Chegou o dia da viagem ao litoral, que pôs à prova conforto,
estabilidade, economia e até o bloqueio de diferencial Locker
Texto: Fabrício Samahá – Fotos: Roberto Agresti
Atualização de 9/10/12
Se existe um roteiro que possa ser chamado de “laboratório” nas avaliações de Um Mês ao Volante, é a viagem do coordenador da seção, Roberto Agresti, ao litoral norte paulista com destino a Ubatuba.
“Trata-se de um roteiro variado, que de São Paulo parte das ótimas rodovias Ayrton Senna e Carvalho Pinto; passa pela rodovia dos Tamoios, de mão dupla, que termina em uma exigente descida de serra; e uma vez à beira-mar a conhecida Rio-Santos, com suas lombadas, asfalto irregular e traçado tortuoso que serve de prenúncio para um gran finale“, explica o motorista da vez. Este é realizado em uma típica estrada caiçara de seis quilômetros que termina em uma íngreme subida de morro, verdadeira passagem fora de estrada, que em seus piores trechos tem “rodeiros” de concreto destinados a evitar que as chuvas estraguem o fim de semana de um visitante.
Roberto conta que tal cenário, ideal para as pretensões da Fiat Idea Adventure, provou que o bloqueio de diferencial, cujo uso é limitado à velocidade de 20 km/h, não é — como imaginam alguns — um componente de mero apelo mercadológico: “O acessório batizado de Locker, hoje aplicado como opcional à versão, não torna a Idea um verdadeiro jipe — disso não há dúvida —, mas mostrou validade em uma situação enfrentada, bem específica, de contornar curvas fechadas em piso de baixa aderência e com elevado grau de inclinação”.
Acostumado a percorrer a referida estrada com diversos carros, o coordenador sabe que algumas curvas exigem habilidade para evitar a patinação excessiva da roda de tração interna à curva: “Em algumas situações, em especial no caso de carros grandes ou muito carregados, superar o aclive é algo que só se consegue após algumas tentativas, com consequente desgaste ao veículo e desconforto aos ocupantes”.
Para chegar ao litoral a Idea passou por uma exigente serra, onde a estabilidade
trazida pela suspensão bem acertada surpreendeu o coordenador Roberto Agresti
Chegando ao destino na noite de sexta-feira, Roberto encontrou o local perfeito para a “prova dos nove” do sistema Locker, pois a Idea estava carregada, e o piso, molhado. “Sem nenhum embalo — mesmo porque o trecho não permite alcançar a curva de quase 180º em velocidade —, acionei a tecla do bloqueio do diferencial e a Adventure venceu o aclive com mínima perda de aderência. O único senão é que, por conta do diferencial bloqueado, quando do breve deslizamento de ambos os pneus ocorreu um deslocamento lateral, mas algo plenamente controlável, bem mais fácil de encarar do que diversas tentativas para superar a curva e consequente marcha à ré na escuridão”, relata.
Se um ponto final foi colocado na validade do sistema Locker, limitado mas não inútil, o fim de semana com a Idea — sobretudo os mais de 400 quilômetros rodados nas diversas rodovias mencionadas — jogou luz sobre algumas competências e incompetências do modelo da Fiat.
A Idea mostrou um surpreendente acerto de suspensões: “Mesmo com a maior altura de rodagem e os pneus de uso misto, observei reduzida rolagem da carroceria e ótima sensação de poder seguir as trajetórias de maneira ideal”
“Começo pelo fim: não me agradou ser obrigado a abastecer antes da chegada a São Paulo, uma vez que o elevado consumo registrado pela Idea abastecida com álcool, 8 km/l para o trecho, fez a luz de alerta de combustível baixo, acompanhada de mensagem de texto no computador de bordo, aparecer quando a capital ainda distava pelo menos 80 km. São raros os carros que, devidamente abastecidos no início da ‘viagem-laboratório’, não conseguem cumpri-la de porta a porta. Portanto, autonomia não é o forte da Idea. Um tanque maior que o atual de 48 litros seria oportuno”, aponta Roberto.
Com porta-malas cheio, dois adultos e duas crianças pré-adolescentes a bordo, o ponteiro do nível de combustível do Fiat desceu de maneira decidida mesmo com um ritmo de viagem bastante regrado, calmo. Ele analisa os culpados: “Além de uma natureza sedenta intrínseca do motor E-Torq de 1,75 litro, estão os pneus mistos, robustos, mas não ajudam nada a gastar menos combustível. Outro ‘pecador’ é o adereço plantado no teto da Idea, de misteriosa função prática: duvido que ajude a estabilidade e como bagageiro não serve. Basta olhar pela dianteira do carro para perceber como ele promove um desnecessário aumento da área frontal e decorrente arrasto aerodinâmico. E nesse item, aerodinâmica, o maior vão livre do solo certamente não colabora com a fluidez amiga da economia”.
A viagem trouxe conclusões positivas, como acerca dos ótimos faróis, e negativas,
caso dos bancos dianteiros que não apoiam bem a parte superior das costas
Tais aspectos estéticos típicos da versão Adventure podem ser culpados por alguns litros a mais gastos na viagem, “mas são enxergados por muitos como válidos adereços. Agregam um estilo muito apreciado entre os brasileiros, que ou parecem bem felizes em pagar pela ineficiência energética, ou nem fazem ideia do motivo para sua Adventure beber tanto”, pondera Roberto.
Suspensões ganham elogios
Apesar desse pesar em termos de consumo, a Idea mostrou ao coordenador um surpreendente acerto de suspensões: “Mesmo com a maior altura de rodagem em relação a uma versão comum e a menor aderência que os pneus de uso misto oferecem, os trechos de serra trouxeram inesperada segurança. Observei reduzida rolagem da carroceria e ótima sensação de poder seguir as trajetórias de maneira ideal, sem má impressão. Mesmo na transposição de piso ruim e defeitos na pavimentação, o ajuste da suspensão não sacrificou os ocupantes. Pode-se dizer que esse item, suspensões, é um ponto alto da Adventure, se não o maior deles”.
Mas se a satisfação com a tocada da Idea nas curvas está fora de questão, o mesmo não se pode dizer da ergonomia — e seu maior pecador é o banco, cuja conformação do encosto deixa a parte alta das costas mal apoiada. Disso resulta grande distância entre a parte posterior da cabeça e seu apoio no alto do banco, elemento de segurança que desse modo tem eficácia prejudicada no evento de uma colisão por trás. Também não agradam o volante desalinhado com o banco e os difusores de ar muito baixos, que dificultam a refrigeração homogênea da cabine.
Já na “segunda classe”, o banco traseiro, as passageiras mirins gostaram da Idea, destacando que o espaço não só é razoável como agradável. “E por quê?”, perguntou o motorista, ouvindo um “acho que é o teto alto” como resposta. Tal visão foi compartilhada pela ocupante do banco do passageiro dianteiro que, apesar de criticar o encosto do banco, elogiou a sensação de amplitude e o “sentar mais alto” que a Idea proporciona. Quanto ao compartimento de bagagem, não empolgou nem decepcionou: justo, justinho para as necessidades do fim de semana em família, sem usar o espaço acima da tampa.
Com banco mais alto e os pedais do Palio, a Idea impõe uma posição estranha
à perna esquerda ao acionar a embreagem, o que dificulta sua modulação
A viagem noturna de ida possibilitou a Roberto conhecer o sistema de iluminação da Idea, julgado ótimo: “Mesmo sem recorrer aos faróis auxiliares (há dois pares, de neblina e longo alcance), a luz oferecida oferece grande segurança. Com o farol ‘de milha’ ligado, então, nem se fala. E para nossa ‘alegria’, até neblina teve nessa viagem, o que deu a chance de usar o competente, no caso, acessório. Lamento, porém, não haver luz de neblina traseira”.
Por fim, uma necessária reflexão sobre aspecto observado pela colaboradora Regina Garjulli, na última atualização, acerca de uma estranheza sentida com a embreagem da Idea, que teria se revelado pouco modulável. De fato há algo de estranho, mas não com a embreagem em si — e sim com os pedais. A minivan se vale do conjunto usado no antigo Palio, mas o plano do assento do motorista, mesmo na mais baixa das regulagens, está mais elevado a cerca de 40 cm do assoalho do carro.
“Isso faz com que o motorista pise na embreagem da Idea de maneira diferente que no Palio, movimentando não apenas a articulação do tornozelo ou estendendo levemente a perna à frente. Na minivan a perna se movimenta toda, obrigando até a uma leve flexão da coxa em relação ao quadril. Tal movimento é mais acentuado nas saídas com o carro parado. Claro que em situações como a saída em uma rua íngreme, que enseja modulação mais precisa do pedal, o posicionamento ‘estranho’ não favorece a operação. Um detalhe que, infelizmente, mostra que alguma idade de projeto somada ao sempre necessário — para as fábricas — aproveitamento de componentes pode resultar em imperfeição”, conclui o coordenador.
Atualização anterior |
Último período
4 dias |
472 km |
Distância em cidade | 42 km |
Distância em estrada | 430 km |
Tempo ao volante | 8h 39min |
Velocidade média | 54 km/h |
Consumo médio (álcool) | 7,9 km/l |
Indicações do computador de bordo |
Desde o início
14 dias |
1.246 km |
Distância em cidade | 496 km |
Distância em estrada | 750 km |
Tempo ao volante | 34h 33min |
Velocidade média | 36 km/h |
Consumo médio (álcool) | 7,4 km/l |
Melhor marca média (álcool) | 8,2 km/l |
Pior marca média (álcool) | 5,6 km/l |
Consumo em percurso-padrão (43,2 km) | |
Álcool | 10,9 km/l |
Indicações do computador de bordo |
Preço
Sem opcionais | R$ 51.040 |
Como avaliado | R$ 59.691 |
Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 4 em linha |
Comando de válvulas | no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4 |
Diâmetro e curso | 80,5 x 85,8 mm |
Cilindrada | 1.747 cm³ |
Taxa de compressão | 11,2:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial |
Potência máxima (gas./álc.) | 130/132 cv a 5.250 rpm |
Torque máximo (gas./álc.) | 18,4/18,9 m.kgf a 4.250 rpm |
Transmissão | |
Tipo de câmbio e marchas | manual / 5 |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a tambor |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | hidráulica |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson |
Traseira | eixo de torção |
Rodas | |
Dimensões | 6 x 15 pol |
Pneus | 205/70 R 15 |
Dimensões | |
Comprimento | 4,207 m |
Largura | 1,753 m |
Altura | 1,814 m |
Entre-eixos | 2,511 m |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 48 l |
Compartimento de bagagem | 380 l |
Peso em ordem de marcha | 1.325 kg |
Desempenho e consumo | |
Velocidade máxima (gas./álc.) | 178/180 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h (gas./álc.) | 11,6/10,8 s |
Consumo em cidade (gas./álc.) | 11,0/7,4 km/l |
Consumo em rodovia (gas./álc.) | 14,6/9,8 km/l |
Dados do fabricante |