Desempenho e tecnologia são pontos altos da versão mais potente do A3 Sedan, que traz de volta a fabricação da Audi
Inaugurar — ou reinaugurar, como no caso — a fabricação de automóveis é sempre ocasião a ser festivamente celebrada, incluindo muitas presenças para garantir audiência e palmas aos discursos de autoridades. Faz parte.
Mas nada disto ocorreu com o retorno da Audi ao Brasil, nas instalações da Volkswagen, em São José dos Pinhais, PR. Começou com tímidos passos industriais compondo a versão de entrada, o A3 Sedan com motor de 1,4 litro. E, imediatamente, bisou a falta de festa lançando a versão com motor de 2,0 litros, poderoso em seus 220 cv, atrevidamente disposto ao gerar surpreendentes 35,7 m.kgf de torque a partir de 1.750 rpm.
Quer ter uma ideia do significado? Lembra-se dos ícones performáticos de três ou quatro décadas passadas, como o Chevrolet Opala com motor seis-cilindros de 4,1 litros e o Dodge Dart V8 5,2? Pois é, produziam respectivamente 29 e 41,5 m.kgf com motores com mais do dobro em cilindrada.
Não se trata da fórmula simplória do ganho de potência como resultado da utilização de um turboalimentador, mas de invejável pacote tecnológico mesclando motor compacto, 16 válvulas, injeção com jato de combustível diretamente sobre a cabeça dos pistões, turbo insuflando pressão nas câmaras de combustão e válvulas com curso modificado em função da demanda do momento. Abusando epicurismo mecânico com dois sistemas de injeção. Um, nos coletores, para sair e andar manso. Outro, direto na câmara de combustão, em demanda por desempenho.
O movimento gerado pelo motor chega às rodas dianteiras por transmissão automatizada com duas embreagens e seis marchas. Pacote se integra por construção estudada, incorporação de muito alumínio, cuidados aerodinâmicos, e os resultados aparecem no consumo baixo.
Outro
Introdução é para esclarecer a posição da versão 2,0. Não é o mesmo carro com motor em cilindrada aumentada. Apesar de toda a similaridade, a versão é rica em diferenças para as novas demandas, como um resgate às características do modelo alemão. Dele, com a nacionalização do pioneiro 1,4, alguns sistemas foram simplificados, como o eixo traseiro e a transmissão, visando comprimir preços.
Na versão Ambition 2,0 voltaram a ser agregados ao veículo a suspensão traseira por sistema multibraço, original na plataforma MQB, e a transmissão com duas embreagens. A versão 1,4 tem eixo de torção e caixa automática de seis marchas. Um refinamento no conjunto mecânico, embora de pouca percepção.
Como
Bem sentidas são as reações de aceleração e reação à retomada de velocidade. Embora o A3 1,4 não seja carro para passar vergonha, muito pelo contrário, incrementa-se o desempenho. Da imobilidade aos 100 km/h, 6,6 segundos, dois a menos em relação ao 1,4.
Conteúdo como teto solar, escapamento duplo, ar-condicionado automático, modos de regular o veículo entre conforto, esportividade e economia, direção elétrica, faróis bixenônio, controle de tração e estabilidade, controlador de velocidade e distância, muita segurança. Preços se elevam para diferenciar as versões e subversões. Larga em R$ 138 mil, mas completo, incluindo tela de infodiversão, câmera de ré, teto solar, eleva-o a R$ 170 mil.
Tudo sugere um bom candidato à vaga em sua garagem, mas o preço desperta o advogado do Diabo, autor da sugestão de compará-lo com o novo Jaguar XE, 240 cv, a R$ 172 mil.
Não gostei
O alemão é simpático, sedutor, agradável, rápido, econômico. Acicata no condutor um incerto animus pilotandi e resgata vontade de dirigir sem necessidade. Tive uma experiência, ruim por si só, entretanto ótima para permitir uma sugestão à Audi. Na troca de um pneu descobri, o macaco deve ter sido desenhado por algum discípulo de Sir Anthony Colin Bruce Chapman, o mítico engenheiro inglês criador da Lotus e da teoria da insustentável leveza — reduzia o peso das peças até o máximo antes da ruptura.
O ectoplasma de Chapman deveria estar presente na estrada de pouco movimento, cenário para tal operação, observando flexões e torções do delgado cabo do macaco, de pouca eficiência, aumentando o trabalho para a troca. Mas não é tudo. Ao que parece, o engenheiro autor do desenho do conjunto disco de freio/roda deve ter almoçado com um controlador de custos e com o presidente do sindicato de lavanderias no dia de cometer sua parte no projeto. A junção roda/disco não é feita por porcas, mas por parafusos, e o disco de freio, contra quem é comprimida, não tem pino-guia.
Tal economia exige, à hora da troca, cancelar a agenda do dia ante a operação para recolocar o pneu, pois você deve sentar no chão, sustentar o pneu de emergência nas pontas dos pés, elevá-los para buscar a posição de coincidir furos das rodas com os do disco do freio, girar com mão e pés até conseguir prende-la com um parafuso. Daí em diante, movimentá-la para encontrar as outras roscas e fixar a roda.
Sentar no chão para trocar pneu pode ser um bom e inesperado exercício de Pilates, mas não há terno — e dono — que se convençam do método.
Roda a Roda
Acabou – Sexta-feira passada (29) saiu de produção o jipe que apresentou a Land Rover ao mundo. Expansão da marca e o lançamento da família Range Rover na década de 1970 fizeram batizá-lo Defender.
História – Não foi produto criado para a II Guerra Mundial, mas aproveitou o leiaute mecânico do Jeep Willys, e o fez melhor, com caixa de quatro marchas, carroceria em alumínio — ante a falta de chapas de aço, melhor comportamento. Encerra-se após dois milhões de unidades, barrado pela legislação obrigando a itens de segurança como bolsas de ar. Voltará, reeditado, em 2018.
Categoria – Fez festa com operários e ex, teste com protótipo e a última unidade, e inaugurou nova atividade: área para restauração dos LR antigos, empregando funcionários aposentados.
Marcha-lenta – Adiamento na produção de novos produtos Alfa Romeo: apresentação de novas versões do Giulia e de uma não planejada perua em torno de setembro, com início de vendas em janeiro ou fevereiro de 2017. Utilitário esporte em 2018; um modelo menor já batizado Alfetta; e maior, tração traseira.
Fora – Crescimento do mercado de utilitários esporte nos EUA levou Hyundai a suspender produção do Azera e anunciar planos para um SUV no segmento C. Quer combater outros bem sucedidos, como Jeep Renegade, Nissan Juke e Fiat 500X.
Cruze – Carlos Zarlenga, 42, primeiro argentino a comandar a GM de seu país, definiu data para início de produção do Cruze II em Rosário: maio. O executivo deu entrevista aos diários portenhos El Cronista e Clarin, e pontuou querer ultrapassar a líder VW no mercado argentino.
Brasil – Sobre nosso país, a previsão mais negativa até agora exposta: cair 20% ante as vendas de 2015, quando encolheu 26%.
Futuro – Zarlenga prevê enormes ganhos tecnológicos nos próximos 10 anos, mais mudanças que nos últimos 50, e acredita que GM pode voltar a ser líder mundial ante as novas condições: conectividade; carro autônomo; energias alternativas — marca, ex-líder, é hoje a terceira no ranking mundial.
Conforto – Nova edição da Citroën Grand C4 Picasso. Trabalho para oferecer espaço e conforto a sete pessoas. Uma viagem de primeira classe, diz a empresa. Mobilidade garantida por motor 1,6 turbo, 165 cv, 24,5 m.kgf e transmissão automática com seis marchas. Preços, R$ 120.900 Seduction e R$ 127.900 Intensive.
Já – Como Coluna contou, novo comando Fiat no Brasil mandou acelerar definições e lançamento do novo produto de entrada, dito Mobi. Antecipou novamente. Agora, abril.
Formidável – A desconcertante adesão papal ao franciscanismo, despreza veículos de luxo, trocando-os pelos simples. Foi assim no Brasil, utilizando Fiat Idea, e nos EUA, num encontro mundial de famílias cristãs. Lá, Fiat 500L por ele utilizado e recebido em doação vai a leilão para arrecadar fundos à Caritas, de beneficência cristã.
Surpresa – 4.600 operários da linha de produção de Gol, Voyage e Up na fábrica VW em Taubaté, SP, chegaram ao trabalho na sexta-feira, 29, e foram dispensados: explicação simplória, o fornecedor de bancos não os havia entregue.
Menos uma – Fábrica de ônibus Comil há dois anos inaugurou orgulhosamente linha de produção de urbanos em Lorena, SP. Agora fechou-a — sem expectativa de reabertura. Justificou pela crise econômica nacional, causando encolhimento das encomendas, e resumirá atividades em Erechim, RS. Dispensou 200 pessoas.
Duas – Já são duas fábricas fechadas neste ano. Primeira foi a de caminhões International, em Caxias do Sul, RS.
Autopeças – Magneti Marelli, de autopeças elétricas, vai contra a maré de pessimismo, lançando no mercado linha de relés automotivos para veículos leves e pesados.
Gordini – Fabricante mineiro de carrinhos de mão ouviu críticas de consumidores sobre peso de seus produtos. Assim, para mostra-los mais leves, apesar da perda de durabilidade, buscou identificá-lo com o Renault Gordini, sedãzinho produzido no Brasil entre 1961 e 1968, com fama de frágil.
Quem diria – Menor durabilidade deu certo, e vendas chegam a 25 mil unidades/mês a mercado interno e Mercosul. Agora quer fazer outro modelo, ainda mais leve e fugaz: o Dauphine, frágil antecessor do Gordini. É um case de marketing.
Treino – Ford resolveu voltar às corridas e se aplica com seu recém-apresentado GT. Estreia foi na 24 Horas de Daytona Rolex, e liderou, teve pequenos problemas, chegou em 7o. e 9o. lugares. Quer mais quatro provas do Mundial de Endurance antes da maior vitrine do mundo, a 24 Heures du Mans, França, 18/19 junho.
Base – É sempre lembrada volta às origens: Henry Ford somente viabilizou sua companhia após vitória de um protótipo em tosca corrida, e às míticas conquistas na mesma 24 Heures du Mans em 1965, 66 e 67. Agora, na prova de estreia, quando um GT 40 venceu em 1966, ganhou um Ligier Honda JSP2.
Fechou – Belo e imponente Museu da TAM, em São Carlos, SP, fechou. Empresa alega estudar mudança para a capital. Quem acompanha o desmonte institucional da TAM pela compradora, a chilena LAN, tem receio de ser conversinha. A LAN tem transferido empregos daqui para o Chile, reduziu espaço nos aviões, e tal desenho não parece maior preocupação com o Brasil e seus passageiros, postura distante de ilmanter um Museu.
Aqui – Ministério do Turismo e o da Cultura deveriam conversar com governos municipal, estadual, e ministérios públicos e buscar solução ou reparação.
Gente – Sérgio Ferreira, diretor das marcas Dodge e Jeep, promoção. Novo diretor de vendas da FCA, englobando marcas Fiat e Chrysler. Carlos Eugênio Dutra será responsável pela marca Fiat. Lélio Ramos, cara comercial da Fiat, responsável por novos projetos. / Antonio Pires, português, engenheiro, promoção. Novo Vice-Presidente de Operações — o como fazer veículos. Experiência, sempre na marca, tinha cargo idêntico na operação da VW portuguesa, passagem pelas fábricas brasileiras de Anchieta e São José dos Pinhais. Diretoria da VW no Brasil tem agora 5 nacionalidades: sul-africana; brasileira; alemã; portuguesa e argentina. /Joao Veloso, jornalista, mudança. Deixou Diretoria de Assuntos Corporativos da Nissan.
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