Carneiro de raça

Maior que os concorrentes diretos, mais prático que os picapes grandes, o
Dodge Dakota tem feito adeptos desde os anos 80 nos EUA — e no Brasil

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

O antecessor: uma parceria com a Mitsubishi levou ao Dodge D-50, de linhas simples, feito para competir com o Luv, o Courier e os japoneses

As linhas retas, inspiradas nas do pesado Ram, marcavam o primeiro Dakota; embaixo a versão Sport de 1988, com acessórios e motor V6

Na década de 1960, dois fabricantes japoneses — Toyota e Nissan, esta por meio da marca Datsun — passaram a oferecer nos Estados Unidos picapes de médio porte, bem mais leves, compactos e econômicos que os tradicionais modelos das "três grandes" norte-americanas, General Motors, Ford e Chrysler. Sem experiência nessa categoria, a não ser por modelos derivados de automóveis, as fábricas locais preferiram firmar parcerias com outras marcas japonesas para responder a Nissan e Toyota nos anos 70.

Da associação com a Isuzu a GM obteve o Chevrolet Luv, a Ford uniu-se à Mazda para obter o Courier e a Chrysler lançou o Dodge D-50 em cooperação com a Mitsubishi. Introduzido em 1979, o D-50 era simples, compacto e despretensioso como seus concorrentes. Não parecia uma versão reduzida do picape pesado da marca, pois as linhas retas lembravam mais as de um automóvel. Esses utilitários já desfrutavam boa aceitação entre motoristas urbanos, que os dirigiam como carros de passeio, o que motivou a Dodge a oferecer itens decorativos como rodas esportivas, pintura em dois tons, teto solar e estrutura de caçamba ("santantônio").

O D-50 era construído com carroceria sobre chassi e podia vir com dois motores de quatro cilindros a gasolina: o de 2,0 litros, com potência de 93 cv e caixa manual de quatro marchas, e o de 2,6 litros e 105 cv, com câmbio de cinco marchas ou um automático de três, ambos com comando de válvulas no cabeçote. O segundo trazia o refinamento de árvore de balanceamento para conter vibrações. Com a adoção do nome Ram para os modelos pesados, em 1981, o picape menor passava a se chamar Ram 50 — ou Power Ram 50 no caso da versão com tração nas quatro rodas, lançada no ano seguinte.

Em 1985 chegava um motor a diesel de 2,3 litros, seguido após dois anos por uma reforma visual e a opção de caçamba mais longa. Sobre o mesmo chassi, em 1988, aparecia o Sports Cab com cabine estendida e caçamba curta. Mais potência vinha em 1990 com um motor de 2,4 litros e 116 cv, ao lado da opção pelo Mitsubishi V6 de 3,0 litros e 142 cv. Contudo, o pequeno Ram estava defasado diante dos lançamentos do Ford Ranger, em 1982, e do Chevrolet S-10, em 1984, desenvolvidos lá mesmo nos EUA. A Chrysler estava ciente da necessidade de conceber seu próprio picape médio e vinha trabalhando nele.

Ao chegar ao mercado, em 1986, o Dakota preencheu a lacuna entre os picapes médios legitimamente norte-americanos. Um pouco maior que os compatriotas da Ford e da GM, seguia seu mesmo padrão de linha retas e simples, lembrando o Ram da época (evolução da série D de picapes pesados) em tamanho menor. A ampla grade formada por quatro retângulos, característica da Dodge, vinha ladeada por dois faróis retangulares e as luzes de posição de mesmo formato. Havia poucos vincos e adornos na carroceria, que não se destacava pela identidade em relação à concorrência.

De início a fábrica ofereceu duas opções de caçamba, de 2 e 2,40 metros de comprimento, que compunham as versões com distância entre eixos de 2,84 e 3,14 m. A cabine era sempre simples, com três lugares, e havia os acabamentos básico, SE e LE. Sob o capô, mais alternativas: o motor de quatro cilindros em linha, 2,2 litros e comando no cabeçote cedido pelos automóveis da série K, com 96 cv, ou o V6 de 3,9 litros, comando no bloco e 125 cv, ambos alimentados com carburador e movidos a gasolina. O segundo era praticamente um V8 de 318 pol³ (5,2 litros), bem conhecido dos brasileiros por ter equipado nossos Dodges, com dois cilindros a menos. Se a caixa automática de três marchas estava disponível para qualquer dos motores, no lugar da manual de cinco, a escolha de tração temporária nas quatro rodas vinha vinculada à do motor mais potente.

A não ser pelo primeiro uso em picapes da direção assistida com caixa de pinhão e cremalheira — mais leve e precisa que as de esferas recirculantes e de setor e rosca sem-fim —, o Dakota em nada era diferente dos vários concorrentes em sua arquitetura. Como eles, tinha a carroceria apoiada em um chassi do tipo escada, suspensão dianteira independente com braços sobrepostos e traseira por eixo rígido com feixes de molas semielíticas. A revista norte-americana Popular Science colocou o Dakota LE com caixa automática em comparativo com o Jeep Comanche (baseado no Cherokee) e picapes pesados da Chevrolet (Cheyenne 1500) e da Ford (F-150), todos com seis cilindros. Continua

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Data de publicação: 17/7/10

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