Um ano difícil para a indústria e o mercado, mas também com fatos marcantes, comemorações e perspectivas
Ano difícil, esse 2016 que está por terminar. Não deve ter sido fácil para o caro leitor, como não foi para a maioria dos brasileiros, diante das tormentas políticas e da crise econômica que parece não querer acabar.
Foi um ano complicado também para a indústria automobilística, que até novembro acumulava a produção de 1,95 milhão de veículos, menos 14,6% que no mesmo período do ano passado. A Anfavea, associação dos fabricantes, previa encerrar 2016 com queda de 19% nos emplacamentos. Como 2015 já fora um ano ruim, o resultado está longe de ser comemorado — assim como se lamenta a perda de 8 mil empregos na indústria em 12 meses, sem contar os funcionários que estão com contrato suspenso ou no Plano de Proteção ao Emprego, PPE.
Apesar das más notícias, foi um bom ano em termos de lançamentos e evolução de produtos. Fácil compreender a aparente dissonância: a indústria trabalha com longos prazos — três, quatro anos — entre iniciar um projeto e colocá-lo no mercado, de modo que os carros apresentados este ano entraram em desenvolvimento por volta de 2012. Por esse prisma, seria esperado um ritmo bem menor de novidades para daqui a dois ou três anos, mas há de ser considerado que a maioria aguarda uma recuperação da economia para breve: quem tirar o pé do acelerador agora deverá ter mais dificuldade para retomar velocidade adiante.
Paradoxo: a indústria persegue a eficiência energética, mas precisa atender à crescente demanda por utilitários esporte, menos eficientes que os automóveis
Entre os nacionais realmente novos, poucos destaques em automóveis — Honda Civic de décima geração, Fiat Mobi —, mas vários entre picapes e utilitários esporte: Fiat Toro, Hyundai Creta e novo Tucson, Jeep Compass, Mitsubishi L200 Triton Sport. Ganharam produção local Audi Q3, BMW X1 e X4, Land Rover Discovery Sport, Mercedes-Benz Classe C e GLA, Range Rover Evoque e Volkswagen Golf, o que marcou a inauguração de fábricas da Jaguar Land Rover e da Mercedes.
Outros lançamentos importantes vieram da Argentina (Chevrolet Cruze hatch e sedã), do México (Nissan Kicks) ou de mais longe, como Audis A4, R8 e Q7, BMW M2 e Série 7, Chevrolet Camaro, Ford Edge, Hyundai Elantra, JAC T5, Jaguar XE e F-Pace, Kia Sportage, Mercedes Classe E e SLC, Nissan GT-R, Suzuki Vitara e Toyota Prius, entre outros. Como se percebe, os utilitários esporte foram a bola da vez: cada vez mais fabricantes dedicam-se a eles em diferentes tamanhos, formatos e faixas de preço. A Ford, afinal, confirmou a vinda do Mustang.
Foi um ano de intensa renovação em termos de motores, estimulada pelas metas de redução de consumo firmadas pelo programa Inovar-Auto, que vencem em 2017. Um paradoxo: ao mesmo tempo em que persegue eficiência energética a todo custo, a indústria vê-se obrigada a atender à preferência popular por veículos menos eficientes por natureza — os utilitários esporte em relação aos automóveis que eles, não raro, substituem.
Unidades turboalimentadas ganharam os cofres de carros pequenos como Ford Fiesta, Hyundai HB20 e Peugeot 208 GT, médios como Civic, Cruze e as versões inferiores do VW Jetta e utilitários esporte como Tracker e novo Tucson, além de se estenderem a toda a linha do Citroën C4 Lounge e dos Peugeots 308 e 408. Em outra frente, motores de três cilindros chegaram a Citroën C3, Fiat Mobi e Uno, Peugeot 208, Renault Logan e Sandero e VW Gol e Voyage, além de ter havido evoluções a alguns quatro-cilindros (como os Renaults citados, o Toyota Etios e vários Chevrolets).
O ano deixou para trás modelos acessíveis que pareciam eternos, Chevrolet Classic e Fiat Siena. Outro deles — Renault Clio — permanece à venda por aqui, mas já saiu de produção na origem, Argentina. Perdemos a marca chinesa Geely, embora poucos devam ter notado. A indústria nacional celebrou 60 anos desde o lançamento do Romi-Isetta, em setembro de 1956, história que o Best Cars contou em artigo especial.
Os aficionados por automóvel receberam um novo e mais adequado local para o Salão de São Paulo, que após mais de 40 anos deixou o Anhembi em favor do moderno SP Expo. Poderia ter sido melhor — faltas de energia deixaram o pavilhão mal refrigerado em alguns dias —, mas foi um grande e necessário avanço.
Carros autônomos e sem combustível
Em termos internacionais, 2016 marcou novos passos rumo à direção autônoma, apesar do trágico acidente com um Tesla conduzido em modo semiautônomo. E rumo à eliminação dos motores a combustão, seja em favor do carro elétrico (mostrado por dezenas de fabricantes a cada salão e oferecido por grande parte deles lá fora), seja da pilha a combustível, que Toyota e Honda já lançaram a mercado.
Lá como cá, os utilitários esporte ganham espaço. Alfa Romeo e Maserati fizeram suas estreias com Stelvio e Levante, na ordem, e a Rolls-Royce revelou as formas tijolísticas do seu. A Mercedes apresentou como conceito sua primeira picape, a Classe X, e a Renault lançou sua clone Alaskan, opção inédita da marca na faixa de uma tonelada. A Bentley aderiu ao motor a diesel no SUV Bentayga e a Ferrari substituiu, pela primeira vez, o clássico motor V12 aspirado por um V8 turbo no GTC4 Lusso. Entre os supercarros, Bugatti Chiron e Lamborghini Centenario causaram sensação.
Lá fora, 2016 marcou novos passos rumo à direção autônoma e à eliminação dos motores a combustão, com muitas propostas de carros elétricos
Foi o ano de importantes aniversários: 100 anos da BMW, 80 da inglesa Morgan, 75 da Jeep desde o modelo militar, 50 do Camaro e do Toyota Corolla, 40 do Ford Fiesta e do Honda Accord, 30 do BMW M3, 20 do Porsche Boxster… e 130 da invenção do automóvel por Karl Benz.
Houve também despedidas marcantes. Na Austrália, chegou ao fim o Ford Falcon e já tem sucessor o Holden Commodore: encerra-se o ciclo para dois ícones com grandes motores, tração dianteira e tradição que vem das décadas de 1960 e 1970. Outras lendas que se foram: Land Rover Defender, linhagem iniciada em 1948, e Dodge Viper (fim anunciado para o próximo ano), após 25 anos e três gerações.
Para nós do Best Cars, foi o ano de estreia do canal de vídeos no Youtube com avaliações, guias de compra, supercarros e motos. O novo formato nos fez voltar aos primórdios nos anos 90, quando havia dúvidas sobre que rumos tomar, que volume de informações incluir, que modo de apresentação adotar. Mas contamos com a preciosa colaboração de leitores com opiniões, sugestões e até mesmo dicas de técnicas e equipamentos, que permitirão adequar os próximos vídeos ao que você gostaria de ver.
Entre altos e baixos, 2016 não foi o ano com que todos sonhávamos, mas o que importa agora é renovar os votos para 2017. Que você e as pessoas que lhe são caras tenham saúde e realizações, e que possamos nos encontrar muitas vezes nestas páginas para debater sobre uma máquina que tanto nos fascina.
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