Mercedes Classe S: elegância em cupês há mais de 60 anos

Mercedes-Benz 300 SE Coupe 1961

 

Mercedes-Benz 220 SE Coupe 1961
Mercedes-Benz 220 SE Coupe 1961

 
Interior refinado e melhorias em segurança marcavam o 220 SE e o 300 SE (no alto), com motor de 160 cv

 

Entre os avanços em segurança dessa série estavam estrutura com célula de alta resistência na cabine e zonas de absorção de impactos na frente e atrás, cintos de três pontos nos bancos dianteiros, volante acolchoado e freios dianteiros a disco (também os traseiros no caso do 300 SE) com duplo circuito hidráulico. A versão superior tinha direção assistida de série e suspensão com molas pneumáticas — ainda com braços sobrepostos à frente e semieixos oscilantes na traseira.

Na avaliação da revista inglesa Autocar o 220 SE foi assim definido: “Mais baixo que o sedã quatro-portas, o cupê é um quatro ou cinco-lugares rápido e confortável com comportamento dinâmico impecável. A cilindrada de 2,2 litros é muito modesta para seu peso, mas o seis-cilindros tem potência suficiente para aceleração ágil e máxima de 170 km/h. As respostas em baixa rotação surpreendem, um fator predominante sendo a injeção Bosch: acelera-se suavemente desde 16 km/h na última marcha. O rodar é macio e muito confortável, com o interior bem isolado de ruídos. O 220 SE é um grande resultado de engenharia: excepcionais estabilidade e qualidade de rodagem que fazem desse carro um prazer ao dirigir rápido. De resto, tem freios soberbos e um alto padrão de refinamento mecânico”.

 

Mercedes-Benz 280 SE 3.5 1969

 

Mercedes-Benz 280 SE 3.5 1969
Mercedes-Benz 280 SE 3.5 1969

 
Um conversível da versão 280 SE 3.5, de 200 cv: o primeiro V8 oferecido nessa linhagem da Mercedes

 

Se os sedãs Fintail eram substituídos em 1965 pela série W108/W109, o mesmo não ocorria com os cupês e conversíveis, cujo estilo mais sóbrio e elegante permanecia válido: a Mercedes apenas atualizava os motores e adotava a suspensão traseira dos novos quatro-portas. O 220 SE dava lugar ao 250 SE de 2,5 litros (150 cv e 22 m.kgf), enquanto o 300 SE ganhava 10 cv. Ambos cediam espaço dois anos depois ao 280 SE de 2,8 litros (160 cv e 24,5 m.kgf). Mas um cupê e um conversível ainda mais vigorosos não demorariam a chegar: o 280 SE 3.5, lançado em setembro de 1969, um dos poucos Mercedes até então sem alusão à cilindrada no número inicial. O V8 de 3,5 litros com bloco de alumínio, injeção, 200 cv e 29,2 m.kgf permitia alcançar 210 km/h e acelerar de 0 a 100 em 9 segundos, apesar do peso expressivo (1.570 kg). Foi o único oito-cilindros disponível para essa geração.

 

O SLC estreava com motores V8 de 3,5 e 4,5 litros; com o mais potente ele acelerava de 0 a 100 km/h em 8,8 segundos e atingia 215 km/h

 

O teste do cupê 3.5 pela Car and Driver, nos EUA, destacou a facilidade para manter altas velocidades: “Fomos por 32 km e voltamos ‘de pé embaixo’ sem elevação de temperatura do motor ou queda da pressão de óleo. Foi uma demonstração convincente com o velocímetro na faixa de 125 mph (200 km/h) e impressionante pelo silêncio a tais velocidades. Em curvas você pode erguer o pé sem que a traseira tente sair, e o subesterço continua moderado. Excelência é o que a Mercedes representa. Se você precisa procurar uma justificativa para seu preço, provavelmente não pode bancar o 3.5 e não saberia apreciar o que tem mesmo se alguém lhe desse o carro”.

Quando essa série chegasse ao fim de produção, em 1971, a Mercedes abandonaria o segmento de conversíveis de quatro lugares por mais de 20 anos. Em 1992 voltaria a ele com um modelo Classe E da geração 124, mas só em 2015 seria apresentado um novo Classe S a céu aberto.

 

C107: um cupê SL preenche a lacuna

Enquanto preparava o encerramento da linha W111/W112, a Mercedes analisava suas opções para o mercado de cupês de luxo. Desenvolver um sobre a plataforma dos novos sedãs Classe S W116, com linhas próprias a partir do zero, exigiria um tempo que o envelhecimento dos modelos anteriores não permitia esperar. A solução mais rápida para desempenhar esse papel foi “fechar” os novos conversíveis SL (código R107), o que originou os cupês SLC (C107) no Salão de Paris em outubro de 1971.

 

Mercedes-Benz 450 SLC 1978

 
Sem um cupê Classe S, a Mercedes fechava o SL e alongava o entre-eixos para dar origem ao SLC

 

Como no roadster, o desenho elaborado pelo chefe de Estilo Karl Wilfert marcava uma nova fase para a marca, com a grade dianteira longa e baixa — ostentando no centro a estrela de três pontas, como era regra em modelos mais esportivos — ladeada por faróis retangulares, linhas mais retas e longas lanternas traseiras com estrias, que facilitavam sua visualização mesmo após trafegar em estradas empoeiradas. Embora o SL fosse um dois-lugares com opção de limitado banco traseiro para uso eventual por duas pessoas, o SLC ganhava um expressivo alongamento entre eixos (de 2,46 para 2,82 m) e formato mais retilíneo no teto fixo a fim de acomodar, com relativo conforto, até cinco pessoas.

 

 

Comparado aos cupês que o precederam, era nitidamente mais baixo (1,33 m), com 4,75 m de comprimento e 1,79 m de largura. O peso da versão menos potente era de 1.590 kg. Molduras nas janelas e coluna central continuavam ausentes, como esperado de um verdadeiro cupê, mas o projeto encontrou uma dificuldade: pela posição das rodas traseiras, as janelas de trás só poderiam descer por inteiro em um movimento articulado para frente, possível fonte de problemas. A marca então optou por janelas menores e um conjunto de aletas em sua parte traseira, que permitia certa visibilidade em ângulo.

O interior era típico dos Mercedes de seu tempo, com grande volante de quatro raios, quadro com três instrumentos circulares e alavanca de câmbio automático que descrevia um roteiro sinuoso. Em nome da segurança havia cintos dianteiros de três pontos e volante e painel acolchoados (na parte superior e na região próxima aos joelhos). A suspensão traseira evoluía para um sistema com braço semiarrastado de cada lado, para comportamento bem superior, pois acabava a grande variação de câmber durante seu curso de trabalho. Havia ainda nela um sistema de autonivelamento que não apenas mantinha a altura do solo constante com qualquer carga, como assegurava a correta geometria das rodas sob aceleração intensa.

 

Mercedes-Benz 450 SLC 1978
Mercedes-Benz 450 SLC 1978

 
No interior, painel e volante acolchoados; apenas motores V8 equipavam as versões iniciais

 

As versões iniciais usavam motores V8 com opção entre os 3,5 litros do 350 SLC (200 cv e 29,2 m.kgf) e os 4,5 litros do 450 SLC (225 cv e 38,5 m.kgf). Com o mais potente ele acelerava de 0 a 100 km/h em 8,8 segundos e atingia 215 km/h — embora cerca de 50 kg mais pesado que o conversível, e por isso menos brilhante em aceleração, o SLC era mais veloz por conta da aerodinâmica mais eficiente. Até 1973 o 450 ficou restrito à exportação para os EUA, sendo então estendido ao mercado europeu.

Analisado pela alemã Auto, Motor und Sport, o 350 SLC foi descrito como “um carro caro, exclusivo, mas cuja exclusividade não se baseia no preço. Sua potência é menos impressionante que a imagem geral de ótima qualidade de rodagem, perfeita tecnologia e alto nível de direção e de segurança em acidentes. Poucos agora podem argumentar contra a posição da Daimler-Benz dentro da elite internacional do projeto de automóveis”.

O 450 SLC foi confrontado pela Car inglesa ao Jaguar XJ-S: “É um carro sem vícios para dirigir, mas parece bem menos esportivo. O Mercedes substitui caráter por total competência. Parece menos ágil que o Jaguar de início, mas é capaz de se equiparar a ele em curvas se exigido: nunca subestime um Mercedes. O interior tem mais espaço e o ar de uma carruagem de cavalheiro. O XJ-S não faz nada que o SLC não possa fazer tão bem quanto ele, embora em um estilo mais sereno e talvez mais refinado. O Jaguar vence pelo valor, pois é mais barato, mas precisa evoluir para se equivaler ao Mercedes em algumas áreas”.

Próxima parte

 

Os especiais

300 SEL Pininfarina Coupe
300 SEL Pininfarina Coupe
S 500 Shooting Brake Zagato
S 500 Shooting Brake Zagato

Embora a Mercedes não tenha desenvolvido uma versão de duas portas para o sedã 300 SEL 6.3 (da geração W108, uma evolução da W111/W112), esse trabalho foi elaborado de forma não oficial pela Pininfarina, a projetista e construtora de carrocerias italiana que criou tantos Ferraris.

Com um desenho incomum para um Mercedes — linhas retas e simples, faróis circulares em uma frente que sugeria as unidades verticais do modelo original —, o 300 SEL Pininfarina Coupé nasceu da encomenda de um industrial holandês, que permanece anônimo, à empresa de Turim em 1969. O cliente havia consultado o fabricante da estrela, que não se interessou em atender ao projeto individual. O cupê mantinha o comprimento e o entre-eixos do sedã, mas ganhou um novo teto e para-brisa e vidro traseiro mais inclinados. Sob o capô, o motor V8 de 6,3 litros e 250 cv garantia o desempenho esperado de um carro tão exclusivo.

Sbarro Portes Papillon
Sbarro Portes Papillon
Sbarro Portes Papillon
Sbarro Portes Papillon

Shooting brakes (peruas de estilo esportivo) podem ser comuns na Mercedes hoje, mas em 1994 chamou atenção a conversão feita pelo estúdio italiano Zagato. Um S500 Coupé da geração C140 foi transformado em perua por meio de extensão do teto e novos vidros e tampa traseiros, mantendo as lanternas. O resultado não deixava de ser interessante.

Esses italianos não foram tão longe, porém, quanto o suíço Franco Sbarro com o 500 SEC Portes Papillon da série C126. Revelado em 1983, o carro recebia uma carroceria toda nova com para-lamas alargados, grade aletada diante dos faróis e portas ao estilo “asas de gaivota”. O interior podia ter televisor e videocassete no painel e acabamento ainda mais luxuoso. O motor V8 de 6,9 litros do antigo 450 SEL 6.9 era a opção para quem não se satisfizesse com o 5,0 original.

Próxima parte

 

Páginas: 1 2 3 4 5 6 7 8

Marcado: