Em teste de 30 dias, modelo sobe a serra nas mãos de dois motoristas e
revela se desempenho e conforto estão à altura das expectativas
Texto e fotos: Fabrício Samahá
Subir a serra da Rodovia SP-123 Floriano Rodrigues Pinheiro (ou “Rodriguês”, como algum desavisado grafou em várias placas na recente reforma…), que leva à estância turística de Campos do Jordão, SP, é um trajeto que muitos paulistas fazem na temporada de inverno e, em especial, no mês de julho. Pois foi esse percurso que a Peugeot 3008 Griffe de Um Mês ao Volante cumpriu duas vezes na última semana — a terceira de seu período conosco —, nas mãos de dois motoristas da equipe da seção.
Este editor, que foi a Campos para um evento da Hyundai Caoa (leia avaliações), já acumula quilometragem razoável ao volante de nossa minivan, mas ainda teve novas — e boas — impressões a obter. A primeira foi ainda na subida: selecionada a sexta marcha no modo manual da caixa de câmbio, o motor turboalimentado empurrou a tonelada e meia do carro com valentia por quase toda a subida de serra, mantendo a faixa de 1.500 a 2.000 rpm. Não que houvesse algum impedimento em deixar a caixa em automático e subir entre quarta e quinta com o motor girando alto, mas foi interessante constatar como um carro pesado e com apenas 1,6 litro de cilindrada pode ser tão vigoroso em rotações tão baixas, bastando abrir o acelerador e deixar o turbo “encher”.
Na última semana a 3008 foi duas vezes a Campos do Jordão, SP, com o editor
Fabrício e o colaborador Vitor, que destacaram alguns pontos em comum
Como se sabe, além de expandir o ponto máximo de torque para uma ampla faixa (entre 1.400 e 4.000 rpm), a turboalimentação conforme definida pela Peugeot oferece outro benefício ao motor THP: a perda de potência pela menor pressão atmosférica é bem menor que em uma unidade de aspiração natural. O motor aspirado perde algo como 1% de potência a cada 100 metros de altitude, o que deixaria 165 cv como se fossem menos de 140 cv no topo da serra, 1.600 metros acima do nível do mar. Com turbo a altitude afeta apenas a pressão atmosférica, que é somada à sobrepressão do sistema, mantida em qualquer altitude e que tem valor máximo de 1 bar no caso do THP. Assim, quanto mais alto se estiver, maior a vantagem da turboalimentação sobre a aspiração natural.
“Que show é esse THP! Tem disposição de
sobra e respostas sempre rápidas. Nada da lentidão
dos turbos antigos”, destaca o colaborador
Tanto rumo a Campos quanto no trajeto de descida a 3008 revelou grande estabilidade, a ponto de transmitir uma confiança habitual em bons automóveis — não em utilitários esporte ou minivans, categorias das quais ela combina elementos. Na volta à sede do Best Cars em Pindamonhangaba, SP, outra satisfação: a calibração da caixa é perfeita para tal condição, como se lesse pensamentos. O modo automático normal é suficiente para que, ao deixar de acelerar em declive, o motor mantenha rotação ideal para obter freio-motor e minimizar o uso de freios em diferentes faixas de velocidade. Nem é preciso acionar o programa esportivo ou passar à seleção manual.
O que não agradou? O navegador da Peugeot merece ser reprojetado quanto à inserção de destinos, pois girar e apertar um botão letra por letra é muito mais trabalhoso do que usar uma tela sensível ao toque. O sistema da 3008 também não opera em português brasileiro como o de outros modelos do grupo: prefere sugerir “virar na próxima rotunda”, como se diz além-mar. Outro ponto: a tampa traseira dividida (parte aberta para cima, parte para baixo) não parece a melhor solução quando se retiram cargas pesadas. Com a seção inferior fechada a base de acesso fica muito alta; com ela aberta, a carga fica mais distante e o usuário pode ser obrigado a uma posição exigente à coluna. Uma tampa única, como habitual em minivans, resolveria o assunto.
O desempenho do motor turbo de 165 cv tem sido elogiado: 1.500 a 2.000 rpm em
sexta marcha foram o bastante para vencer praticamente toda a subida
De volta à serra, com família
Das mãos do editor a 3008 passou às de Vitor Freitas, empresário que colaborou nos testes anteriores de Citroën C3 e C4 Lounge, Fiat Bravo, Nissan Sentra e VW Golf. O motorista seguiu à mesma Campos, só que em passeio com a mulher e os dois filhos, curtindo o sol de inverno pelo amplo teto envidraçado com uma música agradável no bom sistema de áudio. O que ele constatou?
Vitor não se diz admirador do estilo do carro: “Fica num meio-termo entre as minivans e os utilitários, um pouco indefinido entre as categorias. Mas ficou bem melhor com a nova frente: a anterior era estranha a ponto de desestimular a compra”. Com o interior, a opinião é outra: “Gostei do acabamento, do desenho em geral, do espaço e da praticidade. Tem muitos porta-objetos, um grande espaço no console central, comandos bem à mão. Não me incomoda a falta de couro na parte central dos bancos, pois o conjunto tem bom aspecto. O teto envidraçado é bastante agradável e, ao contrário do Golf, quando fechamos o forro o sol fica de fora”.
Alguns recursos da 3008 cativaram Vitor em especial: “Ótima ideia a tela com projeção de velocidade na linha de visão. Facilita muito controlá-la sem precisar desviar a atenção. O limitador de velocidade é algo que todo carro deveria ter, pois evita multas por distração. Pontos também para o ar-condicionado com duas zonas, o limpador de para-brisa automático e os alertas para uso de cinto, que monitoram até os três lugares traseiros”.
Para Vitor, espaço, acabamento e conteúdo de série são pontos positivos desse
Peugeot; porta-malas e a falta de alguns equipamentos mereceram críticas
O colaborador apontou pontos melhoráveis: “Esperava que um carro de R$ 100 mil tivesse retrovisor interno fotocrômico, chave presencial para acesso e partida e câmera de ré, embora tenha sensores de estacionamento atrás. A faixa degradê no para-brisa faz falta porque o vidro é muito amplo, expondo os ocupantes da frente a grande incidência de sol. E acho o porta-malas pequeno para um carro familiar, apesar de bem aproveitável”.
Um tema a que Vitor não faz restrições é o conjunto motor-câmbio. “Que show é esse THP! Tem disposição de sobra e as respostas são sempre rápidas. Nada daquela lentidão dos motores turbos antigos, como alguns que dirigi nos anos 90. Pessoas que não conheciam o carro ficaram surpresas, pois em geral no Brasil se usam motores 2.0 com pouco torque em baixa em utilitários e minivans dessa faixa de preço. O câmbio também impressiona muito bem”, destacou.
Próxima parte |
Aos dois terços do período de avaliação, a 3008 acumula quase 1.500 km rodados
com a equipe, mas uma longa viagem logo ampliará em muito esse valor
Embora não tenha explorado toda a estabilidade da Peugeot na viagem, o colaborador sentiu segurança: “Gostei do acerto da suspensão, firme nas curvas, mas confortável. Faço ressalva apenas à passagem em trechos esburacados, onde faz ruídos que a fábrica deveria evitar. O carro tem bons freios, baixo nível de ruído geral e um bom pacote de segurança, com destaque para o controle eletrônico de estabilidade, que várias marcas lamentavelmente deixam de fora em carros de mais de R$ 90 mil”.
Diante da predominância de elogios, já esperávamos a resposta de Vitor à pergunta final: se estivesse à procura de um carro familiar nessa faixa de preço, compraria uma 3008? “Com exceção do visual, que não consegue me conquistar, achei esse carro excelente. É espaçoso, confortável, bem-equipado, anda muito bem e não consome tanto combustível. Com certeza oferece mais que um Honda CR-V, Toyota RAV4 ou Hyundai IX35 de valor semelhante, mesmo não sendo um utilitário de verdade. O Fiat Freemont parece uma alternativa válida, mas é muito grande e pesado para meu gosto, além de perder em desempenho. A Citroën C4 Picasso, que me agrada mais pelo desenho, tem motor e câmbio ultrapassados. Portanto, a 3008 está aprovada e recomendada. Sim, eu teria uma”, concluiu.
Aos 20 dias de avaliação, nossa Peugeot acumula 1.476 quilômetros percorridos, sendo 66% em rodovias, à boa média geral de 10,2 km/l. Para colocar o hodômetro para girar mais rápido, uma longa viagem está nos planos para esta quarta semana. Saberemos os resultados na próxima terça-feira.
Atualização anterior |
Último período
7 dias |
418 km |
Distância em cidade | 114 km |
Distância em rodovia | 304 km |
Tempo ao volante | 11h 23min |
Velocidade média | 37 km/h |
Consumo médio (gasolina) | 10,5 km/l |
Melhor marca média | 13,3 km/l |
Pior marca média | 8,7 km/l |
Indicações do computador de bordo |
Desde o início
20 dias |
1.476 km |
Distância em cidade | 503 km |
Distância em rodovia | 973 km |
Tempo ao volante | 35h 36min |
Velocidade média | 41 km/h |
Consumo médio (gasolina) | 10,2 km/l |
Melhor marca média | 13,3 km/l |
Pior marca média | 6,8 km/l |
Indicações do computador de bordo |
Medições Best Cars
Aceleração | |
0 a 80 km/h | 6,5 s |
0 a 100 km/h | 9,6 s |
0 a 120 km/h | 13,8 s |
0 a 400 m | 16,6 s |
Retomada | |
60 a 100 km/h* | 5,6 s |
60 a 120 km/h* | 9,3 s |
80 a 120 km/h* | 7,0 s |
Consumo | |
Testes ainda não efetuados | |
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Preço
Básico | R$ 99.990 |
Como avaliado | R$ 99.990 |
Preços públicos vigentes em 1/7/14 |
Teste do Leitor
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Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 4 em linha |
Material do bloco/cabeçote | alumínio |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4, variação de tempo |
Diâmetro e curso | 77 x 85,8 mm |
Cilindrada | 1.598 cm³ |
Taxa de compressão | 10,5:1 |
Alimentação | injeção direta, turbocompressor, resfriador de ar |
Potência máxima | 165 cv a 6.000 rpm |
Torque máximo | 24,5 m.kgf de 1.400 a 4.000 rpm |
Potência específica | 103,3 cv/l |
Transmissão | |
Tipo de câmbio e marchas | automático / 6 |
Relação e velocidade por 1.000 rpm | |
1ª. | 4,04 / 8 km/h |
2ª. | 2,37 / 14 km/h |
3ª. | 1,56 / 21 km/h |
4ª. | 1,16 / 28 km/h |
5ª. | 0,85 / 38 km/h |
6ª. | 0,67 / 48 km/h |
Relação de diferencial | 3,87 |
Regime a 120 km/h | 2.600 rpm (6ª.) |
Regime à velocidade máxima informada | 5.500 rpm (5ª.) |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado (302 mm ø) |
Traseiros | a disco (268 mm ø) |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | eletro-hidráulica |
Diâmetro de giro | 10,9 m |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | eixo de torção, mola helicoidal |
Estabilizador(es) | dianteiro e traseiro |
Rodas | |
Dimensões | 7,5 x 17 pol |
Pneus | 225/50 R 17 |
Dimensões | |
Comprimento | 4,365 m |
Largura | 1,837 m |
Altura | 1,639 m |
Entre-eixos | 2,613 m |
Bitola dianteira | 1,53 m |
Bitola traseira | 1,525 m |
Coeficiente aerodinâmico (Cx) | 0,296 |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 60 l |
Compartimento de bagagem | 432 l |
Peso em ordem de marcha | 1.480 kg |
Relação peso-potência | 9,0 kg/cv |
Desempenho | |
Velocidade máxima | 202 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 9,5 s |
Garantia | |
Prazo | 3 anos sem limite de quilometragem |
Carro avaliado | |
Ano-modelo | 2014 |
Pneus | Michelin Primacy HP |
Quilometragem inicial | 3.000 km |
Dados do fabricante; consumo não disponível |
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