de áudio no volante. A versão de topo, EXL, incluía revestimento de couro nos bancos, faróis de neblina e, se equipada com câmbio automático de cinco marchas (um opcional para todas as versões), abas do tipo borboleta no volante para trocas manuais de marcha.
Em qualquer uma delas estava o mesmo motor do Honda Fit, flexível de 1,5 litro e 16 válvulas, com comando variável i-VTEC e potência de 115 cv (gasolina) ou 116 cv (álcool). O desenho do City agradou — para o que contribuiu o fato de ter “nascido” como sedã, sem representar a adaptação de um terceiro volume ao modelo hatch. Em relação ao Fit, trazia maior distância entre eixos e menor altura, além de meio metro adicional em comprimento.
O interior era simples, com um painel de instrumentos de visual pouco inspirado, com iluminação alaranjada. O computador de bordo indicava apenas o consumo médio e a autonomia do diminuto tanque, de apenas 42 litros de capacidade. Mas havia bom espaço aos passageiros e a possibilidade de reclinar em 8° o encosto do banco traseiro, para mais conforto em viagens. Todos tinham cintos de segurança retráteis de três pontos.
O EX vinha com ABS, controlador de velocidade e ar-condicionado automático; em
qualquer versão estava disponível o câmbio automático de cinco marchas
Apesar de suas qualidades, havia discrepâncias em um veículo que, à época do lançamento, podia custar mais de R$ 70.000 — patamar muito superior ao adotado em outros mercados, onde o City é um carro de entrada. Exemplos eram os faróis de refletor simples e o nível de ruído interno elevado, destacado nas avaliações do Best Cars. Também os barulhos de rodagem invadiam a cabine, indicação de tratamento acústico inadequado. A suspensão de acerto mais firme, característica da marca, se traduzia em bom comportamento dinâmico em detrimento do conforto de rodagem.
Um ano depois do lançamento era lançada uma versão ainda mais simples do City, a DX, que perdia o sistema de áudio e vinha com revestimentos internos simplificados. Ainda era oferecido como opcional o câmbio automático. Em abril de 2012 chegou, um tanto quanto adiantada, sua linha 2013. Os retoques visuais passavam por novas grade, lanternas traseiras e para-choques. Por dentro mudaram apenas os instrumentos do painel, com nova grafia e iluminação branca e azul.
Os pacotes dos equipamentos receberam adições: nas versões LX e EX, sensores de estacionamento na traseira; na LX, freios ABS; na EX, bancos de couro e abas no volante para trocas manuais de marcha. A versão EXL saía de produção, a DX deixava de oferecer o câmbio automático e a EX só era vendida com o manual sob encomenda. O tanque de combustível aumentava para 47 litros.
Bancos de couro, faróis de neblina e comandos no volante para trocas manuais
de marcha: as diferenças do City EXL, o topo de linha, para as demais opções
“Econômico e confortável”
Os destaques do Honda City, na opinião dos proprietários que participaram do Teste do Leitor do Best Cars, estão no espaço interno e no consumo, ao lado de confiabilidade e robustez, como costuma acontecer com veículos da marca.
Neyton Prado Júnior roda por Guarulhos, SP, com um City EX automático 2010 e elogia: “Conforto é o principal ponto positivo. Espaço aproveitado de maneira inteligente com porta-objetos para todos os ocupantes. Você pode regular o banco dianteiro todo pra trás e ainda ter espaço de sobra no banco traseiro. O consumo é adequado (9,2 km/l cidade e 10,2 km/l estrada, ambos com álcool). Bom silêncio ao rodar e câmbio automático com trocas suaves e reduções rápidas quando maior torque é solicitado. Estilo agradável, chamando a atenção por onde passa sem ser ‘visado’. O seguro é barato e tem bom nível de equipamentos de série”.
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Sem sistema de áudio e mais simples nos revestimentos, o DX aparecia como
versão mais em conta; bolsas infláveis frontais permaneciam itens de série
“O tamanho do carro e o conforto proporcionado são excelentes. A economia (com gasolina, média de 11 km/l em uso misto cidade/estrada) e as belas linhas também são elogiáveis, além dos três anos de garantia. Também destaco o amplo espaço no banco traseiro e a ergonomia nos comandos — os do som e do piloto automático no volante são sensacionais”, enumera Joni Roberto Maron, de Porto Alegre, RS, também dono de um City EX automático 2010.
Outro proprietário muito satisfeito é Renato Sobrinho Meneses Dantas, de Belo Horizonte, MG: “O motor e a transmissão automática movimentam o City numa boa. Não é arisco, mas dá conta do recado. A 120 km/h está em apenas 2.500 rpm. No trânsito, o City transmite para o habitáculo mais ondulações do asfalto em comparação com o Polo sedã. Mas o principal ponto positivo é a confiança que os automóveis da Honda transmitem ao proprietário”. Seu carro é um LX automático 2010.
Em que pese as qualidades, o Honda City foi o primeiro caso do Guia de Compra em que o grau de satisfação com a rede de concessionárias foi superior ao dos proprietários com o carro. Isso aponta um bom serviço da rede de assistência, mas também uma relação custo-benefício pouco vantajosa e a ocorrência de pontos negativos relevantes.
O modelo 2013 trouxe as únicas mudanças do City até agora: retoques na
aparência, novos itens de série e aumento do tanque de combustível
“O barulho das rodas, barulho do motor gritando a 3.000 rpm (a 100 km/h já é muito alto), não ser possível subir os vidros pelo alarme, o plástico duro das portas, a suspensão muito dura e a sensação de flutuação em alta velocidade em linha reta são os pontos críticos do carro. A Honda errou feio ao economizar em materiais fonoabsorventes. O motor em si, é muito bom para um 1.5. Não é a toa que o City não seja vendido na Europa nem nos EUA: seria um fracasso descomunal. Se quer um carro para cidade, serve. Para estrada, fuja dele, a não ser que não se importe em ter como companhia o urrar de um leão ou andar a menos de 100 km/h”, desabafa Armando dos Santos Maia, do Rio de Janeiro, RJ, dono de um City LX manual 2010.
Milton Ferrari Filho roda por Cachoeiro de Itapemirim, ES, com outro LX manual 2010 e não está satisfeito: “O carro não consegue esconder que é um projeto adaptado. Algumas coisas são ridiculamente malfeitas: a ergonomia é horrível; para reclinar o banco do motorista tem que fazer contorcionismos. A suspensão não é confortável e nem dá estabilidade, chegando facilmente no fim do curso. Além disso, tem comportamento perigoso em curvas mais rápidas. O passageiro do banco traseiro esbarra a cabeça no teto e o acabamento, em alguns aspectos, é digno de um carro chinês. Usaram tecido nos forros das portas e apoio de braço, mas sem espuma entre o tecido e o plástico. A tampa do porta-malas, sem revestimento algum, parece com a de um popular de quinta categoria”.
Outro que lamenta vários aspectos é Eduardo Sabedotti Breda, de Curitiba, PR, sobre o City EX automático 2010 de sua esposa. “Como tenho um Siena ELX 1.4, fica fácil comparar os carros. O City não vale o preço cobrado. É ridículo não ter luz no porta-luvas ou nas teclas dos vidros; os vidros não sobem automaticamente; o ABS só vem na versão EX e os faróis de neblina só na EXL. Os faróis são sofríveis. Pneus de série 55 deixam o carro muito duro, inadequado para as ruas. O consumo é ruim com câmbio automático, que parece não conversar com o motor. Troca demais de marcha, gira muito alto em subidas. Esperava muito mais. Uma série de detalhes fazem o comprador sentir-se lesado pelo preço”.
Para-choques, grade e lanternas traseiras foram alterados; com a extinção da
versão EXL, a EX (fotos) ganhou bancos de couro e marchas no volante
Um ponto a favor do City é a baixa ocorrência de defeitos: nenhum assumiu proporções relevantes entre os leitores que opinaram. Alguns itens relatados são ruídos no banco traseiro e na chave das luzes de direção, suspensão ruidosa e perda de potência com falhas intermitentes.
Contudo, os aspectos negativos apontados deixam esse Honda com um dos piores índices de satisfação registrados no Guia de Compra desde a nova fase da seção. Apenas 47,4% dos donos dizem-se muito satisfeitos, contra 90,9% no Hyundai I-30, 90,5% no Renault Fluence, 85% no Fiat Linea, 84,6% no Kia Cerato, 82,6% no Nissan Sentra, 76,6% no Ford Focus (hatch e sedã) e 70,8% no Chevrolet Vectra sedã. Embora alguns desses carros sejam maiores que o City, todos oferecem ou ofereciam versões em faixas de preço compatíveis com as dele.
Já a rede de concessionárias Honda obteve muita satisfação de 68,4% dos participantes, percentual mais alto que as redes que atendem a Fluence (52,4%), Focus (50%), Cerato (48,1%), Sentra (42,7%), Vectra (39,7%) e I-30 (31,8%), embora inferior à do Linea (72,5%). Apesar das deficiências, o City é um carro bem aceito e com alta liquidez de mercado, o que pode ser um elemento decisivo para muitos que estudam sua compra.
Veja opiniões de proprietários | Opine sobre seu carro |
Custos de manutenção
Concessionária | Mercado paralelo | |
Disco de freio (par) | R$ 390 | R$ 160 |
Pastilhas de freio dianteiras (par) | R$ 265 | R$ 65 |
Amortecedores (jogo de 4) | R$ 1.050 | R$ 925 |
Pneus (Pirelli Cinturato P4, 175/65 R 15, cada) | R$ 300 | |
Para-lama dianteiro (cada) | R$ 390 | R$ 300 |
Para-choque dianteiro | R$ 805 | R$ 175 |
Farol (cada) | R$ 810 | R$ 250 |
Mão de obra (hora) | R$ 160 | – |
Preços médios para City LX automático 2010 obtidos pelo Sistema Audatex (concessionária) e lojas de autopeças em pesquisa em nov/12; não envolvem instalação e pintura quando cabível |
Cotações de seguro
Custo médio | Franquia média | |
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Perfil de alto risco | R$ 13.410 | R$ 3.325 |
Perfil de médio risco | R$ 2.270 | R$ 3.100 |
Perfil de baixo risco | R$ 1.420 | R$ 2.870 |
Custos médios obtidos em pesquisa da Depto Corretora de Seguros em nov/12; conheça os perfis |
Satisfação dos proprietários
Com o carro | Com as concessionárias | |
Muito satisfeitos | 47,4% | 68,4% |
Parcialmente satisfeitos | 42,1% | 31,6% |
Insatisfeitos | 10,5% | 0% |
Não utilizam | – | 0% |
Estatística obtida no Teste do Leitor com 19 proprietários até nov/12 |
Compare as versões
Versão | Faixa de preço | Anos-modelo disponíveis |
City LX 1,5 Flex 16V manual | R$ 39.580 a R$ 46.135 | 2010 a 2013 |
City LX 1,5 Flex 16V aut. | R$ 42.710 a R$ 49.560 | 2010 a 2013 |
City EX 1,5 Flex 16V manual | R$ 42.230 a R$ 50.610 | 2010 a 2013 |
City EX 1,5 Flex 16V aut. | R$ 44.810 a R$ 55.265 | 2010 a 2013 |
City EXL 1,5 Flex 16V manual | R$ 44.784 a R$ 47.100 | 2010 e 2011 |
City EXL 1,5 Flex 16V aut. | R$ 48.855 a R$ 55.460 | 2010 a 2012 |
City DX 1,5 Flex 16V manual | R$ 40.370 a R$ 44.740 | 2011 a 2013 |
City DX 1,5 Flex 16V aut. | R$ 43.450 a R$ 44.935 | 2011 e 2012 |
Preços fornecidos pela FIPE e válidos para nov/12 | ||
Combustível | Potência | Torque |
Gas. | 115 cv | 14,8 m.kgf |
Álc. | 116 cv | 14,8 m.kgf |
Dados do fabricante, válidos para todas as versões |