Acolhida calorosa   O resultado final impressionou a imprensa. E não só. Sergio Pininfarina, do aclamado estúdio italiano de desenho, afirmou que achava o Riviera um dos mais belos carros já feitos nos Estados Unidos. Com 5,28 metros de comprimento, 1,94 m de largura, 1,35 m de altura e 1.865 kg de peso, o cupê era nitidamente americano e trazia o que havia de mais moderno em estilo automotivo. Curioso é que na equipe de Mitchell estava o criador do Roadmaster Riviera de 1949, Ned Nickles.

Suspensão e pneus especiais deixavam o Riviera mais estável, boa medida diante da potência de mais de 300 cv brutos dos motores V8 de 6,6 e 7,0 litros

O que distinguia o Riviera — talvez por influência do tal Rolls-Royce — era o caimento da traseira, em uma discreta diagonal, e os cortes retos de seu desenho. A discrição era balanceada com a frente pontuda e imponente. Diferente do Silver Arrow, os faróis duplos eram bem visíveis, mas ainda assim ofuscados pelas luzes de direção pronunciadas, que obrigavam o pára-choque dianteiro a contorná-las. O capô levava suavemente a duas entradas de ar. As colunas traseiras largas compensavam a falta das centrais e as tomadas de ar laterais eram apenas decorativas. O Riviera foi o primeiro carro da GM a usar janelas sem moldura.

No interior havia quatro bancos individuais, à moda do Thunderbird. A julgar pelo aproveitamento de peças de outros Buicks, a equipe de desenho interior liderada por George Moon fez um belo trabalho. O painel era uma adaptação do usado no Electra, mas com um console que brotava dali e terminava entre os bancos dianteiros. O volante tinha sete posições para ajustar. Cromados e cetim davam um aspecto sofisticado e de bom gosto ao amplo habitáculo, proporcionado pelos 2,97 metros de distância entre eixos. O automático Turbine Drive, desde 1947 nos Buicks, era o único câmbio oferecido para o modelo 1963 e acionava as rodas traseiras.

Já no modelo 1964 o motor 425 tornava-se o padrão; com a versão opcional de carburação dupla e 360 cv, o cupê acelerava de 0 a 96 km/h em sete segundos

Ao mesclar o conforto de um sedã e o desempenho de um esportivo, a Buick reforçou a suspensão e ampliou a rigidez torcional do cupê. Pneus especiais em medida 7,10-15, com faixa branca e ombros arredondados, foram criados com exclusividade para o modelo. O V8 de 401 pol³ (6,6 litros), o maior motor da Buick, foi selecionado para dar ao Riviera o ânimo que ele propunha. Com carburador de corpo quádruplo, desenvolvia a potência de 325 cv a 4.400 rpm e o torque máximo de 61,4 m.kgf a 2.800 rpm (valores brutos, como todos neste artigo até 1971). Como opcional, ele oferecia um V8 exclusivo em toda a linha Buick, de 425 pol³ (7,0 litros), 340 cv e 64,2 m.kgf às mesmas rotações do 401.

O Riviera custava 4.333 dólares, um preço alto para a época, mas que tinha no nível de equipamentos sua compensação: direção assistida, bancos com regulagem elétrica, interior acarpetado e com acabamento em madeira, aquecedor, lavador de pára-brisa com limpador de duas velocidades e revestimento em couro opcional.
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O autor
Se Harley Earl foi o maior mito que o departamento de estilo da General Motors já criou, William L. Mitchell vem logo atrás. A julgar pelo carros criados sob sua direção, ele é até mais admirado. Nascido em Cleveland, Ohio, em 1912 e falecido em 1988, Mitchell era filho de um dono de concessionária Buick, com quem começou a nutrir sua paixão pelos carros. Ele deu início a sua carreira fazendo ilustrações para uma agência de publicidade nova-iorquina. Entrou para a GM em 1935 e, dois anos depois, Earl o promoveu à direção de estilo de nada menos que a divisão Cadillac, a jóia da casa.

Em 1938 veio o primeiro trabalho aclamado, o Cadillac Sixty Special. Mas era só um sucesso entre muitos que viriam. Em dezembro de 1958, Mitchell substituiria Earl como o principal responsável pelo desenho em toda a GM, posto que ele só abandonaria em 1977. Foram 42 anos na empresa e, durante seus 19 anos no comando do departamento, cerca de 72 milhões de automóveis exibiram os resultados dos traços das equipes que ele supervisionou.

Além de todas as criações comandadas por Earl que ele ajudou a criar, foi sob a chefia de Mitchell que nasceram ícones como o Corvette Stingray 1963 e sua voluptuosa evolução de 1968, inspiradas nas formas de um tubarão; os elegantes Cadillac Eldorado 1967 e Seville 1975; o Chevrolet Camaro e seu primo Pontiac Firebird, só para ficar em poucos exemplos mais óbvios.

É nítida a fascinação pela opulência e os cromados nutrida por Harley Earl, da mesma forma que o trabalho de Mitchell racionalizou o desenho dos carros com detalhes que funcionavam como toques de emoção lapidada, sem resvalar para a caricatura do que buscava expressar.

O Riviera figura nessa lista com destaque por ter sido o primeiro modelo todo novo — não apenas a evolução de um carro existente — que Mitchell criou e que rapidamente se consagrou. Além disso, ele estipulou bases para futuros projetos da GM, como os próprios Cadillacs já citados.

As dimensões dos carros de Mitchell ainda eram tão generosas quanto as dos modelos de Earl. Mas ele sempre preferiu traços mais simples e discretos, agregando mais função à forma. Seu legado automotivo fala melhor do que quaisquer palavras sobre seu estilo de criar carros.

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