Opel GT foi como um filhote de Corvette para a Europa

 

Inspirado no esportivo da Chevrolet, o charmoso cupê com
base no Kadett nasceu de um carro-conceito e deu origem a outros

Texto: Francis Castaings e Fabrício Samahá – Fotos: divulgação

 

A fábrica fundada por Adam Opel, em Rüsselsheim, na Alemanha, fabricava na década de 1960 automóveis robustos, bonitos e acessíveis. Os mais famosos eram o pequeno Kadett, que em geração posterior seria o Chevrolet Chevette no Brasil, e o médio Rekord, que daria origem a nosso Opala. Ambos, desde 1965, tinham versões esportivas, mas não eram automóveis grã-turismo: apenas cupês derivados de sedãs com motores apimentados.

A General Motors controlava a Opel desde 1929 e sua influência no desenho e na concepção dos automóveis da marca era evidente. No Salão de Frankfurt de 1965 era exposto o carro-conceito Experimental GT, um estudo com o motor 1,9-litro do Rekord. Embora poucos pudessem prever que aquele modelo chegaria à produção, três anos mais tarde — no Salão de Paris, em outubro de 1968 — era apresentado o primeiro esportivo moderno da empresa germânica: o Opel GT.

A novidade causou entusiasmo. Com linhas curvas e angulosas, chamou muita atenção o pequeno esportivo de 4,11 metros de comprimento, 1,58 m de largura, apenas 1,22 m de altura e 2,43 m de distância entre eixos. Tinha duas portas, dois lugares e, atrás deles, o local para malas de pequenas dimensões — curioso é que o carro não tinha tampa de porta-malas, o que exigia colocar a bagagem por dentro. A carroceria era produzida na França pela Brissonneau & Lotz, pois seria inviável alocar espaço para um nicho de mercado na linha de produção de grande volume do Kadett; apenas a montagem final era em Bochum, Alemanha.

 

 

 
Derivado da plataforma do Kadett, o GT estreava em 1968 e logo recebia o
apelido de “Corvette europeu”; à direita, o conceito Experimental GT de 1965

 

Na frente, os faróis escamoteáveis giravam em um eixo longitudinal, com acionamento manual por alavanca no console, e pareciam “olhos de sapo” quando abertos; abaixo do para-choque havia mais dois, auxiliares. A entrada de ar dupla no capô e a bolha mais atrás, à direita, lhe davam imponência. Lá atrás, no centro das quatro lanternas circulares, ficava o bocal cromado do tanque. O perfil com frente muito inclinada, para-lamas ondulados — ao estilo “garrafa de Coca-Cola” — e traseira truncada era esportivo.

 

No GT 1900 S, os 90 cv resultavam em
185 km/h e 0-100 km/h em 11,5 segundos,
apreciáveis até hoje para essa potência

 

Por seu estilo e dinamismo, o GT não demorou a ganhar o apelido de “Corvette dos pobres” ou “Corvette europeu”, em alusão ao lendário esportivo da Chevrolet norte-americana — de fato, as linhas do alemão lembravam em menor tamanho as da geração do “Vette” lançada na mesma época. Por dentro, tinha bancos de encosto alto, volante esportivo de três raios e farta instrumentação, incluindo conta-giros, manômetro de óleo e amperímetro. Era bem equipado e confortável para um esportivo.

O motor estava posicionado atrás do eixo dianteiro, para boa distribuição de peso, e a tração era traseira. A versão básica 1100 SR usava uma antiga unidade de 1,1 litro com bloco e cabeçote de ferro fundido, comando de válvulas no bloco e dois carburadores. Com potência de modestos 60 cv e torque de 8,7 m.kgf, esse GT alcançava a velocidade máxima de 155 km/h e, apesar do baixo peso de 860 kg, obtinha acelerações quando muito razoáveis — de 0 a 100 km/h levava 16,5 segundos.

 

 

 
Os faróis retráteis giravam por acionamento manual; com motor de 1,9 litro e 90 cv
o desempenho convencia, mas não com o de 1,1 litro e 60 cv da versão inferior

 

O topo de linha 1900 S, bem mais interessante, tinha 1,9 litro, comando de válvulas no cabeçote e um só carburador — houve desenvolvimento com dois, para obter 110 cv, mas não chegou à produção. Os 90 cv e o torque de 14,9 m.kgf resultavam em máxima de 185 km/h e 0-100 km/h em 11,5 segundos, números apreciáveis até hoje para essa potência. Além do peso moderado, 960 kg, o desempenho era bom devido à ótima aerodinâmica.

Na plataforma cedida pelo Kadett B, mas um pouco ampliada em entre-eixos e bitolas, a suspensão dianteira usava uma combinação incomum de braços sobrepostos e feixe de molas semielípticas transversal; na traseira vinha um eixo rígido com barra Panhard e molas helicoidais. Os freios em qualquer versão tinham discos à frente e tambores atrás e os pneus eram radiais 165/80 R 13. Como opção ao câmbio manual de quatro marchas havia um automático de três, mais destinado à exportação para os Estados Unidos.

Nesse mercado ele era oferecido pela rede de concessionárias Buick, que também distribuía o Kadett — e vendeu bem, tendo sido exportada mais da metade da produção. Na publicidade posava à frente de um Riviera, da mesma cor, e destacava o “aparecimento dos faróis” da mesma forma que no cupê de luxo norte-americano. Na Europa, concorriam na mesma faixa de preço Alfa Romeo GTA, Lancia Fulvia e Porsche 914.

 

 

 
Bancos altos só para dois, volante esportivo e painel bem equipado no interior do
GT; em amarelo a versão GT-J, que combinava motor 1,9 e acabamento simples

 

Na Inglaterra, a revista Autocar destacou atributos do GT como “desempenho em alta velocidade, muito bom para viajar a 160 km/h, direção muito precisa, comportamento previsível, bons freios”, mas criticou nível de ruído, espaço interno, ventilação e o subesterço excessivo. “O Opel provou-se muito seguro e manejável nas longas e rápidas curvas das Autobahnen. Dentro e fora, ele tem muito bom acabamento e é extremamente bem feito. O carro é rápido, econômico, comporta-se bem e é muito atraente aos olhos”, concluiu.

 

 

A Road & Track testou-o nos EUA: “O olhar da GM chega a um pequeno carro esporte com boas aceleração e velocidade máxima, torque generoso e bons freios. Seu comportamento dinâmico é mediano, mas previsível e seguro. É um carro ruidoso, mas de rodar confortável. Pelo preço, vale a pena considerá-lo diante dos concorrentes”. Relembrando o modelo, a Consumer Guide do mesmo país escreveria anos mais tarde: “Apesar de sua mecânica simples, o GT era um vencedor: bonito, obediente, prático, refinado e rápido o bastante com o motor 1,9. O interior era espaçoso e funcional acima da média, com um recesso no painel para dar ao motorista e ao passageiro amplo espaço para as pernas”.

A dinamarquesa Bilen og Baden afirmou-se cética sobre um carro esporte da Opel, mas convencida após dirigir a versão 1900: “Sem dúvida é um esportivo completo. Boa estabilidade, sem prejuízo do conforto; seguro e muito rápido em sua faixa de preço. Ele é melhor de dirigir que o Kadett Rallye, com um equilíbrio muito bom por ter o motor atrás do eixo dianteiro. Já um teste breve com o GT 1100 deixou a impressão de um carro com motor pequeno demais”.

 

 

 
Os conceitos Aero GT (em azul), Elektro GT (com faixas) e Diesel GT experimentavam
estilos e recursos técnicos; o GT amarelo posa com seu sucessor lançado em 2007

 

A versão GT/J, de Junior, surgia em 1971 para substituir o 1,1-litro, combinando motor 1,9 a um acabamento simplificado, sem calotas, cromados e dois dos instrumentos do painel. Na Alemanha foram fabricados modelos conversíveis de forma artesanal, que ganhavam defletor mais saliente na frente e faróis duplos abaixo do para-choque. Depois de 103,5 mil unidades produzidas, o GT deixava de ser fabricado em agosto de 1973. Além de já não estar atualizado em relação ao Kadett, que havia passado a uma nova geração, havia dificuldades de adequar o esportivo às normas de segurança norte-americanas.

O GT serviu de base para diversos carros-conceito da Opel — uma ironia, pois ele próprio nascera de um modelo experimental. O Aero GT do Salão de Frankfurt de 1969 usava um painel removível como teto e vidro traseiro retrátil com controle elétrico; apenas dois foram construídos. O Elektro GT de 1971 tinha rodas carenadas, “rabo de pato” na traseira, dois motores elétricos que somavam 160 cv e baterias de níquel-cádmio. No ano seguinte o Diesel GT apresentava grandes alterações para melhor aerodinâmica e motor a diesel de 95 cv, com o qual obteve dois recordes de velocidade. O GT2, em 1974, era a proposta de um sucessor para o GT com a plataforma do Manta e do Ascona, portas corrediças e painel digital.

Tal sucessão — ao menos no nome — demoraria, porém: só em 2007 surgia um novo Opel GT, igual ao Saturn Sky vendido nos EUA ao lado do Pontiac Solstice, ambos derivados do mesmo projeto e fabricados em Wilmington, Delaware. Era um roadster com linhas inspiradas nas do conceito Vauxhall VX Lightning de 2003 (a história repetia-se), tração traseira e motores de 2,4 litros com 177 cv e turbo de 2,0 litros com 260 cv. Durou apenas até 2009, quando as marcas Saturn e Pontiac eram extintas pela GM em meio à crise econômica.

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