Suspensão mais firme, transmissão recalibrada, bancos especiais com cintos de quatro pontos: o 599 GTB ganhava em 2009 seu pacote HGTE
O Fiorano foi testado pela Evo: “O V12 tem um som glorioso e sua nota quando se afunda o acelerador é épica. Há um salto de potência a 3.000 rpm e outro a 5.500. O trabalho dos amortecedores mal é notado, como deve ser: rolagem e mergulho são amenizados, mas o 599 parece muito natural em uma série de curvas. Embora pareça tão pesado quando a balança acusa, é um carro tremendamente ágil”. A revista inglesa considerou-o “extraordinariamente executado: o teste provou que seu desempenho geral equivale-se ao do F40. Isso é sensacional diante de quão mais pesado ele é, mas seu motor é um dos melhores do mundo, associado à caixa automatizada mais impressionante que já experimentamos. Não há outro GT que chegue perto das habilidades do 599 nem da riqueza de sua experiência”.
A exemplo do 575M, o Fiorano recebeu seu pacote de comportamento dinâmico, dessa vez chamado de HGTE (Handling Gran Turismo Evoluzione, ou evolução). Lançado em março de 2009, compreendia molas e amortecedores mais firmes, estabilizador traseiro mais grosso e menor altura de rodagem. As trocas de marcha estavam mais rápidas e os pneus usavam composto de maior aderência em novas rodas de 20 pol. Mudavam também o silenciador e os bancos, com acabamento em couro e camurça sintética, parte traseira em fibra de carbono e cintos de quatro pontos integrados. O motor seguia inalterado.
Com mais 50 cv no motor de 6,0 litros e 85 kg a menos que o GTB, o 599 GTO acelerava à frente do supercarro Enzo e atingia 333 km/h
A Car and Driver comparou o 599 HGTE em 2010 ao Lexus LFA: “Em rodovia o Ferrari é mais refinado. A 130 km/h o V12 está calmo e o rodar é mais confortável que o do LFA, desde que o manettino esteja em um dos programas menos agressivos. Acelere e seu lado esportivo brilha. O V12 é magnífico, com fornecimento linear de potência; faz um empurrão imenso de 2.000 rpm ao limite de 8.400. Com o manettino em Race a resposta do acelerador é ainda mais precisa, mas gostaríamos de uma nota de escapamento mais alta a plena aceleração”. O 599 foi superior também transmissão e espaço de bagagem, mas perdeu em direção e estabilidade.
Mais potente que o Enzo, até então o supercarro de topo da marca, o 599 GTO superava-o em aceleração e no tempo de volta na pista de testes de Fiorano
A carismática sigla GTO (Gran Turismo Omologato, grã-turismo homologado para competição) retornava à Ferrari em abril de 2010. Mas dessa vez não era um carro com carroceria exclusiva, como o clássico 250 GTO dos anos 60 ou mesmo o 288 GTO dos 80, e sim uma versão mais potente para o 599 GTB Fiorano, capaz de superar em desempenho até mesmo o Enzo.
Com soluções da versão de corridas XX, o 599 GTO tinha o V12 de 6,0 litros revisto para 670 cv a 8.250 rpm e 63,2 m.kgf a 6.500 rpm (aumentos de 50 cv e 1,3 m.kgf sobre o GTB) com maior taxa de compressão, redução de atritos e novos sistemas de admissão e escapamento. Era 10 cv mais potente que o Enzo, até então o supercarro de topo da marca. Com peso de 1.605 kg (menos 85 kg que no GTB), o GTO acelerava de 0 a 100 km/h em 3,35 segundos e alcançava 335 km/h, o que o deixava entre o GTB (330 km/h e 3,7 s) e o Enzo (350 km/h e 3,65 s) em velocidade e à frente de ambos em aceleração.
Versão conversível do 599, o SA Aperta celebrava 80 anos do estúdio Pininfarina com uma série de 80 unidades, que usavam o motor do GTO
Não menos importante, o tempo de 1 min 24 s para a volta na pista de testes de Fiorano era melhor que o do próprio Enzo. Para identificar o GTO a Ferrari adotou defletores e tomadas de ar mais pronunciados, teto em fibra de carbono na cor natural negra e novas rodas forjadas de 20 pol com pneus Michelin Supersport. Os freios usavam discos de carbono-cerâmica de nova geração e pastilhas de cerâmica, inéditas em carros de rua; a suspensão foi revista e a transmissão automatizada fazia trocas ainda mais rápidas, em 60 milissegundos. A produção foi limitada a, curiosamente, 599 unidades.
“Qualquer um que pensar que essa máquina não merece seu nome deveria calar a boca, dirigir e então decidir”, desafiou a Evo. “A intenção foi extrair o máximo desempenho em circuito do 599, mas ainda com usabilidade suficiente para o carro ser prazeroso na rua. Na pista de Fiorano o carro é brutalmente rápido. Ele parece muito diferente do GTB, pois você pode chegar em muito maior velocidade às curvas e ainda se apoiar no eixo dianteiro. A tração é excelente, mas ainda é possível derreter os pneus com a eletrônica desativada”.
A revista também comparou-o ao Porsche 911 GT2 RS: “O GTO é bem maior que o 911 e mais de 200 kg mais pesado. Assim, há sempre uma sensação de inércia no Ferrari. Não é preguiça — o carro é preciso demais para que seja o caso —, mas múltiplas mudanças de direção requerem que o motorista realmente pense adiante. Embora o GTO tenha distribuição de peso perfeita, não se pode usar toda sua potência na saída da curva do modo que o Porsche permite. O motor é simplesmente sensacional: um instrumento musical com propulsão linear de 2.000 a 8.500 rpm. O do Porsche é certamente mais efetivo, mas é apenas um mecanismo sem nome depois do V12”.
Com a edição 60F1, derivada do 599 HGTE com decoração específica, a Ferrari marcava os 60 anos de sua primeira vitória na Fórmula 1
Como ocorreu com 550 e 575M, o 599 GTB Fiorano ganhou uma versão conversível. No Salão de Paris em setembro de 2010 aparecia o 599 SA Aperta (aberta), restrito a 80 unidades em alusão aos 80 anos da parceira de longa data Pininfarina. A sigla SA referia-se a pai e filho que comandaram o estúdio, Sergio e Andrea Pininfarina. Ao perder o teto rígido, o 599 recebeu para-brisa mais inclinado e domos nas laterais atrás dos bancos no mesmo tom prata da armação daquele vidro. A capota de lona removível serviria, segundo a Ferrari, apenas a dias com tempo realmente ruim. O motor era o V12 de 6,0 litros e 670 cv do 599 GTO.
A edição especial 60F1 do 599 GTB Fiorano, em dezembro de 2011, celebrava os 60 anos desde a primeira vitória da marca na Fórmula 1 no GP da Inglaterra de 1951. Trazia os itens do pacote HGTE, tampa do tanque em alumínio e três opções de decoração, todas com o vermelho como cor predominante. No interior os bancos Recaro podiam ter cintos de três ou quatro pontos e o acabamento usava camurça sintética. Não poderia faltar uma plaqueta comemorativa.
Próxima parte
Os especiais de fábrica
Marcas como a Ferrari têm clientes exigentes e endinheirados, que não medem esforços (e verbas) para ter um carro exclusivo. Foi o que levou a fábrica a fazer em 2009 o P540 Superfast Aperta, um 599 GTB conversível em exemplar único, feito dentro do programa Special Projects um ano antes do SA Aperta de série. Inspirado em um modelo desenhado pela Carrozzeria Fantuzzi para o filme Toby Dammit, de Felini, lançado em 1968, o carro destinava-se a Edward Walson (filho de John Walson, o inventor da TV a cabo), que participou de todas as fases do projeto. Desenhado por Pininfarina, o P540 recebeu amplo reforço estrutural e uso mais extenso de fibra de carbono, o que permitiu até reduzir o peso em 20 kg. O motor V12 não foi modificado.
Para um comprador da marca havia 45 anos, o colecionador de automóveis Peter Kalikow, de Nova York, EUA, foi feito outro 599 especial em 2011. O exemplar único, inspirado nos 400 e 410 Superamerica dos anos 50, foi chamado de Superamerica 45 e ficou exposto no elegante encontro de clássicos Villa d’Este Concorso d’Eleganza. Desenhado por Frank Stephenson, baseava-se no 599 GTO. O teto de fibra de carbono retrátil incluía o vidro traseiro; quando rebatido, acomodava-se na seção posterior remodelada. Frente e laterais também foram modificadas e até a cor era especial: o mesmo tom de azul do 400 Superamerica Cabriolet 1961 de Kalikow.
Nas telas



Dos modelos aqui abordados, apenas o primeiro tem várias aparições relevantes no cinema. O 550 Maranello pode ser visto em filmes de ação como Bad Boys II (2003) e Agentes 000 (Double Zéro, 2004), na comédia Um Homem de Família (The Family Man, 2000) e na ação inglesa Cannonball Run Europe: Great Escape (2005). Sua evolução 575 M também está em Bad Boys II. Dos carros seguintes, vale citar o 599 GTB Fiorano da comédia The Third Rule (2010).