Stutz Bearcat, um pioneiro entre os carros esporte

 

Começando pelas corridas, a marca norte-americana
estabeleceu há quase um século um ícone de desempenho

Texto: Fabrício Samahá – Fotos: RM Auctions, Conceptcarz.com e divulgação

 

Não é de hoje a validade do adágio norte-americano “Vença no domingo, venda na segunda-feira”, que prega a influência do êxito em competições no mercado de automóveis de rua. Mais de um século atrás, chegava ao público dos Estados Unidos a marca de carros esportivos e de luxo Stutz, amparada no sucesso nas pistas e responsável por aquele que se considera o primeiro modelo esporte norte-americano: o Bearcat.

Seu fundador, o engenheiro mecânico Harry C. Stutz, nascido em 1876, projetou e construiu seu primeiro carro em 1897 com motor de um cilindro e potência de apenas 2 cv. Sete anos depois, desenvolvia para a American Motor Car Company — de Indianápolis, capital do estado de Indiana — um modelo compacto de quatro cilindros e 40 cv. Após deixar a American em 1907 em favor da Marion Motor Car Company, da mesma cidade, Harry fundava em 1910 a Stutz Auto Parts Company para fabricar conjuntos de transmissão e diferencial de seu próprio projeto. Um ano depois surgia, ainda em Indianápolis, a Ideal Motor Car Company para construir automóveis.

Ao desenvolver um novo carro que levaria seu nome, Stutz sabia que não seria fácil obter o reconhecimento do público em meio a tantas dezenas de construtores, alguns já bastante consagrados. Por isso, ele decidiu começar pelas competições. A estreia deu-se na prova 500 Milhas de Indianápolis (então chamada de International Sweepstakes), em 1911. O modelo da Ideal, construído em apenas cinco semanas, usava um motor de quatro cilindros projetado por Stutz e fabricado pela Wisconsin Motor Company, com cilindrada de 6,4 litros e potência ao redor de 60 cv.

 

 
Mais famoso modelo da Stutz, o Bearcat vinha direto das pistas; era essencial em
termos de carroceria ou itens de conforto, mas muito rápido para seu tempo

 

A seu volante, o sueco Gil Anderson obteve o 11º. lugar — fora das colocações que recebiam prêmio em dinheiro, mas nada mal ao se considerar que quase metade dos 40 competidores ficou pelo caminho. Mais importante, o modelo havia cumprido os mais de 800 quilômetros à média de 110 km/h sem problemas mecânicos, parando apenas para abastecimento e troca de pneus. Tal êxito justificou a adoção do mote The car that made good in a day, traduzível como “o carro que cumpriu sua promessa em um dia”. No ano seguinte começava a produção de veículos de rua, com motores de quatro cilindros e 50 cv e de seis cilindros com 60 cv.

 

As principais diferenças da versão de rua para a de corridas estavam nos faróis e lanternas, para-lamas e porta-malas; não havia portas ou para-brisa como o conhecemos

 

Em maio de 1913, a Ideal e a fábrica de peças Stutz fundiam-se em uma só empresa, a Stutz Motor Car Company, que mantinha Harry como presidente. Seu mais famoso modelo foi sem dúvida o Bearcat (apelido para o leão da montanha), oferecido de 1914 a 1924 e depois entre 1931 e 1934. Tratava-se de um roadster — conversível esporte de dois lugares — de linhas simples, típicas dos carros de seu tempo, que usava uma versão mais curta (com distância entre eixos de 3,05 metros ante 3,30 m) do chassi habitual da marca. Os ocupantes sentavam-se bem perto do eixo traseiro.

As principais diferenças da versão de rua para a de corridas estavam na aplicação de faróis e lanternas, para-lamas (ligados por estribos) e um porta-malas. Não havia portas ou para-brisa como o conhecemos: apenas um vidro circular à frente do motorista para desviar um pouco o vento. As enormes rodas tinham 34 pol de aro, com pneus de 4,50 pol de largura, e o peso superava 1.500 kg.

 

 
O grande motor Wisconsin de quatro cilindros e 6,4 litros tinha 60 cv, com os quais
o Bearcat acelerava de 0 a 96 em 29,2 segundos, conforme teste nos anos 50 

 

O motor de 6,4 litros (em sua época era comum uma grande cilindrada unitária, nesse caso 1,6 litro por cilindro), ainda produzido pela Wisconsin, usava cabeçote em “T”, com as válvulas de admissão de um lado dos cilindros e as de escapamento no lado oposto, e pistões de alumínio e desenvolvia 60 cv a 1.500 rpm. Em um teste da revista Mechanix Illustrated em 1951, sua velocidade máxima foi de 130 km/h e acelerar de 0 a 96 km/h levou 29,2 segundos.

 

 

O câmbio manual de três marchas sem qualquer sincronização usava relação mais alta (curta) que o de outros modelos Stutz, para ganho em agilidade, e ficava na traseira junto do diferencial em um transeixo. Ambas as suspensões tinham eixo rígido e feixes de molas semielípticas; os freios de comando mecânico atuavam só nas rodas traseiras. Faróis e partida do motor seriam elétricos nos carros Stutz apenas de 1913 em diante, quando aparecia também uma versão de seis cilindros com 80 cv. Na transmissão, o cardã passava a operar em linha reta por meio de um redesenho do chassi, que era pouco mais alto na seção traseira que na dianteira. Rodas com raios metálicos eram opcionais.

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Nas pistas

A Stutz nasceu nas competições e nelas obteve grandes resultados durante sua trajetória. Depois daquele 11º. lugar em sua estreia na 500 Milhas de Indianápolis, a marca voltou à prova em 1912 e obteve a 4ª. colocação. No mesmo ano vieram o 4º. lugar na Vanderbilt Cup e o 3º. na American Grand Prize. Em 1913 (ano do carro da foto), Earl Cooper venceu corridas em Tacoma (Washington), Santa Mônica e Corona (ambas na Califórnia) e faturou o campeonato AAA National, enquanto Charles Merz foi 3º. em Indianápolis. Um ano depois, Barney Oldfield ficou em 5º. na mesma prova: foi o primeiro carro norte-americano atrás de quatro europeus.

A White Squadron (esquadrão branco), equipe oficial de corridas da Stutz, brilhou em 1915 ao vencer as provas de Elgin (Illinois), Minneapolis (Minnesota), Point Loma (Califórnia) e Sheepshead Bay (Nova York) e obter 3º., 4º. e 7º. lugares na Indy 500. O motor já usava quatro válvulas por cilindro. No mesmo ano, Erwin “Cannonball” Baker dirigiu um Bearcat de San Diego (Califórnia) a Nova York em 11 dias, sete horas e 15 minutos — novo recorde para essa travessia dos EUA — e Cooper foi o piloto com mais pontos no campeonato da American Automobile Association (AAA), ainda não oficial. No ano seguinte a marca ficou de fora das pistas, mas em 1917, antes que as corridas fossem proibidas por causa da Primeira Guerra Mundial, Cooper ainda venceu quatro de seis provas que disputou.

Ausente de competições durante o período de sua maior turbulência financeira, a Stutz voltava a sobressair após uma década. Em 1926, Gene Schulz vencia a prova de Atlantic City (Nova Jérsei); no ano seguinte, ganhava a subida de montanha de Pikes Peak, no Colorado, com um Speedster original. Também em 1927, um recorde de velocidade em 24 horas com média de 109,5 km/h era estabelecido por um Stutz em Indianápolis e o conversível Black Hawk com carroceria de alumínio era o campeão da AAA Stock Car, vencendo todas as provas de que participara. Todavia, a morte do piloto Frank Lockhart em Daytona, ao volante de um Black Hawk Special, fez a empresa cessar outra vez seu empenho em corridas.

Mesmo assim, um ano depois, o esforço de Charles Weymann (amigo de seu novo presidente Frederick Ewan Moskowics) levava um Stutz com motor de 4,9 litros à 24 Horas de Le Mans, na França. Depois de dar bastante trabalho ao Bentley que liderava, o carro de Robert Bloch e Edouard Brisson chegava em 2º. lugar — que seria o melhor resultado de um carro norte-americano na prova francesa até 1966. Ainda em 1928, Frank Lockhart aplicava dois compressores a um pequeno motor de 1,5 litro com duplo comando de um Stutz Black Hawk que, com carroceria aerodinâmica, atingia 171,3 km/h no circuito de Daytona (Flórida). Três modelos da marca com motor de oito cilindros em linha, 5,3 litros e compressor ainda disputaram Le Mans em 1929; um deles foi 5º. colocado.

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Depois de ganhar para-brisa e motor Stutz de 16 válvulas na série S, o Bearcat
chegava à série H (na foto um modelo 1920) com acesso mais fácil à cabine

 

Dali em diante, o êxito da marca cresceu: de 1.079 unidades produzidas em 1915, passou-se a 2.207 em 1917. Curiosamente, teve pouca influência nesse êxito o lançamento de um Stutz mais simples e barato em 1915, o HCS — iniciais do fundador da empresa —, um roadster com motor de apenas 23 cv que saiu de produção depois de só um ano.

As maiores alterações no Bearcat eram efetuadas na Series S de 1917: a carroceria ganhava para-brisa, capota e laterais mais altas (ainda fixas, de modo a ser preciso passar por cima delas para acesso à cabine) e, sob o capô, estreava o motor da própria Stutz de quatro cilindros, 5,9 litros e 16 válvulas — um dos primeiros no mundo com tal solução — com 80 cv. Seu desempenho era tão convincente que a marca substituiu, com ele, até o antigo seis-cilindros.

O desconforto para entrar e sair era atenuado com a Series H, dois anos depois, que trazia recortes laterais mais baixos. Contudo, a mudança de lugar do motorista para o lado esquerdo na linha Stutz (até então ele se sentava à direita, no padrão inglês, pois ainda não havia uma regra sobre isso nos EUA) inviabilizou a produção do Bearcat: sua compacta cabine não permitiria instalar no centro as alavancas de câmbio e freio, que antes ficavam na parte externa direita do carro. Na linha 1924 ele não mais aparecia. Estima-se que tenham sido produzidas cerca de 1.000 unidades.

 

 
O desempenho do novo 5,9-litros era bom, mas o Bearcat não resistiria à mudança
do volante para a esquerda; no anúncio, o mais acessível Stutz HCS de 1915

 

O Bearcat tinha como concorrente mais direto o Mercer Raceabout, também com proposta de carro esporte com rua com características de competição. A revista Special Interest Autos, em 1991, colocou lado a lado os dois modelos em versões de 1918 e observou: “O Mercer é puro prazer de dirigir em uma estrada sinuosa, enquanto o Stutz parece quase um caminhão. Mas force o Raceabout nas curvas e a traseira sai. Em uma superfície lisa, o Stutz mantém-se colado à estrada. Pareceu-nos ainda que o Bearcat opera de forma um pouco mais suave em velocidades de autoestrada”.

 

“Dê partida e você sente cada explosão fazendo girar os pesados componentes internos do Bearcat; acertar a tangência de uma curva é mais questão de força que de precisão”

 

Afinal, qual era o melhor? “Difícil dizer. Nós realmente gostamos mais do Mercer. É um carro mais sofisticado, bem acabado, de melhor aparência, mais fácil de dirigir e confortável ao rodar. Ele parece ter sido construído com uma atitude de ‘não importa o custo’. Mas ele valia mesmo tanto mais que o Stutz?”, questionava a revista. Pelos preços de 1918, o Raceabout custava US$ 3.600, cerca de 40% mais que os US$ 2.550 do Bearcat.

Mais tarde, em 2011, a Road & Track fazia um interessante paralelo entre o Stutz de 1914 e o então novo Chevrolet Corvette Grand Sport. Havia pontos em comum além da esportividade, como o fato de oferecerem desempenho à altura dos carros esporte europeus de seu tempo por um preço menor, a ênfase de suas mecânicas na confiabilidade e até mesmo o uso de transeixo na traseira. E quanto às sensações ao dirigir o clássico?

 

 

 
O sofisticado SV-16 Monte Carlo com carroceria Weymann, que simulava couro na
superfície externa, mostra como a Stutz se redirecionou para conforto e segurança

 

“Dê partida e você praticamente sente cada explosão individual fazendo girar os pesados componentes internos do Bearcat a uma preguiçosa marcha-lenta. Acertar a tangência de uma curva com o Stutz é mais uma questão de força nos braços que de precisão. E uma simples mudança de marcha — que requer a articulação de todo o braço e o torso, além de dupla debreagem — cansa mais que esticar as seis marchas do Corvette em uma travessia do país de costa a costa. Apesar de sua grande altura de rodagem, o Stutz ainda foi desenhado para ser estável, com um centro de gravidade relativamente baixo”, observava o teste.

 

 

Crise e mudança de mãos

Nos anos seguintes a Stutz enfrentou uma crise financeira que, em 1919, levou o fundador a vender a empresa. Harry instalou-se em outro endereço da mesma cidade e abriu a HCS (não confundir com o modelo de 1915, citado acima), uma competidora da marca original. Três anos mais tarde, em concordata, a Stutz passava às mãos de três investidores — sendo um deles Charles M. Schwab, um dos “magnatas do aço” dos EUA, que convidou para ser o novo presidente o húngaro Frederick Ewan Moskowics.

Com experiência nas marcas Daimler-Motoren-Gesellschaft, Marmon e Franklin, Moskowics assumiu em 1923 e redirecionou a política da Stutz de desempenho e esportividade para conforto, requinte e segurança, ao adotar soluções como vidros temperados, baixo centro de gravidade e o sistema Noback de transmissão, que impedia o carro de rodar para trás quando fosse arrancar em uma subida.  Charles S. Crawford, que trabalhara na Cole Motor Company, era o engenheiro chefe.

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Para ler

Car: The Definitive Visual History of the Automobile – editora DK Publishing. O livro de 360 páginas, lançado em 2011, traz grande número de modelos de diferentes períodos. O Bearcat aparece entre os esportivos de sua época, mas a obra não é detalhada.

Racing Stutz – por Mark Howell, editora Ballantine Books. Uma antiga obra para quem tem grande interesse na marca norte-americana. Publicada em 1972, aborda sua trajetória nas pistas em 160 páginas.

Supercars Field Guide – por Doug Mitchel e Tom Collins, editora Krause Publications. No livro de 2005, com 408 páginas, o Bearcat mereceu quatro páginas. Estão na obra mais de 100 modelos, de clássicos como esse Stutz até os modernos Corvette, Ferrari e Lamborghini.

1001 Dream Cars You Must Drive Before You Die – por Simon Heptinstall, editora Universe. O Bearcat não foi esquecido entre os “1.001 carros de sonho que você deve dirigir antes de morrer”, merecendo duas páginas no livro de 960 páginas publicado em 2012.

 

Nas telas

Na série de TV Bearcats!, transmitida por 13 semanas na televisão norte-americana CBS em 1971, dois detetives particulares (personagens de Rod Taylor e Dennis Cole) dirigem os Stutzs em aventuras que se passam antes da Primeira Guerra Mundial. Os veículos eram réplicas construídas por George Barris, o “rei da customização”, e usavam motor Ford de seis cilindros.

Outras participações dos modelos Stutz no cinema são mais comuns do que sua reduzida produção pode fazer esperar. O Bearcat dos primeiros anos de produção pode ser visto na comédia The Roaring Road (1919), no drama Asas de Águia (The Wings of Eagles, 1957), na comédia Doce Verão dos Meus Sonhos (Summer Magic, 1963) e nos dramas Rascal (1969) e A Grande Esperança Branca (The Great White Hope, 1970). No policial Estranha Compulsão (Compulsion, 1959) aparece um modelo de 1920. Até no seriado Simpsons aparece um, no episódio 20 da nona temporada.

Outros carros da marca estão no filme de velho oeste Just Pals (1920), que mostra um modelo S de 1918; no policial Homens Perigosos (Hoodlum, 1997), com um modelo BB de 1928; e na aventura A Vingança de Bulldog Drummond (Bulldog Drummond’s Revenge, 1937), que traz um SV-16 de 1931.

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Esse modelo M de 1929, com carroceria da francesa Hibbard & Darrin, é exemplo
da nova fase da Stutz nos anos 20; o motor tinha oito cilindros e 5,3 litros

 

O modelo Speedway Six, lançado um ano depois, tinha motor de seis cilindros e 4,7 litros com 80 cv, vantagem de 20 cv sobre o Packard Single Six de mesma cilindrada. Um novo oito-cilindros com 5,3 litros, comando de válvulas no cabeçote e 92 cv aparecia em 1926 — ano de vendas em alta, com mais de 5.000 unidades, mas elas não demorariam a despencar. Modificado para obter 113 cv, o motor equipava automóveis como o SV-16 e  o modelo M.

Nessa fase, os Stutz recebiam carrocerias especiais de empresas especializadas, atividade que foi comum naquele período da indústria. Em 1929, três unidades do modelo M foram “encarroçadas” pela Hibbard & Darrin, de Paris, empresa de Tom Hibbard e Howard “Dutch” Darrin que também vestiu modelos Duesenberg, Hispano-Suiza, Mercedes-Benz e Packard. O SV-16 com enorme entre-eixos de 3,68 metros prestava-se bem a execuções luxuosas, como o Monte Carlo elaborado pela Weymann em 1930, com um revestimento externo que simulava couro e estepes em ambas as laterais.

O carismático nome do carro esporte retornava ao mercado em 1931 no DV-28 Bearcat, uma evolução do roadster MA-28 Torpedo. Essa tentativa de reerguer as vendas da marca, tão prejudicadas pela Grande Depressão, foi um passo provisório até que estreasse o DV-32 Super Bearcat, com distância entre eixos de 2,90 m. Ao lado do novo desenho, coerente com o tempo, o modelo trazia o motor DV-32 de oito cilindros em linha e 5,3 litros com duplo comando e 32 válvulas — DV significava dual valve, ou seja, o dobro do válvulas de um motor convencional.

 


Outro modelo M: um cupê Supercharged, ou com compressor, de 1930

 

Com 156 cv, o DV-32 obtinha a segunda maior potência específica de seu tempo nos EUA, superada apenas pela do Duesenberg Model J, e podia alcançar 160 km/h. Com carrocerias especiais feitas por empresas como LeBaron, Rollston & Company, Waterhouse e Weymann, foi um digno representante da Stutz em um período de “corrida de cilindros”, quando vários fabricantes norte-americanos lançavam motores de 12 e até 16 cilindros, caso do Cadillac V16. Os freios atuavam nas quatro rodas e tinham assistência a vácuo, embora a suspensão ainda usasse eixos rígidos (a dianteira independente já equipava alguns poucos automóveis). O ano seguinte, porém, foi o último para essa segunda fase do Bearcat.

 

Em 1953, a Nash sugeria seu carro “para o garoto que sonhava com um Stutz Bearcat”, supondo-se que o menino agora seria um adulto com posses para realizar o antigo sonho

 

A Stutz encerrava suas atividades em 1935, após 35 mil carros construídos, mas a história de seu nome não terminava por ali. O banqueiro James O’Donnell relançava a marca em 1968, como Stutz Motor Car of America, e dois anos mais tarde colocava no mercado o extravagante cupê de luxo Blackhawk, desenhado por Virgil Exner, com carroceria produzida na Itália pela Ghia e mecânica General Motors. Um Bearcat moderno também seria feito, de 1979 em diante, em total de pouco mais de 10 exemplares.

O Bearcat original assumiu um duradouro prestígio entre os norte-americanos, sendo comum associá-lo a um estilo de vida bem-sucedido da década de 1920. Provas disso foram dois anúncios publicitários veiculados bem mais tarde. Em 1953, nos EUA, a Nash sugeria seu carro “para o garoto que sonhava com um Stutz Bearcat”, supondo-se que o menino agora seria um adulto com posses para realizar o antigo sonho. Em 1961 era a inglesa Triumph que questionava “o TR3 é o Stutz Bearcat dos anos 60?”, mostrando seu esportivo ao lado do carro norte-americano. O clássico aparecia ainda em uma publicidade das velas NGK de 1953, “do Stutz Bearcat ao Buick Wildcat“, este um carro-conceito daquele ano.

 

 

 
O último Bearcat da Stutz original foi o DV-32 Super Bearcat, com motor de oito
cilindros, duplo comando, 32 válvulas e 156 cv, que o levava à máxima de 160 km/h

 

Foi também um carro inspirador de réplicas. Howard D. Williams, na década de 1960, fabricou uma com carroceria de plástico e fibra de vidro e chassi do jipe International Harvester Scout. Pouco depois, o “rei da customização” George Barris construiu duas cópias do Stutz para a série de TV Bearcats!, de 1971 (leia boxe na página anterior). Embora com mecânica Ford, os carros eram bastante fiéis em termos de estilo.

 

 

Hoje, exemplares com impecável restauração são bastante valiosos, como mostram os que ilustram este artigo. Leiloados pela empresa RM Auctions, o Bearcat amarelo de 1915 foi vendido por US$ 368.500 em 2006; o Super Bearcat DV-32 verde de 1932 saiu por US$ 539 mil em 2011; e um DV-32 Dual Cowl Phaeton com carroceria Rollston & Company de 1933, vinho, único ainda existente com tais especificações, alcançou nada menos que US$ 797.500 em leilão de 2007.

 

Ficha técnica

Bearcat (1914) Bearcat (1918) DV-32 Sports Touring Car (1931)
MOTOR
Posição e cilindros longitudinal, 4 em linha longitudinal, 8 em linha
Comando e válv. por cilindro no bloco, 2 duplo no cabeçote, 4
Diâmetro e curso 120,6 x 139,7 mm 111,12 x 152,4 mm 85,7 x 114,3 mm
Cilindrada 6.399 cm³ 5.912 cm³ 4.899 cm³
Taxa de compressão ND
Potência máxima 60 cv a 1.500 rpm 80 cv 156 cv a 3.900 rpm
Torque máximo ND
Alimentação carburador
TRANSMISSÃO
Tipo de câmbio e marchas manual, 3
Tração traseira
FREIOS
Dianteiros não a tambor
Traseiros a tambor
Antitravamento (ABS) não
SUSPENSÃO
Dianteira eixo rígido
Traseira eixo rígido
RODAS
Pneus 4,50-34 5,00-33
DIMENSÕES
Comprimento 4,29 m ND
Entre-eixos 3,05 m 2,95 m
Peso ND 1.545 kg ND
DESEMPENHO
Velocidade máxima 130 km/h 135 km/h 160 km/h
Aceleração de 0 a 100 km/h cerca de 30 s ND
Dados do fabricante; ND = não disponível

 

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