Vidro traseiro menor e o adorno das antigas carruagens distinguiam o LTD Landau; as lanternas traseiras mudavam para 1971
O sofisticado Landau
A Ford apontava para o caminho oposto, o do requinte, com o LTD Landau em 1971. A palavra de origem francesa identificava antigas carruagens cujo teto podia ser recolhido metade para frente e metade para trás, usando uma dobradiça central em forma de “S”. No caso do sedã Ford não havia capota conversível, mas um adorno nas colunas traseiras simulava tal dobradiça.
Além desses e de outros adornos, o Landau trazia um vidro traseiro reduzido, para tornar o interior mais privado e aconchegante; calotas raiadas, também inspiradas em carruagens; revestimento da capota em vinil corrugado, por fora, e material aveludado, por dentro; e revestimento dos bancos em couro ou em jérsei. Havia luzes de leitura na traseira, controladas pelo motorista, e dois alto-falantes em vez de um só. A transmissão podia ser manual ou automática. O ar-condicionado era o único outro opcional.
A linha recebia opção de freios dianteiros a disco para 1972 e o Landau podia ter o teto na cor areia; embaixo, LTD e Galaxie 500
Ainda no modelo 1971, as lanternas traseiras passavam a ter três elementos verticais em cada lado, mantendo o formato do conjunto, e surgia um escudo como adorno na tampa do porta-malas. Os freios do Landau traziam assistência e em todas as versões eram aprimorados, mantendo os tambores: só em 1972 surgia a opção pelos dianteiros a disco. Esse ano-modelo vinha também com opção de teto na cor areia para o Landau, aquecimento interno e lampejador de farol alto na alavanca das luzes de direção.
No teste do LTD Laudau 1972, a Quatro Rodas destacou novamente o conforto: “O molejo macio, o silêncio e o bom estofamento tornam o LTD o carro mais confortável fabricado o Brasil, comparável aos melhores carros de luxo do mundo. A qualidade do material de acabamento é um dos pontos altos. É o carro nacional mais silencioso que testamos — nem o ruído do motor é ouvido. A direção pode ser controlada com um dedo só, e é precisa em alta velocidade”.
Com caixa manual, o carro acelerou de 0 a 100 km/h em 14,4 segundos e alcançou a máxima de 157 km/h, despertando nova cobrança: “Um carro com quase duas toneladas deveria ter um motor mais possante. O LTD apresenta um desempenho modesto, faltando força nas arrancadas e subidas. Em média, faz de 3 a 6 km/l, coerente com a cilindrada e o tamanho do carro”.
Grade protuberante no centro, ressalto no capô e traseira remodelada para 1973; o LTD Landau ganhava um adorno sobre o capô
Alterações visuais davam um ar mais atual à linha Galaxie em 1973. O capô recebia um ressalto na parte central, que combinava com a seção mais protuberante da nova grade dianteira. As luzes de direção vinham na grade e, no caso do LTD Landau, faziam parte de seções retangulares na cor da carroceria, o que diferenciava melhor o topo de linha. Sobre o capô dessa versão aparecia um adorno igual ao emblema da Lincoln, divisão da Ford norte-americana, só que posicionado na horizontal.
O novo motor 302, importado do Canadá e o mesmo do Maverick, não era apenas outro aumento de cilindrada: tinha projeto mais moderno e peso 64 kg menor que o do anterior
Os novos para-lamas, que mostravam lanternas em forma de trapézio, deixavam a traseira mais plana e com sensação de maior largura. Luzes de ré vinham no para-choque. O adorno do capô estava também na tampa traseira do LTD.
Novo motor, estilo atualizado
A alta da gasolina que se seguiu trouxe dificuldade às vendas de carros grandes e de alto consumo, fazendo com que só em 1976 a Ford voltasse a efetuar modificações — as mais extensas desde seu lançamento. Os quatro faróis agora vinham em linha horizontal, com as luzes de direção nas extremidades onde antes eles ficavam, e podiam usar lâmpadas halógenas para melhor iluminação.
Faróis na horizontal marcavam a reestilização de 1976, a maior em sua história; o Landau vinha apenas em prata, incluindo o teto
A grade estava menor, com barras verticais (apenas o Galaxie 500 mantinha os frisos horizontais), e o para-choque dianteiro trazia a placa no lado esquerdo, pois na parte central havia uma tomada de ar para o radiador. Na traseira as lanternas eram conjuntos de três retângulos, com as luzes de ré ainda no para-choque, e todas as seis se acendiam, conferindo ar imponente à noite.
A versão de topo Landau, agora desmembrada do LTD, vinha em cor única prata Continental metálico com teto de vinil no mesmo tom. Contudo, a Ford atendia a pedidos de outras cores, como preto para autoridades governamentais. Suas calotas de aço inoxidável traziam no centro o símbolo da “mira” do capô. No interior, o painel dos três modelos usava novo material (plástico ABS), mais seguro em caso de colisões. O Landau ostentava tecido de alto padrão nos bancos, forro do teto em vinil prata, carpete espesso no assoalho e luzes de leitura nas colunas traseiras para os passageiros.
Todas traziam um novo motor, importado do Canadá e o mesmo do Maverick. Não era apenas outro aumento de cilindrada — agora 302 pol³ ou 4.949 cm³ —, mas um motor de projeto mais moderno, com 199 cv e 39,8 m.kgf e peso bem menor: 205 kg ante 269 kg do antigo 4,8-litros. Com caixa manual o Galaxie chegava a 160 km/h e acelerava de 0 a 100 em 13 segundos; com transmissão automática, 150 km/h e 15 segundos. O duplo circuito de freios trazia mais segurança.
No Galaxie a grade dianteira era mais simples, mas todos recebiam seis lanternas traseiras e o motor 302, mais leve e potente
A Quatro Rodas aprovou o novo motor no teste com ambas as transmissões: “Melhorou o desempenho tanto em velocidade máxima como em aceleração e retomada. Os carros conservaram a tradicional robustez, agora aliada a um desempenho mais adequado ao prestígio de que desfrutam. Mas ficaram pontos a serem revistos, a começar pelo superaquecimento do motor e a suspensão, que chega ao fim do curso mesmo sem o carro estar cheio”.
As novidades foram bem-recebidas pelo mercado: com 7.063 unidades fabricadas, 1976 foi o melhor ano da década para a linha Galaxie, atrás apenas dos totais de 1967 e 1968. Dali em diante houve poucas novidades. Em março de 1978 aparecia a série II daquele ano-modelo com para-brisa laminado (mais seguro em caso de quebra por não estilhaçar), volante de quatro raios, novo revestimento nos bancos, opção de faróis de iodo (em vez do tipo selado, sealed-beam, popularmente chamado de “silibim” no Brasil), pneus radiais (opcionais no 500) e temporizador do limpador de para-brisa.
Próxima parteNas pistas
Na época em que os últimos carros nacionais com motor V8 deixavam de ser produzidos, no começo da década de 1980, surgia uma categoria de competição para eles: a Turismo 5000. Na época, diante do alto preço da gasolina, tais modelos de alto consumo pouco valiam no mercado de carros usados — e a cultura de preservar o automóvel antigo levaria tempo a se espalhar pelo Brasil.
Os modelos da linha Dodge (como o Dart) e o Ford Maverick eram as escolhas mais comuns, por questão óbvia de tamanho e peso. Muitas vezes corria-se com um carro de uso diário sem qualquer preparação mecânica. Mas houve quem se interessasse em colocar nas pistas o Galaxie, como Luiz Francisco Baptista, preparador da oficina paulistana Agromotor (hoje Automotor).
Baptista descartou de um Landau tudo que pudesse para aliviar peso, incluindo as portas traseiras (restaram as folhas externas, soldadas à carroceria), para-choques, direção assistida (foi usada a caixa sem assistência do Galaxie básico), servo-freio e todas as forrações. De início o carro ganhou a grade dianteira mais leve do Galaxie 1967, depois trocada por uma simples abertura para o radiador. No interior, o grande banco inteiriço deu lugar ao assento de alumínio de um velho avião.
Como contou ao blog Cadastro Nacional do Galaxie, Baptista soldou a carroceria ao chassi, criando um monobloco. O fato peculiar é que a carroceria ficava mais para a esquerda, acentuando a distribuição de peso desse lado, ideal para o anel externo que só tinha curvas para a esquerda.
“O Galaxie ficou muito bom de correr graças à distribuição de pesos, distância entre eixos, bitola e as modificações de suspensão e da aerodinâmica. Também freava bem. Os freios traseiros, como em quase todos os participantes, eram a disco de Alfa Romeo 2300 com pinças de VW Brasília. Consegui deixar o Galaxie com menos de 1.200 kg: era mais leve que alguns Mavericks. Fizemos testes com motores 272 e 292. Finalmente colocamos o 302, o melhor de todos para competição”, relembra Baptista. Nas mãos de Denísio Casarini, o Landau preparado chegou a obter terceiro lugar em sua última prova.
Agradecimentos ao Cadastro Nacional do Galaxie
Carro de presidentes e de Papa
O Landau foi por muito tempo o preferido de autoridades governamentais. Em 1979, quando João Figueiredo era o presidente da República, a Ford adaptou o motor V8 para uso de álcool, novidade amplamente divulgada pela publicidade a favor do “combustível brasileiro”.
Mesmo após o encerramento de sua produção, a Presidência manteve em uso um modelo 1982 a álcool. Só em 1990, após longo tempo de serviço e em mau estado, ele foi substituído por um Lincoln Town Car, cedido em regime de comodato pela Ford ao então recém-empossado presidente Fernando Collor.
Landaus especiais serviram também ao Papa João Paulo II durante sua visita ao Brasil em 1980. Um sedã preto daquele ano recebeu quatro bancos individuais revestidos em cinza e grande teto solar na seção traseira do teto, para que o pontífice pudesse circular de pé à vista dos fiéis. Os outros dois carros usados no evento, também pretos, eram modelos 1976 e 1979, um deles com teto solar.