Nova picape abre mão de capacidades das médias, mas compensa com rodar confortável e aptidão para terrenos variados
Texto e fotos: Fabrício Samahá
Uma picape mais compacta que as médias tradicionais, com estrutura monobloco e moderna suspensão traseira multibraço, mas tão apta quanto elas a transportar uma tonelada, rodar com diesel e tracionar as quatro rodas: se a inovadora proposta da Fiat Toro havia deixado boas impressões na avaliação inicial por ocasião do lançamento, era grande a expectativa por submetê-la a nosso crivo de avaliação completa.
A versão que recebemos, a de topo Volcano, é a única da linha a associar o motor turbodiesel à transmissão automática de nove marchas — a Freedom pode vir com tal motor e tração dianteira ou integral, mas sempre com caixa manual de seis marchas. O preço básico de R$ 118.480 inclui conteúdos como alarme, ar-condicionado automático de duas zonas, câmera traseira de manobras, cintos de três pontos e encostos de cabeça para cinco ocupantes, computador de bordo, controlador e limitador de velocidade, controlador de velocidade em declives, controle eletrônico de estabilidade e tração, faróis de neblina, fixação Isofix para cadeira infantil, rodas de alumínio de 17 pol, sensor de estacionamento traseiro, sistema de áudio com navegador e volante com regulagem de altura e distância.
A nossa veio com o pacote composto por chave presencial para acesso e partida, cobertura marítima de caçamba, faróis e limpador de para-brisa automáticos, monitor de pressão dos pneus, partida comandada a distância e volante com comandos de marchas, o que a levava a R$ 122.080. Se recebesse bancos revestidos em couro com regulagem elétrica no do motorista, bolsas infláveis adicionais (laterais dianteiras, de cortina e de joelhos para o motorista) e teto solar, alcançaria R$ 131.642 — patamar de modelos médios. Pintura metálica adiciona R$ 1.468.
A Toro agrada pela frente ousada e equilíbrio de linhas; rodas da Volcano são de 17 pol
A primeira impressão ao ver a Toro é das melhores, com um desenho original e moderno que a diferencia de qualquer picape — ou de qualquer veículo no mercado, mesmo que a frente faça lembrar de alguma forma o Jeep Cherokee. Assim como nesse utilitário esporte, as faixas de leds na parte superior com luzes diurnas e de direção chamam mais atenção que os faróis de duplo refletor montados mais abaixo. Os traços das laterais e da traseira, com uma integração suave da cabine à caçamba, não são menos interessantes.
A caçamba tem duas tampas abertas para os lados: são bastantes leves para abrir e fechar e não representam obstáculo à carga
Embora simples nos materiais plásticos e no tecido dos bancos, o interior é coerente com o tipo de veículo e consegue bom efeito com os detalhes em tom bronze da versão. O motorista acomoda-se bem, com banco amplo (destaque para o apoio das coxas) e de boa retenção lateral, embora pudesse ter mais apoio lombar; o volante de desenho ideal traz ajustes em altura e distância. O espaço dianteiro satisfaz, apesar da cabine mais estreita que em picapes médias; no banco traseiro há ampla acomodação para pernas e cabeças e apenas razoável em largura para três pessoas. Incômodo o encosto do passageiro central.
O quadro de instrumentos da Volcano traz o mostrador digital central conhecido do Jeep Renegade, que mostra desde velocidade até temperatura do óleo lubrificante e da transmissão, tensão da bateria, pressão de cada pneus, quanto falta para a revisão e por quantas horas o motor já funcionou. A tela central de cinco polegadas (pequena para os padrões atuais em uma versão de topo) serve aos sistemas de áudio e navegação e às imagens da câmera traseira de manobras. O áudio tem boa qualidade geral, graves bem presentes e as conexões habituais, USB e auxiliar.
Interior simples nos plásticos, mas de bom aspecto; bons bancos dianteiros e espaço traseiro algo restrito em largura; revestimento de série na versão é de tecido
Há muitos bons detalhes — além dos conteúdos citados acima — como alças de teto com retorno suave, alerta programável para excesso de velocidade, apoios de braço centrais dianteiro e traseiro, computador de bordo com duas medições, controle elétrico de vidros com função um-toque para todos e abertura/fechamento a distância, luzes de leitura à frente e atrás, para-sóis com espelhos iluminados, porta-óculos, rebatimento elétrico dos retrovisores externos, retrovisor interno fotocrômico, sensores de estacionamento com mostrador gráfico e volante revestido em couro.
Merecem ser revistas as faltas de espaço para objetos do dia a dia (o local sob o assento do passageiro não compensa essa falha) e de faixa degradê no para-brisa e a interrupção abrupta do controlador de velocidade. Além disso, não entendemos por que há um friso plástico abaixo das portas que, sem servir de estribo, acumula sujeira e a passa à barra da calça quando se entra e sai. Seria melhor que as portas encobrissem essa região quando fechadas, mantendo-a limpa, como se tem visto em alguns utilitários esporte.
A caçamba com boa capacidade para um modelo de cabine dupla (820 litros) tem duas tampas abertas para os lados, solução comum em furgões que tem seu sentido: são bastantes leves para abrir e fechar e não representam obstáculo à colocação de cargas. A do lado direito só se abre com a esquerda já aberta. A cobertura marítima foi bem projetada (é simples de colocar e retirar e inclui drenos para não empoçar água) e a abertura da tampa está incluída no alarme antifurto. Sob a carroceria vem o estepe, que na Volcano é temporário — apenas Toros com rodas de 16 pol trazem pneu de reserva no mesmo tamanho.
Ar-condicionado de duas zonas, comandos de voz, um-toque para todos os vidros, retrovisor fotocrômico, porta-objetos sob o banco, USB para os passageiros de trás
Bom motor, tração sob demanda
O trem de força conhecido do Renegade, com o qual a Toro compartilha a fábrica de Goiana, PE, lida neste caso com um veículo mais pesado: 1.871 kg ante 1.636 kg do Jeep em versão Longitude, ambos com tração integral. O motor Fiat turbodiesel de 2,0 litros e quatro válvulas por cilindro fornece potência de 170 cv e torque de 35,7 m.kgf, bons valores para a cilindrada.
Assim como o utilitário esporte, a picape usa tração integral sob demanda e sem caixa de transferência (reduzida). O que o fabricante previu foi uma primeira marcha bem curta, que a caixa não usa em operação normal: só por meio de seleção manual ou ao acionar o modo 4WD Low, que também segura rotações mais altas para favorecer o desempenho em baixas velocidades. As outras opções do seletor giratório no console são Auto, que trabalha com tração dianteira e transmite torque às rodas traseiras apenas em caso de perda de aderência da frente, e 4WD, que bloqueia tal repartição em 50% para cada eixo.
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