Motor V8 dianteiro refrigerado a líquido e caixa automática rompiam
tradições na Porsche; dentro do 928, conforto e boas soluções de ergonomia
O cliente podia optar por um câmbio manual de cinco marchas ou uma caixa automática de três, fornecida pela Mercedes-Benz. A velocidade máxima era de 230 km/h e acelerar de 0 a 100 km/h exigia apenas 7,5 segundos. A transmissão por transeixo posicionado na traseira ajudava na distribuição de peso, que ficava próxima dos ideais 50% por eixo, e tornava o conjunto mecânico ainda mais sofisticado — e oneroso na manutenção. Esse tipo de transmissão, que já havia sido usado pela Lancia, foi estudado ainda antes da Segunda Guerra Mundial pelo Dr. Ferdinand Porsche para um Mercedes de corrida. Os freios eram a disco nas quatro rodas e, com o mesmo objetivo de repartir massas, a bateria ficava na traseira.
Era ótimo em estradas e ao mesmo tempo luxuoso e confortável; podia fazer viagens nas Autobahnen alemãs acima de 200 km/h sem esforço
A suspensão posterior independente com braço semiarrastado recebia o nome de eixo Weissach, em alusão ao centro de pesquisa e desenvolvimento da Porsche. A novidade estava em uma articulação arrastada que ajustava a convergência das rodas de trás durante as curvas, evitando o sobresterço ao se cortar a aceleração. A ideia deu tão certo que foi aos poucos estendida a outros modelos da marca. Na dianteira usava-se o conceito de braços sobrepostos com molas helicoidais, em vez do McPherson com barras de torção do 911. A caixa de direção de pinhão e cremalheira era a primeira na marca. O 928 usava pneus 225/50 em rodas de 16 polegadas com o famoso desenho de disco telefônico.
Os engenheiros de Stuttgart/Zuffenhausen capricharam. O 928 foi considerado um dos melhores GTs do mundo em sua época. Era um carro de várias qualidades: ótimo em estradas, tanto em velocidade quanto acelerações, e ao mesmo tempo luxuoso e confortável. Podia fazer viagens nas Autobahnen de seu país natal mantendo média acima de 200 km/h sem esforço. Faturou o título de Carro do Ano europeu, jamais concedido antes a um esportivo.
O trem de força do 928 revela o transeixo na traseira, solução para distribuir o
peso entre os eixos; a suspensão posterior Weissach favorecia a estabilidade
O 928 agradou à revista inglesa Car em seu primeiro teste: “O motor é tremendamente flexível, com potência desde baixas rotações e um desempenho agradável, consistente e usável, em vez de apenas fenomenal — ao menos para os padrões de um supercarro. Onde o 928 demonstra uma de suas maiores forças é na habilidade em cruzar estradas sem esforço, em silêncio, dando prazer a motorista e passageiro. Você se sente bem com a óbvia competência do carro, seu completo domínio da situação”.
Nos EUA, a Car and Driver entusiasmou-se: “Ele tem grande chance de se tornar o padrão de excelência automotiva desta década. Comparado a alguns dos carros chamados exóticos, o 928 brilha ainda mais. Velocidade? Que tal 233 km/h, seja com câmbio manual ou automático? E é um desempenho utilizável, graças a um dos chassis mais competentes já projetados. O ótimo acerto faz todo o trabalho, com uma combinação de estabilidade em alta velocidade, reflexos de gato e um conforto de marcha que não fica atrás de nenhum outro. Tudo isso em um carro com estilo próprio e mais confiável que os Porsches do passado. Qualquer um que possa pagar seu preço não deveria passar mais um dia sem um”.
As primeiras evoluções
Na versão S, lançada em setembro de 1979, as diferenças externas eram os defletores dianteiro e traseiro e as novas rodas de alumínio. Havia também lavador de faróis: jatos de água de alta pressão eram disparados para limpá-los. Por dentro ele recebia volante de quatro raios, ar-condicionado com controle automático de temperatura e controlador de velocidade de série. O motor V8 era ampliado para 4,7 litros, com o que a potência aumentou para 300 cv e o torque para 39,2 m.kgf. A velocidade final agora era digna de um Porsche: 250 km/h com câmbio manual e 245 com o automático.
Defletores à frente e atrás identificam a versão S, que ganhava itens de conforto;
o motor V8 passava a 4,7 litros e 300 cv, suficientes para atingir 250 km/h
O motor de 4,5 litros permanecia disponível, agora com taxa de compressão mais alta, mas tal versão era simplificada com pneus 215/60 R 15 em vez de 225/50 R 16. A inglesa Autocar avaliou um 928 básico de caixa automática: “Ele tem a mais deliciosa resposta para ultrapassar. Chega alegre a mais de 190 km/h, estável e com facilidade. O 928 está em seu melhor em uma longa viagem, na qual atende com excelência às necessidades do motorista. Os bancos são firmes, mas dão apoio soberbo, e o acabamento é perfeito. O V8 da Porsche continua fonte de prazer”.
Do outro lado do Atlântico, a Popular Mechanics colocou 16 carros esportivos e de luxo nas mãos dos pilotos Stirling Moss e Phil Hill. Embora o 928 fosse o sétimo mais acessível do grupo, mostrou desempenho entre os melhores: foi sétimo colocado na aceleração do quarto de milha, quarto em velocidade no slalom (desvio entre cones), sexto em espaço de frenagem e quarto em tempo de volta no circuito, o que lhe rendeu o título de estrela do teste.
“É um carro perfeitamente usável todos os dias, com estilo de automóvel em vez de nave espacial, mas que supera em desempenho quase todo o restante. Phil Hill disse: ‘O 928 deve ser o carro de rua com mais alto desenvolvimento que existe. No primeiro minuto você sente sua sofisticação. É silencioso, tem modos impecáveis. Tudo nele é de topo’. Moss considerou-o ‘um carro incrível, absolutamente soberbo. Tem muito boa aderência com os pneus Pirelli P7, o chassi é bastante equilibrado’. O Porsche é amigável e inspirador — ele dá energia em vez de consumi-la. Ele faz de você um motorista melhor do que você é e fornece uma tremenda sensação de segurança”, descreveu a revista.
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Com mais espaço
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Dois projetos foram desenvolvidos pela Porsche para dar mais espaço interno ao 928. O primeiro (à esquerda), revelado em 1984, foi construído em exemplar único para presentear Ferdinand “Ferry” Porsche em seu 75º. aniversário, o modelo 942 (alguns o chamam de 928-4) era um 928 com a distância entre eixos alongada em 25 centímetros e a linha de teto modificada a fim de oferecer mais espaço para cabeça aos passageiros de trás. O resultado foi uma shooting brake, ou perua esportiva, com o motor de 32 válvulas do 928 S4 e novos para-choques que seriam adotados dois anos mais tarde no modelo de produção.
Aquele presente a Ferry foi o ponto de partida para um estudo de viabilidade de produção, denominado H50 (à direita) e concluído três anos depois, em 1987. Além das maiores dimensões que no 928 de linha, o carro trazia pequenas portas adicionais com abertura para trás, sem maçanetas aparentes por fora. As portas dianteiras, enormes no 928 original, foram encurtadas e um arranjo simulava a ligação entre o vidro da quinta porta e os laterais traseiros, o que não havia no 942.
Deixado no esquecimento por duas décadas, esse protótipo voltou a ser lembrado com o lançamento do Panamera, também um quatro-portas com motor V8 dianteiro. Hoje o H50 pode ser visto no museu da empresa.
Nas telas
![]() Scarface |
![]() In the Red |
O charme do 928 não passou despercebido pelo cinema, que empregou o GT alemão em numerosos papéis. O modelo inicial pode ser visto em filmes como a comédia Middle Age Crazy (1980), o drama Caminhos Separados (Separate Ways, 1981), o policial Scarface (1983), o drama Negócio Arriscado (Risky Business, 1983) e a ação In the Red (1999).
![]() O Escondido |
![]() Looker |
Entre as aparições da versão 928 S estão o policial O Escondido (The Hidden, 1987), a ação Banzai Runner (1987), o drama The Business (2005) e a biografia Jobs (2013), sobre o fundador da Apple. Modelos entre 1981 e 1982, mas da versão básica, podem ser vistos no drama Looker (1981), no qual o carro vai parar na água de uma fonte de jardim; na comédia Double Exposure (1983) e na ação Red Line (1995).
![]() Sedução Fatal |
![]() Leonard Part 6 |
Modelos das séries mais recentes também tiveram seu espaço. O 928 S4 está no drama Sedução Fatal (Eye of the Beholder, 1999), no drama Risk (2000) e no filme de terror Magus (2008). Um GT aparece na comédia Suckers (1999).
O papel mais curioso é o do 928 de 1981 visto na comédia Leonard Part 6 (1987), pintado como veículo militar camuflado e com um canhão sobre o teto.
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