Pelo fim das plásticas

Com o mercado aquecido, espera-se que os retoques visuais
dêem lugar a verdadeiros lançamentos a médio prazo

por Fabrício Samahá

Fabrício Samahá, editorPelo que contam fontes ligadas à empresa, a Peugeot prepara o lançamento de uma reestilização da linha 206, este ano, em que a frente será inspirada na de seu sucessor na Europa, o 207. É mais um modelo, em meio a uma longa lista, que recebe uma reforma estética parcial no Brasil quando o oportuno — pois já serão 10 anos desde o lançamento na França — seria a substituição por um modelo todo novo.

Não é de hoje, convenhamos, que as coisas andam assim por aqui. Na década de 1960 nosso mercado já mostrava vocação para ganhar apenas cirurgias plásticas enquanto, nos países de origem, os automóveis evoluíam para novas gerações. Os sedãs que a Simca manteve em linha por sete anos na França ficaram aqui por 12, com uma ampla reforma visual nesse período. O concorrente Aero-Willys, derivado de um modelo que só durou três anos nos Estados Unidos, aqui foi feito por 11.

O Opel Rekord C foi produzido na Alemanha por seis anos; seu equivalente brasileiro, o Opala, durou quase 24 com numerosas reestilizações frontais. Não foi diferente com o Chevette, que completou 20 anos contra seis da geração do Kadett alemão que lhe deu origem, e com o Ford Galaxie, cuja versão lançada no Brasil persistiu por 15 anos, ante apenas dois do mercado americano. Da Kombi nem se fala: o modelo que os alemães aposentaram em 1975 é feito aqui até hoje.

A primeira metade dos anos 80 trouxe renovações mais rápidas a nossos carros, com Monza, Escort e Uno chegando pouco tempo depois dos países de origem. Na segunda parte da década, porém, as novidades escassearam e os automóveis nacionais voltaram a se desatualizar. O próprio Monza, que teve sete anos de produção na Europa como Opel Ascona, aqui chegou aos 14 e teve uma reestilização das menos felizes. O Uno brasileiro já duplicou a vida útil — 12 anos — do italiano e o Santana, que na Alemanha foi todo reformulado após sete anos, aqui passou por mudanças bem menores e completou 22 anos.

A abertura do mercado aos importados resultou em nova fase de modernização em meados dos anos 90, quando recebemos vários lançamentos — Civic, Corsa, Escort, Fiesta, Golf, Ka, Mercedes-Benz Classe A, S10/Blazer, Vectra — com pequena defasagem diante dos países de vanguarda. Alguns fabricantes mantêm a estratégia desse período ainda hoje, caso de Honda e Toyota, mas a maior parte tem estendido além da conta a vida útil dos velhos projetos, às vezes retocados para parecer novos.

Nossos atuais 206, 307, Astra, Blazer, Corsa, Clio, Focus, Golf, Mille, S10, Scénic, Stilo e Zafira já não são produzidos, ou ao menos oferecem gerações mais modernas, nos mercados de Primeiro Mundo. Outros só não entram nessa lista porque são projetos locais sem equivalentes por lá, como Celta/Prisma, Gol e Palio/Siena. Mas é inegável que a concepção antiga — portanto com custos amortizados — permite baixar preços e manter a competitividade. E nenhum fabricante, por mais bem-intencionado que seja, vai tirar de linha um carro que vende bem.

Com o atual reaquecimento do mercado, que bate recordes de produção e vendas, espera-se que essa defasagem seja gradualmente reduzida. Não resta dúvida que o exemplo de um será seguido pelos outros: quem sair à frente em cada segmento, com novos e bons produtos, forçará a concorrência a fazer o mesmo. E quem sabe possamos afastar de vez o risco de nos parecermos com os países mais atrasados do globo, onde projetos de décadas atrás ganham infinitas plásticas para disfarçar sua antiguidade.

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Data de publicação: 8/2/08

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