Conforto: espaçoso banco traseiro com ajuste separado de reclinação, comando
elétrico para abrir e fechar a tampa do porta-malas e dois grandes tetos solares
Outro paradoxo vem do sistema de acionamento do freio de estacionamento, por pedal, que em tempos de bem mais práticos sistemas eletroeletrônicos, em um carro pleno de acessórios assim, indica um tradicionalismo descabido dentro de um cenário de total modernidade.
O silêncio e a maciez de rodagem do Edge só perdem para o vigor do motor como elemento de atração. Se levado “na casquinha” do acelerador, o canadense age como um bem amestrado rinoceronte entre os outros carros, que podem até ser mais altos ou compridos, mas dificilmente serão mais largos que ele. O bom caráter acaba quando os 289 cv do V6 recebem um golpe de espora, ou de acelerador, e a massa imponente de duas toneladas parece se transformar em peso-pena, tamanha a voracidade com a qual o Ford progride.
Dotado de variação do tempo de abertura das válvulas, o Duratec emite nessas condições um poderoso rugido pelo belo par de escapamentos que até mesmo o excelente isolamento da cabine mostra-se incapaz de conter. O torque é bem gerenciado pela caixa de câmbio de seis marchas, cuja última é uma real sobremarcha, como comprovam as 2.000 rpm vistas rodando em estrada a 120 km/h.
E na estrada o Edge é o rei do ambiente. Seja pelo tamanho, seja pelo nada discreto efeito de sua cromadíssima grade, a passagem lhe é sempre dada sem demora. Sensação plena de segurança, fenomenal capacidade de recuperação de velocidade e o já destacado silêncio de marcha são os atributos principais. E muito útil do ponto de vista prático é se acostumar a vigiar a luz amarela nos retrovisores, que não perdem o movimento de quem se aproxima sem estar em nosso campo de visão.
O Edge devora estradas com seu vigoroso V6 e comportamento dinâmico bem acertado;
fora do asfalto há limitações como os pneus de perfil baixo e a falta de proteção por baixo
A longa e lisa rodovia que nos levou 500 km adentro do estado de São Paulo, rumo noroeste, poucas curvas e aclives oferecia. Mesmo assim, em condição favorável, o Edge fez ver que sua tecnologia contra massa elevada e área frontal imponente resultam em consumo até que razoável: calmo, o motorista viu o computador de bordo registrar 9,6 km/l para o trecho. Na volta, o mesmo percurso com mais pressa revelou mais sede — 8,2 km/l, expressos pelo computador em unidade incomum ao brasileiro, litros por 100 km, o que merece revisão pela fábrica. Tudo isso com três adultos a bordo e porta-malas com meia carga.
Em curvas tomadas de maneira mais animada, o Edge avisa que — apesar das imponentes rodas de 20 pol, exclusivas da versão Limited, calçadas com pneus 245/50 — o elevado peso e a altura associados a uma suspensão que valoriza o conforto contraindicam “gracinhas”. Sente-se ativamente o trabalho dos dispositivos eletrônicos atuando nos freios para conter os efeitos da brutal transferência de massa que o motorista impingiu ao carro. Sensação de insegurança? Não, apenas uma inadequação à conduta esportiva ao volante, para as quais os bem mais caros BMW X6 e Porsche Cayenne estão mais aparelhados.
Em terrenos diferentes do perfeito asfalto — calçamento de concreto, paralelepípedos ou mesmo asfalto degradado —, a escolha mais estética do que lógica de dotar o Edge de pneus de perfil baixo cobra seu preço como uma indisfarçável vibração, que transforma a até então impecável e silenciosa cabine em um lugar algo menos agradável. Aliás, logo depois confirmaríamos que rodar com o Ford em estrada de terra batida é até melhor do que no asfalto ruim ou sobre paralelepípedos em termos de conforto, uma vez que os pneus conseguem trabalhar melhor no piso “de chão”, com as suspensões se encarregando de filtrar as irregularidades.
E foi nesse cenário, entre carreiros de canavial, que descobrimos como o Edge pode ser realmente divertido e empolgante quando sua tração integral começa a trabalhar de maneira intensa, tendo como cúmplice um piso com menor aderência que o asfalto. Sente-se nitidamente a transferência da tração quando as rodas traseiras recebem forte carga de potência, oferecendo ao motorista deliciosas escorregadas de traseira por conta da potência liberada, que busca equilibrar a tendência de escapar de frente. Em nenhum momento o “monstro” passa a sensação de que pode se perder.
A Ford tem alguns pontos para corrigir, mas conta com um forte competidor na classe;
as rodas de 20 pol e a opção de tração integral são exclusivas da versão Limited
Na volta do circuito fora de estrada, examinamos o nível de proteção do Edge em relação a seus órgãos mecânicos — e qual não foi a surpresa em verificar que motor e transmissão têm zero de proteção. Nem chapa de aço, nem de alumínio ou sequer de plástico. Nada: o motor e o câmbio totalmente expostos são uma falha grave para um carro vendido em um país como o nosso, com terreno tão agressivo às partes mecânicas, mesmo que saibamos que não se trata de um jipe para trilhas.
Faltam proteções? Sim, mas para seu cliente talvez faria mais falta se acaso o Edge não tivesse o excepcional sistema de áudio — que causou revoltante busca pelo botão de ejeção do CD, mais do que discreto — ou o teto solar, um show à parte. Que apesar de caro é realmente um diferencial mais do que positivo desse grande veículo, tornando-o iluminado, arejado e aparentemente ainda mais amplo. Muito recomendado. Uma falha sentida foi a de lâmpadas de xenônio nos faróis, comuns em carros de sua faixa de preço.
Escorada em uma ampla rede de concessionárias e divulgando moderado custo de peças e manutenção, a Ford vai, devagar, aumentando sua fatia no acirrado segmento. Arma boa ela tem, pois o Edge, em que pese alguns detalhes a rever, é um competidor de talentos ainda não plenamente percebidos. De estética impactante — a nosso ver um degrau acima de seus concorrentes nesse aspecto — e nascido sobre uma bem-sucedida plataforma, a maior qualidade do Edge é estar dotado de um premiado e eficiente motor acoplado a excelente transmissão, o que agrega desempenho, segurança e modernidade em doses difíceis de se encontrar por seu preço ao já esperado conforto.
Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 6 em V a 60° |
Comando de válvulas | duplo nos cabeçotes |
Válvulas por cilindro | 4, variação de tempo |
Diâmetro e curso | 92,5 x 86,7 mm |
Cilindrada | 3.496 cm³ |
Taxa de compressão | 10,3:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial |
Potência máxima | 289 cv a 6.500 rpm |
Torque máximo | 35,0 m.kgf a 4.000 rpm |
Transmissão | |
Tipo de câmbio e marchas | automático / 6 |
Tração | integral |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a disco |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | hidráulica |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | independente, multibraço, mola helicoidal |
Rodas | |
Dimensões | 8 x 20 pol |
Pneus | 245/50 R 20 |
Dimensões | |
Comprimento | 4,702 m |
Largura | 1,924 m |
Altura | 1,702 m |
Entre-eixos | 2,824 m |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 72 l |
Compartimento de bagagem (normal/com banco rebatido) | 909 l / 1.971 l |
Peso em ordem de marcha | 2.053 kg |
Dados do fabricante; desempenho e consumo não disponíveis |