Pelo que contam fontes
ligadas à empresa, a Peugeot prepara o lançamento de uma
reestilização da linha 206, este ano, em que a frente será inspirada
na de seu sucessor na Europa, o 207. É mais um modelo, em meio a uma
longa lista, que recebe uma reforma estética parcial no Brasil
quando o oportuno — pois já serão 10 anos desde o lançamento na
França — seria a substituição por um modelo todo novo.
Não é de hoje, convenhamos, que as coisas andam assim por aqui. Na
década de 1960 nosso mercado já mostrava vocação para ganhar apenas
cirurgias plásticas enquanto, nos países de origem, os automóveis
evoluíam para novas gerações. Os sedãs que a
Simca manteve em linha por
sete anos na França ficaram aqui por 12, com uma ampla reforma
visual nesse período. O concorrente
Aero-Willys, derivado de um
modelo que só durou três anos nos Estados Unidos, aqui foi feito por
11.
O Opel Rekord C foi
produzido na Alemanha por seis anos; seu equivalente brasileiro, o
Opala, durou quase 24 com
numerosas reestilizações frontais. Não foi diferente com o
Chevette, que completou 20
anos contra seis da geração do Kadett alemão que lhe deu origem, e
com o Ford Galaxie, cuja
versão lançada no Brasil persistiu por 15 anos, ante apenas dois do
mercado americano. Da Kombi
nem se fala: o modelo que os alemães aposentaram em 1975 é feito
aqui até hoje.
A primeira metade dos anos 80 trouxe renovações mais rápidas a
nossos carros, com Monza,
Escort e
Uno chegando pouco tempo depois
dos países de origem. Na segunda parte da década, porém, as
novidades escassearam e os automóveis nacionais voltaram a se
desatualizar. O próprio Monza, que teve sete anos de produção na
Europa como Opel Ascona, aqui chegou aos 14 e teve uma reestilização
das menos felizes. O Uno brasileiro já duplicou a vida útil — 12
anos — do italiano e o Santana,
que na Alemanha foi todo reformulado após sete anos, aqui passou por
mudanças bem menores e completou 22 anos.
A abertura do mercado aos importados resultou em nova fase de
modernização em meados dos anos 90, quando recebemos vários
lançamentos — Civic, Corsa, Escort, Fiesta, Golf, Ka, Mercedes-Benz
Classe A, S10/Blazer, Vectra — com pequena defasagem diante dos
países de vanguarda. Alguns fabricantes mantêm a estratégia desse
período ainda hoje, caso de Honda e Toyota, mas a maior parte tem
estendido além da conta a vida útil dos velhos projetos, às vezes
retocados para parecer novos.
Nossos atuais 206, 307, Astra, Blazer, Corsa, Clio, Focus, Golf,
Mille, S10, Scénic, Stilo e Zafira já não são produzidos, ou ao
menos oferecem gerações mais modernas, nos mercados de Primeiro
Mundo. Outros só não entram nessa lista porque são projetos locais
sem equivalentes por lá, como Celta/Prisma, Gol e Palio/Siena. Mas é
inegável que a concepção antiga — portanto com custos amortizados —
permite baixar preços e manter a competitividade. E nenhum
fabricante, por mais bem-intencionado que seja, vai tirar de linha
um carro que vende bem.
Com o atual reaquecimento do mercado, que bate recordes de produção
e vendas, espera-se que essa defasagem seja gradualmente reduzida.
Não resta dúvida que o exemplo de um será seguido pelos outros: quem
sair à frente em cada segmento, com novos e bons produtos, forçará a
concorrência a fazer o mesmo. E quem sabe possamos afastar de vez o
risco de nos parecermos com os países mais atrasados do globo, onde
projetos de décadas atrás ganham infinitas plásticas para disfarçar
sua antiguidade. |