Ao fim de um mês de avaliação, versão “verde” do carro mais
vendido do País revela se essa liderança tem justificativas
Texto e fotos: Roberto Agresti
Atualização final: 25/9/12
Para o derradeiro fim de semana do Volkswagen Gol BlueMotion em nossas mãos, o colaborador Marcos Moretti foi o encarregado de uma intensa quilometragem em estradas de tipo variado.
Zarpando em um fim de tarde de sexta-feira em São Paulo, o que é sempre sinônimo de trânsito travado, da zona oeste da cidade Marcos teve de rumar para a zona leste antes de ingressar na Rodovia dos Imigrantes para chegar à Riviera de São Lourenço, em Bertioga, seu destino final. Nesse trajeto urbano de pouco menos de 20 quilômetros o motorista enfrentou um desgastante congestionamento de mais de duas horas, mas que serviu como oportunidade para estabelecer contato com o Gol no uso urbano.
O trecho fez o motorista valorizar alguns aspectos do Gol, como a maciez da embreagem aliada aos bons engates do câmbio — genuíno ponto alto do modelo —, o válido sistema de ar-condicionado e o sistema de áudio definido como simples, mas cumpridor, com sua entrada USB (a única) que Marcos definiu como sendo o estritamente necessário hoje.
Tanto tempo no para-anda dentro do Gol deu tempo para o colaborador observar bem o interior do carro — e ver facetas menos felizes. Forte crítica foi direcionada ao carpete que, segundo Marcos, é de qualidade tão ruim que não se espera ver nem mesmo em um furgão, quanto mais em um carro de passageiros de R$ 35 mil. Para Marcos, não apenas a aparência é ruim como o acabamento — ou a falta dele — nos vãos de onde saem os trilhos dos bancos, o que dá ao Gol uma aparência de imerecido desleixo construtivo. Aliás, o banco do passageiro nos últimos dias do teste se soltou de um dos lados, ocasionando um ruído irritante quando vazio.
Em mais uma viagem ao litoral, o Gol mostrou valentia na subida da serra, mas
decepcionou pela estabilidade; os pneus da versão parecem ser os culpados
Ainda sobre o interior do Gol, Marcos achou o painel “simples e eficiente”, com ressalva ao mostrador do computador de bordo: além de ser pequeno demais, suas letras vermelhas em fundo preto fazem com que a maior parte das informações não consiga ser lida por quem, como ele, faz uso de óculos para leitura por conta de presbiopia (a chamada “vista cansada”), realidade da maioria dos motoristas com mais de 40 anos de idade.
Uma vez na estrada, já à noite, Marcos refere não ter sentido grande segurança para manter os 110 km/h permitidos no trecho inicial de sua viagem: “Havia lido o relato de outros motoristas, que se mostraram pouco convencidos com a estabilidade desse carro, e imaginava que houvesse algum exagero. Mas, com apenas dois a bordo e pouca bagagem, a sensação de insegurança me obrigou a dar razão a eles, pois tive de prestar grande atenção e segurar ao volante de modo tenso. Acho que no meu Ford Focus, para sentir algo semelhante, nem a 160 km/h”.
O retorno à capital confirmou a insatisfação de Marcos com a estabilidade: “A impressão é de que os pneus estão aquém do necessário em dimensão e qualidade”
O colaborador detalha a sensação: “Minha impressão é de que os pneus não ‘plantam’ o Gol da maneira como deveriam no chão. Fora isso ele também é altinho, o que dá para perceber pelo fato de que quase nunca raspa a frente ou o fundo, nem em lombadas, nem em entradas de garagem ‘malvadas’ como a do prédio onde moro. O resultado final é um carro meio incerto, que responde de modo pouco tranquilizador a eventuais mudanças de faixa de rolamento de maneira mais decidida”.
O retorno à capital paulista teria panorama bem diferente do da ida: “Com duas pessoas a mais no carro e porta-malas cheio, a volta teve uma ‘escala’ em Caraguatatuba, ainda no litoral, e a subida da serra foi pela rodovia dos Tamoios, com chuva. Nessa condição, o que não tinha gostado no Gol, sua estabilidade, foi plenamente confirmado”. Marcos relata que em algumas situações sentiu forte sobresterço ao desacelerar na tomada de curvas, “algo bem acima do que acho que seria razoável nessa condição de uso. Ao tomar algumas curvas de modo lançado, a sensação de que a traseira queria passar a frente não me agradou nada. A impressão é de que os pneus estão aquém do necessário em dimensão e qualidade”.
Nesse percurso serra do Mar acima, porém, o motorista pôde avaliar a competência do motor de 1,0 litro, agora batizado de TEC: “Para subir em um ritmo razoável é necessário não vacilar no acelerador e jamais deixar o Gol perder embalo, mas ele responde bem a esse tipo de uso, sem vibração ou ruído excessivo. Assim dirigido, chega a surpreender quem espera que todo carro 1.000 seja ‘manco’, sem potência”.
O mostrador digital de consumo e o computador de bordo são úteis, mas Marcos fez
ressalva a sua leitura; já o acabamento foi julgado pobre demais para o preço
Já no planalto, a queixa do colaborador foi com relação à estabilidade direcional do Volkswagen. Por conta de um forte vento lateral, manter os 120 km/h permitidos nas rodovias Carvalho Pinto e Ayrton Senna causou alguma apreensão ao motorista, que disse ser difícil manter uma linha reta. “Não me lembro de recentemente ter guiado um carro que me fizesse ficar corrigindo a trajetória da maneira que esse Gol exige. Até parece que a direção está com folga, coisa que obviamente não procede. Acredito que pneus mais largos e certa redução na altura das suspensões poderiam beneficiar muito esse Gol, mas tais pneus estariam na contramão da proposta do BlueMotion”.
Altos e baixos
Ao cabo de seu rápido, mas intenso contato, com mais de 500 km rodados e quase 13 horas ao volante, Marcos faz um elenco de prós e contras do modelo.
“Ele é bonito, tem linhas agradáveis e o espaço interno não é ruim, apesar de o porta-malas não ser grande coisa. É bem equipado, com itens que até alguns carros de luxo não têm, como o retrovisor elétrico que ao engatar a marcha à ré mostra o meio-fio para ajudar a manobra, os sensores de estacionamento com visualização no mostrador do rádio e um bom computador de bordo. Positivo também é o motor, que me pareceu valente para a cilindrada e sobretudo muito econômico”, ele relata.
E os pontos negativos? “O acerto de suspensão e especialmente esses pneus deveriam ser revistos. Apesar de não ter rodado muito tempo em cidade, me pareceu uma suspensão firme demais, mas que não oferece a estabilidade que se espera dela. Outro ponto que deixa a desejar é o acabamento, caso do citado carpete e também do padrão dos plásticos usados no painel e nas laterais de porta, que poderiam ser melhores pelo que custa esse carro”.
Entre altos e baixos, o colaborador colocaria o BlueMotion em sua garagem? “Comprar esse Gol pelos quase 36 mil reais da versão assim equipada me parece algo insano, assim como pagar 28 mil pela versão mais despojada, que não tem nem mesmo ar-condicionado ou direção hidráulica”.
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