O Sovereign tornava-se Jaguar com o fim da Daimler; o motor de 4,0 litros tinha 226 cv
A Road & Track aprovou as mudanças: “O motor é suave como seda. Trocas de marcha são quase imperceptíveis. Há uma leve nota de escapamento e, embora sem o rosnar de escapamento do velho XK 120, ela passa a sensação de potência e velocidade. Rodar e estabilidade são a melhor parte de engenharia, pois a direção está mais precisa e a suspensão mais controlada. É um excelente substituto para um carro tão desejável que não precisava ser substituído”.
O resultado veio logo: as vendas do XJ aumentaram em ambos os lados do Oceano Atlântico. Contudo, como a nova carroceria não oferecia espaço para o motor V12, essa versão da Jaguar continuou sendo oferecida na série III até 1991 e o Daimler por mais um ano — um total de 24 anos na mesma geração, nos quais foram vendidos 403 mil exemplares. O motivo é que, ainda na British Leyland, os engenheiros pensaram em colocar um V8 da Rover no lugar do V12 da Jaguar na nova série e os técnicos da casa de Coventry, contrariados, elaboraram a carroceria sob medida para não abrigar um motor em V…
Só em 1993 o XJ12 assumia a nova geração; à direita, sua versão Daimler Double Six
Para desgosto dos britânicos, a Ford Motor Company assumia o controle da Jaguar em 1989. Apesar dos protestos patrióticos pela aquisição de uma marca tão cara ao Reino Unido pelos norte-americanos, a empresa ampliava a garantia e lançava melhorias técnicas. Um seis-cilindros de 3,2 litros com duplo comando, 200 cv e 30,4 m.kgf era aplicado em 1990.
O mais potente XJR adotava compressor — o primeiro Jaguar com superalimentação — para obter 322 cv e acelerar de 0 a 100 em 6,3 segundos
Na inglesa Car o XJ6 3,2 foi comparado a 10 concorrentes: Alfa Romeo 164, BMW 525i, Citroën XM, Ford Granada Scorpio, Mercedes-Benz 260E, Peugeot 605, Rover Sterling, Saab 9000 CDS, Vauxhall Senator e Volvo 960. “A vitória vai para o Jaguar, talvez o mais antiquado carro do grupo, certamente o menos moderno de se ver. Que ele compense tais limitações, ou mesmo capitalize com elas, diz muito sobre sua raça e sua presença. Após dirigir os outros carros, o Jaguar, rápido, refinado e habilidoso, sempre nos pareceu especial. É bastante ágil e preciso em curvas para um carro tão grande, com equilíbrio impecável”, observou.
Uma reestruturação na dianteira vinha em 1993 e, assim como o Daimler Double Six, o XJ12 ressurgia com um novo V12 de 6,0 litros (318 cv e 47,2 m.kgf) e caixa automática ZF de quatro marchas. Apto a 250 km/h e 0-100 km/h em 7,2 segundos, era o mais rápido sedã dessa linha que a marca já produzira, mas nesse formato teria vida muito curta: um ano depois a série X300 aparecia com faróis circulares (inspirados no XJ original), ondulações no capô sobre eles e traseira mais sóbria e bonita. As versões de seis e 12 cilindros tinham poucas alterações técnicas.
Depois da remodelação, o XJ8 vinha em 1997 com novos motores V8 de 3,2 e 4,0 litros
Outra evolução, a X308, era apresentada em 1997 com grande novidade sob o capô: a nova geração de motores AJ-V8 com oito cilindros e quatro válvulas em cada para enfrentar os alemães Audi A8, BMW Série 7 e Mercedes Classe S. O carro era renomeado XJ8. A opção mais “mansa” tinha 3,25 litros, 216 cv e 30,7 m.kgf, para alcançar 222 km/h, e a intermediária oferecia 4,0 litros, 245 cv e 40 m.kgf para cravar 230 km/h.
Com a mesma cilindrada, o mais nobre e potente XJR adotava compressor — o primeiro Jaguar com superalimentação — para obter 322 cv e 52,2 m.kgf, com os quais atingia 250 km/h e acelerava de 0 a 100 em 6,3 segundos, ótimo desempenho para um automóvel de 1.875 kg. Todos estavam equipados de série com caixa automática de cinco marchas, freios ABS e bolsas infláveis frontais, além de painel redesenhado, mas o XJR adicionava rodas de 17 pol com pneus 255/45, ajuste eletrônico dos amortecedores, controle eletrônico de tração e freios especiais.
Ao avaliar o XJR, a revista Motor Trend declarou: “Em marcha-lenta o motor é indistinguível do liso XJ6, mas ao cutucar o acelerador uma corrida instantânea de torque move o felino para um passeio de emoção, com o quarto de milha passado em 14,9 segundos. O desempenho do XJR é forte o suficiente para esfregar para-lamas com o Mercedes C36 AMG, menor e mais leve, e o BMW 540i. O que um pouco de ar quente pode fazer quando soprado em lugares certos!”.
Próxima parte
Os especiais
As empresas britânicas Ladbroke Avon e Anthony Stevens elaboraram na década de 1970 uma versão conversível do XJ cupê. O Avon-Stevens XJC tinha linhas elegantes e acionamento manual da capota. “Erguido, a forma do teto é tal que ele não distorce em alta velocidade e o ruído de vento é mínimo”, garantia a publicidade. Outra transformação do tipo foi feita pela Lynx, que usava capota com acionamento elétrico.
A alemã Arden tem oferecido preparações para modelos Jaguar desde 1982, quando apresentou o AJ1 com base no XJ12. O motor V12 passava de 265 para 295 cv e havia alterações como rodas mais largas (as da foto não são da época), defletor frontal e transmissão automática ZF de quatro marchas em vez das três originais. A versão posterior AJ4 incluía para-choques envolventes e 325 cv. Anos mais tarde, a Arden obtinha 455 cv do motor ampliado de 5,35 para 6,6 litros e deixava o interior muito sofisticado.
Os trabalhos da empresa seguiram-se com as séries XJ40 (1987), X300 (modelos AJ10 e AJ11 em 1994), X308 (AJ13), X350 (AJ14 em 2003) e à atual X351 (AJ22, desde 2010). Hoje o motor V8 5,0 com compressor pode chegar a 605 cv, transmitidos a rodas de 21 pol.
A TWR — Tom Walkinshaw Racing, empresa fundada pelo piloto de competição —, que já havia desenvolvido uma versão esportiva do cupê XJ-S, mostrava em 1985 o sedã Jaguar Sports a partir do XJ6. Tinha anexos aerodinâmicos, rodas de 16 pol com pneus 225/55 e recalibração da direção para maior firmeza. Havia uma preparação para o XJ12 com alavanca para mudanças manuais na transmissão automática, volante esportivo, freios e suspensão revistos e mudanças de estilo.
A alemã Koenig Specials oferecia na mesma época um pacote com rodas largas, para-choques plásticos na cor da carroceria e retrovisores aerodinâmicos para o XJ12. Um tanto dissonante de seu estilo conservador, parecia um vovô com tatuagens e piercings…
Adicionar esportividade foi também o objetivo da Chasseur Developments, que em 1990 apresentou o Stealth, nome do avião de caça norte-americano invisível aos radares. De fato, um Jaguar preparado passava pela polícia chamando menos a atenção que um Porsche ou Ferrari… Com dois turbos, o motor de 3,6 litros ficava com 220 a 340 cv e havia anexos aerodinâmicos, suspensão e direção recalibradas e rodas de 16 pol (pneus 245/50) ou mesmo 17 pol (235/45).
Para a geração X350 de 2002, a japonesa Wald propôs o XJ Sports Line Black Bison com novos para-choques, saias e rodas de 20 ou 21 pol com pneus de até 295 mm — não era para quem gostasse de discrição.
A Startech, divisão da Brabus alemã que se dedica a marcas de fora do grupo Daimler-Benz, apresentou em 2011 o XJ da última geração ainda mais sofisticado: acabamento em couro Mastik, apliques de madeira, mesas retráteis para montagem de um Ipad com teclado sem fio para os passageiros, conexão à internet. Rodas de 21 pol forjadas e anexos aerodinâmicos traziam uma aparência esportiva e discreta.