Embora o hábito da marca fosse omitir a potência dos motores, na Alemanha era ela
informada; lá o Turbo R surgiu com 298 cv e passou a 355 cv com as evoluções de 1994
Outra revista, a Car, colocou o Turbo R diante de BMW 750iL, Jaguar Sovereign V12 e o 560 SEL. “O Bentley é o mais aristocrático do grupo, tem verdadeira presença na estrada. O interior é maravilhoso para alguns, embora o arranjo impensado dos comandos possa incomodar. Não é particularmente espaçoso para um carro com cerca de 5,20 metros de comprimento. O comportamento é surpreendente, com direção precisa. O grande motor V8 turbo fornece um surto massivo, com excelente resposta ao acelerador. É o carro mais rápido para acelerar até 96 km/h. Apesar de sua aerodinâmica, é muito silencioso em alta velocidade”, analisou a publicação.
E qual deles era o melhor? “Parece que é o BMW, o mais veloz, de melhor comportamento e mais equipado do grupo, mas falta ao V12 um empurrão em média rotação. O Mercedes simplesmente não tem apelo suficiente ao motorista, o que deixa o Bentley e o Jaguar. Os britânicos oferecem algo crucial para muitos entusiastas e que o carro de Munique praticamente não tem: caráter — uma identidade única, distinta e a habilidade de fazer de cada viagem uma ocasião desfrutável”.
De volta à América
Apesar da importância do Turbo R como carro de imagem e como diferenciação da marca para a Rolls-Royce, a Bentley não esqueceu o Mulsanne e sua versão simplificada, o Eight. O carburador tornava-se passado em seu modelo 1987, que adotava injeção também para o mercado europeu, passando a 238 cv, e recebia freios ABS como padrão. Surgia no mesmo ano a versão S, dotada de calibração mais firme para a suspensão, rodas de alumínio — usadas pela primeira vez no modelo — e detalhes internos cedidos pelo Turbo R. Uma pequena parcela desses Mulsannes foi produzida com o entre-eixos 10 cm mais longo.
O Mulsanne 1987 adotava a injeção em definitivo e lançava a versão S; também com
um nome das pistas, o Brooklands substituía o Eight e o Mulsanne em 1992
Em novembro daquele ano a Bentley era relançada nos EUA como marca independente: até então seus carros estavam disponíveis apenas sob encomenda nas concessionárias da Rolls-Royce — uma grande limitação para a empresa, já que a RR tinha no norte-americano seu principal mercado. O uso de injeção em toda a linha foi fundamental para isso, pois agora os motores atendiam aos limites de emissões poluentes mais severos do país de Tio Sam.
A série especial RT Mulliner trazia motor com 420 cv, para-choques mais arredondados, rodas de 18 pol com pneus 255/55 e bitolas mais largas
A limitação de velocidade deixava de existir para os modelos em 1989, o que permitia ao Turbo R alcançar 235 km/h. Faróis circulares duplos substituíam as unidades simples e retangulares, criando uma identificação mais clara em relação aos similares da Rolls, e os carros vendidos nos EUA traziam bolsas infláveis frontais. Para 1990 a central eletrônica do Turbo R integrava injeção e ignição, sem alterar a potência, e todos os modelos recebiam controle eletrônico dos amortecedores com três modos de uso, do mais macio ao esportivo. Dois anos após, a caixa automática desse modelo dava lugar a uma de quatro marchas com controle eletrônico, também fornecida pela GM, dotada de três programas de funcionamento — econômico, esportivo e de inverno, para pisos de baixa aderência.
Em setembro do mesmo 1992 o Mulsanne e o Eight cediam lugar ao Brooklands, praticamente o mesmo carro com conotação mais esportiva e o nome do circuito inglês no qual a Bentley quebrou recordes de velocidade na década de 1930. Entre as alterações estavam painel e console atualizados e alavanca de câmbio no console, mudança extensiva ao Turbo R. As duas versões de entre-eixos eram mantidas. Em 1993 o Turbo R recebia pneus 255/60 R 16.
O Turbo RT levava a 400 cv a potência do motor V8; oferecido apenas com o
entre-eixos longo, trazia a grade dianteira em tela e novos para-choques
Uma evolução do Turbo R era apresentada em 1994, com novidades como tomadas de ar sob o para-choque dianteiro e rodas de 17 pol com pneus 255/55. A potência aumentava para 355 cv, elevando a velocidade máxima para 250 km/h. Outra novidade do ano era o Turbo S, voltado a alguns mercados europeus, asiáticos e do Oriente Médio, com alterações no resfriador de ar, no sistema de admissão e na central eletrônica para potência superior, estimada em 430 cv. Um diferencial autobloqueante era aplicado. Só 60 desses carros, capazes de fazer o 0-96 em 5,8 segundos, saíram da fábrica entre 1994 e 1995.
Mais tarde, em 1996, o Brooklands R buscava um tempero mais esportivo para o sedã ao usar um turbo de baixa pressão no motor V8, que ficava com 300 cv e o levava à máxima de 225 km/h. Rodas e pneus tinham as medidas do Turbo R e o entre-eixos longo ainda estava disponível. Parte desses carros saiu com especificação Mulliner, que permitia personalizar o interior conforme as preferências do cliente.
Na linha Turbo R, a novidade era a série Sport, limitada a 30 exemplares, com conteúdos que acrescentavam tecnologia ao sedã de linhas tradicionais. Tração e suspensão contavam com controle eletrônico, o painel trazia um navegador por GPS e os freios estavam mais potentes. No acabamento interno, um padrão de fibra de carbono era alternativa à clássica madeira. Toda a linha ganhava janelas dianteiras sem quebra-ventos e tinha os retrovisores reposicionados.
Se o RT não fosse exclusivo o bastante, havia a alternativa da série Mulliner, de 1998,
com motor de 420 cv, rodas de 18 pol e acabamento interno ao gosto do cliente
Uma nova fase com a denominação Turbo RT vinha em 1998. As alterações visuais, sempre sutis, passavam por grade dianteira em forma de tela, para-choques redesenhados e pintados na cor da carroceria e rodas de cinco raios. O motor V8 ganhava potência e torque, passando a 400 cv e 81,6 m.kgf com as mesmas evoluções aplicadas ao cupê Continental T, o que se traduzia em aceleração de 0 a 96 em 6 segundos (a máxima mantinha-se em 250 km/h). Oferecido apenas com o entre-eixos longo, o RT ganhou ainda uma edição limitada que acentuou seu caráter de exclusividade: a Mulliner.
Disponível só no modelo 1998, a série trazia motor com 420 cv e 87,7 m.kgf, aumento obtido por um novo turbo e alterações na admissão, e diferenças externas como para-choques mais arredondados, faróis de neblina, para-lamas alargados, rodas de 18 pol com pneus 255/55 e bitolas também mais largas. O interior vinha com acabamento ao gosto do comprador, que podia optar ainda por um velocímetro para os passageiros do banco traseiro e vidro traseiro menor. Foram feitas 56 unidades do Mulliner, sendo 49 com o maior entre-eixos. Outra edição especial do RT, de apenas quatro exemplares, foi a Olympian. Feita sob encomenda para o concessionário Jack Barclay de Londres, vinha com rodas esportivas e vidro traseiro menor.
O Brooklands deixava o mercado em 1998, abrindo caminho para o Arnage que, por decisão da nova proprietária da marca — a Vickers —, usaria motor BMW V8 em vez do clássico 6,75-litros. O Turbo RT ficou em produção por mais um ano. A linhagem SZ da Bentley mostrou a que veio: com 10.078 unidades produzidas com entre-eixos normal e 1.832 com o longo, a marca passou da ínfima participação de 5% para 80%, deixando a Rolls-Royce em segundo plano. Mais que isso, fez do Turbo R um carro desejado até mesmo pelos que nunca se haviam imaginado ao volante dos aristocráticos sedãs britânicos.
Mulsanne e Brooklands, de volta
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Vez em outra, sobretudo em marcas de longa tradição como a Bentley, nomes de modelos do passado retornam ao mercado em novos produtos. É o que aconteceu com dois dos automóveis da série SZ. O primeiro foi o Brooklands, que renasceu em 2007 como um cupê de luxo derivado do sedã Arnage. De linhas conservadoras, usava um motor V8 de 6,75 litros como nos velhos tempos, só que com técnicas modernas, turbo e 530 cv. Dois anos depois, enquanto o Brooklands saía de produção, ressurgia o Mulsanne como sucessor do Arnage, com direito a uma versão Mulliner três anos mais tarde. Nele o V8 de 6,75 litros fornecia 505 cv.
Ficha técnica
Mulsanne (1981) |
Turbo R (1985) |
Turbo RT (1997) |
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MOTOR | |||
Posição e cilindros | longitudinal, 8 em V | ||
Comando e válvulas por cilindro | no bloco, 2 | ||
Diâmetro e curso | 104,1 x 99,1 mm | ||
Cilindrada | 6.750 cm³ | ||
Taxa de compressão | 8:1 | ||
Potência máxima | 198 cv a 4.000 rpm | 328 cv a 4.000 rpm | 420 cv a 4.000 rpm |
Torque máximo | ND | 89,9 m.kgf a 2.100 rpm | |
Alimentação | 2 carburadores | injeção multiponto, turbocompressor, resfriador de ar | |
TRANSMISSÃO | |||
Tipo de câmbio e marchas | automático, 3 | automático, 4 | |
Tração | traseira | ||
FREIOS | |||
Dianteiros | a disco ventilado | ||
Traseiros | a disco | ||
Antitravamento (ABS) | não | sim | |
SUSPENSÃO | |||
Dianteira | independente, braços sobrepostos | ||
Traseira | independente, braço semiarrastado | ||
RODAS | |||
Pneus | 235/70 R 15 | 255/65 R 15 | 255/55 R 17 |
DIMENSÕES | |||
Comprimento | 5,31 m | 5,29 m | 5,39 m |
Entre-eixos | 3,06 m | 3,16 m | |
Peso | 2.245 kg | 2.390 kg | 2.470 kg |
DESEMPENHO | |||
Velocidade máxima | 185 km/h | 225 km/h | 242 km/h |
Aceleração de 0 a 96 km/h | 10,5 s | 7,0 s | 6,0 s |
Dados do fabricante; ND = não disponível |