Comuns em cidades como São Paulo na época de chuvas intensas, os alagamentos trazem riscos que podem ser contornados
Texto: Fabrício Samahá
As chuvas intensas típicas do verão trazem um risco adicional ao motorista, além da redução da visibilidade e da menor aderência dos pneus no piso molhado: alagamentos. Cidades como a capital paulista sofrem com frequência desse transtorno, que requer conhecimento e cuidados especiais para evitar riscos pessoais e ao carro.
A melhor atitude diante de um trecho alagado é sempre evitá-lo: procure outro caminho. Mas em alguns casos a travessia é relativamente segura, desde que seguidas algumas recomendações. A primeira observação a ser feita é a da profundidade da água, percebida nos veículos que estiverem passando por ela (mesmo que grandes, como ônibus e caminhões) e em comparação a referências como calçadas e construções.
Para automóveis, recomenda-se evitar a travessia com água acima do meio da roda; com picapes e utilitários esporte pode-se ir um pouco além, mas não muito acima da parte mais baixa da carroceria. Apenas veículos mais voltados ao uso fora de estrada permitem atravessar trechos com 60 centímetros de profundidade ou mais. Mesmo assim, o limite refere-se a água parada: se houver correnteza, o risco de perda de controle do carro é bem maior. É importante lembrar que a passagem de outros veículos, sobretudo os mais pesados, forma ondas e eleva o nível da água.
Observar outros veículos, como caminhões e utilitários, que cruzam o
trecho alagado é a primeira medida para decidir seguir ou não
Decidiu atravessar o trecho? Então, considere estas dicas:
1) Mantenha velocidade moderada, de 10 a 20 km/h, para não formar ondas ou espirrar muita água no compartimento do motor.
Recomenda-se evitar a travessia com água acima do meio da roda; com picapes e utilitários esporte pode-se ir um pouco além
2) Use primeira marcha (mesmo se o câmbio for automático) em rotação de 2.000 a 2.500 rpm e acelere devagar, mas não tire o pé do acelerador. Em carro de câmbio manual, caso precise reduzir a velocidade ou parar, acione a embreagem e mantenha o acelerador pressionado para a rotação não cair. Em caso de caixa automática, pode-se frear com o pé esquerdo nessa condição (o câmbio não será danificado por se manter ligeira aceleração enquanto freia). A razão é que o escapamento precisa expulsar os gases do motor com certa pressão para não deixar a água retornar por ele, o que acontece se a rotação cair — nesse caso o motor apaga e não deve ser religado.
3) Procure rodar pelo centro da rua, que é seu ponto mais alto, e seguir o trajeto feito por outros veículos. Buracos, pedras e objetos trazidos pela enchente podem impedir sua passagem e danificar gravemente o carro.
Dois erros: velocidade excessiva, que produz ondas e mais espirros no
compartimento do motor, e a proximidade com um caminhão
4) Após vencer o trecho alagado, acione levemente os freios para secá-los. Os discos recuperam-se facilmente, mas os tambores (ainda usados nas rodas traseiras de muitos carros) demoram a retomar sua eficácia quando há infiltração. Pelo mesmo motivo, não confie no freio de estacionamento enquanto molhado.
Um risco que a enchente traz ao automóvel é o calço hidráulico, fenômeno que acontece quando um líquido não compressível — como a água — chega ao interior dos cilindros do motor, onde deveria haver apenas um vapor de combustível. Os carros captam ar para o motor em diferentes alturas, em geral próxima à da grade dianteira: é por ali que a água pode entrar e causar um grande prejuízo ao danificar componentes como bielas, pistões e virabrequim.
Fim da linha
Esperamos que com as dicas acima você chegue ileso a seu destino ou a um lugar seguro para estacionar e esperar, mas o que fazer se as coisas piorarem e o carro não puder seguir em frente? Antes de tudo, mantenha a calma. Se ainda estiver chovendo forte ou as águas tiverem correnteza, não é hora de sair do carro: isso traria riscos diversos, desde ser levado pela enxurrada até o de choque elétrico de alta tensão — aconteceu há pouco tempo em São Paulo, onde um homem saiu do carro após este ser atingido por um fio partido da rede elétrica. Além disso, na hipótese de o automóvel ser arrastado pela água, dentro dele você ainda tem uma carroceria em torno de si.
Rolls-Royce Ghost em enchente na Indonésia: mesmo um carro mais
acessível, porém, pode causar grande prejuízo nessa condição
Quando a água baixar, ou ao chegar ao carro estacionado em local que sofreu enchente, é hora de analisar o prejuízo. Nada de dar partida: se a água tiver subido além do nível da base das portas (percebido pela sujeira na carroceria), é preciso verificar se ela atingiu o filtro de ar e/ou o cárter — neste caso, em vez de óleo lubrificante escuro, a vareta de medição mostrará um produto mais viscoso e claro e o nível terá subido. Em qualquer desses casos, não acione o motor e reboque o automóvel a uma oficina.
Se o motor estiver em ordem, verifique o funcionamento do restante da mecânica e dos componentes elétricos, incluindo as luzes-piloto do painel que apontam anomalias nos diversos sistemas. Caso a água tenha entrado na cabine, pode ser necessário substituir carpetes e revestimentos, que de outra forma ficarão com mau cheiro — e há risco de corrosão do assoalho pela umidade e a sujeira acumuladas por trás deles. Providencie ainda uma lavagem com água e sabão (evite produtos químicos e óleos) por baixo da carroceria.
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