Recentemente troquei o semieixo do lado esquerdo do meu carro, ainda na garantia de fábrica. Ao procurar saber mais sobre o assunto, fiquei assustado com a importância da peça. Li que ao se trocar o semieixo isso deveria ser feito simultaneamente nos dois lados, e nunca trocado somente em um como a concessionária fez. Isso procede? Best Cars é o site mais completo para quem gosta de automóveis.
Carlos Pimentel – Rio de Janeiro, RJ
É provável que a troca da semiárvore de transmissão de seu carro tenha sido causada por uma falha na junta homocinética, que em alguns veículos faz parte da semiárvore (ou semieixo, como também é conhecida). A função da homocinética é permitir que o eixo transmissor de torque e rotação da caixa de transmissão chegue às rodas. Ela permite que as rodas se movimentem (tanto pelo esterçamento quanto pela movimentação de suspensão) e, ao mesmo tempo, transmite o torque e a rotação requeridas. No entanto, a junta possui um limite de ângulo de operação e, caso chegue a tal limite, pode haver quebra. Este é o principal motivo para que veículos de tração apenas traseira consigam esterçar muito mais as rodas que os de tração dianteira.


A semiárvore com as juntas homocinéticas (à esquerda) e a junta articulando-se em seu trabalho
A junta homocinética usa esferas entre a parte condutora e a parte conduzida, mantidas espaçadas por meio de pistas. O desenho fez com que as velocidades se tornassem constantes, daí o nome usual em inglês de CV joints ou constant velocity joints (juntas de velocidade constante). O nome homocinética origina-se do grego, da junção das palavras homo (igual) e kinein (constante). O Mini Morris/Austin Seven de 1959 fez a primeira aplicação em série do componente, embora tenha sido inventado pelo francês Pierre Fenailler em 1927 e aplicado ao carro de corrida Tracta, de tração dianteira.
A junta homocinética tem uma vida útil calculada por meio de parâmetros como o torque médio que sofrerá, o percentual de torque alto e baixo, a distância total estipulada como vida útil do veículo e a velocidade média do carro durante esta vida útil. Tudo isso para determinar, através de cálculos de fadiga, a vida útil prevista para o componente. A regra de trocar os dois lados ao mesmo tempo vem do fato de que, quando o carro já tem muitos quilômetros rodados, a junta homocinética está chegando ao fim da sua vida útil. Nesse caso, quando a junta de um lado começa a falhar, significa que a outra também está perto de dar problema.
No caso de veículo mais novo, porém, pode-se ter determinado a troca por defeito ou problema encontrado na peça. A junta homocinética tem uma capa ou coifa protetora que impede que a graxa interna se deteriore, vaze ou seja contaminada por meios externos. Caso a coifa tenha algum vazamento, por má fixação ou algum rasgo por meio externo (uma pedra que bateu, por exemplo), pode ocorrer que a junta homocinética funcione sem lubrificação suficiente, superaquecendo-se e comprometendo seu funcionamento. A peça com problemas produz um ruído característico (clac-clac-clac), principalmente ao esterçar. Em casos mais extremos, afeta a dirigibilidade mesmo em linha reta. É um item de segurança.
Em se tratando de carro novo, não vemos como problema trocar a semiárvore de um lado apenas. Provavelmente a troca foi decorrente de falha do componente e não de que ele tenha chegado ao fim da vida útil. É mais comum do que parece ter a coifa rasgada e, quando se percebe o problema, a junta homocinética já foi comprometida e não tem possibilidade de reparo.
Texto: Felipe Hoffmann – Ilustrações: divulgação
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