Evoluções no motor de 1,0 litro somam-se a um pacote
voltado à eficiência: como ele se comporta durante 30 dias?
Texto e fotos: Roberto Agresti
Atualização inicial: 28/8/12
Depois de uma sequência de três modelos médios — Peugeot 308 Allure, Toyota Corolla XRS e Honda Civic LXL —, era a hora de Um Mês ao Volante voltar sua atenção ao segmento de entrada do mercado, o dos carros pequenos com motor de 1,0 litro de cilindrada. E que modelo atenderia melhor a esse objetivo que o mais vendido do País, o Volkswagen Gol?
O líder nacional de vendas desde 1987 — hegemonia que vem de duas gerações atrás da atual, que é a terceira — acaba de ser reestilizado, ganhando feições inspiradas nas dos automóveis superiores da marca, como Jetta e Passat, e o inédito pacote BlueMotion Technology. E foi um Gol assim equipado que a VW nos cedeu por 30 dias para a avaliação da equipe.
Em sua versão básica, o Gol de 1,0 litro tem preço sugerido de R$ 28 mil e vem com equipamentos de série como controle elétrico dos vidros dianteiros, travas e da tampa do porta-malas; desembaçador, lavador e limpador do vidro traseiro com temporizador; banco do motorista com regulagem de altura, conta-giros, cintos laterais traseiros retráteis e para-sóis com espelhos. Nosso carro, porém, vai bem mais longe.
O pacote BlueMotion Technology traz pneus 175/70 R 14 com baixa resistência à rolagem, indicador digital de consumo instantâneo e mostrador digital de troca de marcha. Ele foi combinado ao pacote I-Trend, que aplica ao Gol direção assistida, rádio/toca-CDs com MP3 e interface Bluetooth para telefone celular, volante com comandos de áudio e defletor traseiro, entre outros itens. Constam ainda do carro as opções de ar-condicionado, pacote Acesso Completo (chave em estilo canivete com controle remoto, alarme antifurto, controle elétrico dos retrovisores e outros), faróis e luz traseira de neblina e bolsas infláveis frontais combinadas a sistema antitravamento (ABS) nos freios. O total com pintura metálica é de R$ 35.855.
Frente e traseira do Gol acabam de passar por uma reformulação; seu motor de 1,0
litro ficou mais econômico, segundo a VW, mas não ganhou torque ou potência
O início da avaliação do Gol foi intenso. De cara, rodou em dois dias cerca de 130 quilômetros em regime de trânsito intenso, no qual mostrou características opostas. Por um lado, uma boa “urbanidade” que se traduz por um comando de câmbio leve, justo e preciso e uma embreagem macia e de resposta correta, elogio que pode ser estendido ao sistema de direção e aos freios. Já o comando do acelerador…
O problema não está exatamente no comando, mas sim em nos habituarmos ao motor de 1,0 litro, que exige um período de adaptação depois de carros bem mais potentes a nosso dispor. E não tanto em relação à falta de potência e torque, que é natural em um motor de tamanho limitado e sem sobrealimentação, mas sim de adaptar o modo de condução a peculiaridades da cidade de São Paulo, com seu mais do que acidentado perfil topográfico, sobretudo na região de circulação mais frequente da equipe.
Sair de São Bernardo do Campo, SP, da histórica sede da Volkswagen do Brasil e percorrer alguns quilômetros na rodovia Anchieta não causou nenhuma má impressão: o Gol progride com certa desenvoltura e não obriga ao motorista afundar o pé para acompanhar o fluxo do trânsito. O problema surge quando, ingressando na cidade de São Paulo, inicia-se a sucessão de rampas. O “sobe morro, desce morro” é cruel para qualquer carro 1.000, e o novo Gol não é exceção. Afundar o pé com fé é dever, e trocar de marchas de maneira esperta é obrigação, sob pena de tomar uma buzinada caso insistirmos em tentar fazer o carrinho progredir sem redução de marcha. E aí, nessa ação, engates exatos e embreagem sincera contam pontos, e muitos.
Marcha acima, marcha abaixo
Nesses primeiros momentos de (quase) traumático convívio, o foco do motorista foi total na condução pelas vias atravancadas de veículos. A busca por manter desempenho adequado ao fluxo logo se mostra eficaz, e com isso o necessário relaxamento nos faz perceber os detalhes do novo parceiro de mês. O painel, sóbrio, tem entre dois instrumentos circulares, velocímetro e conta-giros, um mostrador digital com muitas informações que podem ser folheadas através dos botões situados no volante.
O interior simples foi enriquecido por opcionais que somam mais de R$ 7 mil; o
pacote BlueMotion Technology inclui pneus com menor resistência ao rolamento
Ao computador de bordo acrescentam-se um velocímetro digital, itens do sistema de áudio (faixa da música ou estação de rádio) e as configurações de diversos equipamentos, como sensores de estacionamento e modo de iluminação. A boa nova é a indicação de qual marcha usar para obter a maior economia, por meio do número da marcha engatada e um símbolo ao lado dele.
Um ponto? Você está usando a marcha certa. Seta para cima? Engate a marcha superior. Seta para baixo? Reduza. E, ao lado disso, um marcador de consumo instantâneo. Como se isso não bastasse, há ainda alertas do tipo “feche a janela”, caso esquecida aberta ao ligar o ar-condicionado, e “não acelere o carro parado”. E tudo isso é a tecnologia BlueMotion, que em parceria com os pneus de baixo atrito promove até 8% de economia de combustível, segundo a VW. Vale notar que, ao contrário do Fox BlueMotion lançado em abril, o Gol mantém as relações de marcha e diferencial das outras versões com motor de 1,0 litro.
Motor esse que recebeu aprimoramentos na linha 2013. Denominada TEC (Tecnologia para Economia de Combustível), essa evolução traz pistões e trem de válvulas com redução de atritos, central eletrônica de injeção e ignição mais moderna e novos comando de válvulas e coletor de admissão, além de melhorias no sistema de partida a frio. Os valores de potência e torque, contudo, são os mesmos do modelo 2012.
Passados os dois dias mencionados de “rock’n roll” paulistano, para e anda, anda e para, o fim de semana recomendava uma merecido relaxamento — e assim, de motorista novinho em folha ao volante, o Gol rumou para Ilhabela, no litoral norte paulista. Autor da proeza, Tiago Kisiliauskas tem experiência em carros com motor 1000 ou até menos: guia frequentemente o Palio da namorada, um modelo 2004, e teve durante bons anos um Subaru Vivio, com motor de 660 cm³!
Para Tiago, rodar no Gol nessa viagem e, na sequência, em trajetos urbanos mas livres de tráfego foi uma boa experiência. O colaborador revelou-se surpreso pelo razoável desempenho do Gol no favorável trecho de ida. Optando por chegar a Ilhabela pelo caminho mais longo, descendo a rodovia dos Imigrantes e depois passando por Bertioga e a tortuosa Rio-Santos, Tiago revelou que na chegada à balsa de Ilhabela o computador de bordo indicava mais de 16 km/l de álcool em média — segundo ele, obtida sem dar muita atenção a métodos de direção econômicos, seja os sugeridos pelo mostrador do painel, seja por hábitos saudáveis do motorista.
O Gol em Ilhabela, no litoral paulista: média de 16 km/l de álcool na viagem de ida e
quase 13 no cômputo geral, mas o desempenho exige uso constante do câmbio
Todavia, a volta foi menos feliz: se para baixo todo santo ajuda como diz o provérbio, para cima motor 1.000 é o que é. Mesmo com apenas dois a bordo e quase nada de bagagem, os trechos mais íngremes do retorno a São Paulo não foram exatamente um idílio, obrigando ao motorista à atitude já sinalizada linhas atrás: afundar o pé e não ter preguiça de trocar de marcha. Na chegada a capital, a bela média havia sido reduzida a pouco menos de 13 km/l, ainda assim um resultado digno de nota — e melhor do que faria o Palio da companheira, de acordo com o colaborador.
Mas seu namoro com o novo Gol acabou com uma ducha fria: ao perguntar quanto custava o carro naquela versão, a resposta o fez exclamar um “tá louco!”, seguido por outra frase impublicável, o que indica claramente que o número — R$ 35.855 — não parece adequado ao motorista.
Para a semana, outros personagens habituais de Um Mês ao Volante se alternarão no comando do Gol. Dentro do padrão de atualizações bissemanais, que voltamos a manter a pedidos de leitores, na sexta-feira saberemos o que eles acharam.
Avaliação anterior (Honda Civic) |
Desde o início
5 dias |
760 km |
Distância em cidade | 320 km |
Distância em estrada | 440 km |
Tempo ao volante | 22h 55min |
Velocidade média | 33 km/h |
Consumo médio (álcool) | 11,6 km/l |
Melhor marca média (álcool) | 12,9 km/l |
Pior marca média (álcool) | 7,9 km/l |
Indicações do computador de bordo |
Preço
Sem opcionais | R$ 27.990 |
Como avaliado | R$ 35.855 |
Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 4 em linha |
Comando de válvulas | no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 2 |
Diâmetro e curso | 67,1 x 70,6 mm |
Cilindrada | 999 cm³ |
Taxa de compressão | 12,7:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial |
Potência máxima (gas./álc.) | 72/76 cv a 5.250 rpm |
Torque máximo (gas./álc.) | 9,7/10,6 m.kgf a 3.850 rpm |
Transmissão | |
Tipo de câmbio e marchas | manual / 5 |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a tambor |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | hidráulica |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson |
Traseira | eixo de torção |
Rodas | |
Dimensões | 5 x 14 pol |
Pneus | 175/70 R 14 |
Dimensões | |
Comprimento | 3,895 m |
Largura | 1,656 m |
Altura | 1,464 m |
Entre-eixos | 2,465 m |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 55 l |
Compartimento de bagagem | 285 l |
Peso em ordem de marcha | 947 kg |
Desempenho | |
Velocidade máxima (gas./álc.) | 163/165 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h (gas./álc.) | 13,4/12,9 s |
Dados do fabricante; consumo não disponível |