Pneus, bateria, fluidos e até o ar-condicionado podem resistir melhor ao tempo sem uso com algumas medidas
Texto: Fabrício Samahá e Felipe Hoffmann – Fotos: divulgação*
O isolamento exigido pela pandemia de coronavírus (Covid-19) tem trazido uma preocupação a muitos motoristas: o que fazer com o automóvel durante esse período — e quando ele terminar — para evitar problemas com a inatividade? Muitos conselhos são transmitidos por aí, nem todos com a devida base técnica. Por isso, o Best Cars reuniu dicas importantes neste rápido guia.
• Bateria – Para não descarregar ou mesmo inutilizar a bateria, o ideal é deixá-la desconectada. Não há problema relacionado à central eletrônica, mas alguns modelos após certo período sem uso precisam de um tempo para reconhecer a chave e para dar a partida (por causa do módulo eletrônico que impede a ligação sem a chave original). O sistema de alarme também não funciona sem a bateria, o que pode ser um problema, dependendo do lugar onde o carro fica. O manual informa os procedimentos para a desconexão. Para quem tem acesso a uma tomada próxima, pode ser boa ideia ligar um carregador compacto de bateria.
• Pneus – Para que não fiquem deformados ou ovalados, recomenda-se manter pressão alta, na faixa de 40 lb/pol². Não use a pressão prevista para carga máxima, que prevê uma distribuição de peso diferente entre os eixos: de modo geral, o carro ficaria com pneus traseiros muito cheios e sem a pressão ideal nos dianteiros.
Há quem defenda colocar o carro sobre cavaletes ou mesmo remover os pneus, mas não é necessário para passar algumas semanas ou mesmo poucos meses. De resto, traria um risco adicional: não seria possível alguém retirar o carro às pressas — mesmo que empurrado ou rebocado — no evento de desastres como uma enchente.
• Óleo lubrificante do motor – Como o óleo absorve umidade do ar e sofre oxidação, recomenda-se a troca na volta ao uso normal, mesmo sem uso. É má ideia ligar o carro por alguns minutos de vez em quando, pois o óleo não atinge a temperatura normal de trabalho. Ao se partir o motor a frio, muito combustível em forma líquida e não queimado contamina o óleo. Só ao rodar por mais de 10 minutos com certa rotação e carga o óleo atinge a temperatura ideal, que faz evaporar o combustível e parte da umidade acumulada.
• Combustível – O álcool absorve umidade do ar: ao retornar à ação, estará com muito mais que os 7% de água oficiais. A gasolina pode criar outros problemas: por ser uma “sopa” de cadeias de carbono e hidrogênio, ocorre evaporação das moléculas mais “leves”, o que dificulta a partida na volta (as moléculas menos voláteis permanecem). Além disso, parte das moléculas que evaporam são responsáveis por garantir a octanagem: uma gasolina “velha” traz mais risco de detonação. Em geral, até três meses não trarão problema.
Outro fator é que a gasolina, ao se degradar, torna-se uma espécie de cera que pode entupir injetores, filtro ou mesmo travar a bomba de combustível. Motores com carburador sofrem muito com esse efeito, que entope os giclês. É por isso que donos de barcos com motores de popa carburados esgotam todo combustível do motor, a menos que o usem toda semana. Para motores flexíveis, o indicado é deixar uma quantidade pequena de álcool ou de gasolina no tanque e, ao voltar, completá-lo com o outro combustível: parte das impurezas presentes no álcool é dissolvida pela gasolina e vice-versa.
No caso de veículo a diesel, o combustível pode ficar mais de seis meses no tanque sem problemas. Em carros flexíveis com reservatório de gasolina para partida a frio, aconselha-se colocar ali gasolina aditivada em pouca quantidade.
• Freios – Há quem recomende deixar o freio de estacionamento livre, pois haveria risco de as sapatas do freio a tambor (usadas para esse fim, mesmo em vários carros com freio a disco na traseira) ficarem “coladas” ao tambor, impedindo o movimento quando o freio for liberado. Se optar por essa medida, não deixe de calçar um dos pneus para evitar que o carro se movimente. No caso de transmissão automática basta manter a alavanca em “P”, mas apenas em piso plano: segurar o carro por meio dela em piso inclinado não é recomendado.
Os discos de freio podem oxidar, por serem feitos de compostos de ferro, o que não compromete sua qualidade. Nas primeiras frenagens, o próprio atrito das pastilhas remove a oxidação nos discos. Podem surgir ruídos nesses primeiros usos, que cessam com a limpeza da camada oxidada.
• Pintura – O carro guardado deve estar limpo. Para evitar acúmulo de poeira pode-se usar uma capa. Se o local for plenamente protegido da chuva, as de tecido são preferíveis às de plástico pela melhor ventilação. Para prevenir mau cheiro dentro do carro, devido à umidade, pode-se deixar um desumidificador de ambientes, um pote com produto que absorve a umidade presente no ar.
• Limpadores de para-brisa e vidro traseiro – Levantar as palhetas, sobretudo se o carro ficar exposto ao sol, evita que se degradem.
• Ar-condicionado – Para evitar odores no sistema, ligue o aquecedor por 5 a 10 minutos, com a recirculação de ar acionada, no começo da inatividade. Caso use o carro durante o período, acione o ar-condicionado (mesmo que a temperatura não requeira), pois a circulação de gás pelo sistema mantém as mangueiras lubrificadas e evita seu ressecamento.
• Animais – Roedores gostam de fazer ninhos junto ao motor de carros parados, pois podem rasgar os forros de isolamento acústico. Entre os riscos dessa “hospedagem” estão o acúmulo de alimentos e a mastigação de fios, com possível risco de incêndio ao ligar o motor. Se o local onde o carro fica for propício a esse problema, alguns recomendam aplicar naftalina ou óleo de hortelã-pimenta em locais estratégicos — retirando, claro, antes de recolocar o carro em uso. Deixe-os longe da base do para-brisa, pois o odor poderá ser aspirado para a cabine ao acionar o ar-condicionado.
• Vazamentos – Para carros mais usados, manter papelão embaixo do motor facilita detectar e identificar eventuais perdas de fluidos, além de proteger o solo da garagem de manchas. Óleo que vaza é fácil de perceber, mas fluidos de transmissão e líquido de arrefecimento, nem tanto. Isso permite ter o devido cuidado com cada setor quando o carro voltar a rodar.
• Retorno – Quando a quarentena passar, antes de o automóvel voltar à rodagem normal, verifique o nível de todos os fluidos (lubrificantes do motor e da transmissão, líquido de arrefecimento e, se houver, fluido de direção com assistência hidráulica) e reponha da forma indicada no manual. Cheque visualmente a pressão dos pneus (podem ter uma “barriga” no ponto de contato com o solo, mas não muito acentuada) ou, melhor, com um calibrador portátil. Assim que possível, verifique a pressão em um posto e abasteça o tanque. E se a bateria não resistiu e está descarregada, evite o “tranco”: recorra à conexão com outra bateria.
* Foto de abertura: Capas Asteri