Caso único na produção nacional, o sedã de quatro portas tinha maior distância entre eixos, de modo a melhorar o espaço para pernas

Em meio a outras novidades, a linha 1975 trazia o mais econômico motor de 2,3 litros e 99 cv brutos, com melhor desempenho que o do seis-cilindros

 
A perua
Enquanto a GM oferecia desde 1974 a Caravan, a única perua da linha Ford no Brasil — à parte a Rural, de proposta bem diferente — era a Belina, de porte e desempenho menores. Para atender à demanda em que o fabricante não se interessou, a concessionária paulistana Souza Ramos fez sua própria perua Maverick, lançada em 1978. A parte traseira era feita pela Sul Americana, especializada em carrocerias de ônibus, ambulâncias e viaturas policiais.

Havia opção entre os acabamentos Super e Super Luxo e os motores de quatro e oito cilindros, mas sempre com cinco portas, no que foi a única perua nacional no período entre o fim da Simca Jangada e a estréia da VW Quantum (exclui-se aqui a Chevrolet Veraneio, mais utilitário que automóvel). A nova seção da carroceria era de aço estampado, mas com porta traseira em plástico reforçado com fibra-de-vidro, sustentada aberta por duas molas a gás. O banco de trás podia ser rebatido para maior espaço de bagagem. Como no Maverick o bocal do tanque de combustível ficava no painel traseiro, na perua ele foi deslocado para a lateral direita.

Não há dados oficiais da quantidade produzida, mas o proprietário do modelo sobrevivente da foto acima, exposto no encontro de carros antigos de Águas de Lindóia em 2006, informa a estimativa de cerca de 150 unidades.

Boxe e foto: Fabrício Samahá

Este motor de 302 pol³ ou 4,95 litros, também disponível para o Super e o Super Luxo, era importado montado do Canadá ou dos EUA e desenvolvia 197 cv e 39,5 m.kgf brutos (135 cv líquidos), sendo capaz de empurrar o Maverick com grande vivacidade, mesmo porque o peso era pouco maior que o do "seis" (1.394 kg). Testes da época indicavam velocidade máxima em torno de 180 km/h e aceleração de 0 a 100 km/h em 11 segundos, ante 150 km/h e 20 segundos do seis-cilindros. Havia mais compradores do que produtos e chegou a haver fila de espera de até um ano — ou se pagava bem mais que o preço sugerido — para pôr a mão em um.

O GT vinha ainda com faróis auxiliares, travas externas no capô, pequeno conta-giros, console central com relógio, bancos individuais com assento mais baixo, rodas de 14 x 6 pol e pneus Firestone Wide Oval em medida D 70 S 14, em vez das rodas de 5 pol e pneus 6,45-14 das demais versões. Usava caixa de direção diferente do seis-cilindros, com esferas recirculantes em vez de setor e sem-fim. Embora a relação fosse mais baixa (29,4:1 no GT contra 32,1:1 dos outros, de modo a dar 5,5 voltas entre batentes ante 6,5 voltas), ainda era preciso movimento excessivo no volante para qualquer manobra, algo inadequado a um carro com sua proposta. Tratava-se de artifício para reduzir o peso do volante, o que só seria resolvido com a assistência hidráulica, oferecida mais tarde.

Quem desejasse mais espaço no banco traseiro teria que esperar cinco meses até que fosse lançado o sedã de quatro portas, que oferecia os mesmos motores. Sua distância entre eixos bem maior, 2,79 contra 2,61 metros, se traduzia em maior conforto para se viajar atrás. Mas o quatro-portas era um peixe fora d'água em uma época em que o mercado dava prioridade a modelos com duas portas, mesmo em carros maiores. Havia também opção de caixa automática de três marchas associada ao motor V8.

A primeira série do GT foi caracterizada por problemas crônicos, como o fácil travamento dos freios traseiros e superaquecimento do motor, devido ao sistema de arrefecimento subdimensionado para o clima brasileiro. Resolvidos os problemas de refrigeração, o Maverick atingiu vendas expressivas. Mas a versão de seis cilindros era pesada, apresentava desempenho pífio e elevado consumo de combustível. Dizia-se à época que "o desempenho é de quatro-cilindros, mas o consumo é de V8"... Ao contrário do que aconteceu nos EUA, em pouco tempo o Maverick ganhou por aqui a fama de carro beberrão.

Mais econômico   O que a ninguém esperava era a aguda crise do petróleo justamente no ano em que ele foi lançado aqui. Em poucas semanas os preços do ouro negro quadruplicaram, subindo de três para 12 dólares o barril, o que acabou elevando de forma assustadora os preços da gasolina. Carros que consumiam muito logo deixaram de interessar e a Ford — assim como a Chrysler — se viu com um grande problema. O milagre econômico brasileiro havia chegado ao fim, em uma época em que o país importava 80% do petróleo consumido.

Tornava-se então imprescindível a adoção de um motor mais econômico ao Maverick. Isso ocorreu em maio de 1975, pouco depois da inauguração da fábrica de Taubaté, responsável por sua produção. O OHC de 2,3 litros era um projeto atual, com comando de válvulas no cabeçote e fluxo cruzado de gases, e trazia desempenho melhor que o do superado seis-cilindros, com máxima de 155 km/h e 0-100 em 17 segundos. Apesar do consumo reduzido, seus 99 cv e 16,9 m.kgf brutos (87 cv líquidos) eram insuficientes para a expectativa do mercado e as vendas jamais deslancharam.

O motor não era a única novidade para 1975: havia também freios dianteiros a disco com novas pinças, suspensão dianteira revista, nova caixa de direção, bancos individuais com alavanca do câmbio no assoalho e acabamento revisto. Por exigência de homologação para competição (leia boxe), a Ford passava a oferecer um kit Quadrijet para instalação em qualquer Maverick V8, o motor V8 já preparado ou o carro pronto, modificado, a um preço 22% superior ao do GT V8. Muito poucos, porém, chegaram às ruas com essa opção de alto desempenho. Continua

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