Já na reta final da avaliação, nosso Citroën muda de dieta
e revela como ficaram agilidade e consumo com gasolina
Texto e fotos: Fabrício Samahá
Atualização de 11/12/12
Como os motores flexíveis em combustível com alta taxa de compressão — como o VTi 120 da Citroën, chamado na Peugeot de EC5 — se comportam com gasolina? A dúvida procede, pois esse expediente tem sido aplicado aos “flex” com o objetivo de obter melhor rendimento no uso de álcool, mas o combustível vegetal é cada vez menos viável no Brasil. Como se sabe, com ele o rendimento por litro cai em cerca de 30%, de modo que a escolha da gasolina é hoje a medida mais acertada, do ponto de vista econômico, em praticamente todo o País.
Como mencionado na atualização anterior, o tanque do Citroën C3 Exclusive de Um Mês ao Volante foi levado até perto do esgotamento, com o computador de bordo indicando menos de 30 quilômetros de autonomia, para a troca de combustível. Deixado o álcool para trás, completamos com gasolina e fomos observar o que se alterava em seu funcionamento.
No uso urbano, a sensação tem sido de ligeira perda de vivacidade, o que se explica pela redução de potência (de 122 para 115 cv) e de torque máximo (de 16,4 para 15,5 m.kgf) ao usar gasolina. Embora não tenhamos as curvas de desempenho do fabricante para comparar as rotações baixas e médias, mais usadas na condução em cidade, é lícito supor uma perda também nessas condições. Mesmo assim, o C3 permanece com agilidade em boa medida, que só deixa um pouco a desejar quando se espera uma atitude mais vigorosa, em parte por causa do grande intervalo entre as apenas quatro marchas da caixa automática.
O motor perde um pouco de potência e torque, mas mantém a suavidade com
gasolina; nos trajetos da semana o consumo médio foi de 7 até 12 km/l
O funcionamento do motor de 1,6 litro e 16 válvulas continua agradável, com vibrações bastante moderadas e baixo nível de ruído, exceto em altas rotações. O fenômeno da detonação (conhecida como “batida de pino”) não se manifestou nem mesmo na condição mais severa de pressionar o acelerador a fundo em baixas rotações, o que a caixa da Citroën permite quando colocada em modo manual. O teste ideal para isso, porém, envolveria o uso no litoral, sob maior pressão atmosférica: por onde rodamos até agora, a altitude mínima foi de 550 metros.
Em curva, o Citroën mostrou comportamento seguro, com pouca inclinação de carroceria, mas não tem agradado a firmeza com que a suspensão toma as irregularidades do piso
Nas alturas
Por falar em altitude, o C3 fez uma visita à estância turística de Campos de Jordão, SP, o mais alto município brasileiro se considerada a sede, 1.628 metros acima do nível do mar. Na subida de serra em ritmo normal o motor desempenhou bem, embora as quatro marchas voltassem a incomodar. Nessas condições de maior uso de potência, o motorista tem de escolher entre uma marcha baixa, com rotação e ruído acima do desejável, e uma marcha alta que não mantém o motor “esperto” como se quer (de acordo com o trecho, a dúvida pode ser entre segunda e terceira ou entre terceira e quarta). Cinco ou seis marchas fariam muito bem ao câmbio do modelo, pois o escalonamento poderia ser mais fechado.
Por outro lado a caixa mostrou boa calibração do modo automático, sem a troca cíclica — e incômoda — de marchas a todo momento que algumas delas apresentam. Na descida da serra, o programa esportivo do câmbio ajudou a produzir freio-motor, para que o carro não ficasse “solto” e exigisse aplicação demasiada dos freios, mas preferimos passar ao canal de trocas manuais para decidirmos nós mesmos que marcha aplicar.
Os dias de sol intenso não têm favorecido usar o amplo para-brisa, que pode
assumir o tamanho de um vidro comum quando se move um anteparo
Ainda que encontrar os limites em curva não fosse o objetivo da viagem familiar, o Citroën convenceu pelo comportamento seguro, com pouca inclinação de carroceria e peso ideal de direção. O que não tem agradado é a firmeza com que a suspensão toma as irregularidades do piso: impactos são mais transmitidos do que deveriam e causam ruídos indesejáveis no conjunto, que não ajudam na sensação de durabilidade. A escolha de pneus de perfil baixo (195/55 R 16, que no carro avaliado são Michelins Energy Green X, alemães) para a versão contribui para o quadro, pois a pequena altura de flanco diminui a absorção de impactos.
Afinal, como ficou o consumo do C3 com o novo combustível? Em quatro períodos de medição na semana, sendo três com predomínio de uso rodoviário e um apenas em cidade, as médias ficaram entre 7 e 12 km/l de gasolina. A melhor foi obtida em viagem noturna, com temperatura amena e velocidade ao redor de 110 km/h. A pior, como se espera, veio de vários trajetos urbanos com baixa velocidade média (19 km/h) e muito uso de ar-condicionado.
Foram também efetuados os testes em trajetos-padrão, explicados na atualização anterior. Seguindo condições iguais às do teste com álcool, registramos 11,6 km/l no ciclo urbano e 11,4 km/l no rodoviário com gasolina. Mais uma vez, não estranhe a proximidade dos números: o teste em cidade é feito sob condições leves, sem tráfego ou ar-condicionado, este usado em rodovia. Um ciclo com trânsito denso, embora ficasse mais próximo da realidade do cotidiano, estaria sujeito a grandes variações de fluidez de um dia para outro.
Pois bem: o que esses números representam? Os 8,2 km/l em cidade com álcool são 70% dos 11,6 km/l com gasolina, ou seja, nessa condição foi mantida a diferença teórica de rendimento entre os combustíveis. No teste rodoviário, contudo, a regra não se repetiu: os 8,4 km/l com álcool são 74% dos 11,4 km/l com gasolina, indicação de que esta última deveria ter permitido maior economia do que a registrada. Uma possível explicação para a diferença entre tais resultados estaria em uma calibração da central eletrônica mais eficiente em certas faixas de rotação que em outras.
Os bancos têm mostrado conforto adequado nas viagens com o C3, apesar da
escassez de espaço atrás; cuidado ao abrir a tampa traseira após chuva
Números à parte, o C3 acrescenta uma tranquilidade a quem preferir abastecê-lo com gasolina: a ausência do habitual tanque desse combustível para partida a frio. Se o derivado de petróleo permanece por meses no reservatório, degrada-se e pode causar entupimentos e outros problemas ao voltar a ser usado — como em um período de álcool mais barato. O sistema Flex Start adotado na versão Exclusive (e por enquanto apenas nela), que usa aquecimento do álcool para facilitar a ligação do motor sob baixa temperatura, tem o efeito colateral de dispensar a preocupação com o “tanquinho” quando se usa apenas gasolina. Durante o teste com álcool as partidas foram sempre imediatas, mas não registramos temperaturas baixas o bastante para colocar o sistema à prova.
O clima típico de verão desse fim de primavera tem trazido algumas constatações. Uma, de que o ar-condicionado do Citroën poderia ter maior capacidade de refrigeração: é preciso usar as mais altas velocidades e fechar a admissão de ar para contornar o calor de maneira satisfatória, mesmo após longo trecho de viagem. Outra, de que a ideia de cromar o acabamento junto à alavanca de câmbio foi infeliz para um país de baixa latitude, no qual o sol de meio-dia provoca fortes reflexos nos olhos dos ocupantes.
A terceira, curiosa, advém da exposição do carro estacionado às chuvas dos últimos dias. Mesmo que ele já esteja seco, quando se abre a tampa do porta-malas surgem duas goteiras, uma em cada extremidade do friso cromado da base da porta, que podem pegar desprevenido quem chega para colocar uma bagagem — a impressão é de que o friso curvo armazena certo volume de água, que sai dali assim que a tampa é aberta.
Atualização anterior |
Último período
7 dias |
572 km |
Distância em cidade | 181 km |
Distância em rodovia | 391 km |
Consumo médio (gasolina) | 10,6 km/l |
Melhor média (gasolina) | 12,0 km/l |
Pior média (gasolina) | 7,0 km/l |
Indicações do computador de bordo |
Desde o início
27 dias |
2.495 km |
Distância em cidade | 703 km |
Distância em rodovia | 1.792 km |
Consumo médio (gasolina) | 10,6 km/l |
Melhor média (gasolina) | 12,0 km/l |
Pior média (gasolina) | 7,0 km/l |
Consumo médio (álcool) | 7,9 km/l |
Melhor média (álcool) | 8,9 km/l |
Pior média (álcool) | 5,6 km/l |
Indicações do computador de bordo |
Consumo em trajetos-padrão
Trajeto em cidade (gasolina) | 11,6 km/l |
Trajeto em cidade (álcool) | 8,2 km/l |
Trajeto em rodovia (gasolina) | 11,4 km/l |
Trajeto em rodovia (álcool) | 8,4 km/l |
Indicações do computador de bordo |
Preço
Sem opcionais | R$ 55.340 |
Como avaliado | R$ 59.130 |
Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 4 em linha |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4, variação de tempo |
Diâmetro e curso | 78,5 x 82 mm |
Cilindrada | 1.587 cm³ |
Taxa de compressão | 12,5:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial |
Potência máxima (gas.) | 115 cv a 6.000 rpm |
Potência máxima (álc.) | 122 cv a 5.800 rpm |
Torque máximo (gas.) | 15,5 m.kgf a 4.000 rpm |
Torque máximo (álc.) | 16,4 m.kgf a 4.000 rpm |
Transmissão | |
Tipo de câmbio e marchas | automático / 4 |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a tambor |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | elétrica |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | eixo de torção, mola helicoidal |
Rodas | |
Dimensões | 16 pol |
Pneus | 195/55 R 16 |
Dimensões | |
Comprimento | 3,944 m |
Largura | 1,708 m |
Altura | 1,521 m |
Entre-eixos | 2,46 m |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 55 l |
Compartimento de bagagem | 300 l |
Peso em ordem de marcha | 1.202 kg |
Dados do fabricante; desempenho e consumo não disponíveis |